68774 Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira [P118037] Dr. Eduardo Assad, EMBRAPA1, Brasil Prof. Hilton S. Pinto, UNICAMP2, Brasil Dr. Andre Nassar, ICONE3, Brasil Dr. Leila Harfuch, ICONE, Brasil Dr. Saulo Freitas, INPE4, Brasil Barbara Farinelli, Banco Mundial, Brasil Mark Lundell, Banco Mundial, Brasil Luciane Chiodi Bachion, ICONE, Brasil Erick C.M Fernandes, LCSAR, Banco Mundial, EUA 1 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária 2 Universidade de Campinas, São Paulo 3 Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais 4 Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais © 2013 Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento / Associação Internacional de Desenvolvimento ou O Banco Mundial 1818 H Street NW Washington DC 20433 Telefone : 202-473-1000 Internet: www.worldbank.org Este trabalho é um produto da equipe do Banco Mundial com auxílio de contribuições externas . As constatações, interpretações e conclusões ex- pressas neste trabalho não refletem necessariamente os pontos de vista do Banco Mundial, do Conselho de Administração Executivo ou dos governos que estes representam . O Banco Mundial não garante a exatidão dos dados incluídos neste tra- balho. As fronteiras, cores , denominações assim como outras informações apresentadas em qualquer mapa deste trabalho não implicam nenhum ju- lgamento por parte do Banco Mundial sobre a situação legal de qualquer território, nem o endosso ou aceitação de tais fronteiras . Direitos e Permissões O material utilizado neste trabalho está sujeito a direitos autorais . Uma vez que, o Banco Mundial incentiva a divulgação do conhecimento , este trabalho pode ser reproduzido, no todo ou em parte, para fins não comerci- ais , desde que a atribuição integral a este trabalho seja conferida ao autor em questão. 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Sumário Prefácio 7 Resumo Executivo 13 Introdução 19 A Evolução do Setor Agrícola no Brasil e suas Implicações até 2030 21 Ameaças decorrentes da variabilidade no clima e de uma posterior mudança climática 25 QUADRO 1 – As Mudanças Climáticas e a Agricultura na América Latina, 2020-2050 25 Abrangência deste estudo 31 As Mudanças Climáticas e as Projeções de seu Impacto Agrícola no Brasil até 2030 e Após 33 Aperfeiçoamento das projeções do impacto das mudanças climáticas por meio de modelagem em escala global, regional e local 34 Abordagem Brasileira e Regional para a Seleção e o Uso de Modelos Climáticos 34 Cenários de Emissões Utilizados Neste Estudo 34 Modelos Climáticos Adotados Neste Estudo 35 Testes, Projeções Climáticas e Calibrações do Modelo 37 O Modelo de Zoneamento da Vulnerabilidade e dos Riscos Climáticos Agrícolas 40 O Índice de Satisfação de Necessidade de Água (ISNA) do Método de Zoneamento Agroclimático 43 Classificação do Solo e o Mapa de Zoneamento Agrícola. 43 Identificação das Áreas de Cultivo Menos Vulneráveis aos Impactos das Mudanças Climáticas 44 Projeção dos Impactos das Mudanças Climáticas na Área Adequada ao Plantio em 2020 e 2030 47 Mapas das projeções dos impactos das mudanças climáticas sobre as principais culturas de grãos, cana-de-açúcar e pastagens no Brasil em 2020 e 2030 49 Projeção dos impactos das mudanças climáticas na oferta e demanda de commodities e na dinâmica do uso da terra 59 Metodologia das simulações econômicas dos cenários de mudanças climáticas e a projeção dos impactos agrícolas 59 O Modelo Brasileiro de Uso da Terra (BLUM) 60 As Projeções de Oferta e Demanda 60 Os Componenentes da Dinâmica do Uso da Terra 62 Equações da Dinâmica do uso da Terra no BLUM 64 Modelo de Alocação dos Resultados do BLUM por Microrregião Brasileira 66 Alocação dos resultados do BLUM em cada estado 67 Alocação dos resultados dos estados em cada microrregião 68 Resultados da EMBRAPA como Dados de Entrada para o BLUM 69 Resultados da Simulação do Modelo de Uso da Terra para a Agricultura Brasileira (BLUM) 75 Uso da Terra e Produção 76 Consumo Doméstico, Preços e Comércio Internacional 84 Projeção dos Impactos das Mudanças Climáticas nos Preços Reais das Commodities em 2020 e 2030 85 Projeção do Impacto das Mudanças Climáticas no Valor da Produção Agrícola em 2020 e 2030 86 Resultados por estado 88 Resultados por microrregião 91 Conclusões 95 Bibliografia 101 Lista de Figuras Figura 1 – Aumento da produção de grãos e da área cultivada no Brasil de 1991 a 2010. 20 Figura 2 – Expansão da produção agrícola brasileira e mundial de 1990 a 2009 (1990 = 100) 20 Figura 3 – Expansão da produção brasileira e mundial de carne e leite de 1990 a 2009 (1990 = 100) 21 Figura 4 – Setor agrícola brasileiro: produção total e uso de mão de obra, terra e capital e a Produtividade Total dos Fatores (1975 = 100) 21 Figura 5 – O mapa de uso da terra do BRAMS para a análise dos resultados da simulação do modelo 37 Figura 6 – Distribuição espacial das estações hidrometeorológicas brasileiras 38 Figura 7 – Variação da temperatura estimada pelos sete modelos para a estação meteorológica “DFUNBFAL”, localizada em Brasília, D.F., no Brasil (Latitude: -15,79; Longitude: -47,9227). 39 Figura 8 – Temperaturas máximas e mínimas mensais estimadas pelos sete modelos para a estação meteorológica “DFUNBFAL”, localizada em Brasília, D.F., Brasil. (Latitude: -15,79; Longitude: -47,9227). 40 Figura 9 – Área com permissão legal para a agricultura segundo o marco legal fundiário e ambiental e as restrições ao uso da terra 42 Figura 10 – Organograma dos componentes e dos processos biofísicos, climáticos e de crescimento das plantas utilizados no zoneamento 44 Figura 11 – Representação do processo de elaboração de modelos para criação de cenários 45 Figura 12 – Exemplo de áreas de baixo e alto risco para plantação de milho no Brasil, considerando os dez primeiros dias de janeiro como o período da semeadura, com base em um cenário pessimista. 46 Figura 13 – Impacto das mudanças climáticas na área adequada à plantação de soja (2010 – Linha de base e 2030 – Cenários otimista e pessimista) 50 Figura 14 – Perdas previstas na produtividade das pastagens (%) em relação a linha de base de 2010 nos cenários otimista e pessimista (2020 e 2030) 51 Figura 15 – Impacto das mudanças climáticas na área adequada ao cultivo de milho – Safra de verão (2010 – Linha de base e 2030 – Cenários otimista e pessimista) 52 Figura 16 – Impacto das mudanças climáticas na área adequada ao cultivo de milho – Safra de outono (2010 – Linha de base e 2030 – Cenários otimista e pessimista) 53 Figura 17 – Impacto das mudanças climáticas na área adequada ao cultivo de arroz irrigado (2010 – Linha de base e 2030 – Cenários otimista e pessimista) 54 Figura 18 – Impacto das mudanças climáticas na área adequada ao cultivo de cana-de-açúcar (2010 – Linha de base e 2030 – Cenários otimista e pessimista) 55 Figura 19 – Impacto das mudanças climáticas na área adequada ao cultivo de algodão (2010 – Linha de base e 2030 – Cenários otimista e pessimista) 56 Figura 20 – Impacto das mudanças climáticas na área adequada ao cultivo de feijão – Safra de verão (2010 – Linha de base e 2030 – Cenários otimista e pessimista) 57 Figura 21 Impacto das mudanças climáticas na área adequada ao cultivo de feijão – Safra de outono (2010 – Linha de base e 2030 – Cenários otimista e pessimista) 58 Figura 22 – Regiões consideradas no Modelo Brasileiro de Uso da Terra – BLUM 61 Figura 23 – Interações entre os setores no BLUM 62 Figura 24 – Simulação da área plantada para lavouras para diferentes cenários climáticos 72 Figura 25 – Área alocada para a agropecuária para cada cenário: distruição entre regiões 78 Figura 26 – Distribuição da área total alocada para os produtos agropecuários: comparação de cenários 82 Figura 27 – PIB da agropecuária em 2009 por estado, valor absoluto e participação no PIB total 89 Figura 28 – Área alocada para agropecuária para as microrregiões selecionadas 92 Lista de Tabelas Tabela 1 ‒ Evolução da estrutura do setor agrícola brasileiro 22 Tabela 2 - Impacto das mudanças climáticas nas atuais áreas de “baixo risco” adequadas ao cultivo 26 Tabela 3 ‒ Culturas e área plantada no Brasil (2009) 45 Tabela 4 ‒ Percentual de mudança na área de baixo risco de mudanças climáticas 48 Tabela 5 – Cenários simulados para a soja, agregados nas regiões do BLUM (em 1000 ha) 70 Tabela 6 – Simulação de áreas de cultivo e de pastagem no Brasil (em 1000 ha) 71 Tabela 7 – Vegetação disponível e apta à expansão agrícola em cada cenário (1000 ha) 73 Tabela 8 – Área disponível e apta para a agricultura em 2009 e projeção do seu potencial em 2030 para cada cenário (em 1000 ha) 74 Tabela 9 – Pastagens aptas para lavouras na comparação de cenários para 2030 (1000 ha) 75 Tabela 10 – Terras utilizadas por pastagens e pelas lavouras (primeira safra)(1000 ha) 76 Tabela 11– Área alocada para pastagens (milhões de hectares) 79 Tabela 12 – Terra destinada à lavoura (milhão de ha) 80 Tabela 13 – Produção de grãos, somente a primeira safra (mil toneladas) 83 Tabela 14 – Produção de carne bovina (mil toneladas) 84 Tabela 15 – Consumo doméstico de cada produto analisado (1000 toneladas e bilhões de litros) 84 Tabela 16 – Preços reais das commodities (2011 = 100; t = tonelada). 85 Tabela 17 – Valor da produção em milhões de reais (2011=100) 87 Tabela 18 – Resultados da exportação líquida para cada cenário (1000 toneladas e bilhões de litros de etanol) 88 Tabela 19 – Produção de grãos e oleaginosas (1000 toneladas) 89 Prefácio E ste estudo é o resultado de um esforço da colaboração exemplar entre enti- dades brasileiras de vanguarda : a Empresa tinua a ser pioneiro em sua intensificação com o objetivo de aumentar ainda mais a produtividade para atender às demandas Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EM- crescentes de alimentos nos níveis nacion- BRAPA), Universidade de Campinas (UNI- al, regional e global. CAMP), Instituto de Estudos do Comercial O potencial impacto adverso das mu- e Negociações Internacionais (ICONE); e danças climáticas sobre a agricultura bra- Instituto Nacional de Pesquisa Espacial sileira e a subsistência a ela associada tam- 7 (INPE). Para nós, é uma honra participar bém é uma questão sobre a qual o Governo desta iniciativa. brasileiro tem dado especial atenção, con- A agricultura é um importante setor da forme apresentado no Quarto Relatório de economia brasileira. É fundamental para o Avaliação do Painel Internacional sobre crescimento econômico, uma vez que gera Mudança Climática (IPCC). O documen- expressiva receita em divisas. De 1996 a to alerta para o fato de que as mudança 2006, o valor total das colheitas do país climáticas na América Latina afetarão dire- aumentou em mais de quatro vezes, pas- tamente vários ecossistemas e setores nas sando de R$ 23 bilhões (cerca de US$ 11 próximas décadas. No caso da agricultura, bilhões) para R$ 108 bilhões (cerca de US$ teriam os seguintes resultados:: 53 bilhões). Em 2009, a agricultura repre- •• Redução da quantidade e qualidade do sentou 19,3% da força de trabalho, ou 19 fluxo de água e, portanto, do potencial milhões de pessoas, contribuindo assim de irrigação; para o aumento de postos de trabalho e a •• Aumento da aridez, degradação da terra redução da pobreza. Em 2011, o agroneg- e desertificação; ócio empregou 35% da força de trabalho e •• Aumento da incidência e impactos de foi responsável por mais de 38% das expor- pragas e doenças dos cultivos; tações brasileiras e por US$ 77,5 bilhões do superávit comercial. •• Redução do número de espécies vege- tais e animais e mudanças dos limites Tendo como pano de fundo um setor dos biomas; e agrícola vibrante e produtivo, o Brasil con- Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira •• Alterações nos serviços dos ecossiste- Este estudo utiliza as conclusões de tra- mas (como, sequestro de carbono, biodi- balhos anteriores do Banco Mundial, em versidade funcional, fluxos ambientais), particular o Relatório sobre o Desenvolvi- necessários para manter a produtivi- mento Mundial de 2010 e iniciativas de re- dade nas áreas agrícolas atuais. dução da pobreza face à mudança climáti- ca; um relatório regional pioneiro sobre A fim de mitigar os impactos da mudança Baixo Carbono, Alto Crescimento, Respos- climática, o mundo precisa reduzir drasti- tas da América Latina à Mudança Climática camente as emissões globais de gases de (2009); e um enfoque regional nos impactos efeito estufa (GEE) nas próximas décadas. da mudança climática sobre a agricultura Até o presente momento, o Brasil tem pro- na América Latina (2011). Integra também movido nacionalmente e liderado muitas os métodos e conclusões de vários estudos das iniciativas internacionais de redução brasileiros sobre: a avaliação do impacto de emissões causadas pelo desmatamen- da mudança climática sobre o zoneamen- to e mudanças no uso da terra, Tem pro- to agrícola (2006); a mudança climática movido intensamente a energia renovável, e eventos extremos no Brasil (2010); e a 8 especialmente a bioenergia, e adotou uma avaliação da previsibilidade sazonal re- Política Nacional de Mudança Climática, gional, utilizando o sistema de modelagem que inclui uma meta voluntária ambiciosa climática regional PRECIS na América do de redução dos GEE até 2020. Sul (2010). Além disto, apresenta uma série Há uma preocupação crescente, tanto de Modelos Climáticos Globais e Regionais no Brasil quanto na América Latina, com e dados sobre adequação hidrológica, me- relação a hipótese de o aumento da vari- teorológica e terrestre significativamente abilidade climática de curto prazo e da melhores, usados para avaliar a vulnerabi- mudança climática de médio e longo prazo lidade e os impactos da mudança climáti- tenham impactos negativos significativos ca sobre a agricultura brasileira. Por fim, na paisagem brasileira e na agricultura, o estudo inclui uma síntese concomitante no crescimento econômico nacional e na dos impactos climático-agrícolas com sim- subsistências correlatas do Brasil. O Gover- ulações econômicas sólidas das mudanças no brasileiro está desenvolvendo medidas climáticas sobre a agricultura brasileira até de adaptação proativas para enfrentar os 2030. riscos emergentes dos impactos da mu- A rede de profissionais estabelecida dança climática sobre os principais setores para este estudo pode agora continuar a que sustentam a economia do país, espe- aprimorar a modelagem agroecológica, cialmente no setor agrícola. biofísica e econômica integrada, bem como as análises elaboradas para este estudo. Esperamos que o trabalho desenvolvido A inclusão da UNICAMP também lança no Brasil possa servir como modelo e ori- os fundamentos da produção de capaci- entador para muitos países em desenvolvi- dades da próxima geração de modeladores mento a fim de aumentar suas capacidades climáticos no Brasil e na América Latina. institucionais e processos de planejamen- A perícia integrada e multidisciplinar e to estratégico para combater a mudança o banco de conhecimentos reforçado por climática e continuar a desenvolver-se este estudo serão muito úteis para o Brasil de forma sustentável frente aos desafios ao aumentar a produtividade e resiliência iminentes representados pela mudança de seu setor agrícola, crítico não somente climática. para a segurança alimentar nacional, mas Deborah L. Wetzel, também para o suprimento global dos pro- Diretora do Banco Mundial para o Brasil dutos agrícolas essenciais. Região da América Latina e do Caribe 9 Prefácio Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira Há mais de dez anos atrás, o Protocolo de Embora alguns cientistas acreditem que Quioto estabeleceu os limites toleráveis​​ o aquecimento global continua a um ritmo para as emissões de carbono resultantes mais baixo do que o até agora estimado e, das actividades económicas e sociais dos portanto, que os países teriam mais tempo países, visando abrandar o aquecimento para correções e ajustes, a maioria dos ci- global e outras mudanças climáticas. Estu- entistas concorda que o aquecimento glob- diosos já demonstraram que os efeitos da al está ocorrendo. Os cenários de mudanças mudança climática já estão sendo sentidos climáticas apontam para um aumento mé- com as elevações nas temperaturas médias dio de temperatura superior a 2°C até 2050 do ar e os impactos de eventos extremos de e que o impacto de tais temperaturas mais temperatura e precipitação sobre as popu- elevadas causaria grandes desequilíbrios lações de todo o mundo nos ecossistemas essenciais para a sobre- No período que se seguiu, a concen- vivência humana. tração de dióxido de carbono, o principal No entanto, as mudanças significati- gás de efeito estufa, aumentou para quatro- vas previstas para a Floresta Amazônica e centas partes por milhão. Dados da Orga- sua biodiversidade, as perdas significati- 10 nização Meteorológica Mundial mostraram vas das geleiras nos Andes e Himalaia e a que 12 dos últimos 13 anos mais quentes rápida acidificação dos oceanos e conse- desde que as medições começaram, em qüente quebra dos ecossistemas marinhos 1850, ocorreram entre 2001 e 2012. No e morte de recifes de coral ainda são even- entanto, como o professor Ed Hawkins, da tos plausíveis, que condenariam inúmeras Universidade de Reading demonstrou, a espécies à extinção e afetariam consider- temperatura média surpreendentemente avelmente a oferta mundial de alimentos. permaneceu a mesma desde 1988, quan- A velocidade e a magnitude da mudança do o Protocolo de Kyoto foi aberto à adesão pode condenar muitas espécies à extinção por parte dos países. e significativamente afetar o abastecimento Esses dados, aparentemente confli- de alimentos no planeta. Algumas pessoas tantes, servem como um alerta para a pop- continuam céticas. ulação mundial, pois nos lembram o fato de Os cientistas são livres para escolher que a Terra é muito mais complexa do que as hipóteses em suas pesquisas, mas são a mente humana pode conceber e seu cli- intimados a ir além da evidência inicial e ma nem sempre oferece respostas constan- não renunciar ao seu dever de mergulhar tes e previsíveis. Eles também advertem as cada vez mais profundamente nos pessoas de que a ciência está entrando em mistérios da Natureza. Os autores deste uma área nebulosa na qual o conhecimento livro reconhecem e vigorosamente cumpri- científico atual não nos permite entender o mentam tais princípios. fenômeno e novos avanços científicos são Há dez anos atrás, Eduardo Assad e Hil- necessários para reduzir as incertezas so- ton S. Pinto, pesquisadores da Embrapa e bre o futuro do clima na Terra. Unicamp respectivamente, desenvolveram temperatura obtidas pelos diferentes mod- uma série de estudos procurando associar elos. O resultado mais importante é a possi- os cenários de aquecimento global com bilidade de avaliar o grau de incerteza dos possíveis impactos no zoneamento agrícola resultados, utilizando mais modelos. de riscos climáticos do Brasil e consequen- Os resultados das simulações apontam temente na produção agrícola brasileira. para a mesma direção, o que confirma o au- Eles usaram um único modelo climático mento da temperatura previsto para 2030. para estimar a área de produção de cada A tecnologia de zoneamento agrícola de município no Brasil. Eles também mostr- risco climático foi, então, aplicada utilizan- aram as diferentes consequências de al- do estes resultados, juntamente com infor- tas temperaturas em diversos cultivos nas mações sobre o uso da terra efetivamente regiões do Brasil. alterados por atividades antropogénicas. Assad e Pinto aceitaram o desafio deste Em um passo adiante, o impacto sobre a ag- livro, com o proveitoso e diligente apoio de ricultura brasileira foi calculado por meio André Nassar e Leila Harfuch, do Instituto de modelos econômicos. de Comércio e Negociações Internacionais - O estudo deixa claro que a agricultura é 11 ICONE, Saulo Freitas, do Instituto Nacional vulnerável à temperaturas mais elevadas, de Pesquisas Espaciais - INPE, e de Barbara dados os níveis previstos do aquecimen- Farinelli, Mark Lundell e Erick Fernandes, to global. Podem haver perdas no rendi- do Banco Mundial. mento e, conseqüentemente, na produção. Uma análise mais precisa da vulnerabi- Pode haver a migração de culturas de uma lidade da agricultura brasileira é possível região para outra. O perfil de produção re- utilizando novas ferramentas para o mod- gional pode mudar. elo climático e dinâmicas de uso do solo. Os O resultado do trabalho atual, que clara- pesquisadores utilizaram sete modelos de mente vai além dos estudos anteriores, en- análise climática propostos pelo Painel In- fatiza a necessidade de se dar prioridade tergovernamental sobre Mudanças Climáti- à pesquisa em biotecnologia, em especial cas-IPCC, três dos quais em uma resolução nas regiões que serão fortemente afetadas, detalhada e adaptadas às condições tropic- como Nordeste e Sul do Brasil. A busca de ais. O Modelo Climático Regional Brasileiro genes que aumentam a tolerância das plan- - RCM - BRAMS desenvolvido pelo CPTEC / tas à altas temperaturas e estresse hídri- INPE também foi analisado. co deve ser uma empreitada rotineira nos Os pesquisadores foram capazes de re- próximos anos. A implementação de políti- duzir o grau de incerteza dos resultados, ao cas públicas associadas a sistemas de pro- considerarem os desvios máximos e mín- dução mais equilibrados deve ser apoiada imos das temperaturas estimadas pelos por todo o país, a fim de reduzir o impac- modelos para ambos os cenários otimistas to do aquecimento global, seja através da Prefácio e pessimistas, considerando as faixas de mitigação das emissões de gases de efeito Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira estufa ou da integração de sistemas de pro- material do Governo britânico, através do dução mais adaptados as condições estress Conselho Britânico. O estudo mais recente abióticos. recebeu o apoio do Banco Mundial, sem- Somente estudos como este, realizados pre pronto a ajudar no desenvolvimento por um consórcio de instituições e com da agricultura brasileira. É improvável que base em conhecimento científico e tec- algum dia seremos capazes de expressar a nológico avançado, podem ajudar a iden- verdadeira importância e alcance da coop- tificar as soluções exigidas por um futu- eração científica internacional na evolução ro tão desafiador. A possibilidade de um da ciência agrícola brasileira. A Embrapa aumento de dois graus Celsius, em que a também deve muito à generosidade de in- temperatura média da Terra requer que a stituições como Unicamp, INPE e ICONE, agricultura tropical esteja preparada para sempre dispostos a contribuir com os estu- tais condições, para garantir a segurança dos da rede, um ativo que garante um tra- alimentar durante as próximas décadas. balho de qualidade. A primeira abordagem para a vulnera- Maurício Antônio Lopes 12 bilidade da agricultura brasileira vis-à-vis Presidente da Embrapa o aquecimento global contou com o apoio Resumo Executivo 13 A agricultura é um importante setor da economia brasileira, que responde por cerca de 5,5% do PIB (25% quando o Para alcançar o desenvolvimento nacio- nal, a segurança alimentar, a adaptação e a atenuação das mudanças climáticas, assim agronegócio é incluído) e por 36% das ex- como as metas comerciais nas próximas portações do país. De acordo com o censo décadas, o Brasil precisará elevar de forma agropecuário de 2006, o Brasil possui 5 significativa a produtividade por área dos milhões de propriedades rurais das quais sistemas de cultivo de produtos alimen- 85% pertencem a pequenos proprietários e tícios e de pastagens, reduzindo ao mes- 16% são grandes fazendas comerciais que mo tempo o desmatamento, reabilitando ocupam 75% da terra cultivada. Em 2009, milhões de hectares de terra degradada e o Brasil apresentou um saldo comercial adaptando-se às mudanças climáticas. Por positivo agrícola de US$55 bilhões. Como causa da magnitude prevista para os im- a agricultura é essencial para a segurança pactos sobre a agricultura e o volume dos alimentar nacional e exerce uma forte atua- investimentos necessários, além da urgên- ção sobre o aumento do PIB, existe uma cia do tempo de resposta para a escolha das crescente preocupação com o fato de que o melhores opções de adaptação disponíveis setor está cada vez mais vulnerável às va- nas próximas décadas, há uma necessidade riações e às mudanças climáticas. urgente de se fazer uma avaliação avançada dos impactos das mudanças climáticas so- Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira bre as atividades agrícolas que possa orien- mente previsto, no caso de outros produtos tar os formuladores de políticas quanto às (feijão e milho), no entanto, esse fenôme- prioridades e o escalonamento dos investi- no pode ser muito mais grave do que as mentos. As atuais projeções desses efeitos estimativas de estudos anteriores. Essas no Brasil se basearam nos modelos que nuances ilustram, pelo menos em parte, o estavam disponíveis antes de 2008. Desde valor de aproveitar de forma mais comple- então, não apenas a ciência e a qualidade ta e geograficamente distribuída o clima, as da modelagem global, regional e local avan- características do solo, a água e os conjun- çaram de modo expressivo, mas também tos de dados climáticos para que os méto- melhoraram as condições do solo e possi- dos de modelagem das mudanças climáti- bilitaram a disponibilização de dados rela- cas sejam mais analíticos e diferenciados. tivos ao clima. Na ausência de alterações no clima, a la- Este estudo se apoia em várias das prin- voura brasileira deverá se expandir a uma cipais análises recentes sobre os impactos área de 17 milhões de hectares em 2030, das mudanças climáticas e adota uma série comparada à extensão das terras cultivadas de Modelos Climáticos Globais e Region- observada em 2009. No entanto, devido aos 14 ais testados, assim como incorpora dados impactos das mudanças climáticas todos os hidrometeorológicos e de adequação do cenários simulados neste estudo levam a solo, que não estavam disponíveis anterior- uma redução da área cultivável de “baixo mente para esses trabalhos, com o objetivo risco e alto potencial” em 2020 e 2030. de avaliar a vulnerabilidade e os efeitos das Mais especificamente, nossos resultados alterações climáticas na agricultura bra- sugerem que a região Sul do Brasil, que é sileira. atualmente uma potência agrícola, poderá Além de confirmar os resultados dos perder até 5 milhões de hectares de terras estudos anteriores sobre o impacto das adequadas à agricultura, por causa das al- mudanças climáticas, que previam consid- terações climáticas, enquanto o Brasil como eráveis efeitos negativos sobre as lavouras um todo poderá ter cerca de 11 milhões de brasileiras em 2020 e 2030, as nossas de- hectares a menos dessas terras em 2030. scobertas ajudam a ampliar ainda mais a Por sorte, os nossos resultados também base de conhecimento não apenas sobre mostram que a maior parte da perda de a extensão desses impactos em diferentes solo com elevado potencial agrícola pode- culturas, mas também sobre o seu nível nas ria estar alocada às áreas de pastagens at- diversas regiões do país. ualmente pouco produtivas. Nas regiões Por exemplo, este estudo mostrou Centro-Oeste e de Cerrado do Nordeste, a que enquanto as projeções dos impactos substituição de pastagens pelo cultivo de climáticos negativos para 2020 referentes grãos e cana-de-açúcar poderá compensar a algumas culturas (soja e algodão) podem a estimativa de perda de cerca da metade ser mais moderados do que o anterior- das terras cultiváveis e, especialmente, da produção de grãos no Sul (aproximada- fenômeno provavelmente reduzirá o con- mente 9 milhões de toneladas). sumo de quase todas as commodities, es- É especialmente digno de nota que, pecialmente os grãos e o etanol. Quando a apesar da estimativa de redução na área disponibilidade de terra for menor por cau- de pastagem, a produção de carne bovina sa das mudanças climáticas, o principal de- deverá diminuir em uma quantidade muito terminante da estimativa de queda no con- menor devido à intensificação tecnológica. sumo é o preço real mais elevado de todas Assim, embora a produção de carne bovina- as commodities. no Brasil possa sofrer uma queda de 7% Em nosso estudo, as estimativas de im- em todos os cenários simulados para 2030, pacto na produção mostram que, ao con- comparados à linha de base, as nossas sim- trário das previsões anteriores de redução ulações preveem que a este produto pode do valor da produção agropecuária, os crescer continuamente até 2030 em todos efeitos negativos sobre a oferta de commod- os cenários em relação à produção obser- ities devem resultar em preços significati- vada em 2009, podendo ainda aumentar a vamente mais elevados de alguns produtos, oferta em mais de 2 milhões de toneladas. especialmente os alimentos básicos como 15 Embora a intensificação de pastagens arroz, feijão e todos os produtos de carne. compense potencialmente a sua substitu- Isso irá compensar o declínio na produtiv- ição pelo cultivo de grãos e cana de açúcar idade sobre o valor da produção agrícola, nas regiões centrais do Brasil, este estudo mas poderá ter importantes efeitos negati- prevê que os preços da carne bovina ao vos sobre a população mais pobre e o seu produtor deverão aumentar mais de 25% consumo desses itens básicos. Vale ressal- em todos os cenários, o que sugere que a tar que a carne bovina e o óleo de soja re- intensificação do uso das pastagens e da spondem por quase 50% do valor da pro- produção de gado poderá levar a uma el- dução total prevista para a agropecuária evação de preços, de modo a compensar brasileira (considerando a cesta de produ- os investimentos destinados a aumentar a tos selecionados para esta análise). produtividade. Neste estudo, os impactos previstos das Em geral, pode-se esperar que os declí- mudanças climáticas sobre a precipitação nios na produção afetem os preços, a de- atmosférica e os déficits de umidade do manda doméstica e as exportações líquidas solo nas fases críticas do crescimento das desses produtos. Na ausência de mudanças culturas sugerem que há uma necessidade climáticas, o consumo interno de todas as urgente de realizar análises mais detalha- commodities deverá aumentar em 2020 e das das áreas prioritárias de cultivo, com o 2030, em relação a 2009. No entanto, nos- objetivo de desenvolver variedades melhor Resumo Executivo sas simulações em todos os cenários de integradas e tolerantes à seca (com raíz- mudanças climáticas sugerem que, quando es mais profundas), combinadas a solos comparado à linha de base de 2009, esse férteis e a estratégias de manejo da água para atenuar os efeitos previstos. Além de Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira ampliar o acesso à tecnologia de irrigação sobre políticas e investimentos até 2030 e eficiente, os mecanismos de gestão que posteriores. Como os fatores que forçam as conservam e elevam o nível de carbono mudanças climáticas operam tanto no inte- do solo vão aumentar a capacidade de re- rior quanto fora das fronteiras nacionais, há tenção de umidade da terra. Por exemplo, uma necessidade urgente de investimentos a. O governo brasileiro e o setor priva- coordenados e direcionados às alterações do vêm facilitando constantemente a climáticas nos próximos um a cinco anos adoção de melhores práticas agrícolas para instrumentação, compilação, compar- de conservação do solo como o plantio tilhamento e sistemas de acesso aos dados. direto e os sistemas mais eficientes em Os órgãos de investimento nacionais, bilat- termos de recursos, da mesma maneira erais e multilaterais precisam coordenar que os esquemas de integração lavou- suas estratégias no sentido de apoiar essa ra-pecuária que são por natureza mais necessidade específica e urgente. resistentes aos choques climáticos do É importante notar que este estudo não que alguns modos de cultivo intensivo. simula o potencial impacto dos avanços tec- b. O governo está concedendo crédito e nológicos (novas variedades, maior e mel- 16 financiamento para o novo programa hor acesso à irrigação, manejo aperfeiçoado Agricultura de Baixo Carbono, tendo da água e do solo) como medidas de adap- dispobilizado cerca de US$1 bilhão para tação para compensar os efeitos negativos crédito com juros baixos apenas na es- das mudanças climáticas previstos para a tação de cultivo de 2011. produtividade agrícola. A necessidade de avaliações melhores e mais bem integra- c. O acúmulo de carbono no solo agrícola das do impacto dessas alterações é espe- também pode ser qualificado para o re- cialmente urgente no setor agrícola. Uma cebimento de pagamentos de carbono recente pesquisa realizada pela EMBRAPA nos mercados voluntários e formais (fu- revelou que, mesmo contando com avança- turos). das técnicas de reprodução, despende-se Em nosso estudo, as inciativas para acessar cerca de 10 anos em atividades de P&D os dados hidrometeorológicos e de uso do com gastos em torno de US$ 6 a US$7 mil- solo mais recentes disponíveis melhoraram hões para desenvolver, testar e produzir de modo expressivo a nossa capacidade de (incluindo dois a três anos para ampliar a realizar modelagens e projeções de impac- produção de sementes) uma nova cultivar to mais significativas. No entanto, a falta de de um produto ou novas variedades de cul- informações climáticas de boa qualidade turas que sejam resistentes ao calor e/ou e de longo prazo continua a prejudicar os à seca. A síntese da análise contida neste esforços regionais e locais de modelagem relatório sugere que, na próxima década, a climática, bem como a calibração e a vali- agricultura brasileira já estará lidando com dação das projeções atuais, que estão sen- um nível significativo de pressão sobre a do utilizadas ​​para fundamentar as decisões produtividade agropecuária induzida pelo clima. Uma grande parte do trabalho de os programas nacionais de crédito rural e aperfeiçoamento da lavoura até a presente de seguro no Brasil. Isto significa que, des- data tem se concentrado na tolerância à de o início, a análise terá imediatas impli- seca e muito ainda precisa ser feito quanto cações de amplo alcance nas operações e à resistência ao calor. políticas no Brasil. As experiências brasile- Os resultados deste estudo serão incor- iras são altamente relevantes para outras porados ao Modelo de Zoneamento Agro- regiões e países onde um trabalho semel- ecológico da EMBRAPA/UNICAMP visando hante está em curso. aprimorar a simulação e as projeções do impacto climático que servem de base para 17 Resumo Executivo 18 Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira Introdução 19 A agricultura é um importante setor da economia brasileira, que responde por cerca de 5,5% do PIB (25% quando o aráveis. O restante da produção correspon- de ao setor de criação de animais, princi- palmente carne bovina, frango, carne suína, agronegócio é incluído) e por 36% das ex- leite e frutos do mar. Atualmente, o país é o portações do país. No mundo, o Brasil é o maior exportador do mundo de carne bovi- maior produtor de cana-de-açúcar, café, na, carne de frango, suco de laranja, café, frutas tropicais, suco de laranja concen- açúcar e etanol. trado e congelado e possui o maior reban- De 1991 a 2010, a produção nacional de ho comercial de gado com 210 milhões de grãos (algodão, amendoim, arroz, feijão, gi- cabeças. O país também é um importante rassol, milho, soja, sorgo, trigo, aveia, ceva- produtor de soja, milho, algodão, cacau, da, semente de mamona, centeio e semente tabaco e produtos florestais. Entre 1996 de colza) aumentou 147% enquanto que e 2006, o valor total da produção agrícola a área cultivada cresceu apenas 25%, ou apresentou um aumento de 365% (ou US$ 4,8%/ano e 1,7%/ano, respectivamente, o 64 bilhões), passando de R$ 23 bilhões a que representa um forte desenvolvimento R$ 108 bilhões. O Brasil responde por cer- da tecnologia agrícola (Figura 1). Em 2009, ca de um terço das exportações de soja e o Brasil apresentou um saldo comercial abastece um quarto do comércio de soja agrícola positivo de US$55 bilhões. do mundo utilizando 6% de suas terras Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira Figura 1. Aumento da produção de grãos e da área cultivada no Brasil de 1991 a 2010. Produção em milhões de toneladas 144.1 145.9 131.8 135.1 Aumento da produção 123.2 119.1 122.5 114.7 +153,7% = 4,8%/ano 100.3 96.8 81.1 78.4 76.6 82.4 83.0 76.0 73.6 68.4 68.3 57.9 Área cultivada (milhão de ha) Aumento = 25,4% = 1,7%/ano 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09** 10*** Nas últimas décadas, o crescimento do A produção total cresceu 2,5 vezes des- setor agropecuário brasileiro tem sido de os anos 1970, enquanto o emprego de cada vez mais impulsionado por ganhos mão de obra diminuiu e o uso de capital e 20 de produtividade nos setores de cereais, de terra apresentou uma pequena elevação. grãos (granulação grossa), cana-de-açúcar, Mais importante do que isso é que a pro- sementes oleaginosas e leite. A produção dutividade de todos os fatores de produção brasileira subiu mais de uma vez e meia a aumentou de modo significativo no mesmo taxa de produção mundial (Figuras 2 e 3). período (Figura 4) (Fonte de dados: FAO/ Nos setores de carne, o aumento médio foi FAOSTAT) 1,8 vez mais rápido do que o da produção mundial. Figura 2. Expansão da produção agrícola brasileira e mundial de 1990 a 2009 (1990 = 100) 300 300 250 250 200 200 150 150 100 100 50 50 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Brasil_Cana-de-açúcar Brasil_Grãos Mundo_Cana-de-açúcar Mundo_Grãos Brasil_Cereais Brasil_Óleo para cozinhar Mundo_Cereais Mundo_Óleo para cozinhar Figura 3. Expansão da produção brasileira e mundial de carne e leite de 1990 a 2009 (1990 = 100) 450 450 400 400 350 350 300 300 250 250 200 200 150 150 100 100 50 50 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Brasil_Carne bovina Brasil_Leite Mundo_Carne bovina Mundo_Leite Brasil_Frango Brasil_Carne suína Mundo _Frango Mundo_Carne suína Figura 4. Setor agrícola brasileiro: produção total e uso de mão de obra, terra e capital, e a Produtividade Total dos Fatores (1975=100) 400 450 21 350 400 350 300 300 250 250 200 200 150 150 100 100 50 50 1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 Capital Terra Produtividade Total dos Fatores Produtividade da terra Produção Mão de obra Produtividade da mão de obra Produtividade do capital Fonte: Gasques et al. (2009) Introdução Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira A Evolução do Setor Agrícola no Brasil e suas Implicações até 2030 O Censo Agropecuário de 20065 indicou res (menos de 100 hectares) aumentou. Em que o número de propriedades rurais está termos de ocupação do solo, as categorias aumentando de forma progressiva, apesar de menor e de maior tamanho diminuíram da redução observada dos anos 1990. No no período de 1995 a 2006, enquanto as que concerne à sua distribuição, segun- médias (10 a 1000 ha) se expandiram. A do o tamanho da propriedade, o setor ag- categora de 100 a 1000 ha reduziram sig- ropecuário está se tornando claramente nificativamente, e se soma da a categora de menos concentrado. Por exemplo, entre 10 a 100 hectares há redução de 10 a 1000 1995 e 2006, o número de unidades meno- ha na ocupação do solo. Tabela 1. Evolução da estrutura do setor agrícola brasileiro   Número de propriedades rurais (unidades) Terra ocupada (ha) 22   1970 1975 1980 1985 1995 2006 1995 2006 Total 4,924,019 4,993,252 5,159,851 5,801,809 4,859,865 5,175,489 353,611,246 329,941,393 Menos de 10 ha 2,519,630 2,601,860 2,598,019 3,064,822 2,402,374 2,477,071 7,882,194 7,798,607 10 a 100 ha 1,934,392 1,898,949 2,016,774 2,160,340 1,916,487 1,971,577 62,693,586 62,893,091 100 a 1000 ha 414,746 446,170 488,521 517,431 469,964 424,906 123,541,517 112,696,478 Mais de 1000 ha 36,874 41,468 47,841 50,411 49,358 46,911 159,493,949 146,553,218 Fonte: Censo Agropecuário do IBGE 2006 A produtividade total dos fatores (PTF) (Gasques et al. 2009). As tendências positi- da agricultura brasileira cresceu de forma vas nos índices de produtividade ressaltam constante ao longo dos últimos 35 anos. o esforço do Brasil para priorizar os ganhos Em relação a 1970 (=100), a produção au- de produtividade determinados pela inten- mentou 243%, os insumos 53% e a corre- sificação da produção, ao invés de expandir spondente PTF,124%. Os investimentos em as áreas agrícolas (Contini et al. 2010).5 pesquisa e desenvolvimento foram funda- mentais para esses aumentos e a estimati- va de elevação de 1% na P&D agrícola re- 5 O ultimo censo agropecuário do qual os dados estão sultou em um crescimento de 0,2% na PTF disponíveis. O panorama agrícola brasileiro em 2030 sidade, preservando e se beneficiando ao e após esta data irá assemelhar-se aos atu- mesmo tempo dos serviços ecossistêmi- ais cenários da Austrália, do Canadá e dos cos e dos mercados emergentes para esses EUA, onde predominam poucas proprie- serviços (compensações de carbono e de dades grandes que dispõem de tecnolo- biodiversidade, fluxos hidrológicos para gia avançada com valor nacional agregado reduzir as inundações e/ou melhoria da derivado da terra, do capital e da mão de qualidade da água). Além dos mercados obra qualificada? Os dados apresentados emergentes para os serviços ambientais, a nas Figuras 2 a 4 sugerem que estão ocor- crescente demanda mundial por “alimen- rendo ganhos de produtividade e cresci- tos funcionais” (que trazem benefícios di- mento da produção agropecuária como um retos à saúde como a redução do colester- todo. Curiosamente, o setor rural brasileiro ol, um melhor funcionamento do fígado e a está usando capital e mão de obra de modo diminuição da hipertensão) pode resultar mais intensivo em todas as propriedades em elevados ganhos econômicos para os de tamanho pequeno e grande (veja a Fig- pequenos agricultores. Muitos dos alimen- ura 4, acima). É difícil prever como será a tos funcionais são produtos de “baixo vol- 23 estrutura dos latifúndios do país em 2030, ume e alto valor” que estão bem adaptados mas as tendências acima sugerem que as aos sistemas de cultivo dos produtores simulações no futuro de longo prazo do agrícolas de menor porte na paisagem ru- setor agropecuário brasileiro necessitam ral brasileira. se concentrar na intensificação sustentável Outra questão que é muitas vezes es- da produção em vez de promover possíveis quecida nas discussões sobre os cenári- mudanças na estrutura e no tamanho das os futuros da agropecuária brasileira é o propriedades rurais. marco legal e administrativo fundiário pre- Quando comparados aos produtores dominante no país (Sparovek et al., 2010). agrícolas de larga escala, os pequenos O marco legal estabelece o que pode ou o agricultores são geralmente mais vul- que não pode ser feito no âmbito rural e neráveis ​​aos choques econômicos e ambi- agrícola (por exemplo, a manutenção de zo- entais, além de ter acesso a menos recursos nas ribeirinhas, reservas legais (florestas), para se adaptar à variação e às mudanças demarcação de terras indígenas, etc.) e o climáticas. No entanto, em relação aos pro- governo brasileiro está cumprindo firme- dutores de grande porte, que dependem de mente os aspectos jurídicos por meio de uma ou duas culturas plantadas ao longo de uma série de ações de monitoramento, de milhares de hectares, os pequenos agricul- políticas e de instrumentos fiscais. Os dois tores podem desempenhar um papel vital principais marcos legais são: (a) o Códi- na promoção de uma maior adaptabilidade go Florestal e (b) as Áreas de Preservação em escala de paisagem por meio de diver- como os parques estaduais e nacionais, e as Introdução sos métodos de produção que aproveitam reservas indígenas. um espectro mais amplo da agrobiodiver- Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira O Código Florestal, que está sendo revis- de baixo impacto como a extração maneja- to e discutido no Senado Federal, abrange da de florestas, os sistemas agroflorestais toda a vegetação natural (a Amazônia, a selecionados e a apicultura. Essas ativi- Mata Atlântica, o Cerrado), a Caatinga (a dades são adequadas à agricultura familiar vegetação do semi-árido no Nordeste do dos pequenos produtores e possivelmente Brasil), o Pantanal e o Pampa (pastagens no aos esquemas de produção alternativos que Sul do Brasil). A lei delimita as terras rurais visam nichos de mercado. A agricultura me- privadas e determina as que são adequadas canizada convencional que utiliza insumos à produção e aquelas que devem ser preser- intensivos ou as operações florestais que vadas. A área que deve ser conservada com removem uma floresta inteira não são per- sua vegetação natural em todas as proprie- mitidas. De modo ideal, qualquer mudança dades rurais privadas é subdividida em (a) proposta no Código Florestal também deve Reservas Legais (área de conservação e (b) levar em conta as implicações dos impactos Áreas de Preservação Permanente (APPs), das mudanças climáticas previstos sobre as que incluem (i) as zonas ribeirinhas defin- paisagens agroecológicas. idas como faixas de vegetação ao longo de É possível vislumbrar uma “mudança 24 rios e de outros corpos d’água com largura de paradigma” para uma paisagem agríco- variável, dependendo do tipo e do tamanho la e rural brasileira produtiva, resiliente e do curso d’água, (ii) qualquer terreno com culturalmente adequada e inclusiva, que declives abaixo de 45°, (iii) topos de mor- comporte tanto os grandes produtores ros e (iv) qualquer terreno situado a 1.800 que garantem um alto volume de cresci- m acima do nível do mar. mento quanto os pequenos agricultores O objetivo da APP é proteger as partes que promovem a resistência aos choques da paisagem que têm valor estratégico para das mudanças climáticas por meio de uma o reabastecimento de água doce e por esta gama de sistemas de cultivo que são pro- razão as APPs não podem ser utilizadas com base em pagamen- dutivos e rentáveis, ​ para qualquer tipo de atividade de pro- tos por serviços ambientais (por exemplo, dução, sendo mantidas com a vegetação na- Redução de Emissões por Desmatamento tiva original. As mudanças nesse aspecto da e Degradação – REDD+) e nos mercados lei, para permitir o plantio de espécies de emergentes, para atender à crescente de- árvores exóticas (por exemplo: eucalipto, manda global por alimentos funcionais e palmeira oleaginosa africana) e a redução matérias-primas para a indústria. É funda- da área delimitada para preservação, são mental compreender a evolução da inten- atualmente objeto de intensas discussões. sificação, da vulnerabilidade, da resiliência As Reservas Legais são estabelecidas para e as questões relacionadas a investimentos, promover a conservação da biodiversidade. além da realização de um melhor mapea- Embora o seu objetivo principal seja man- mento dos impactos das alterações climáti- ter a vegetação nativa, essas áreas podem cas previstos em todas as escalas espaciais ser usadas ​​em alguns sistemas de produção e temporais relevantes, a fim de aprimorar e manter os setores rural e agrícola do Bra- debate se concentra na implementação da sil, assim como a sua vantagem competiti- lei, a partir de instrumentos como a criação va regional e mundial. Esta breve seção foi do Programa de Regularização Ambiental incluída para destacar a importância dos nos estados. Uma análise completa do mar- aspectos legais para a futura expansão, in- co jurídico em mutação e da sua possível tensificação e diversificação da agricultura influência na futura estrutura agrícola está brasileira. O Código Florestal (Reservas Le- fora da abrangência deste relatório (veja gais e APPs) já foi aprovado no Senado Fed- um estudo detalhado e uma discussão so- eral e sancionado pela presidente. Agora o bre esse tema em Sparovek et al., 2010). Ameaças decorrentes da variabilidade no clima e de uma posterior mudança climática Existe uma crescente preocupação no Bra- 2070, e também para dois cenários con- sil e na América Latina com o fato de que tidos no Terceiro Relatório de Avaliação a crescente variação de curto prazo e as do Painel Intergovernamental sobre Mu- 25 mudanças de médio e longo prazo no clima danças Climáticas (IPCC): o cenário A2 exercerão significativos impactos negativos apresentou uma visão mais pessimista e na paisagem e na agricultura brasileira, no o B2 uma situação um pouco mais oti- crescimento econômico nacional e nos mei- mista. No cenário A2, a variação estima- os de subsistência associados (Assad e Pin- da de elevação da temperatura se situa to, 2008; Margulis e Dubeux, 2010). entre 2 ° C e 5,4 ° C, e no B2, entre 1,4 ° •• O estudo de Assad e Pinto (2008) avaliou C e 3,8 ° C. 35 produtos agrícolas em termos de Os resultados mostraram que: riscos climáticos, mas apenas nove prin- i. Os impactos previstos das mudanças cipais culturas (algodão, arroz, café, climáticas sobre toda a produção atual cana-de-açúcar, feijão, girassol, mandio- de grãos alimentícios atingirão a soma ca, milho e soja, bem como as pastagens de US$ 4 bilhões em 2050, sendo que e o gado de corte), representando 86% apenas o setor de soja responde por cer- da área plantada no Brasil, receberam ca de 50% das perdas; atenção especial. ii. Em um cenário pessimista das Alter- •• Com base em um mapeamento das áreas ações Climáticas (A2), as melhores áreas de risco climático em 5000 municípios e atuais de “baixo risco” para produção utilizando a linha de base de 2007 para de café deverão sofrer uma redução de essas culturas, foram simulados cenári- 30% no mínimo, o que poderá resultar os agrícolas brasileiros para os anos em perdas de quase US$ 1 bilhão até Introdução de 2010 (a representação mais próxi- 2050. É interessante notar que mesmo ma das condições atuais), 2020, 2050 e no cenário pessimista A2 a área ade- Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira quada para o cultivo de cana-de-açúcar simulações mostraram que o PIB do Bra- poderá duplicar até 2020. sil em 2050 será de aproximadamente US$ A análise de Margulis e Dubeux (2010) uti- 9,4 trilhões e que, na pior das hipóteses lizou as metodologias de estudo de Assad e (Cenário A2 do IPCC), o país poderá perder Pinto (2008) baseando-se em uma combi- cerca de 2,5% desse valor a cada ano, devi- nação única dos modelos climáticos global e do aos efeitos do aumento de temperatura. regional e nos cenários A2 e B2 do Terceiro A uma taxa de desconto de um por cento ao Relatório de Avaliação do IPCC. Os resulta- ano, isto é equivalente à perda do PIB de um dos da modelagem climática foram usados ano inteiro ao longo dos 40 anos seguintes. para determinar um padrão de equilíbrio As conclusões do estudo também previram geral computável (EGC), com vistas a mel- uma redução significativa nas melhores hor avaliar os prováveis impactos econômi- áreas de cultivo atualmente caracterizadas cos resultantes das projeções de mudanças por uma produção de baixo risco em 8 dos climáticas para 2020, 2050 e 2070. As 9 principais produtos agrícolas alimentar- es e de exportação (Tabela 1). 26 Tabela 2. Impacto das mudanças climáticas nas atuais áreas de “baixo risco” adequadas ao cultivo (Margulis et al., 2010) Culturas Variação relativa à área produtiva atual (%) RECE B2 RECE A2 (+1.4ºC to +3.8ºC) (+2°C to +5.4°C) 2020 2050 2070 2020 2050 2070 Algodão -11 -14 -16 -11 -14 -16 Arroz -9 -13 -14 -10 -12 -14 Café -7 -18 -28 -10 -17 -33 Cana-de-açúcar 171 147 143 160 139 118 Feijão -4 -10 -13 -4 -10 -13 Girassol -14 -17 -18 -14 -16 -18 Mandioca -3 -7 -17 -3 -13 -21 Milho -12 -15 -17 -12 -15 -17 Soja -22 -30 -35 -24 -34 -41 RECE - Relatório Especial sobre os Cenários de Emissões A redução prevista na área de cultivo gulis et al., 2010 são modestas (Tabela 3, de baixo risco e as consequentes perdas abaixo. US$1 = R$ 1,8) econômicas em 2050 resumidas por Mar- Redução nas áreas de cultivo de Cenário A2 Perda econômica anual Cultura “baixo risco” (%) (milhões de reais)* Arroz -12 530 Algodão -14 408 Café -17.5 1,597 Feijão -10 363 Soja -32 6,308 Milho -15 1,511 Cana-de-açúcar 145 0 O estudo de Margulis e Dubeux (2010) rep- 3. O tratamento explícito da incerteza, resentou uma contribuição pioneira para magnitude e frequência dos eventos ex- a base de conhecimento brasileira sobre tremos. os impactos das mudanças climáticas em 4. O aumento da densidade dos dados uma série de setores (agricultura, biodi- 27 (área produtiva, qualidade do solo, pre- versidade, energia e recursos hídricos) e cipitação atmosférica, temperatura, es- as implicações do crescimento macroeco- coamento, infiltração, biodiversidade, nômico em escala nacional. Não obstan- dinâmica da cobertura do solo) e do te, os autores identificaram as seguintes acesso às informações para possibilitar oportunidades para melhorar no futuro as a parametrização, a calibragem e as val- avaliações do impacto econômico das mu- idações.. danças climáticas: Um estudo regional dos impactos das 1. O uso de uma série de modelos climáti- mudanças climáticas na agricultura lati- cas globais e regionais (MCGs e MCRs) no-americana (Fernandes et al. 2011) para ampliar a eficiência das projeções também constatou que a produtividade de mudanças climáticas, em vez da com- possivelmente será afetada de modo signif- binação de um único MCG e um MCR uti- icativo e negativo, muito embora com difer- lizada no estudo. entes intensidades sub-regionais (Quadro 2. O aperfeiçoamento das projeções de 1, abaixo). O estudo previu que a produção impactos pluviométricos, porque não de soja brasileira poderá diminuir até 30% houve consenso sobre a sua magnitude em 2020 e ainda mais em 2050, com pos- e direção – um problema que continua a síveis reduções expressivas também no cul- prejudicar a maior parte dos outros es- tivo de milho e trigo. No entanto, é estim- tudos. ulante verificar que a análise mostrou que a simulação das intervenções de adaptação Introdução (variedades de ciclo curto e longo, espécies com raízes mais profundas e resistentes à Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira seca, irrigação moderada nas fases críticas uma quantidade significativa de reduções do crescimento e uma mudança nas datas na produtividade de todas as lavouras afe- de plantio) indicou que é possível atenuar tadas. QUADRO 1 – As Mudanças Climáticas e a Agricultura na América Latina, 2020-2050 O estudo regional do Banco Mundial de 2011 (Fernandes et al. 2011) mostrou que a visão predominante e frequentemente expressa de que a América Latina e o Ca- ribe continuarão a ser o celeiro do futuro, intervindo para fornecer grãos a outras regiões afetadas pelas mudanças climáticas, deve ser amenizada e submetida a rigorosos testes. Os principais resultados são os seguintes: •• No caso do trigo, a produção poderá ser significativamente afetada pelas alter- ações climáticas, independentemente do cenário de emissões ou do modelo de circulação geral. Os percentuais de declínio na produtividade devem ser mais elevados no México, na Colômbia e no Brasil. As reduções nas safras devido ao encurtamento do ciclo de cultura resultarão em menos dias para o enchimento de grãos. Também podem ser significativas as quedas previstas na produção, decorrentes de doenças em 2020 e 2050. Com poucas exceções, uma quanti- 28 dade insuficiente de água poderá afetar mais a produtividade do trigo do que outros fatores. •• Quanto à soja, poderá haver uma menor produtividade como consequência das mudanças climáticas em 2020 e mais ainda em 2050, com diferentes magni- tudes em toda a região. As perdas de produtividade podem ser grandes no Bra- sil (mais de 30% em relação à linha de base), porém menos consideráveis na Argentina, na Bolívia, na Colômbia e no Uruguai. Esse fato pode ser explicado pelo maior impacto das alterações climáticas no Brasil, onde o ciclo de cultivo deverá ser menor do que em outras partes da América Latina, e provavelmente resultará em uma acentuada redução do período de enchimento dos grãos de soja. •• No caso do milho, as mudanças climáticas podem reduzir a produção em toda a América Latina, independentemente do cenário de emissão ou do modelo climático global. Isto ocorre principalmente porque o período mais curto de enchimento dos grãos talvez não seja compensado por maiores taxas diárias de acúmulo de biomassa e pelo efeito de fertilização por CO2. É possível que os países mais afetados sejam o Brasil, o Equador, o México e as nações do Caribe, onde o milho é um dos principais produtos agrícolas. •• Quanto ao arroz, as estimativas do simulador de zonas agroecológicas (SZA) mostram que a produtividade poderá, na média, aumentar em toda a região. A principal razão para esse cenário positivo parece estar relacionada ao fato de que o plantio de arroz é realizado em uma área alagada/irrigada. À exceção do Brasil, do México e do Caribe, as projeções para 2020 e 2050 são anima- doras e preveem na maioria dos casos uma produtividade mais elevada. Nas áreas com baixa temperatura (especialmente o Uruguai e o Sul do Brasil), as mudanças climáticas podem reduzir a incidência de choques provocados pelo frio na pré-floração, que induzem à esterilidade. Com exceção do Brasil e do Caribe, a pressão determinada pela brusone do arroz poderá diminuir porque as condições de temperatura e precipitação se tornam menos favoráveis à ex- pansão do fungo patógeno vegetal Pyricularia grisea. Um dos principais desafios e oportuni- 3. As análises se basearam exclusivamente dades para o Brasil é a necessidade de mel- nos modelos climáticos globais (MCGs) hor compreender, quantificar e mapear os utilizados nas projeções dos futuros im- locais onde há previsão de impactos nas pactos das mudanças climáticas. Embora áreas agrícolas produtivas e de aprimorar a as simulações com MCGs sejam os instru- quantificação da magnitude e da incerteza mentos adequados para abordar as mu- associadas às projeções atuais dos efeitos danças e os impactos climáticos em es- positivos e negativos. cala global até subcontinental (Giorgi et Em 2011, um relatório do Banco Mundial al. 2.001), os resultados das simulações (Assad et al. 2011) apresentou uma análise MCG multimodais de longo prazo ainda detalhada da literatura e dos resultados de devem ser tratadas com cautela porque 29 estudos empíricos recentes que realizaram não captam os detalhes necessários às projeções para os prováveis impactos ​​das avaliações de impacto regional, em parte mudanças climáticas na agricultura bra- devido à baixa resolução (cerca de 300 sileira. De modo geral, a evidência empírica km x 300 km) na maioria dos modelos sugere que o efeito líquido é negativo, em- utilizados. A preocupação com a baixa bora existam diferentes consequências re- resolução espacial dos MCGs é especial- gionais. No entanto, a maioria dos estudos mente importante para as regiões het- desenvolvidos para avaliar essas possíveis erogêneas, como a América do Sul, onde consequências foi determinada por várias as distribuições das variáveis ​​de superfí- das seguintes limitações: cie como a temperatura e a precipitação 1. As simulações de mudanças climáticas atmosférica são frequentemente influ- se basearam em cenários de aumen- enciadas por efeitos locais de topogra- to uniforme de temperatura e precipi- fia e de contrastes térmicos que podem tação e não usaram projeções climáticas ter um efeito significativo sobre o clima geograficamente diferenciadas. (Alves e Marengo, 2009). 2. Os estudos usaram conjuntos de dados 4. Para avaliar as consequências ou os climáticos que eram significativamente impactos das mudanças climáticas nas menos abrangentes em termos de dis- escalas nacional, estadual e municipal tribuição geográfica e de precisão do foram adotados os modelos climáticos que os dados atuais disponíveis. regionais (MCRs), com resolução mais Introdução alta (por exemplo, 50 km x 50 km). No entanto, é importante notar que, embora Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira os resultados para o Brasil demonstrem sistemáticos herdados do MCG do qual que os MCRs são eficientes na simulação foram obtidos e, finalmente, visando do clima atual, as suas configurações produzir estimativas úteis para as pro- ainda necessitam de ajustes e calibração jeções climáticas regionais, sazonais e com base nos dados locais e nas obser- interanuais (Marengo et al., 2009b). vações de campo, para corrigir os erros 30 Abrangência deste estudo 31 E ste estudo parte das conclusões obtidas por uma década de pesquisa sobre os impactos das mudanças climáticas na agro- •• dos efeitos econômicos sobre a pro- dução e a rentabilidade agrícola, e •• das mudanças na distribuição region- pecuária brasileira e apresenta as mais re- al do uso da terra e na produção do centes descobertas das novas metodologias Brasil em determinados cenários de de modelagem e de simulações: oferta e demanda. i. das mudanças climáticas previstas para Este relatório destaca os resultados de mod- o Brasil em 2020 e 2030 elagens das principais culturas seleciona- ii. do provável impacto das mudanças das no Brasil, visando oferecer informações climáticas nas zonas agroecológicas já mais sólidas e quantitativas sobre como e existentes e na sua adaptabilidade às onde os determinantes do crescimento da principais culturas de grãos, cana-de- produção agrícola têm maior possibilidade açúcar, algodão e pastagens, e de serem afetados pelas alterações climáti- iii. dos impactos econômicos das mudanças cas. O objetivo deste estudo é capacitar os na adaptabilidade das zonas agro- formuladores de políticas de modo a asse- ecológicas aos diversos cultivos e: gurar que o setor agropecuário tenha aces- •• das alterações induzidas na oferta e so a conhecimento e recursos para realizar na demanda dos produtos agrícolas a adaptação que será necessária no senti- no nível nacional, do de enfrentar as inevitáveis mudanças Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira climáticas, contribuindo ao mesmo tempo Regional (Brazilian Atmospheric Mod- para a atenuação das emissões de gases do eling System, BRAMS), que incorpora efeito estufa. as respostas das emissões de aero- Quatro principais intervenções associa- ssóis e da cobertura e/ou do uso da das e integradas foram adotadas na tenta- terra para aperfeiçoar de modo sub- tiva de aperfeiçoar de modo significativo as stancial as previsões meteorológicas atuais avaliações do impacto das mudanças e climáticas locais (especialmente as climáticas na agricultura brasileira e de ori- pluviométricas). entar os formuladores de políticas quanto 3. Combinou a melhor série de modelos às prioridades e ao escalonamento dos in- MCG, MCR e BRAMS identificados aci- vestimentos. Este estudo: ma com o Modelo de Zoneamento Agro- 1. Avaliou e incorporou os melhores da- ecológico da EMBRAPA/UNICAMP, assim dos hidrometeorológicos que estavam como aos dados altamente desagregados disponíveis nas estações de monitora- no nível municipal sobre a qualidade da mento calibradas e validadas da Agência terra (do solo), que foram recentemente Nacional de Águas (ANA) em todas as disponibilizados, para desenvolver um 32 sub-regiões do Brasil, para reduzir de Modelo de Zoneamento Agroecológico forma expressiva as “deficiências nos (MZA) da EMBRAPA atualizado. dados climáticos” identificadas nos es- 4. Combinou o MZA da EMBRAPA ao Mod- tudos anteriores. elo de Uso da Terra para a Agricultura 2. Aperfeiçoou as projeções das mudanças Brasileira (Brazilian Land Use Model, climáticas por meio da combinação de BLUM), com o objetivo de avaliar: modelos em escala global, regional e lo- a. As alterações induzidas pelas mu- cal, visando oferecer previsões mais sig- danças climáticas na oferta e na de- nificativas para o Brasil. Isto foi realiza- manda de produtos agrícolas no nível do por meio: nacional. a. da análise do melhor conjunto de b. As mudanças na distribuição do uso modelos globais e regionais (MCGs da terra e da produção no território e MCRs), que foram testados para as brasileiro em determinados cenários condições do clima brasileiro de oferta e demanda. b. da integração dos melhores MCGs e c. Os efeitos econômicos na produção, MCRs disponíveis ao Desenvolvimen- preços e na rentabilidade das ativi- to Brasileiro do Modelo Atmosférico dades agrícolas As Mudanças Climáticas e as Projeções do Impacto Agrícola no Brasil até 2030 e Após 33 B asendo-se nas conclusões da análise da literatura destacadas nas seções ante- riores e nos resultados que emergem dos aram os MCRs para ajudar a quantificar melhor as alterações no clima regional e proporcionar cenários para a avaliação trabalhos que estão sendo realizados no dos impactos e da vulnerabilidade às mu- Brasil, existem oportunidades significati- danças climáticas. Todos esses projetos vas para melhorar a qualidade e a solidez adotaram um delineamento experimental das projeções que estão disponíveis sobre padronizado que utilizou um ou dois MCGs os impactos das mudanças climáticas na para determinar vários modelos regionais agricultura brasileira ao longo das próxi- a partir dos serviços de meteorologia e das mas três a quatro décadas. Uma opção foi instituições de pesquisa nas regiões, com o desenvolver modelos climáticos region- objetivo de fornecer projeções climáticas ais (MCRs) aninhados em um MCG para dinâmicas regionais e com maior resolução facilitar a elaboração de estimativas mais para a América Central e do Sul (Marengo consistentes nos níveis nacional e sub-re- et al, 2009 e Central;. Soares e Marengo, gional (Christensen et al., 2007). Vários 2009; Urrutia e Vuille, 2009). programas nacionais e internacionais us- Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira Aperfeiçoamento das projeções do impacto das mudanças climáticas por meio de modelagem em escala global, regional e local Como foi analisado nas seções anteriores, as conscientizar o governo e os formuladores resoluções relativamente baixas dos MCGs de políticas em suas avaliações acerca do impõem limitações à simulação explícita impacto e da vulnerabilidade às mudanças dos processos climáticos de mesoescala e à climáticas e do planejamento das medidas representação da topografia, da cobertura de adaptação. A justificativa para a escolha do solo, do uso da terra e da distribuição do modelo global HadAM3P é a seguinte: terra-mar. Este estudo realizou as seguintes (a) o modelo reproduz de forma adequada etapas principais com o objetivo de ajustar a distribuição sazonal e a variabilidade da as projeções de mudanças climáticas e as precipitação atmosférica em extensas áreas avaliações de impacto realizadas para as da América do Sul, mesmo que persistam principais lavouras brasileiras. alguns erros sistemáticos, (b) o modelo foi 34 pesquisado de modo muito cuidadoso em Abordagem Brasileira e diversas regiões nas experiências anteri- ores realizadas em escala reduzida. Regional para a Seleção e o Uso de Modelos Climáticos Cenários de Emissões Analisamos o projeto regional latino-amer- Utilizados Neste Estudo icano Cenários Regionalizados de Clima Fu- turo da América do Sul (CREAS) em curso, no Devido às limitações de recursos (financia- qual três MCRs: (1) Eta for Climate Change mento e tempo), este estudo aperfeiçoou Simulations − Eta CCS − (Pisnichenko e o trabalho anterior realizado pelo Bra- Tarasova, 2009), (2) RegCM3 (Seth e Rojas, sil e o Banco Mundial usando cenários de 2003; Pal et al., 2007) e (3) a terceira versão emissões e métodos de modelagem semel- pública do HadRM3P do Met Office Hadley hantes. Centre do Reino Unido (Jones et al. 2004; Os trabalhos anteriores (Assad e Pinto, Alves e Marengo 2009) foram aninhados na 2008; Margulis e Dubeux, 2010) se base- versão pública do modelo atmosférico glob- aram no mapeamento das áreas de risco al HadAM3P do Met Office Hadley Centre do climático em 5000 municípios para as prin- Reino Unido (Marengo e Ambrizzi, 2006; cipais lavouras brasileiras em relação à Marengo 2009). linha de base de 2007 e simularam cenários O projeto CREAS tem como objetivo pro- agrícolas para o Brasil abrangendo os anos porcionar cenários de mudanças climáticas de 2010 (a representação mais próxima de alta resolução na América do Sul, para das condições atuais), 2020, 2050 e 2070, e para dois cenários do Terceiro Relatório de Avaliação do IPCC: A2, o mais pessimista, climáticos globais para o Brasil e seleciona- e B2, um pouco mais otimista. No cenário mos quatro entre os MCGs mais adequados, A2, a estimativa de variação do aumento de usando o cenário A2 do Relatório Especial temperatura se situa entre 2 ° C e 5,4 ° C, e sobre Cenários de Emissões do IPCC devido no B2, entre 1,4 ° C e 3,8 ° C. à coerência das previsões climáticas (tem- Com base no trabalho anterior realizado peratura) para diferentes regiões do Brasil. no país no contexto dos cenários A2 e B2, Estes foram os MCGs selecionados: selecionamos a emissão A2 (mais pessimis- •• NCCCSM (CCSM3) – Centro Nacional de ta, com uma variação prevista para o au- Pesquisas Atmosféricas – EUA mento da temperatura entre 2° C e 5,4° C) •• GIER (GISS-ER) – Instituto Goddard de como o cenário mais semelhante à estima- Estudos Espaciais da NASA – EUA tiva de expansão futura da heterogneidade •• CSMK3 (CSIRO – Mk 3.0) – Organização determinada pelo constante crescimento de Pesquisa da Comunidade Científica e populacional. O desenvolvimento econômi- Industrial – Austrália co está orientado principalmente para a es- •• INCM3 (INM-CM3.0) – Instituto de cala regional. O crescimento econômico per Matemática Numérica – Rússia 35 capita e o desenvolvimento tecnológico são mais fragmentados e lentos quando com- Além dos MCGs acima, escolhemos três parados a outros cenários (IPCC, 2007). Modelos Climáticos Regionais (MCRs) que já foram amplamente testados e calibrados Neste estudo, concentramo-nos no aper- no Brasil: feiçoamento das avaliações do impacto climático na agricultura nos períodos de •• PRECIS (Providing Regional Climates for 2020 e 2030 e no cenário 2, porque essas Impact Studies), desenvolvido pelo Cen- décadas são de maior interesse tanto para tro Hadley (Reino Unido) e inicialmente As Mudanças Climáticas e as Projeções do Impacto Agrícola no Brasil os investimentos atuais quanto para os for- chamado de HadRM3P. As condições de muladores de políticas. Mais importante contorno são definidas pelas projeções ainda é que a confiabilidade dos dados di- dos modelos HadRM3P e HadAM3P. Esse sponíveis e a capacidade de previsão tam- modelo é indicado para as condições bém é maior para o período até 2030. As oceânicas da América do Sul e adjacên- projeções se tornam cada vez mais incertas cias. O trabalho anterior desenvolvido após 2030 se forem tomados como base os pela EMBRAPA e pelo Centro de Pesqui- dados climáticos e outras informações rel- sas Meteorológicas e Climáticas Aplica- evantes disponíveis. das à Agricultura (CEPAGRI) mostrou uma excelente adequação às projeções de temperatura para 2050, mas com Modelos Climáticos problemas na simulação de precipi- Adotados Neste Estudo tações atmosféricas. Utilizamos os resultados de um estudo 1. Eta for Climate Change Simulations de Macedo (2011) que avaliou modelos – Eta CCS – (Pisnichenko e Tarasova, Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira 2009), desenvolvido na Universidade de a. O sistema BRAMS pode incorporar Belgrado e implementado pelo Centro os efeitos de aerossóis no balanço de Nacional de Previsões Ambientais. No radiação e no ciclo hidrológico, aju- Brasil, o Centro de Previsão de Tempo e dando desta forma a superar uma sig- Estudos Climáticos (CPTEC) vem utili- nificativa fonte de inconsistências nas zando o Modelo Eta de forma operacio- projeções de precipitação. nal desde 1996 para fornecer previsões b. O BRAMS possui também conjuntos meteorológicas destinadas à América de dados atualizados e de alta res- do Sul. Devido ao seu sistema de coor- olução sobre topografia, uso da terra, denadas verticais, esse modelo pode tipos de solo e Índice de Vegetação produzir resultados satisfatórios nas por Diferença Normalizada (NDVI). regiões com orografia íngreme como a Os parâmetros biofísicos como máx- Cordilheira dos Andes. A comparação ima condutividade estomatal, índice das previsões do MCG do CPTEC com de área foliar, albedo, rugosidade, as do Eta mostrou que o modelo pro- biomassa, capacidade de aquecimen- porcionou uma melhoria considerável to do solo, porosidade do solo, con- 36 em relação ao modelo condutor. A aval- dutividade hidráulica, potencial de iação das previsões sazonais do Eta em umidade na saturação e distribuição relação à climatologia mostraram que o de raízes associada à vegetação e às modelo produziu em geral informações parametrizações de solos dos RAMS úteis adicionais sobre esse tema. O Eta foram adaptados aos biomas e solos apresentou melhores resultados nas tropicais e subtropicais usando ob- simulações dos níveis altos e baixos dos servações ou estimativas obtidas nas campos de circulação e de precipitação campanhas de campo brasileiras, em atmosférica. sua maior parte vinculadas ao Pro- 2. BRAMS (Brazilian developments on Re- grama de Grande Escala Biosfera-At- gional Atmospheric Modeling System) mosfera na Amazônia (LBA, www.lba. (Freitas et al., 2009; Longo et al., 2010). cptec.inpe.br). O modelo BRAMS se baseia no Sistema c. De modo geral, o modelo BRAMS de Modelagem Atmosférica Regional pode reproduzir com habilidade ade- (Regional Atmospheric Modeling System, quada o ciclo sazonal de precipitação RAMS) com uma parametrização espe- na maioria das regiões do Brasil. Na cífica para os trópicos e subtrópicos. O Figura 5 abaixo, a habilidade da pro- modelo definiu um conjunto de módulos jeção para as regiões 1 e 2 é muito para simular os processos como: trans- boa, enquanto que para as regiões ferência radiativa, troca de água, calor e 3, 4 e 5 é satisfatória. Na região 6, o momento entre a superfície e a atmos- modelo subestima a precipitação. fera, microfísica das nuvens e transporte turbulento na camada limite planetária. Figura 5. O mapa de uso da terra do BRAMS para a análise dos resultados da simulação do modelo Uso da Terra em 2007 Pastagem Área Urbana Capoeira Cerrado Floresta Cana-de-açúcar Soja Milho 37 Algodão Arroz Feijão Plantio de florestas Testes, Projeções Climáticas Uma vez realizadas as simulações de temperatura e de precipitação, elas foram e Calibrações do Modelo calibradas com os dados hidrometere- As Mudanças Climáticas e as Projeções do Impacto Agrícola no Brasil Após a seleção dos sete modelos climáticos ológicos de uma série de entidades bra- - quatro MCGs e três MCRs - a temperatura sileiras (ANA, CPETEC, EMBRAPA, INMET, e a precipitação foram simuladas para 2020 UNICAMP). O sistema hidrometeorológico e 2030, em relação à linha de base de 2010. AGRITEMPO possui uma rede de 1.200 es- O detalhamento dos métodos de simulação tações meteorológicas e 4 mil pluviômetros climática e do tratamento matemático dos em todo o território nacional (veja a Figura dados estão disponiveis na EMBRAPA. 6) e conta com pelo menos 25 anos de reg- istros de dados cuja qualidade foi testada até 2007. Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira Figura 6. Distribuição espacial das estações hidrometeorológicas brasileiras 38 [Fonte: EMBRAPA] Com vistas a obter a variação de tempera- or das temperaturas mensais para cada um tura nos sete modelos climáticos ao longo dos anos selecionados (2020 e 2030). do tempo, foi utilizado o método proposto 1. Portanto, para cada coordenada espa- por Gleik (1986). Adotando como base o cial (x, y) em um modelo climático M, a ano de 2000, calculamos a diferença do val- variação de temperatura é estimada pela seguinte expressão: ∆TM M(m,a,x,y) = TMM(m,a,x,y) - TMM(m,2000,x,y) 1. onde TMM(m,a,x,y) é a média móvel de 3. A fim de obter a temperatura utilizada 11 anos para o mês m, ano a em relação nas simulações do impacto sobre as ao ponto (x,y). culturas agrícolas (TS) para cada coor- 2. Para cada estação hidrometeorológica denada geográfica (x, y) correspondente catalogada no banco de dados nacion- a uma estação hidrometeorológica, a TS al AGRITEMPO, pudemos determinar o foi calculada da seguinte maneira valor de ΔTM para cada um dos modelos climáticos e, em seguida, a ΔTMMAX e a ΔTMMIN para cada ano/mês. TS(m,a,x,y) = TR(m,x,y) + ∆TMM(m,a,x,y) onde TR(m,x,y) é a temperatura real no servados nas estações hidrometeorológi- local (x,y) no mês m e ∆TMM(m,a,x,y) é a cas, simulamos as temperaturas de 2010 variação de temperatura para um deter- para as estações selecionadas em todo o minado modelo M no mês m e no ano de Brasil. A Figura 7, abaixo, mostra a con- interesse a. gruência adequada do conjunto Ts simu- Para avaliar a representatividade das tem- lado nos sete modelos (quatro MCGs e 3 peraturas simuladas Ts com os valores ob- MCRs) para uma estação hidrometeorológi- ca situada em Brasília. Figura 7. Variação de temperatura estimada pelos sete modelos para a estação meteorológica “DFUNBFAL”, localizada em Brasília, D.F., no Brasil (latitude: -15,79; longitude: - 47,9227). Brasília - 2010 (DFUNBFAL) 28 CSMK3 GIER Temperatura (°C) 26 INCM3 24 NCCCSM 39 22 PRECIS 20 ETA 18 BRAMS jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez Brasília - 2020 (DFUNBFAL) CSMK3 28 GIER Temperatura (°C) 26 INCM3 As Mudanças Climáticas e as Projeções do Impacto Agrícola no Brasil 24 NCCCSM 22 PRECIS 20 ETA 18 BRAMS jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez Brasília - 2030 (DFUNBFAL) CSMK3 28 GIER Temperatura (°C) 26 INCM3 24 NCCCSM 22 PRECIS 20 ETA 18 BRAMS jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira Além de calcular ΔTM, também obtive- O padrão foi repetido em todas as outras mos os valores máximos e mínimos dos estações testadas no Brasil, permitindo as- modelos (ΔTMMAX e ΔTMMIN) que, após sim o desenvolvimento de cenários de au- a extração da média nos sete modelos cl- mento de temperatura OTIMISTAS (ΔTM- limáticos, eram consistentes com a estação MIN) e PESSIMISTAS (ΔTMMAX) em 2010, hidrometeorológica de Brasília (Figura 8). 2020 e 2030. Figura 8. Temperaturas máximas e mínimas mensais estimadas pelos sete modelos para a estação meteorológica “DFUNBFAL”, localizada em Brasília, D.F., no Brasil. (Latitude: -15,79; Longitude: - 47,9227). Brasília - 2010 (DFUNBFAL) 28 MÁX Temperatura (°C) 26 MIN 24 22 20 18 40 jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez Brasília - 2020 (DFUNBFAL) 28 MÁX Temperatura (°C) 26 MIN 24 22 20 18 jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez Brasília - 2030 (DFUNBFAL) 28 MÁX Temperatura (°C) 26 MIN 24 22 20 18 jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez O Modelo de Zoneamento da Vulnerabilidade e dos Riscos Climáticos Agrícolas No Brasil, o zoneamento dos riscos agrí- cada um de seus 5.564 municípios foi de- colas é uma política pública desde 1996 e marcado de acordo com a adequação ao cultivo segundo uma probabilidade míni- do seu crescimento, com base nos conheci- ma de 80% de se obter uma safra econo- dos calendários agrícolas. Por exemplo, os micamente viável. O zoneamento baseia- índices de risco de culturas se fundamen- -se nas fases de crescimento de cada uma tam no balanço hídrico agrometeorológico das culturas (fenologia), no estresse hídri- e são calculados a partir da evapotrans- co, no risco de inundação e nas tempera- piração, que é a soma da transpiração fo- liar e da evaporação do solo. Cada cultivo turas extremas em fases críticas do desen- tem características ideais de umidade do volvimento das plantações. Por exemplo, solo para poder alcançar níveis ótimos de o estresse hídrico no florescimento ou no fotossíntese, crescimento e produtividade. enchimento de grãos pode afetar de modo Os fatores climáticos essenciais para esse significativo as safras. O excesso de chuvas processo são a temperatura e a umidade do na época da colheita pode arruinar uma solo, que podem ser usados para determi- lavoura. A incidência de temperaturas ex- nar em que área uma cultura agrícola pode tremas pode causar a perda da produção ser produzida no Brasil, assim como os devido à deterioração da flor, no caso de riscos climáticos a que está exposta. temperaturas elevadas ou de geada resul- 41 Ao incorporar os cenários de aquecimen- tante de baixas temperaturas. to global do IPCC, a temperatura prevista Em 2001, a EMBRAPA e a UNICAMP e qualquer impacto causado pela precipi- desenvolveram um simulador para projetar tação atmosférica/umidade do solo podem os riscos agrícolas em função do clima e do ser inseridos nas simulações com base nos solo. Em seguida, o simulador foi utilizado índices de risco associados à temperatura e para produzir 500 mil observações simula- à umidade para qualquer cultura específi- das de feijão, 600 mil de soja, 400 mil de ca. As áreas de baixo risco são aquelas onde As Mudanças Climáticas e as Projeções do Impacto Agrícola no Brasil arroz, 2,5 milhões de milho e 450 mil de tri- há estresse hídrico, que garante a germi- go. Essas simulações, que tinham como ob- nação de sementes e especialmente o flo- jetivo refletir os diferentes solos, as plantas rescimento, além do enchimento de grãos, e as características climáticas dos diversos que são fatores essenciais para a produção municípios brasileiros resultaram em uma final. Esse risco não deve exceder 20%. base de conhecimento avançado da geogra- Este estudo visa contribuir para a melho- fia agrícola do país. ria do atual sistema de zoneamento agríco- Além de prover informações sobre as ne- la brasileiro de modo a incluir projeções e cessidades das culturas agrícolas, as carac- cenários climáticos futuros e, uma vez que terísticas do terreno, a qualidade do solo e essa etapa seja concluída, ele começará a os dados meteorológicos, o zoneamento foi exercer um imediato impacto operacional e ainda mais aperfeiçoado de modo a inclu- nas políticas em nível nacional. ir índices específicos de sensibilidade dos O Modelo de Zoneamento de Vulner- cultivos a temperaturas extremas e even- abilidade e Risco Agroclimático Agrícola tos de umidade durante as fases críticas Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira (Assad e Pinto, 2008), desenvolvido pela exemplo, a Figura 9 abaixo mostra a área EMBRAPA e a UNICAMP, serve atualmente de terra disponível (em verde) para a de base para todos os financiamentos des- agricultura em resolução de escala mu- tinados ao setor agrícola barsileiro. O Ban- nicipal, que pode ser empregada legal- co Central exige um zoneamento agrícola mente na agricultura. Para produzir este obrigatório em todo o país para se obter mapa de alta resolução como uma linha acesso ao crédito rural, e o modelo EMBRA- de base com o objetivo de analisar os PA/UNICAMP indica “o que, onde e quando” futuros impactos das mudanças climáti- deve ser plantada uma variedade de cultura cas, o nosso estudo utilizou conjuntos de acordo com um sistema de zoneamento. de dados de alta resolução sobre solos, Estão definidos três tipos de zoneamento: vegetação e características do terreno, e a. Agroecológico - utiliza o banco de da- incluiu todas as restrições aos tipos de dos de solo, topografia, clima e o atual uso da terra que podem ser praticados, marco legal fundiário e ambiental. Por segundo o marco legal brasileiro. Figura 9. Área com permissão para a agricultura segundo o marco legal fundiário e ambiental 42 e as restrições de uso da terra b. Agroclimático – baseia-se apenas nas heita economicamente aceitável. Cada cul- informações climáticas sem avaliar o po- tura ou variedade agrícola possui um con- tencial de risco de uma cultura. junto predefinido de condições climáticas c. Climático - utiliza os dados sobre clima, que se baseiam em observações de campo solo e cultivo, avaliando a análise de ris- e pesquisas de longo prazo. A duração to- co e levando em conta, principalmente, tal do ciclo de uma cultura é dividida em as informações sobre precipitação, quatro fases de crescimento fenológicas temperatura e balanço hídrico dos de- (Desenvolvimento Inicial, Crescimento rivativos que indicam as deficiências Vegetativo, Reprodução e Maturidade), em e os excedentes hídricos das culturas que a terceira fase é em geral considerada agrícolas. como essencial, em razão principalmente O Zoneamento Agroclimático integra os da alta sensibilidade da floração aos perío- modelos de crescimento das culturas às dos de seca e/ou às temperaturas elevadas. simulações climáticas aperfeiçoadas de- A duração de cada fase do ciclo fenológico é scritas acima e usa uma matriz de risco definida por graus-dia ou unidades de cal- agrícola baseada em uma tipologia avança- or. A incidência de temperaturas extremas 43 da de qualidade do solo e da terra, em pode causar a perda da produção devido à dados meteorológicos, nas necessidades desintegração da flor, no caso de tempera- hídricas e na fenologia das culturas (veja a turas elevadas ou de geada resultante das Figura 10). baixas temperaturas. O Índice de Satisfação Classificação do Solo e de Necessidade de Água o Mapa de Zoneamento Agrícola. As Mudanças Climáticas e as Projeções do Impacto Agrícola no Brasil (ISNA) do Método de Zoneamento Agroclimático Os solos são classificados em três tipos − arenoso, médio e argiloso − que apresen- O zoneamento tem como base um índice de tam baixa, média ou alta capacidade de abastecimento de água para o cultivo (Vul- retenção de água, respectivamente. O coe- nerabilidade), obtido pela proporção entre ficiente de cultura (Kc) é definido de acor- o nível real e o nível máximo de evapotrans- do com o solo típico e mede o consumo de piração por cultura, que é utilizado para água em cada fase do desenvolvimento de a realização de um zoneamento segundo uma cultura. Os valores do ISNA se baseiam a adequação e o risco de uma lavoura. As nas estações de precipitação atmosférica e áreas de risco estabelecidas para cada mu- são estimados para um período específico nicípio do país indicam aquelas, entre as de sementeira que é produzido pelo bal- nove principais culturas alimentares e de anço hídrico para uma combinação fixa de exportação, que têm pelo menos 80% de tipo de solo e de ciclo fenológico. probabilidade de proporcionar uma col- Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira Figura 10. Organograma dos componentes e dos processos biofísicos, climáticos e de cresci- mento das plantas utilizados no zoneamento Estações meteorológicas Temperatura média (mês e anos) Temperatura Data da média mensal semeadura Determinação do potencial de Determinação das evapotranspiração (PET) fases fenológicas Tipo de Dados pluviométricos Potencial de Duração das fases IAF Cc ou solo diários Evapotranspiração (PET) fenológicas Índice Kc Balanço hídrico 44 Índice de estresse hídrico da cultura Riscos climáticos por município ZONEAMENTO Final Identificação das Áreas de no índice de evapotranspiração dos cul- tivos. Cultivo Menos Vulneráveis b. Adotando os critérios acima, é possível aos Impactos das Mudanças avaliar o risco do plantio de qualquer Climáticas produto agrícola no Brasil. Para aper- As áreas vulneráveis ​​são identificadas e feiçoar as avalições de risco, além da quantificadas com base nos efeitos de tem- umidade do solo também são usadas as peratura em 2020 e 2030. Os princípios ad- temperaturas previstas para 2020, 2030 otados na determinação do risco climático e 2050. são os seguintes: c. Em relação aos estudos anteriores, o a. As áreas com risco mínimo são aquelas grande avanço da abordagem acima é que não têm deficiência de água no solo, que cada zona agroecológica de baixo o que resulta em uma boa germinação, risco também é analisada quanto aos se- floração e enchimento de grãos. Esse guintes fatores: tipos de solo, encostas risco não deve exceder 20% e se baseia íngremes, área de reserva legal, zonas ri- beirinhas (APPs), áreas indígenas, áreas protegidas, aumentando desse modo a d. Nas iniciativas atuais de modelagem a precisão das estimativas de produtivi- pesquisa do IBGE de 2009 foi adotada dade de uma cultura e da probabilidade como linha de base para as culturas, a de ocorrência de impactos climáticos. área plantada e o valor da produção (Ta- bela 3 abaixo). Tabela 3. Culturas e área plantada no Brasil (2009) Cultura Área Plantada (ha) Algodão 814,700 Arroz 2,905,700 Cana-de-açúcar 8,845,650 Feijão (Safra de verão) 1,201,600 Feijão (Safra de outono) 675,000 Milho (Safra de verão) 9,463,200 Milho (Safra de outono) 4,799,650 Soja 21,761,800 Trigo de sequeiro 2,345,500 45 O processo de integração dos resultados simistas para 2020 e 2030 é destacado dos MCGs e dos MCRs utilizado na criação abaixo (Figura 11). de cenários climáticos otimistas e pes- Figura 11. Representação do processo de elaboração de modelos para criação de cenários. GIER INCM3 As Mudanças Climáticas e as Projeções do Impacto Agrícola no Brasil NCCCSM CSMK3 Cenário otimista Global 2010 Scenarios and Models Geração de Cenário cenários pessimista Temperaturas Média móvel Modelos simuladas dos 2020 e definição de climáticos resultados DELTA Análise Modelo BRAMS Regionais 2030 Modelo Modelo BRAMS com chuva ETA simulada PRECIS BRAMS BRAMS C/ CHUVA Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira Para obter os impactos previstos das mu- características/necessidades das culturas danças climáticas na temperatura e na pre- com base nos conjuntos de dados de campo cipitação em 2020 e 2030 sobre as cultu- testados no nível nacional. O SCenAgri pode ras e pastagens selecionadas, utilizamos ser empregado na simulação de cenários o Simulador de Cenários Agrícolas (SCen- futuros da produção agrícola, que se funda- Agri) do CNPTIA da EMBRAPA, que integ- mentam em projeções climáticas regionais ra informações sobre clima, solo, água e (Figura 12, abaixo) Figura 12. Exemplo de áreas de baixo e alto risco para plantação de milho no Brasil, con- siderando os primeiros dez dias de janeiro como o período da semeadura, com base em um cenário pessimista. 46 Projeção dos Impactos das Mudanças Climáticas na Área Adequada ao Plantio em 2020 e 2030 47 E ste estudo avaliou os possíveis impac- tos das mudanças climáticas, estima- dos por um conjunto de MCGs e MCRs, so- cenários otimistas e pessimistas (aumento de temperatura) das mudanças climáticas, facilitando assim uma interpretação mais bre as principais culturas de grãos (soja, ​​ diferenciada dos prováveis riscos e impac- milho, trigo e feijão) e de biocombustíveis tos sobre as principais lavouras brasileiras. (cana-de-açúcar), bem como de algodão e A Tabela 4 abaixo apresenta os resultados pastagens. Além de uma abordagem inova- de nossas projeções do impacto climático dora que permitiu uma desagregação de sobre uma área apropriada (em relação à alta resolução não apenas das terras cul- linha de base 2010) às principais culturas tiváveis adequadas em termos agroecológi- de grãos no país. No caso das pastagens, cos mas também daquelas legalmente os valores correspondem às estimativas de acessíveis, este trabalho desenvolveu ainda decréscimos em sua produtividade. Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira Tabela 4. Percentual de mudança na área de baixo risco de mudanças climáticas 2020 2030 Culturas Otimista % Pessimista% Otimista % Pessimista % Algodão -4.6 -4.8 -4.6 -4.9 Arroz -10 -7.4 -9.1 -9.9 Cana-de-açúcar¹ 107 101 108 91 Soja -13 -24 -15 -28 Trigo de sequeiro -41 -15.3 -31.2 -20 Feijão (Safra de verão) -54.2 -55.5 -54.5 -57.1 Feijão (Safra de outono) -63.7 -68.4 -65.8 -69.7 Milho (Safra de verão) -12 -19 -13 -22 Milho (Safra de outono) -6.1 -13 -7.2 -15.3 Pastagem² -34.4 -37.1 -34.9 -38.3 ¹ A cana-de-açúcar inclui as (novas) áreas potenciais e não apenas as áreas produtivas atuais. 48 ² Valor da pastagem = Produtividade. Para a soja, o feijão (safras de verão e out- Para a cana-de-açúcar, incluímos as ono), o milho (safras de verão e outono) e “áreas potencialmente apropriadas” em o algodão, os resultados indicam uma re- vez de considerar apenas a área atual onde dução significativa na área de baixo risco é cultivada, o que resultou em um aumen- devido ao aumento de temperatura. Como to significativo das áreas de baixo risco esperado, as perdas mais pronunciadas (ou de grande adequação), sugerindo que foram observadas no cenário pessimista, o produto adapta-se naturalmente melhor em que a elevação de temperatura deverá para resistir às crescentes temperaturas ser maior do que no otimista. ambientes. No entanto, ao contrário do que No caso do arroz e do trigo de sequeiro, acontece com a cana-de-açúcar, nossas sim- é interessaante notar que o cenário pessi- ulações sugerem que a produtividade das mista de temperatura parece ter impactos pastagens será afetada de modo cada vez menos graves do que no otimista. Isto pode mais negativo com os aumentos de tem- ser explicado pelas temperaturas mais el- peratura. evadas no cenário pessimista, que com- As Figuras 13 a 21 (abaixo) mostram a pensam os danos a essas culturas causados distribuição geográfica e a extensão dos por temperaturas baixas e/ou geadas. Por impactos das mudanças climáticas sobre as exemplo, é um fato bem conhecido que as terras agrícolas de “baixo risco” no Brasil temperaturas baixas podem resultar na es- para as culturas apresentadas na Tabela 3. terilidade da flor do arroz. Mapas das projeções dos impactos das mudanças climáticas sobre as principais culturas de grãos, cana-de-açúcar e pastagens no Brasil em 2020 e 2030 49 Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira Figura 13. Impacto das mudanças climáticas em uma área adequada à plantação de soja (2010 – linha de base e 2030 – cenários otimista e pessimista) SOJA SOJA 2010 - Otimista 2030 - Otimista 50 ALTO RISCO ALTO RISCO BAIXO RISCO BAIXO RISCO SOJA 2030 - Pessimista ALTO RISCO BAIXO RISCO Figura 14. Perdas previstas na produtividade das pastagens (%) em relação à linha de base de 2010 nos cenários otimista e pessimista (2020 e 2030) PRODUÇÃO PERDIDA - PASTAGEM PRODUÇÃO PERDIDA - PASTAGEM 2010 - Otimista 2030 - Otimista PERDA DE PRODUÇÃO (%) PERDA DE PRODUÇÃO (%) SEM PERDAS SEM PERDAS 51 PRODUÇÃO PERDIDA - PASTAGEM 2030 - Pessimista Mapas das projeções dos impactos das mudanças climáticas PERDA DE PRODUÇÃO (%) SEM PERDAS Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira Figura 15. Impacto das mudanças climáticas na área adequada ao cultivo de milho – Safra de verão (2010 - Linha de base; 2030 - Cenários otimista e pessimista) MILHO - SAFRA DE VERÃO MILHO - SAFRA DE VERÃO 2010 - Otimista 2030 - Otimista 52 ALTO RISCO ALTO RISCO BAIXO RISCO BAIXO RISCO MILHO - SAFRA DE VERÃO 2030 - Pessimista ALTO RISCO BAIXO RISCO Figura 16. Impacto das mudanças climáticas na área adequada ao cultivo de grãos – Safra de outono (2010 - Linha de base; 2030 - Cenários otimista e pessimista) MILHO - SAFRA DE OUTONO MILHO - SAFRA DE OUTONO 2010 - Otimista 2030 - Otimista 53 ALTO RISCO ALTO RISCO BAIXO RISCO BAIXO RISCO MILHO - SAFRA DE OUTONO 2030 - Pessimista Mapas das projeções dos impactos das mudanças climáticas ALTO RISCO BAIXO RISCO Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira Figura 17. Impacto das mudanças climáticas na área adequada ao cultivo de arroz irrigado (2010 - Linha de base; 2030 - Cenários otimista e pessimista) ARROZ ARROZ 2010 - Otimista 2030 - Otimista 54 ALTO RISCO ALTO RISCO BAIXO RISCO BAIXO RISCO ARROZ 2030 - Pessimista ALTO RISCO BAIXO RISCO Figura 18. Impacto das mudanças climáticas na área adequada ao cultivo de cana-de-açúcar (2010 - Linha de base; 2030 - Cenários otimista e pessimista) CANA-DE-AÇÚCAR CANA-DE-AÇÚCAR 2010 - Otimista 2030 - Otimista 55 ALTO RISCO ALTO RISCO BAIXO RISCO BAIXO RISCO CANA-DE-AÇÚCAR 2030 - Pessimista Mapas das projeções dos impactos das mudanças climáticas ALTO RISCO BAIXO RISCO Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira Figura 19. Impacto das mudanças climáticas na área adequada ao cultivo de algodão (2010 - Linha de base; 2030 - Cenários otimista e pessimista) ALGODÃO ALGODÃO 2010 - Otimista 2030 - Otimista 56 ALTO RISCO ALTO RISCO BAIXO RISCO BAIXO RISCO ALGODÃO 2030 - Pessimista ALTO RISCO BAIXO RISCO Figura 20. Impacto das mudanças climáticas na área adequada ao cultivo de feijão – no verão (2010 - Linha de base; 2030 - Cenários otimista e pessimista) FEIJÃO – SAFRA DE VERÃO FEIJÃO – SAFRA DE VERÃO 2010 - Otimista 2030 - Otimista 57 ALTO RISCO ALTO RISCO BAIXO RISCO BAIXO RISCO FEIJÃO – SAFRA DE VERÃO 2030 - Pessimista Mapas das projeções dos impactos das mudanças climáticas ALTO RISCO BAIXO RISCO Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira Figura 21. Impacto das mudanças climáticas na área adequada ao cultivo de feijão – no outo- no (2010 - Linha de base; 2030 - Cenários otimista e pessimista) FEIJÃO - SAFRA DE OUTONO FEIJÃO - SAFRA DE OUTONO 2010 - Otimista 2030 - Otimista 58 ALTO RISCO ALTO RISCO BAIXO RISCO BAIXO RISCO FEIJÃO - SAFRA DE OUTONO 2030 - Pessimista ALTO RISCO BAIXO RISCO Projeção dos impactos das mudanças climáticas na oferta e demanda de commodities e na dinâmica do uso da terra 59 P ara estimar os impactos econômicos dos efeitos simulados sobre a produ- tividade em função de diferentes cenários Brasileira (BLUM – Brazilian Land Use Mod- el). As próximas seções destacam a metod- ologia utilizada para integrar os cenários de mudanças climáticas no setor agrícola, aos modelos e também descrevem os re- o ICONE utilizou os resultados da EMBRA- sultados dos quatro cenários simulados: PA referentes ao impacto na área adequa- (i) cenário de referência (sem qualquer im- da ao plantio ou no rendimento das safras pacto da mudança climática), (​​ii) o cenário e pastagens como dados de entrada para o pessimista, (iii) o cenário otimista e (iv) o Modelo de Uso da Terra para a Agricultura BRAMS sem cenários de precipitação. Metodologia das simulações econômicas dos cenários de mudanças climáticas e a projeção dos impactos agrícolas Esta seção descreve a metodologia adota- projeções de impacto agrícola da EMBRA- da para simular os impactos econômicos PA foram utilizadas como dados de entra- dos cenários futuros de mudanças climáti- da para o modelo BLUM e, em seguida, foi cas. O Modelo de Uso da Terra para a Ag- empregado um modelo de alocação para ricultura Brasileira (BLUM) foi o principal distribuir os resultados do BLUM em 558 instrumento utilizado nas simulações. As microrregiões do país. Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira O Modelo de Uso da Bruto (PIB), população e taxa de câmbio. A oferta é composta pela produção nacional Terra para a Agricultura (regionalmente projetada) e pelos estoques Brasileira (BLUM) iniciais (considerados mais uma vez so- O BLUM é um modelo econômico nacional, mente para os grãos e os produtos finais da multirregional, multimercado, dinâmico cana-de-açúcar) e responde pela rentabili- e de equilíbrio parcial para o setor agro- dade esperada de cada commodity, que de- pecuário brasileiro, que compreende dois pende dos custos, dos preços e da produção. módulos: oferta e demanda e uso da ter- A área alocada para a agricultura e a ra. O modelo inclui os seguintes produtos: pecuária foi calculada para seis regiões6, soja, milho (duas safras por ano), algodão, como é mostrado na Figura 22 (abaixo). arroz, feijão (duas safras por ano), cana-de- •• Sul (estados do Paraná, Santa Catarina e açúcar, trigo, cevada, pecuária de leite e de Rio Grande do Sul); corte (carnes bovina, suína e de frango) e •• Sudeste (estados de São Paulo, Rio de ovos. As florestas comerciais são consid- Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais); eradas como projeções exógenas. Combina- 60 •• Centro-Oeste - Cerrado (estados de Mato das, as commodities selecionadas respon- Grosso do Sul, Goiás e parte de Mato Gros- dem por 95% da área total utilizada para so nos biomas do Cerrado e do Pantanal); a produção agropecuária em 2008. Embora •• Norte da Amazônia (parte do estado de a segunda safra (de inverno) compreen- Mato Grosso no bioma Amazônia, Am- dendo milho, feijão, cevada e trigo não gere azonas, Pará, Acre, Amapá, Rondônia e demanda adicional de terra − porque é Roraima); plantada nas mesmas áreas das culturas da primeira safra −, nas áreas de duplo cultivo, •• Nordeste litorâneo (estados de Alagoas, a sua produção é contabilizada no abastec- Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande imento nacional. do Norte e Sergipe); •• Nordeste - Cerrado (estados do Maran- As Projeções de Oferta e hão, Piauí, Tocantins e Bahia). Demanda A oferta e a demanda nacional e o uso da terra regional de cada produto respondem No módulo de oferta e demanda, a deman- aos preços. Consequentemente, em um de- da total por uma atividade é projetada no terminado ano, o equilíbrio é obtido quan- nível nacional e constituída pela demanda do se encontra um vetor de preços que doméstica, as exportações líquidas (ex- harmoniza todos os mercados simultane- portações menos importações) e os es- amente. Ano após ano, uma sequência de toques finais (que não são considerados para pecuária de leite e de corte e cana- 6 O principal critério utilizado para dividir as regiões foi a homogeneidade da produção agropecuária e a indivi- de-açúcar), que respondem aos preços e a dualização dos biomas, atribuindo especial importância à variáveis exógenas como Produto Interno conservação. vetores de preços é estimada, permitindo ta e demanda do modelo, levando em conta que a trajetória dos mercados seja acom- que a seguinte identidade deve ser satis- panhada ao longo do tempo. Os resultados feita: do modelo são: mudança e uso da terra re- Estoque Inicial + Produção + Impor- gional, produção nacional, preços, consumo tações = Estoque Final + Consumo + Expor- e exportação líquida. tações A produção anual de cada região é o re- ou, considerando que a Exportação sultado da alocação de terra e das colheitas. líquida = Exportações - Importações: A produção nacional é a soma das colheitas Estoque Inicial + Produção = Estoque de todas as regiões, acrescida dos estoques Final + Consumo Doméstico + Exportação iniciais. Essa relação garante a interação Líquida entre os módulos de uso da terra e de ofer- Figura 22. Regiões consideradas no Modelo Brasileiro de Uso da Terra (BLUM) 61 Projeção dos impactos das mudanças climáticas na oferta e demanda Fonte: ICONE, IBGE e UFMG. O BLUM também considera as interações sumo de ração (basicamente milho e farelo entre os setores analisados, assim como de soja) que ocorre em função da oferta de as relações entre um produto e seus sub- carnes, leite e ovos, que é um componen- produtos. Por exemplo, o vínculo entre os te da demanda doméstica de milho e soja. grãos e a pecuária se dá a partir do con- No caso do complexo de soja, os compo- Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira nentes farelo e óleo de soja fazem parte da Da mesma forma, o etanol e o açúcar são os demanda doméstica de soja em grão e são componentes da demanda de cana-de-açú- determinados pela demanda de moagem. car (Figura 23). Figura 23. Interações entre os setores no BLUM Arroz Milho Cana-de- Etanol açúcar Algodão Açúcar Indústria e biodiesel Óleo de Feijão Carne suína soja 62 Farelo de Aves (ovos e Soja soja frango) Pastagem Carne bovina Fonte: ICONE Os Componentes da pastagens em cada região como uma função da relação preço-rentabilidades próprias e Dinâmica do Uso da Terra das competidoras. Esse efeito estabelece A dinâmica do uso da terra é dívida em dois que, para uma determinada quantidade de efeitos: competição e escala. Intuitivamente, terra destinada à agropecuária, o aumento o efeito de competição mostra como as dif- da rentabilidade de uma atividade resultará erentes atividades competem por uma de- em uma maior participação da área dedica- terminada quantidade de terra disponível. da a essa atividade e na redução da parcela O efeito escala se refere ao modo como a da área das atividades concorrentes. competição entre as diversas atividades As condições de regularidade (homoge- gera a necessidade de terra adicional, que é neidade, simetria e adicionalidade) são im- acomodada pela expansão da área total da postas de forma que as matrizes de elastici- agropecuária sobre a vegetação nativa. dade (e seus coeficientes associados) sejam O efeito competição consiste em um teoricamente coerentes. Para qualquer conjunto de equações que aloca uma parte conjunto desses coeficientes, calculamos da área agrícola para diferentes lavouras e os impactos individuais, os impactos cruza- dos e a competição entre as atividades. Em para ajustar o modelo à realidade específica seguida, a partir dessa estrutura, as simu- da dinâmica do uso da terra. lações realizadas no BLUM permitem cal- O efeito escala se refere às equações que cular não apenas a alocação de terra, mas definem como a rentabilidade das ativi- também as mudanças no uso do solo. Em dades agropecuárias determina a área total outras palavras, as condições de regular- destinada à produção. Mais precisamente, idade permitem identificar a substituição a área total alocada para a agropecuária é a de área para cada atividade, levando em parcela da área total arável em cada região conta a quantidade total de área utilizada que responde às mudanças na rentabili- para a agropecuária. dade média da agropecuária. Para garantir a coerência das condições Os efeitos escala e competição não são mencionadas acima, a área de pastagem é independentes. Em conjunto, eles são os regional e determinada de modo endóge- dois componentes das elasticidades do re- no, mas modelada como a diferença entre torno de cada atividade. Considerando a a área total alocada para a agropecuária e a condição ceteris paribus (tudo o mais con- área de lavouras. No contexto da agricultu- stante), o aumento na rentabilidade de uma 63 ra brasileira, é particularmente importante atividade possui três efeitos: aumento da projetar a área de pastagem tanto de forma área total alocada para a agropecuária (por endógena quanto regional, porque repre- meio do retorno médio), incremento da sua senta cerca de 77% do total da área utiliza- participação nessa área e, consequente- da na produção agropecuária. mente, a redução na parcela da área de out- Embora a competição entre as atividades ras atividades. Para as atividades concor- possa representar a dinâmica das regiões rentes, os efeitos cruzados da rentabilidade onde a área agrícola é estável e está próxima sobre a área são negativos. Projeção dos impactos das mudanças climáticas na oferta e demanda do seu potencial disponível, essa análise é Conforme foi mencionado anterior- insuficiente para o Brasil. As tendências re- mente, as elasticidades de cada lavoura são centes da agropecuária brasileira mostram representadas pela soma das elasticidades que as lavouras, as florestas comerciais e de competição e de escala. Ao mesmo tem- as pastagens combinadas respondem aos po, a elasticidade regional do uso da terra incentivos de mercado e contribuem para a em relação à rentabilidade média agrícola expansão da área total alocada para a agro- (elasticidade de oferta das terras agrícolas) pecuária (Nassar et al., 2010a)7. Esse efeito é a soma das elasticidades de escala de cada é captado no efeito escala do BLUM. Este atividade. Portanto, as elasticidades de com- aperfeiçoamento metodológico é essencial petição podem ser calculadas diretamente após a obtenção da elasticidade oferta das 7 Nassar, A. M.; Antoniazzi, L. B.; Moreira, M. R.; Chiodi, L.; terras agrícolas, enquanto as elasticidades Harfuch, L. 2010a. An Allocation Methodology to Assess GHG próprias são obtidas por meio de análises Emissions Associated with Land Use Change: Final Report. ICONE, setembro de 2010. Disponível em . Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira Equações da Dinâmica do (3) Uso da Terra no BLUM No módulo de uso da terra do BLUM, a área onde Al0 é a área usada pela agropecuária a da lavoura i de cada região l (l=1,…,6) no em um período definido como base. Quan- ano t é definida pela seguinte equação: do a área agrícola no período t está próx- ima do período de base, αlt está próximo (1) de um e não afeta . No entanto, se a área AT é a área total para a produção agro- l agrícola no período t for maior do que pecuária na região l; mlt é a participação de aquela no período de base, o parâmetro αlt AT que está sendo utilizada para a produção l é menor do que um e reduz o efeito de . agropecuária (todas as lavouras e pasta- O contrário ocorre quando a terra agrícola gens) e silt é a parcela da área usada na ag- atual for menor do que (Alo), aumentando a ropecuária que é dedicada à atividade i. AT é l elasticidade da oferta de terra. uma variável exógena definida pelo modelo A rlt é calculada a partir de evidências de georreferenciamento (SIG). que indicam quais atividades se expandem 64 A variável mlt é endógena ao modelo e na fronteira agrícola e pode ser definida responde ao índice de retorno (rentabili- como: dade) médio do mercado agrícola na região l (rlt), sendo a participação da área alocada (4) para a agropecuária definida como: onde dli é um vetor de pesos da taxa de (2) desmatamento causado por cada uma das atividades agropecuárias, obtido por ima- onde k é uma constante; é a elasticidade gens de satélite e pelo modelo SIG. Pode- da oferta de terra (em relação ao retorno mos calcular o vetor de ponderação dli da médio) para a região l (os resultados para seguinte forma: a média brasileira são apresentados em Barr et al., 2010). O parâmetro αlt é positivo (5) e maior ou menor do que um, podendo ser definido como: Segundo Holt (1999), a elasticidade cruza- da da área de lavoura i em relação ao retor- no das outras culturas j pode ser definida como: (6) cujo reordenamento dos termos leva a: (7) O primeiro termo no lado direito da equação O efeito de competição da elasticidade cru- (6) pode ser definido como efeito de escala zada da área corresponde à última par- da elasticidade cruzada da área : te do lado direito da equação (6): (8) (9) Por analogia, a elasticidade da área de la- escala e de competição e pode ser escrita voura i em relação à sua própria rentabil- como: idade também é formada pelos efeitos de 65 (10) onde é o efeito de escala e é o com- E reordenando a equação: ponente do efeito de competição da elasti- cidade da área de lavoura i em relação à sua (13) própria rentabilidade8. O componente de competição por ter- A elasticidade em relação à variação da Projeção dos impactos das mudanças climáticas na oferta e demanda ra também pode ser calculado da seguinte rentabilidade de uma determinada lavoura forma: i na região l é: (11) (14) Pode ser observada a conexão entre a que, a partir da equação (14) e após alguns elasticidade da oferta de terra regional ( ) cálculos, pode ser reescrita como: e o efeito de escala de cada atividade ( ). A elasticidade da oferta pode ser definida (15) como: (12) A partir da equação (4), a equação (15) pode ser reescrita como: (16) 8 Também explicado em Nassar et al. (2009), disponível em http://www.iconebrasil.com.br/arquivos/noticia/1872. pdf Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira Usando a equação (15), se a elasticidade da Para as lavouras de inverno e de segun- oferta de terra for conhecida, o efeito escala da safra, tais como trigo, cevada, milho se- da atividade i pode ser facilmente calcula- gunda safra e feijão (parte das segundas e do. Como resultado, o vetor contendo todas terceiras safras a depender da região), a as elasticidades do componente de com- área e produção alocadas possuem dinâmi- petição representa a diagonal da ma- cas difereciadas em relação às lavouras de triz de competição (uma para cada região primeira safra apresentadas acima. Con- l). Juntamente com outras restrições (como siderando o fato de que estas lavouras não as condições de regularidade e de elastici- competem por terra por serem produzidas dades cruzadas negativas), os termos da após uma safra principal, a área projetada diagonal são então utilizados para obter as par ao milho segunda safra pode ser repre- elasticidades cruzadas na matriz de com- sentada pela seguinte equação: petição, como representado na equação (9). i=milho a = α +β a + δ r +ϕ r +φ a l l l l l l l l l l it i i jt i jt i it i it −1 (17) j=soja 66 Sendo ritl a rentabilidade do milho se- Modelo de Alocação dos gunda safra, rjtl é o retorno esperado da Resultados do BLUM por soja, ajtl é a área de soja e ait-1l é a área alo- cada para milho segunda safra no ano ante- Microrregião Brasileira rior. Para os parâmetros, tem-se: β>0, δ>0, O modelo de alocação por microrregiões φ>0 and ϕ>0. segue a estrutura do BLUM para o lado da Para o feijão segunda safra a dinâmica oferta e aloca os impactos de um cenário é mais simplificada em relação a do milho, específico ao nível das microrregiões. sendo a área projetada dependente apenas Os resultados do BLUM para área e pro- de sua própria rentabilidade. No caso do tri- dução em cada uma das 6 regiões para soja, go, as projeções de área dependem de seu milho (primeira safra e total), arroz, al- próprio retorno esperado (positivamente) godão, feijão (primeira safra e total), cana- e negativamente em relação ao retorno da de-açúcar, rebanho bovino e pasto são alo- cevada, pois estes grãos competem entre si cados nas 558 microrregiões brasileiras. por área plantada de inverno. Para a ceva- A dinâmica do modelo alocação por mi- da, as projeções dependem de seu próprio crorregiões é baseada em duas etapas: pri- retorno e da área plantada do ano anterior. meiro alocar os resultados do BLUM em cada estado e depois distribuindo o resul- tado do estado para suas respectivas mi- crorregiões. Alocação dos resultados do A área total usada pela agricultura (pri- meira safra e pasto) no BLUM, A1, é alocada BLUM em cada estado para o nível estadual de forma que: Al ,t = ∑ As ,t * el ,t l=(1,..,6); t = (2011,...,2030) (18) Onde el, t é o fator de correção para cada do BLUM e é um parâmetro positivo região l do BLUM em cada ano t para a dif- definido como: erença entre a área estimada pelo modelo de microrregião e o BLUM. De forma geral, (21) este fator é menor que 10%, pois os dois Onde As,0 é a área usada para agricultura modelos seguem uma estrutura econômica em um período base. Quando a área agríco- e pressupostos similares. A variável As,t é a la no ano t é próxima da área agrícola no área total alocada para agricultura (primei- período base, é próxima de 1, tendo ra safra e pasto) em cada estado s no ano t. pequeno efeito sobre . Porém, se a área Sendo definida pela equação: agrícola em t é maior do que no período 67 T As ,t = A * ms ,t s (19) base, o parâmetro é menor que 1, re- duzindo o efeito de . O contrário tam- é a área total disponível para expan- bém pode ocorrer. rs,t é a receita média de são agrícola no estado s. Esta variável é cada estado e é calculada através de evi- exógena, determinada por modelagem de dências que indicam qual atividade i mais SIG. A variável ms,t representa a parcela da expandiu na fronteira agrícola e é definida área usada para produção agrícola (primei- como: ra safra e pasto). Ela é endógena ao mode- Projeção dos impactos das mudanças climáticas na oferta e demanda lo e responde a receita média do mercado s=(1,...,6) (22) agrícola (determinada pelo preço e produ- tividade) do estado s, de forma que a parce- Onde dli é um vetor de ponderação de la de área alocada para agricultura em cada taxa de deflorestamento causada pela ativi- estado pode ser definida como: dade agrícola obtida por imagem de satélite e modelada por SIG para cada região BLUM, (20) isto é, para cada estado e microrregião nós usamos o vetor de ponderação de sua re- Onde As,t é a área total alocada para agri- spectiva região BLUM, com o descrito na cultura (primeira safra e pasto) em cada metodologia do BLUM. estado s no ano t; é a área total disponí- A oferta regional e a demanda nacional vel para expansão agrícola no estado s. Na para cada atividade no Brasil é exógena e segunda parte da equação, é a elastici- determinada pelo BLUM. A soma das áreas dade de oferta de terra para cada região l dos estados, ai,s,t, para cada cultura i e ano t Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira é igual a área de sua respectiva região (ai,l,t), Onde Si,s,t é parcela da área usada pela isto é: agricultura que é dedicada a cultura i no estado s e por sua vez, é determinada pela (23) seguinte equação: Onde ei,t é um fator de ajuste. (25) Seguindo a estrutura do BLUM, a área a da cultura i para o estado s no ano t é deter- Similar ao BLUM a elasticidade cruzada minada pela equação: de área da cultura i com respeito a receita de outra cultura j é definida como: (24) (26) O primeiro termo da equação é definido A produção para cada estado e cultura é 68 com efeito escala da elasticidade cruzada um resultado da área e produtividade, sen- da área e o segundo termo é o efeito do a última projetada como: competição escala da elasticidade cruzada da área . (27) Onde yi,l,t é a produtividade da cultura Basicamente, a relação direta entre a mi- i no estado s no ano t e el,i,t é um fator de crorregião e sua respectiva região BLUM é correção para cada região BLUM l para a o vetor de preços de equilíbrio para cada diferença entre a produtividade da cultura atividade considerada em cada ano. em cada região e ponderada pela soma da Os preços projetados para cada micror- produtividade nos estados. região e cada atividade seguem a variação de sua respectiva região BLUM. A produtiv- Alocação dos resultados idade de cada microrregião é uma função dos estados em cada linear da produtividade de seu respectivo estado e a produção é um resultado da área microrregião multiplicada pela sua produtividade. Na segunda etapa do modelo de alocação, A área agrícola total de cada estado é as microrregiões diferenciam-se uma das alocada em suas respectivas microrregiões outras por seus preços e produtividade. de forma que: n as ,i ,t = ∑ ai ,m * es ,i ,t m∈s (28) m =1 Onde ai,m é a área alocada para atividade si,m,t é a parcela da área utilizada pela agri- i na microrregião m e es,i,t é o fator de cor- cultura que é dedicada a cultura i na mi- reção para cada estado para a diferença crorregião m, sendo definida por: entre a área do estado e a soma da área de suas microrregiões. (30) A área alocada para cada cultura em cada microrregião, ai,m,t, segue a estrutura Onde é a mesma elasticidade cru- do estado ao qual faz parte e é definida por: zada de área para cultura i com respeito a receita de outra cultura j calculada para o (29) estado s. Onde é a área total disponível para A produção de cada atividade em produção da agricultura na microrregião cada microrregião é um resultado da área m, determinada exogenamente. A variável multiplicada pela produtividade. Esta por 69 mm,t representa a parcela da área usada sua vez, é uma função linear da produtivi- para produção da agricultura (primeira dade do estado, de forma que: safra e pasto) para cada microrregião m e m∈s (31) Projeção dos impactos das mudanças climáticas na oferta e demanda Onde yi,m,t é a produtividade da cultura i Em resumo, o modelo de alocação na na microrregião m no ano t e es,i,t é o fator microrregião é uma ferramenta econômi- de correção para o estado para a diferença ca que distribui a produção e a área usada entre a produtividade para cada cultura em pelo setor agrícola, considerando padrões cada estado, ponderada pela produtividade históricos e especificações regionais. das microrregiões. Resultados da EMBRAPA como Dados de Entrada para o BLUM Utilizaram-se os resultados de cada lavou- das projeções da EMBRAPA é a área cul- ra e das pastagens dos cenários simulados tivada em 2009 e as simulações projetam pela EMBRAPA como dados de entrada a área que continuará a ser adequada para para o Modelo de Uso da Terra para a Agro- as futuras atividades de produção. Conse- pecuária Brasileira = BLUM. A linha de base quentemente, para cada cenário simulado Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira existe um conjunto de resultados para as No caso do modelo BLUM, agregamos os pastagens e as seguintes culturas: arroz, al- resultados em termos de impactos sobre as godão, milho (1ª e 2ª safras), soja, feijão (1ª áreas para cada atividade em seis regiões e 2ª safras), cana-de-açúcar e trigo. brasileiras (regiões do BLUM). Como a EM- No entanto, para adaptar os resultados BRAPA usou a área plantada das lavouras da EMBRAPA ao BLUM e ao modelo de a partir da pesquisa de Produção Agrícola alocação de terra por microrregião foram Municipal (PAM) do Instituto Brasileiro de utilizados alguns pressupstos. O banco de Geografia e Estatística (IBGE), calculamos dados que recebido continha informações em pontos percentuais os impactos sobre a sobre a área total plantada para cada ativi- área plantada utilizada no BLUM (da Com- dade considerada nos modelos e para cada panhia Brasileira de Abastecimento, CON- cenário por município em 2009, 2020 e AB) em 2009. 2030. Como um exemplo do conjunto de dados simulado pela EMBRAPA, a Tabela 4 abaixo mostra os resultados para a soja. 70 Tabela 5. Cenários simulados para a soja, agregados nas regiões do BLUM (em 1000 ha) BRAMS BRAMS Área Pessimista Otimista   plantada (- precipitação) (+ precipitação) Região 2009 2020 2030 2020 2030 2020 2030 2020 2030 Sul 8.286 4.626 4.272 6.196 5.826 4.824 4.233 8.285 8.157 Sudeste 1.424 1.161 1.156 1.233 1.233 1.162 1.160 1.424 1.424 Centro-Oeste –Cerrado 7.676 6.676 6.540 7.307 7.296 6.690 6.540 7.673 7.673 Norte Amazônia 2.422 2.420 2.420 2.420 2.420 2.420 2.420 2.390 2.390 Nordeste Litorâneo 1 0 0 0 0 0 0 0 0 Nordeste Cerrado 1.953 1.589 1.247 1.727 1.659 1.589 1.264 1.946 1.944 Brasil 21.762 16.473 15.634 18.883 18.434 16.686 15.617 21.718 21.588 Fonte: IBGE e EMBRAPA. Comparando os resultados de cada cenário 2030 levará a uma redução da área alo- com a área plantada observada em 2009 cadaao plantio de soja em todos os cenári- (linha de base), torna-se evidente que os. Mais importante ainda é que a região o impacto das mudanças climáticas em mais gravemente afetada é o Sul (uma im- portante área de produção de soja) onde dos cenários. Alguns municípios apresen- o declínio previsto para a área alocada é taram impactos positivos nas pastagens de quase 50% em 2030. Em média, a área e na cana-de-açúcar, devido aos cenários que pode ser utilizada na produção de soja de mudanças climáticas. No caso dos im- no Brasil apresenta uma retração de 28% pactos sobre as pastagens, a EMBRAPA os no cenário pessimista simulado e no do simulou em termos de alteração percentu- BRAMS (nenhuma precipitação) em 2030. al relacionada a um ponto inicial em 2010, A área que pode ser usada para a produção 2020 e 2030 para cada cenário de mudança de soja nos cenários otimista e BRAMS (sem climática. O BLUM adota diferents forntes precipitação) foi afetada em 15% e 1% em para a área de pastagem, que foi utilizada 2030, respectivamente. para calcular os valores dos impactos como Para poder utilizar as projeções de áreas proporção dos resultados da EMBRAPA. A aptas para agricultura como dados de en- Tabela 6 e a Figura 23 mostram os resul- trada para o BLUM, combinamos todos os tados compilados para cada lavoura e cada resultados de lavouras e de pastagens que cenário simulados pela EMBRAPA, que causaram impactos negativos nas áreas foram adotados como dados de entrada no 71 BLUM. Tabela 6. Simulação de áreas de cultivo e de pastagem no Brasil (em 1000 ha) BLUM Pessimista Otimista BRAMS (-P) BRAMS (+P) 2009 2030 2030 2030 2030 Soja 21.743 15.634 18.434 15.617 21.588 Milho (1ª safra) 9.463 7.620 8.361 7.796 9.135 Projeção dos impactos das mudanças climáticas na oferta e demanda Arroz 2.909 2.617 2.640 2.614 2.560 Algodão 843 776 777 776 812 Cana-de-açúcar 8.846 16.922 18.419 17.125 11.997 Feijão (1ª safra) 2.894 1.122 1.188 1.137 1.923 Trigo 2.396 1.877 1.614 1.561 0 Milho (2ª safra) 4.901 4.064 4.456 4.122 4.500 Feijão (2ª safra) 1.254 519 587 525 970 Pastagem 183.485 183.320 183.489 183.478 162.915 Nota: BRAMS (-P) refere-se ao cenário do BRAMS sem nenhuma mudança na precipitação; BRAMS (+P) inclui as alterações na precipitação [Fonte: EMBRAPA e ICONE] Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira Figura 24. Simulação da área plantada para lavouras para diferentes cenários climáticos 25.000 20.000 15.000 10.000 5.000 0 Soja Milho 1a safra Arroz Algodão Cana-de-açúcar Feijão (1ª safra) 2009 Pessimista 2030 Otimista 2030 BRAMS (-P) BRAMS (+P) Fonte: Embrapa e ICONE 72 Como o BLUM é um modelo de projeção vouras e pastagens de cada cenário simula- anual, os impactos sobre a área plantada do. Em outras palavras, adotou-se a partici- em 2020 e 2030 calculados pela EMBRAPA pação de cada cultivo na área total utilizada foram distribuídos ao longo do período de para a agropecuária e sua variação percen- 2013 a 2030. Foi feita uma suposição para tual em cada cenário, com o objetivo de calcular os impactos de cada cenário sobre calcular o impacto sobre a vegetação natu- a terra disponível e adequada à expansão ral disponível e apta à agropecuária, como agrícola (vegetação remanescente). Par- mostra a Tabela 7 para os cenários simula- tiu-se do pressuposto de que a terra dis- dos. ponível para expansão exercerá o mesmo impacto que as áreas consideradas nas la- Tabela 7. Vegetação disponível e apta à expansão agrícola em cada cenário (1000 ha)i Referência Pessimista Otimista BRAMS (-P) BRAMS (+P) (BLUM 2009 e 2030) 2030 2030 2030 2030 Sul 2,081 1,763 1,898 1,761 1,745 Sudeste 4,324 4,272 4,288 4,275 4,257 Centro-Oeste Cerrado 8,872 8,697 8,814 8,698 8,529 Norte Amazônia 16,108 15,997 16,051 16,047 12,425 Nordeste Litorâneo 68 56 57 56 70 Nordeste Cerrado 12,066 11,474 11,643 11,482 10,805 Brasil 43,519 42,258 42,751 42,318 37,832 i Considerando apenas os impactos sobre os seguintes produtos: soja, milho (1ª safra), arroz, feijão (1ª safra), cana-de-açúcar e pastagem. [Fonte: ICONE] 73 Esta suposição se faz necessária porque tos sobre as lavouras e as pastagens são é pouco realista esperar uma redução na analisados em conjunto, estes são significa- área total alocada para a agropecuária e, ao tivamente maiores, como mostra a Tabela mesmo tempo, a ausência de desmatamen- 8. Em 2009, dos 230 milhões de hectares to nas terras adequadas à sua expansão. utilizados no cultivo de grãos (1ª safra), No caso do cenário pessimista, a área cana-de-açúcar e nas pastagens, os cenári- total disponível para a expansão agro- os de mudanças climáticas poderão reduzir pecuária deverá sofrer uma retração acima essa área em mais de 10 milhões de hect- Projeção dos impactos das mudanças climáticas na oferta e demanda de um milhão de hectares. Esse impacto é ares nos cenários pessimista e BRAMS (sem muito menor do que o apresentado para precipitação), enquanto no cenário otimis- as lavouras na Tabela 6. A explicação desse ta a diminuição da área poderá atingir sete fato é que a área de pastagem considerada milhões de hectares em 2030. separadamente afetará muito menos essa redução. Por outro lado, quando os impac- Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira Tabela 8. Área disponível e apta para a agricultura em 2009 e projeção do seu potencial em 2030 para cada cenário (em 1000 ha)   Referência Pessimista Otimista BRAMS (-P) BRAMS (+P) Sul 32.362 27.412 29.513 27.380 29.717 Sudeste 41.517 41.015 41.169 41.044 46.463 Centro-Oeste Cerrado 67.870 66.535 67.425 66.536 66.784 Norte Amazônia 67.737 67.271 67.495 67.480 52.605 Nordeste Litorâneo 14.859 12.066 12.475 12.128 17.237 Nordeste Cerrado 49.165 46.753 47.445 46.787 47.802 Brasil 273.509 261.053 265.523 261.357 260.607 Nota: Foram consideradas apenas as primeiras safras de milho e de feijão e excluídas as safras de inver- no (trigo e cevada). Fonte: ICONE 74 Como também é apresentado na Tabela 8, (1) descrita na metodologia. Considerando em termos de área total disponível e apta que esta base de dados está pronta para ser às atividades agrícolas, que é a soma das usada no BLUM foram simulados cenários áreas cobertas por vegetação natural ap- considerando restrições de área na equação tas à produção e das terras atualmente uti- (1), afetando também as equações (2) e (3). lizadas para essas atividades, a região Sul No modelo de alocação, a terra disponível e será a mais afetada em todos os cenários apta para a agricultura é calculada por mi- de mudanças climáticas,exceto no BRAMS crorregião e utilizada nas equações (19) e (+P). Neste último cenário, a região Norte (29). Amazônia foi a mais efetada, com impacto Outra importante questão a ser levan- negativo de 15 milhões de hectares na área tada é: quantos hectares de pastagens apta a agricultura. podem ser convertidos em lavouras nos De acordo com a Tabela 8, o Brasil deverá cenários de mudanças climáticas?. Nas pro- apresentar uma redução acima de 12 mil- jeções do BLUM, por exemplo, a produção hões de hectares para a produção agrícola de carne e leite aumenta mesmo com a di- nos cenários BRAMS (-P) e BRAMS (P) para minuição das terras destinadas ao pasto no 2030. Para o cenário otimista, a área poten- futuro, caso seja economicamente viável. A cial para a rodução agrícola poderá ser re- dinâmica de uso da terra a partir das bases duzida em 8 milhões de hectares compara- de dados de sensoriamento remoto (ima- da aos dados originais de 2009.A Tabela 8 gens de satélite) foi usada para determinar mostra os resultados que foram utilizados a tendência da intensificação da produção com dados de entrada para a variável , a pecuária. Em 2009, o Brasil apresentou qual é uma variável explicativa na equação 42,2 milhões de hectares de pastagens ade- quadas à produção agrícola, dos quais 32% 2030, o impacto sobre as áreas de pasta- estão concentrados no Centro-Oeste Cerra- gens que poderiam ser convertidas para do, 22% no Sul, 16% no Sudeste, 16% no a agricultura deverá ser reduzido, como é Norte-Amazônia, 9% no Cerrado do Nor- mostrado na Tabela 9. deste e 4% no Nordeste Litorâneo. Para Tabela 9. Pastagens aptas para lavouras na comparação de cenários para 2030 (1000 ha)   Referência Pessimista Otimista BRAMS (-P) BRAMS (+P) Sul 8.528 3.870 5.856 3.841 8.380 Sudeste 6.043 5.593 5.729 5.618 5.974 Centro-Oeste − Cerrado 12.306 11.134 11.915 11.134 12.302 Norte- Amazônia 5.983 5.850 5.850 5.850 5.670 Nodeste-Litorâneo 1.652 -63 247 -45 1.049 Nordeste Cerrado 3.547 1.644 2.172 1.669 2.601 75 Brasil 38.060 28.028 31.769 28.067 35.976 Fonte: Sparovek e ICONE Apesar da estimativa de redução de quase A próxima seção apresenta os resulta- 10 milhões de hectares na área de pasta- dos preliminares de três cenários no BLUM: gem apta à produção agrícola, em relação à linha de base, pessimista, otimista e BRAMS linha de base de 2009, o pasto poderá con- (com e sem precipitação). Conforme de- tinuar a ser convertido para as atividades scrito acima, a variável dinâmica no mod- Projeção dos impactos das mudanças climáticas na oferta e demanda agrícolas por meio da maior intensificação elo para cada cenário em 2020 e 2030 foi a da produção de carne em todos os cenários área disponível e apta à agricultura, combi- simulados, devido à maior restrição de ter- nada à quantidade de pastagem que pode ra para a produçao agrícola. ser convertida em terra de cultivo. Resultados da Simulação do Modelo de Uso da Terra para a Agricultura Brasileira (BLUM) Antes de apresentar os resultados dos Para o preço internacional de petróleo, cenários simulados, é importante descrev- considerando que é um importante indi- er o cenário macroeconômico utilizado em cador para os custos dos insumos agro- todas as simulações, o qual é considerado pecuários e também para os preços das como exógenos ao BLUM. commodities, espera-se que alcançará Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira US$ 143,5 por barril em 2030, com algumas prazo. Assim, as projeções de longo prazo oscilações ao longo do período projetado. apresentadas neste relatório já consideram Espera-se que o Produto Interno Bruto as expectativas de curto prazo. (PIB) brasileiro apresente um crescimento Os resultados são apresentados em três anual médio de 4,6% ao ano até 2030, en- subseções: uso da terra e produção, con- quanto que o PIB mundial deverá crescer sumo doméstico, comércio internacional e a uma taxa anual de 3,2%. As projeções do preços. Foram comparados os resultados Banco Mundial para o PIB de 2013 e 2014 dos cenários pessimista, otimista e BRAMS são similares às utilizadas nas simulações, (com e sem precipitação) para 2030 com inclusive a média de crescimento para relação ao cenário de referência (sem mu- 2030, mas as projeções para o Brasil podem danças climáticas). ser consideradas mais otimistas em relação a esta instituição. A redução no crescimento Uso da Terra e Produção econômico de curto prazo, em especial devi- do a crise na Europa, estão consideradas nas A Tabela 10 mostra os resultados referentes projeções mundiais, mas espera-se que as à terra destinada à produção agropecuária, 76 considerando as lavouras e as pastagens políticas públicas brasileiras afetarão pos- itivamente a economia doméstica no curto para cada cenário em 2009e 2030. Tabela 10. Terras utilizadas por pastagens e pelas lavouras (primeira safra)(1000 ha) BRAMS   Referência Pessimista Otimista (-P) BRAMS (+P) Região 2009 2030 2030 2030 2030 2030 Sul 30.281 29.823 25.084 27.031 25.114 24.847 Sudeste 37.193 37.317 36.784 36.963 36.835 36.677 Centro-Oeste Cerrado 58.998 59.678 58.698 59.396 58.725 57.890 Norte Amazônia 51.629 58.688 58.003 58.054 58.165 48.483 Nordeste Litorâneo 14.790 14.911 12.672 14.384 12.725 15.669 Nordeste Cerrado 37.100 38.255 36.871 37.224 36.903 35.665 Total 229.990 238.671 228.112 231.640 228.467 219.232 i Foram consideradas somente as primeiras safras de milho e de feijão e excluídas as safras de inverno (trigo e cevada). Fonte: ICONE No cenário de referência, a área total alo- cada para agropecuária, mostram que a cada às lavouras e às pastagens no Brasil região Sul poderá ser a mais afetada, dev- aumenta 2% em 2020 e 4% em 2030, to- ido às restrições das mudanças climáticas mando como base o ano de 2009. A deman- nesse cenário. Em 2020, a área total poderá da por terra para a produção agropecuária diminuir 4,4 milhões de hectares em deverá ser de 10 milhões de hectares em relação à linha de base, aumentando para 2030, aproximadamente, comparada com o 4,7 milhões de hectares em 2030. Em geral, ano de 2009. é provável que o Brasil tenha menos 10,6 Entre os cenários analisados, o impacto milhões de hectares de terra destinada às das restrições das mudanças climáticas foi atividades agrícolas em 2030. O BRAMS maior no BRAMS com precipitação. A área sem precipitação apresentou resultados total utilizada por pastagens e lavouras de semelhantes ao cenário pessimista. primeira safra poderá ser reduzida em 19 No cenário otimista, os impactos foram milhões de hectares em 2030, comparada muito menores. A região Sul reduziu a ao cenário de referência. A região Norte área total utilizada pela produção agrícola Amazônia deverá ser a mais afetada, na em 2,5 e 2,8 milhões de hectares em 2020 77 qual a área foi reduzida em 10 milhões de e 2030, respectivamente, em relação ao hectares, seguido pelas regiões Sul e Nor- cenário de referência (linha de base). Da deste Cerrado que apresentaram reduções mesma forma, no Brasil como um todo, a de 5 e 2,6 milhões de hectares, respectiva- diminuição total da área deverá se situar mente. em torno de 7,1 milhões de hectares em Os resultados do cenário pessimista 2030, comparada à linha de base. A Figura para 2020 e 2030 com relação ao cenário 24 mostra a participação da área alocada de referência, em termos da área total alo- para a agropecuária em cada região. Projeção dos impactos das mudanças climáticas na oferta e demanda Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira Figura 25. Área alocada para a agropecuária para cada cenário: distruição entre regiões Cenário de Referência 2030 Cenário Pessimista 2030 Área total: 238,7 mm ha Área total: 228,1 mm ha 16 % 12 % 16 % 11 % 6% 16 % 6% 16 % 25 % 25 % 25 % 26 % Cenário Otimista 2030 BRAMS (-P) 2030 Área total: 231,6 mm ha Área total: 225,5 mm ha 16 % 12 % 16 % 11 % 6% 16 % 6% 16 % 78 25 % 25 % 25 % 26 % BRAMS (+P) 2030 Área total: 219,2 mm ha 16 % 11 % 7% 17 % Sul Sudeste Centro-Oeste Cerrado 22 % Norte Amazônia 27 % Nordeste Litorâneo Nordeste cerrado Fonte: ICONE No entanto, é interessante notar que a sificação da produção pecuária, porque há maior parte dessa redução foi alocada so- pastagens muito aptas à lavoura e devido bre a área de pastagem, como é mostrado à viabilidade econômica resultante dos au- na Tabela 12. Este é o resultado da inten- mentos de preços. Tabela 11. Área alocada para pastagens (milhões de hectares)   Referência Pessimista Otimista BRAMS (-P) BRAMS (+P) Região 2009 2030 2030 2030 2030 2030 Sul 16.191 13.789 11.313 12.321 11.331 11.058 Sudeste 27.466 24.287 23.680 23.892 23.720 23.618 Centro-Oeste Cerrado 49.003 42.777 41.393 42.182 41.422 40.527 Norte Amazônia 47.831 53.623 52.585 52.744 52.736 43.700 Nordeste Litorâneo 10.845 10.444 8.822 9.051 8.860 10.906 Nordeste Cerrado 32.149 29.445 27.993 28.419 28.024 26.902 Total 183.485 174.364 165.785 168.609 166.092 156.710 Fonte: ICONE As projeções mostram que no Brasil a área ao pasto apresentou uma retração de 2,4 79 total de pastagens em 2030 poderá ser milhões de hectares, em relação às past- reduzida em 17,6 milhões de hectares no agens observadas em 2009. Isto mostra a cenário BRAMS com precipitação, 8,6 e tendência de diminuição dessas áreas na 8,3 milhões de hectares no cenário pessi- região Sul, que foram substituídas por la- mista e no BRAMS (sem precipitação) e 5,8 vouras. Todas as outras regiões, exceto no milhões de hectares no cenário otimista, Norte-Amazônia, também apresentam uma em comparação ao cenário de referência. tendência de redução dos pastos no cenário Apesar da significativa redução em termos de referência. Projeção dos impactos das mudanças climáticas na oferta e demanda relativos, os impactos foram de 10% no A região Norte Amazônia apresentou cenário BRAMS (+P), 5% no cenário pessi- uma redução de 10 milhões de hectares mista e no BRAMS (-P) e de 3% no cenário de pastagens no cenário BRAMS (+P) em otimista, em relação à linha de base. 2030, comparado ao cenário de referência Como era de se esperar em termos re- no mesmo ano, enquanto que nos outros gionais, devido aos impactos das mudanças cenários esta redução foi de 935 mil hect- climáticas, o Sul foi mais afetado no que se ares em média. Este resultado mostra que refere a substituição das pastagens pelas quase toda a redução da área disponível e culturas agrícolas. Para os cenários pessi- apta nesta região no cenário BRAMS (+P) mista e BRAMS (com e sem precipitação), foi alocada sobre pastagens em maior pro- as pastagens foram reduzidas em 2,5 mil- porção em relação a lavouras, o que é es- hões de hectares em média, o que represen- perado devido ao uso corrente da terra ta uma diminuição de 19% em 2030, com- na região.Em resumo, a área alocada para parada à linha de base. No entanto, mesmo pastagens em 2030 deverá apresentar re- no cenário de referência, a área destinada dução em todos os cenários simulados Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira em comparação ao cenário de referência, mais afetada pelos cenários de mudanças exceto na região Nordeste Litorâno para o climáticas, ou seja, não será possível sub- cenário BRAMS (+P), devido a serem terras stituir o pasto na mesma proporção da de- com baixa aptidão para lavouras. manda por área de lavoura na região Sul, o A Tabela 13 mostra que a área total de que implica em uma redistribuição regional lavouras foi reduzida, mas não de forma da produção. No Cerrado das regiões Cen- tão substancial quanto a das pastagens. tro-Oeste e Nordeste, houve um aumento na Mais uma vez, a maior parte da retração se área de lavouras nos cenários simulados de concentrou no Sul, porque essa região foi a mudanças climáticas em relação ao cenário de referência. Tabela 12. Terra destinada às lavourasi (1000 ha)   Referência Pessimista Otimista BRAMS (-P) BRAMS (+P) Região 2009 2030 2030 2030 2030 2030 Sul 14.090 16.034 13.771 14.710 13.783 13.789 80 Sudeste 9.727 13.030 13.104 13.071 13.115 13.059 Centro-Oeste Cerrado 9.994 16.901 17.305 17.214 17.302 17.363 Norte Amazônia 3.798 5.065 5.419 5.310 5.429 4.783 Nordeste Litorâneo 3.945 4.468 3.850 3.921 3.867 4.764 Nordeste Cerrado 4.951 8.810 8.878 8.805 8.880 8.763 Total 46.506 64.308 62.328 63.031 62.376 62.522 i Foram consideradas somente as safras de verão de milho e de feijão e excluídas as safras de inverno (trigo e cevada). Fonte: ICONE Na ausência de alterações climáticas, o de perda de terra arável, o que explica os cenário de referência (linha de base) mos- menores impactos iniciais mostrados na Ta- tra que a terra cultivável deverá aumentar bela 2. Como resultado, conforme apresen- para 17 milhões de hectares em ​​2030, em tado na Tabela 13, as terras destinadas ao comparação a 2009. No entanto, devido aos cultivo deverão diminuir quase 2 milhões impactos das mudanças climáticas, todos de hectares em 2030 nos cenários pessimis- os cenários simulados resultam em uma ta e BRAMS (sem precipitação), 1,8 milhão diminuição da área de lavouras em 2020 e de ha no BRAMS (+P) e 1,3 milhão de ha no 2030, se comparados à linha de base. Con- cenário otimista. tudo, é importante notar que a substituição As simulações de áreas cultiváveis ​​(Ta- das pastagens pelos grãos e a cana-de-açú- bela 13) apresentam uma tendência inter- car compensa parcialmente as previsões essante na dinâmica da mudança do uso re- gional da terra no Brasil. Enquanto a área disponibilidade de terras aptas à produção de plantio deve diminuir no Sul e no Nord- agropecuária destas regiões quando incor- este Litorâneo, a área cultivada em todas as poradas as mudanças na precipitação no outras regiões poderá aumentar, compen- modelo BRAMS. sando parcialmente os possíveis impactos A Figura 25 mostra que a distribuição das alterações no clima. Em essência, essas percentual da área alocada para cada la- tendências do uso da terra parecem repre- voura e pastagens no Brasil foi modificada sentar estratégias de adaptação autóctones somente no cenário BRAMS com precipi- − deslocamento dos sistemas de cultivo tação em 2030, comparado ao cenário de menos adequados e a sua redistribuição referência, apesar da diferença no total de nas áreas mais favoráveis ​​em relação às lo- área utilizada pela agropecuária entre os calizações atuais. cenários. Considerando que a área de pas- Diferente de todos os outros cenários to no cenário BRAMS (+P) foi o mais afe- climáticos, no BRAMS (com precipitação) tado, espera-se que as lavouras aumentem a área de lavouras foi reduzida no Norte participação no uso da terra em relação às Amazônia e aumentada no Nordeste Lito- pastagens. 81 râneo. Este é um resultado dos impactos da Projeção dos impactos das mudanças climáticas na oferta e demanda Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira Figura 26. Distribuição da área total alocada para os produtos agropecuários: comparação de cenários Cenário de Referência 2030 Cenário Pessimista 2030 Área total: 238,7 mm ha Área total: 228,1 mm ha 14 % 14 % 4% 4% 1% 1% 1% 1% 6% 6% 1% 1% 73 % 73 % Cenário Otimista 2030 BRAMS (-P) 2030 Área total: 231,6 mm ha Área total: 225,5 mm ha 14 % 14 % 4% 4% 82 1% 1% 1% 1% 6% 6% 1% 1% 73 % 73 % BRAMS (+P) 2030 Área total: 219,2 mm ha 15 % 4% Soja 1% Milho la safra Arroz 1% 7% Algodão 1% Cana-de-açúcar 71 % Feijão Pasto Fonte: ICONE Quanto à produção de grãos brasileira, hões de toneladas no cenário BRAMS (com como é mostrado na Tabela 14, as simu- precipitação) e em torno de 4,6 milhões lações preveem para 2030 uma redução de toneladas, nos cenários pessimista e na produção de grãos brasileira de 5,6 mil- BRAMS (sem precipitação), em relação ao cenário de referência. Conforme as expec- Em geral, pode-se esperar que as quedas tativas, o cenário otimista estima cerca de na produção afetem os preços, a demanda metade deste impacto, prevendo um declí- doméstica e as exportações líquidas desses nio na produção de 2,7 milhões de tonela- produtos. das em 2030, comparado à linha de base. Tabela 13. Produção de grãos, somente a primeira safra* (mil toneladas)   Referência Pessimista Otimista BRAMS (-P) BRAMS (+P) Região 2009 2030 2030 2030 2030 2030 Sul 42.160 67.849 58.973 62.687 58.996 58.852 Sudeste 14.622 23.372 23.775 23.574 23.793 23.915 Centro-Oeste Cerrado 28.853 50.561 52.634 51.979 52.601 53.065 Norte Amazônia 10.323 18.301 19.748 19.286 19.779 17.577 Nordeste Litorâneo 2.310 3.671 3.178 3.226 3.190 3.949 83 Nordeste Cerrado 10.222 30.247 31.079 30.557 31.063 30.983 Total 108.492 194.001 189.389 191.310 189.422 188.341 * Foram consideradas somente as safras de verão de milho e de feijão e excluídas as safras de inverno (trigo e cevada). Fonte: ICONE Apesar da previsão de queda na produção a produção de carne diminuirá em uma de grãos em torno de 8milhões de tone- quantidade muito menor em razão da in- Projeção dos impactos das mudanças climáticas na oferta e demanda ladas em 2030 na região Sul, nos três pri- tensificação tecnológica, como é mostrado meiros cenários de mudança climáticas em na Tabela 15. Por isso, embora a produção relação à linha de base, o Sudeste, o Cen- de carne bovina no Brasil possa diminuir tro-Oeste, o Norte-Amazônia e a área de em média cerca de 7% em todos os cenári- Cerrado do Nordeste irão aumentar a sua os simulados para 2030 comparados à produção de grãos em 2030 ,. Ou seja, a re- linha de base, as simulações preveem que distribuição da produção regional reduzirá ela continuará a crescer até 2030 em todos quase à metade os impactos negativos das os cenários, em relação à produção obser- mudanças climáticas sobre os grãos.É es- vada em 2009, e poderá aumentar cerca de pecialmente importante notar que, apesar 3 milhões de toneladas. da redução prevista na área de pastagem, Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira Tabela 14. Produção de carne bovina (mil toneladas)   Referência Pessimista Otimista BRAMS (-P) BRAMS (+P) Região 2009 2030 2030 2030 2030 2030 Sul 1.072 1.942 1.700 1.748 1.700 1.711 Sudeste 2.483 3.292 3.158 3.144 3.157 3.189 Centro-Oeste Cerrado 2.997 4.927 4.594 4.629 4.597 4.603 Norte Amazônia 1.381 1.891 1.733 1.725 1.736 1.528 Nordeste Litorâneo 388 627 588 590 588 641 Nordeste Cerrado 839 1.012 954 956 954 955 Total 9.161 13.691 12.726 12.793 12.733 12.627 Fonte: ICONE 84 Consumo Doméstico, Em termos de consumo doméstico, a Tabe- la 16 apresenta um resumo dos resultados Preços e Comércio para cada produto e cenário analisado. Internacional Tabela 15. Consumo doméstico de cada produto analisado (1000 toneladas e bilhões de litros)   Referência Pessimista Otimista BRAMS (-P) BRAMS (+P) Atividades 2009 2030 2030 2030 2030 2030 Grãos 106.940 175.286 173.643 174.466 173.665 173.317 Etanol 23.960 67.599 65.260 66.024 65.321 65.747 Farelo de Soja 12.000 18.922 18.807 18.898 18.810 18.749 Óleo de Soja 4.341 8.260 8.220 8.240 8.220 8.197 Açúcar 10.341 19.055 18.975 19.003 18.977 18.993 Carne bovina 7.433 10.089 9.250 9.304 9.255 9.166 Carne de frango 7.294 12.088 12.160 12.216 12.161 12.148 Carne suína 2.598 3.434 3.401 3.449 3.440 3.439 Fonte: ICONE Na ausência de mudanças climáticas, o con- Projeção dos Impactos sumo nacional de todas as commodities deverá aumentar em 2030, comparado a das Mudanças Climáticas 2009. No entanto, nossas simulações em nos Preços Reais das todos os cenários de mudanças climáticas Commodities em 2020 e sugerem que, em relação à linha de base de 2030 2009, as alterações no clima podem redu- zir o consumo de quase todas as commod- Os preços reais das commodities são apre- ities, especialmente os grãos e o etanol. A sentados na Tabela 17. A competição entre principal causa dessa queda é a elevação as lavouras e as pastagens levou ao aumen- dos preços reais de todas as commodities, to de preços nos cenários com restrições de quando a disponibilidade de terra para a disponibilidade de terra agricultável. Como produção agrícola for menor em função esperado, o cenário pessimista apresentou das mudanças climáticas. Os cenários pes- maiores impactos sobre os preços do que simista e BRAMS (com e sem precipitação) os outros cenários. resultaram em reduções mais acentuadas 85 no consumo doméstico em relação à linha de base no futuro. Tabela 16. Preços reais das commodities (2011 = 100; t = tonelada) Uni- Referência Pessimista Otimista BRAMS (-P) BRAMS (+P) dade 2009 2030 2030 2030 2030 2030 Milho R$/t 421 359 386 375 385 389 Projeção dos impactos das mudanças climáticas na oferta e demanda Soja R$/t 1.071 815 865 843 865 895 Algodão R$/t 1.415 1.415 1.455 1.437 1.454 1.487 Arroz R$/t 800 571 672 629 671 690 Feijão R$/t 1.682 1.523 1.691 1.639 1.689 1.658 Farelo de Soja R$/t 1.003 815 842 832 842 859 Óleo de Soja R$/t 2.787 2.463 2.558 2.511 2.557 2.613 Trigo R$/t 617 481 481 481 481 481 Cevada R$/t 603 368 368 368 368 368 Açúcar R$/t 1.099 343 374 364 373 367 Etanol R$/litro 1.40 0.66 0.71 0.69 0.71 0.70 Carne bovina R$/kg 7.30 9.43 12.09 11.83 12.07 12.42 Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira Uni- Referência Pessimista Otimista BRAMS (-P) BRAMS (+P) dade 2009 2030 2030 2030 2030 2030 Carne de frango R$/kg 2.27 2.57 2.80 2.74 2.80 2.84 Carne suína R$/kg 2.78 3.90 4.21 4.12 4.20 4.25 Fonte: ICONE Nota: os preços dos grãos, etanol, açúcar e carnes são ao produtor enquanto que farelo de soja e óleo de soja são preços no atacado, É interessante notar que os preços ao pro- Projeção do Impacto das dutor de gado de corte aumentaram mais Mudanças Climáticas no de 25% em todos os cenários, mostrando que a intensificação do uso de pastagens e Valor da Produção Agrícola da produção pecuária poderão levar a uma em 2020 e 2030 elevação de preços para compensar os in- Com base nas projeções de preços acima, vestimentos no aumento da produtividade. os impactos das mudanças climáticas po- 86 Os custos de produção crescem significati- dem impactar os valores da produção nos vamente com a intensificação da produção cenários que consideram as mudanças no pecuária. Como resultado do aumento dos clima, por causa dos preços mais elevados e preços relativos da carne bovina, o con- dos impactos sobre a produção (Tabela 17). sumo doméstico das carnes de frango e Assim, à medida que a produção diminui suína deverá ser maior nos cenários de mu- em uma região, a oferta se tornará menor danças climáticas em 2030 em comparação do que a demanda, os preços irão subir e a ao cenário de referência. produção em outras regiões vai responder de modo positivo. Vale ressaltar que a carne bovina e o óleo de soja representam cerca de 50% do valor da produção total previs- ta para a agropecuária brasileira (produtos selecionados na tabela). Tabela 17. Valor da produção em milhões de reais (2011 = 100) Referência Pessimista Optimista BRAMS (-P) BRAMS (+P) 2009 2030 2030 2030 2030 2030 Milho (total) 16.678 31.889 33.717 33.037 33.684 34.032 Soja 47.550 96.181 101.625 99.258 101.577 105.165 Algodão 3.413 10.047 10.266 10.171 10.260 10.498 Arroz 7.831 9.254 10.131 9.789 10.124 10.415 Feijão (total) 4.562 9.268 10.138 9.870 10.126 9.941 Farelo de soja 18.350 33.022 33.832 33.589 33.830 34.337 Óleo de soja 71.615 150.100 155.060 152.464 155.002 158.560 Trigo 2.819 3.600 3.516 3.463 3.452 3.452 Cevada 86 43 43 43 43 43 Açúcar 28.248 20.906 22.684 22.076 22.634 22.291 87 Etanol 28.102 52.179 54.621 53.787 54.553 54.081 Carne bovina 51.963 129.121 153.907 151.305 153.678 156.881 Carne de frango 19.287 50.568 54.999 53.994 54.938 55.663 Carne suína 6.897 18.843 20.298 19.926 20.270 20.484 Total 307.401 615.023 664.839 652.771 664.171 675.844 Fonte: ICONE Projeção dos impactos das mudanças climáticas na oferta e demanda Como é mostrado na Tabela 16, o aumen- climáticas elevaram os preços e, conse- to de preços também explica a retração no quentemente, reduziram a demanda total. consumo doméstico e na exportação líqui- da (Tabela 19). Os cenários de mudanças Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira Tabela 18. Resultados da exportação líquida para cada cenário (1000 toneladas e bilhões de litros de etanol)   Referência Pessimista Otimista BRAMS(NP) BRAMS(P) 2009 2030 2030 2030 2030 2030 Grãos 30.471 68.654 67.044 67.556 66.932 66.057 Etanol 2.897 11.983 11.855 11.924 11.859 11.886 Farelo de soja 12.210 21.722 21.540 21.622 21.384 21.242 Óleo de soja 1.579 1.885 1.834 1.856 1.862 1.835 Açúcar 24.088 41.814 41.588 41.710 41.595 41.643 Carne bovina 1.728 3.549 3.477 3.536 3.478 3.461 Carne de frango 3.635 7.479 7.479 7.409 7.481 7.462 Carne suína 592 3.439 3.439 1.378 1.386 1.385 Fonte: ICONE 88 A exportação líquida sofreu menos impac- res. Isso significa que a redução da partici- tos do que o consumo doméstico, mas as pação de um setor no PIB afeta a economia exportações de grãos foram mais afetadas e como um todo. apresentaram uma redução superior a um A economia brasileria possui elevada milhão de toneladas em 2030, compara- heterogeneidade entre os estados. A Figu- das ao cenário de referência em todos os ra 26 mostra a participação do setor agro- cenários simulados. pecuário no PIB por estado para o ano de 2009. Elevados valores absolutos para a Resultados por estado agricultura em relação ao PIB não signifi- ca necessariamente elevada participação Em 2009 o setor agropecuário representou deste setor na economia como um todo. Os 5,6% do PIB do Brasil, enquanto que em estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, 2000 esta contribuição foi de 7,5%. Apesar São Paulo, Goiás e Paraná são exemplos de- do aumento observado na produção ag- sta comparação. Estados ou regiões como ropecuária, o setor de serviços vem apre- Mato Grosso, Rondônia e Tocantins pos- sentando taxas de crescimento superiores suem mais de 20% do total do PIB de cada às da indústria e agropecuária, passando estado baseado na produção agropecuária. de 52,3% para 67,5% do total do PIB na- Entretanto, como parte das indústrias e cional de 2000 a 2009. Entretanto, parte da serviços são integrados a agropecuária, a demanda do setor de serviçoes é derivada economia como um todo deverá sofrer com da produção industrial e agropecuária, as- menores níveis de produção. sim como da renda gerada por estes seto- Conforme explicado na metodologia, os resultados do BLUM foram utilizados no mod- elo de alocação pode microrregião, primeiramente por estado e depois para as respecti- vas microrregiões. A Tabela 20 mostra os resultados dos grãos e oleaginosas para 2009 e 2030 nos cenários de referência e pessimista. Figura 27. PIB da agropecuária em 2009 por estado, valor absoluto e participação no PIB total R$ milhões Partic. % 25 45% 40% 20 35% 30% 15 25% 10 20% 15% 89 5 10% 0 0% Paraná Rio Grande do Sul Santa Catarina Espírito Santo Minas Geras Rio de Janeiro São Paulo Goiás Mato Grosso Cerrado Mato Grosso do Sul Acre Amazonas Amapá Mato Grosso Amazon Pará Rondônia Roraima Alagoas Ceará Paraíba Pernambuco Rio Grande de Norte Sergipe Bahia Maranhão Piauí Tocantins Projeção dos impactos das mudanças climáticas na oferta e demanda Fonte: IBGE Tabela 19. Produção de grãos e oleaginosas (1000 toneladas) Pessimista/ Pessimista-   Referência Pessimista Referência Referência   2009 2030 2030 Variação (%) Var. absoluta Paraná 28.429 45.974 41.822 -9% -4.152 Rio Grande do Sul 24.473 41.606 34.322 -18% -7.284 Santa Catarina 8.900 12.507 12.335 -1% -173 Espírito Santo 223 474 485 2% 11 Minas Gerais 16.748 25.911 25.860 0% -51 Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira Pessimista/ Pessimista-   Referência Pessimista Referência Referência   2009 2030 2030 Variação (%) Var. absoluta Rio de Janeiro 52 96 95 -1% -1 São Paulo 9.482 15.487 16.193 5% 706 Goiás 16.787 30.188 31.998 6% 1.810 Mato Grosso (Cerrado) 17.642 35.381 36.853 4% 1.472 Mato Grosso do Sul 7.504 13.807 14.143 2% 336 Acre 123 185 154 -16% -30 Amapá 13 48 47 -2% -1 Amazonas 85 62 54 -12% -7 Mato Grosso (Amazônia) 10.797 18.698 20.492 10% 1.793 Pará 2.105 3.684 3.591 -3% -92 90 Rondônia 1.111 1.258 1.268 1% 10 Roraima 136 249 261 5% 12 Alagoas 102 89 70 -21% -19 Ceará 822 830 717 -14% -113 Paraíba 258 293 272 -7% -21 Pernambuco 377 969 765 -21% -204 Rio Grande do Norte 79 69 62 -10% -7 Sergipe 672 1.421 1.292 -9% -129 Bahia 7.404 18.002 18.206 1% 204 Maranhão 2.690 7.526 8.022 7% 496 Piauí 2.123 5.410 5.048 -7% -362 Tocantins 1.753 5.213 5.460 5% 247 Brasil 160.891 285.437 279.886 -2% -5.550 Fonte: ICONE Grande parte dos impactos negativos na do ao cenário de referência, o que rep- região Sul do Brasil devido às mudanças resenta 68% da redução de área total da climáticas é esperada no estado do Rio região. A produção de grãos (milho total, Grande do Sul, que deve perder, em média, feijão, soja, algodão e arroz) devem ser re- 3,2 milhões de hectares em 2030 compara- duzidos em 7,3 milhões de toneadas, rep- resentando 30% da produção observada pessimista, apresentando impactos posi- em 2009. A produção de soja será a mais tivos na economia deste estado como um afetada negativamente em 2030. Enquanto todo, já que a agricultura representou mais que no cenário de referência deve-se al- de 20% do PIB do estado em 2009. cançar uma produção de 15,3 milhões de Os estados da região Nordeste Litorâ- toneadas, no cenário pessimista ela deverá neo, entretanto, deverão apresentar perdas ser reduzida em 18% ou para 12,6 milhões na produção de grãos e cana-de-açúcar em de toneladas. O estado do Paraná deverá re- todos os cenários de mudanças climáticas. duzir a área em 1,6 milhões de toneladas e A região possui, atualmente, baixos níveis a produção em 15% para grãos e oleagino- de aptdão para a produção de grãos, o que sas. A redução da produção de milho e soja deve piorar nos cenários de mudanças do deverá ter um efeito multiplicador sobre as clima simulados elevando ainda mais a po- indústrias de aves e suínos, por exemplo, breza e insegurança alimentar na região. pois a região Sul é a maior produtora des- O estado de Pernambuco, por exemplo, tas carnes. poderá reduzir a produção de grãos em 204 Os cenários de mudanças climáticas de- mil toneladas em 2030, representando uma 91 verão afetar positivamente os estados de perda de 54% da produção observada em Goiás e Mato Grosso, aumentando a pro- 2009. dução de grãos e oleaginosas e compen- sando parcialmente as perdas da região Resultados por Sul. Espera-se que o estado do Mato Grosso microrregião compense 26% dos 12,7 milhões de tonela- das de todos os estados que apresentaram Conforme descrito na seção de metodolo- impactos negativos nos cenários simula- gia, foi usado o modelo de alocação por Projeção dos impactos das mudanças climáticas na oferta e demanda dos. microrregião para distribuir os resultados Os estados da Bahia, Maranhão e Tocan- do BLUM por microrregião. Como existem tins (pertencentes a região Nordeste Cer- 558 microrregiões no Brasil, foi escolhi- rado no BLUM) deverão apresentar cresci- da apenas uma de cada região BLUM para mento na produção de quase um milhão de ser analisada, sendo aquela que apresen- toneladas, representando 7,5% das perdas. tou maiores impactos negativos no cenário Apesar da redução de 798 mil hectares de pessimista. A Figura 28 mostra impactos área disponível para a agropecuária na relevantes sobre lavouras e pastagens para Bahia em 2030 no cenário pessimista com- as regiões selecionadas, excluindo aquelas parado ao de referência, a área de pastagem atividades que possuem baixa importância será substituída por lavouras e a produção na região. Por exemplo, na microrregião de será aumentada em 204 mil toneladas. Para Toledo no estado do Paraná (região Sul), as o estado do Tocantins espera-se dobrar a áreas de pastagens, soja e milho primeira produção em 2030 no cenário de referência safra representaram 99% da área agrícola em relação a 2009 e ainda mais no cenário total em 2009, sendo excluídos os outros Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira usos nesta análise. No caso de Dourados-MS (região Centro-Oeste Cerrado), 98% da área foi alocada para soja, pasto e cana-de-açucar em 2009. Figura 28. Área alocada para agropecuária para as microrregiões selecionadas 500 Toledo-PR 900 Unaí-MG 450 800 400 700 350 600 300 500 250 400 200 300 150 100 200 50 100 0 0 Milho 1a safra Soja Pastagem Milho 1a safra Soja Pastagem 1800 Dourados-MS 2500 Santarém-PA 1600 92 1400 2000 1200 1500 1000 800 1000 600 400 500 200 0 0 Soja Pastagem Cana-de-açúcar Soja Pastagem 250 Paieu-PE 2500 Barreiras BA 200 2000 150 1500 100 1000 50 500 0 0 Milho 1a safra Feijão Pastagem Milho 1a safra Soja Aldodão Pastagem 2009 2030 Referência 2030 Pessimista Fonte: ICONE Em geral, o estado do Paraná (PR) reduz- dutora de soja, bovinos, cana-de-açúcar e iu a área total utilizada pela agropecuária milho. No cenário de referência, espera-se em 1,6 milhões de hectares (cenário pessi- que Dourados expanda a área utilizada em mista comparado com o de referência em 527 mil ha em 2030 em relação a 2009 e, 2030), o quel representa 31% da redução ainda assim, 95% da expansão das lavouras de 5,2 milhões de hectares na região Sul. de soja e cana-de-açúcar ocorreram sobre A microrregião de Toledo-PR deve redu- áreas de pastagens. No cenário pessimis- zir sua área disponível para a agricutura ta, a redução de área disponível poderá em 83% no cenário pessimista comparado acarretar em diminuição da área agrícola ao de referência, de 647,3 para 107,5 mil em 807 mil ha no mesmo período, sendo o hectares em 2030. As áreas de soja, pasto maior impacto sofrido pela cana-de-açúcar. e milho poderão ser reduzidas em, respec- Resultados semelhantes são espera- tivamente, 387,8, 88,4 e 19,3 mil hectares dos para as microrregiões de Pajeu-PE e em 2030 no cenário pessimista em relação Barrreiras-BA. É importante notar que a ao de referência. Os resultados refletem pecuária deverá se intensificar significa- a redução na área disponível para a ag- tivamente no cenário pessimista em com- 93 ropecuária na região Sul no advento das paração com o de referência tanto em 2009 mudanças climáticas. Esta microrregião é quanto 2030, parcialmente compensando a responsável por 34% da redução de área perda de área de lavouras. disponível no estado do Paraná. Santarém localiza-se no estado do Pará, Unaí é uma microrregião pertencente ao região Norte Amazônia. Sua economia ba- estado de Minas Gerais e faz parte da região seia-se na produção pecuária e possui tam- Sudeste do Brasil. Este estado é o único bém um importante porto para a região. na região que possui vegetação nativa re- A área de pasto vem crescendo histori- Projeção dos impactos das mudanças climáticas na oferta e demanda manescente e apta para a produção agro- camente e espera-se a continuidade para pecuária, considerando todas as restrições 2030, ainda que em menor escala de ex- ambientais. No cenário de referencia, espe- pansão, Como existem 800 mil ha de área ra-se que o estado expanda a área utilizada disponível para a expansão agropecuária pela agricultura em 559 mil hectares em em ambos os cenários pessimista e de 2030 em relação a 2009. No cenário pes- referência, a microrregião sofrerá impac- simista, o estado irá reduzir esta área dis- tos menores no setor agropecuário se com- ponível, seguindo o que ocorreu na micror- parada a outras regiões. região de Unaí. Grande parte desta redução Considernado as diversas atividades deverá ocorrer sobre áreas de pastagens, produtivas e regiões, os resultados estao minimizando os impactos negativos sobre apresentados em mapas para 2009 e 2030, as lavouras. para ambos os cenários pessimista e de A microrregião de Dourados localizada referência, no Anexo 1. no estado de Mato Grosso do Sul (região Centro-Oeste Cerrado) é importante pro- 94 Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira Conclusões 95 O valor agregado deste estudo em relação a outros trabalhos conduzidos na região ao longo da última década pode cionais, este estudo combinou modelos globais e regionais de alta resolução com conjuntos de dados de longo prazo ser resumido nos seguintes itens: hidrometeorológicos e de uso do solo 1. O estudo foi concebido no contexto da para melhorar a calibração dos resulta- iniciativa nacional, regional e global em dos do modelo climático. A integração curso, Cenários Regionalizados de Clima entre os diferentes modelos climáticos Futuro da América do Sul (CREAS), que e as fontes de dados proporcionou uma tem como objetivo melhorar a eficiência análise e uma síntese mais refinadas nas das projeções de mudanças climáticas e escalas subnacionais e também permitiu de seus prováveis impactos ​​sobre a pro- a identificação de lacunas nos dados es- dução agrícola. Utilizamos alguns dos senciais como, por exemplo, densidade modelos climáticos regionais e globais hidrometeorológica. (MCRs e MCGs) adotados pelo CREAS 3. A implementação deste estudo exigiu para que os resultados deste estudo con- uma colaboração ativa entre pesqui- tribuam e se beneficiem desse projeto. sadores, agrônomos, professores e 2. Enquanto os estudos anteriores uti- estudantes dos principais órgãos na- lizaram um único MCG e um MCR para cionais brasileiros como a EMBRAPA prever os impactos nacionais e subna- (agropecuária), a UNICAMP (modela- Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira gem climática), o INPE (modelagem es- gem e de cultivo de grãos no Brasil. Por pacial e meteorológica de mesoescala) e exemplo, em comparação com o estudo o ICONE (modelagem econômica). Agora anterior de Assad e Pinto (2008), que a rede de profissionais poderá continu- utilizou um MCG e um MCR e projetou ar a aperfeiçoar e ajustar as análises e substanciais impactos negativos na soja, os modelos integrados agroecológicos, no trigo, no milho e nos sistemas de past- biofísicos e econômicos desenvolvidos agem, este estudo que usa uma série de para este estudo. A inclusão da UNI- MCGs e MCRs, além de muito melhores CAMP também estabelece as bases para dados hidrometeorológicos e de ade- a capacitação da próxima geração de quação da terra, mostrou que, enquan- modeladores climáticos no Brasil e na to as projeções dos impactos climáticos região da América Latina e do Caribe. sobre algumas culturas (soja e algodão) 4. Este estudo avaliou a vulnerabilidade e tendem a ser mais moderadas, sobre os impactos das mudanças climáticas na outras (feijão e milho) eles podem ser produção agrícola brasileira partindo de muito mais graves que do que a pro- valiosos trabalhos conduzidos na última jeção contida no estudo de 2008. A ta- 96 década no Brasil e na região da América bela abaixo destaca essas diferenças em Latina e do Caribe. Os resultados deste 2020 e ilustra, ao menos parcialmente, relatório confirmam e ampliam as desc- o valor do emprego de conjuntos de da- obertas dos trabalhos anteriores, suger- dos mais significativos sobre o clima, a indo que as alterações no clima podem terra e a água para que se possa realizar exercer impactos cada vez mais signifi- análises mais diferenciadas e eficientes cativos e em sua maior parte negativos das metodologias de modelagem das sobre os principais sistemas de pasta- mudanças climáticas. 2020 COMPARAÇÃO Modelo PRECIS de Assad e Pinto Séries de MCGs e MCRs Área de baixo risco (%) (2008) Otimista Pessimista Otimista Pessimista Algodão -11.4 -11.7 -4.6 -4.8 Arroz -8.41 -9.7 -9.9 -7.4 Cana-de-açúcar 170.9 159.7 107 101 Soja -21.62 -23.59 -13 -24 Feijão (safra de verão) -54.3 -55.5 -4.3 -4.3 Feijão (safra de outono) -63.7 -68.4 Trigo (safra de verão) -12 -19 -4.3 -4.3 Trigo (safra de outono) -6.1 -13 5. A combinação do impacto climático so- uma redistribuição regional em que bre os dados agrícolas acima com um algumas culturas de grãos se deslo- instrumento de simulação econométrica carão do Sul para a região central do – o Modelo de Uso da Terra para a Ag- Brasil. ricultura Brasileira (BLUM – Brazilian d. Quanto à produção brasileira de grãos, Land Use Model) – revelou os seguintes as simulações preveem uma redução resultados prováveis nas escalas sub-re- em torno de 4,6 milhões de toneladas gionais e nas localizações geográficas: em 2030 nos cenários pessimistas, a. Na ausência de mudanças climáticas, em relação ao cenário de referência. a área alocada para a agropecuária Conforme esperado, o cenário oti- deverá aumentar em 17 milhões mista prognostica um reduzido im- de hectares em 2030, comparadas pacto das mudanças climáticas e um àquelas observadas em 2009. No en- declínio de 2,7 milhões de toneladas tanto, devido aos impactos das alter- na produção em 2030, comparado à ações climáticas, todos os cenários linha de base. simulados levam a uma redução des- e. Apesar da queda prevista na pro- 97 sas áreas em 2020 e 2030. dução de grãos na região Sul em torno b. No cenário pessimista, o Brasil de 8,9 milhões de toneladas em 2030, poderá contar com menos 10,6 mil- de acordo com o cenário pessimista hões de hectares de terra destinada à e em relação à linha de base, o Cen- agricultura em 2030 como resultado tro-Oeste, o Cerrado do Nordeste e o das mudanças climáticas. A região Sul Norte -Amazônia deverão aumentar será a mais afetada, podendo perder a produção de grãos em 4,4 milhões quase 5 milhões de hectares em 2030. de toneladas em 2030 nesse mes- c. Contudo, é importante notar que mo cenário, em comparação à linha a substituição das pastagens pelas de base. Ou seja, a redistribuição da culturas de grãos e cana-de-açúcar produção regional diminuirá quase compensa parcialmente as perdas à metade os impactos negativos das previstas nas áreas cultiváveis e nas mudanças climáticas sobre os grãos. culturas de grãos. Os legisladores e f. Embora a projeção mostre uma re- o mercado irão determinar em parte dução na área de pastagem, a pro- a adaptação à perda das terras aptas dução de carne bovina deverá di- à lavoura resultante das mudanças minuir em quantidade muito menor climáticas por meio da substituição do que o pasto, como resultado da in- das áreas de pastagens atualmente de tensificação tecnológica. A queda na baixa produtividade pelo cultivo de produção de carne bovina no Brasil grãos e cana-de-açúcar. As projeções poderá ser de 7% em todos os cenári- Conclusões sugerem que também poderá haver os simulados para 2030 comparado Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira ao cenário de referência, mas as sim- i. As estimativas mostram que, ao con- ulações preveem que, comparada à trário das previsões anteriores de re- linha de base de 2009, é possível que dução do valor da produção agrícola, a produção de carne bovina contin- os impactos negativos sobre a ofer- ue a aumentar até 2030 em todos os ta de commodities deverá resultar cenários e esse incremento poderá em preços significativamente mais ser superior a 2 milhões de toneladas. elevados de alguns produtos, espe- g. Os preços dos produtores de carne cialmente os alimentos básicos como bovina deverão aumentar acima de arroz, feijão e todos os produtos de 25% em todos os cenários, mostrando carne. Isto irá compensar o efeito de que a intensificação do uso das past- queda da produção sobre o valor da agens e da produção pecuária poderá produção agrícola, mas poderá exer- levar a um aumento de preços, com cer grandes impactos negativos sobre vistas a compensar os investimentos a população mais pobre e o seu con- para elevar a produtividade. sumo desses produtos básicos. Vale ressaltar que a carne bovina e o óleo 98 h. Em geral, as quedas na produção de- de soja respondem por quase 50% do verão afetar os preços, a demanda valor total previsto para a produção doméstica e as exportações líquidas agropecuária brasileira. desses produtos. Na ausência de mu- danças climáticas, a previsão é de au- 6. É importante elucidar que o nosso es- mento do consumo interno de todas tudo não simulou o potencial efeito dos as commodities em 2020 e 2030, em avanços tecnológicos (novas variedades, relação a 2009. No entanto, as simu- melhor e maior acesso à irrigação, mane- lações em todos os cenários de mu- jo mais eficiente da terra e da água) dança climática sugerem que, quando como medidas de adaptação utilizadas comparadas à linha de base de 2009, para compensar os impactos negativos esse fenômeno poderá reduzir o con- previstos das mudanças climáticas so- sumo de quase todas as commodities, bre a produtividade agrícola como, por especialmente os grãos e o etanol. exemplo: A principal causa desse declínio é a a. O governo brasileiro e o setor privado elevação dos preços reais de todas vêm facilitando a adoção de melhores as commodities, quando a disponib- práticas agrícolas que promovem a ilidade de terra para a produção conservação como plantio direto e agrícola sofrer uma redução devido sistemas mais eficientes em termos de às mudanças climáticas. Os cenári- recursos como, por exemplo, os pla- os pessimista e BRAMS projetam as nos de integração lavoura-pecuária retrações mais substanciais no con- que são por natureza mais resistentes sumo doméstico, em relação à linha aos choques climáticos do que algu- de base. mas culturas intensivas. b. O governo está concedendo crédito e 8. A necessidade de melhores avaliações financiamento para o recém-lançado integradas do impacto das mudanças programa Agricultura de Baixo Car- climáticas é especialmente urgente no bono, tendo disponibilizado cerca de setor agrícola. Uma recente pesquisa US$ 1 bilhão para crédito com juros realizada pela Empresa Brasileira de Ag- baixos apenas em 2011. ricultura e Pesquisa Animal (EMBRAPA) 7. Neste estudo, as nossas iniciativas para revelou que, mesmo contanto com técni- acessar os mais recentes dados hidro- cas de reprodução avançadas, gasta- meteorológicos e de uso da terra dis- se em torno de 10 anos de pesquisa e poníveis melhorou de modo significativo desenvolvimento (incluindo 2 a 3 anos a nossa capacidade de realizar modela- para ampliar a produção e distribuir se- gens e projeções de impacto mais efici- mentes) com custos na faixa de 6 a 7 mil- entes. No entanto, a falta de dados sobre hões de dólares para desenvolver, testar o clima de boa qualidade e longo prazo e lançar uma nova cultivar ou variedade está prejudicando os esforços regionais de cultura que seja resistente ao calor e/ e locais de modelagem climática, bem ou à seca. 99 como a calibração e a validação das pro- 9. Os resultados deste estudo serão incor- jeções atuais que estão sendo utilizadas​​ porados ao Modelo de Zoneamento Agro- para informar as decisões sobre políti- ecológico da EMBRAPA/UNICAMP para cas e investimentos em 2050 e posteri- melhorar a simulação e as projeções dos ores. Como os fatores que influenciam impactos das mudanças climáticas que nas mudanças climáticas operam tanto servem de base aos programas naciona- no interior quanto no exterior das fron- is de crédito e seguro agrícola no Brasil. teiras nacionais, há uma necessidade Isto significa que os resultados do estu- urgente de investimentos coordenados do vão começar a ter implicações ime- e direcionados a esse fenômeno nos diatas e de longo alcance nas operações próximos um a cinco anos para instru- e nas políticas brasileiras. As experiên- mentação, coleta, compartilhamento e cias do Brasil são altamente relevantes sistemas de acesso aos dados. Os órgãos para outras regiões e países, onde um nacionais, bilaterais e multilaterais de trabalho semelhante está sendo conduz- investimento precisam coordenar suas ido, e podem tanto enriquecer quanto se estratégias nesse sentido a fim de apoiar beneficiar de outras práticas regionais essa necessidade específica e urgente. por meio de programas de intercâmbio Sul-Sul. Conclusões 100 Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira Bibliografia 101 Anderson, K e E. Reis. (2007). The Effects Arq. Bras. Med. Veter. Zoot., v. 15, n. 1, of Climate Change on Brazilian Agri- p. 8-17, 2008. cultural Profitability and Land Use: De Gouvello, C. (2010). Brazil Low-carbon Cross-Sectional Model with Census Country Case Study. The World Bank, Data. Final report to WHRC/IPAM for Washington, DC. LBA project Global Warming, Land Decker, W.L., V. Jones e R. Achtuni. (1986). Use, and Land Cover Changes in Brazil. The Impact of Climate Change from In- Assad, E e H. Pinto. (2008). 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Área plantada de 2009 a 2030: Arroz 2009 107 2030 Cenário de Referência 2030 Cenário Pessimista Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira Figura 3a. Área plantada de 2009 a 2030: Cana-de-açúcar 2009 108 2030 Cenário de Referência 2030 Cenário Pessimista Figura 4a. Área plantada de 2009 a 2030: Feijão (primeira safra) 2009 109 2030 Cenário de Referência 2030 Cenário Pessimista Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira Figura 5a. Área platanda de 2009 a 2030: Milho (primeira safra) 2009 110 2030 Cenário de Referência 2030 Cenário Pessimista Figura 6a. Área plantada de 2009 a 2030: Pastagens 2009 111 2030 Cenário de Referência 2030 Cenário Pessimista Impactos das Mudanças Climáticas na Produção Agrícola Brasileira Figura 7a. Área plantada de 2009 a 2030: Soja 2009 112 2030 Cenário de Referência 2030 Cenário Pessimista Reconhecimento Este trabalho foi financiado pelo Programa de Florestas (PROFOR), uma parceria de multi- doadores, gerido por uma equipe central do Banco Mundial. O PROFOR financia análises e processos ligados à questão florestal os quais buscam dar suporte aos seguintes objetivos: melhorar a vida das pessoas através de uma melhor gestão das florestas e árvores; melhorar a governança florestal e aplicação da lei; financiar o manejo florestal sustentável e coordenar as políticas florestais em todos os setores. Dentre os doadores do Profor destacam-se: Comissão Europeia, Finlândia, Alemanha, Itália, Japão, Holanda, Suíça, Reino Unido e do Banco Mundial. Saiba mais em www.profor.info. The World Bank 1818 H Street, NW, Washington, DC 20433, USA. www.worldbank.org