Índice de Sustentabilidade Empresarial BM&FBovespa & as Práticas Responsáveis de Empresas Brasileiras BREVE RESUMO RESUMO EXECUTIVO empresas, tanto nas empresas membro quanto nas que que nunca fizeram parte do Índice. O ISE serviu como um guia A BM&FBOVESPA, bolsa líder em número de transações de referência, para a iniciação de práticas de sustentabilidade na América Latina e uma das maiores do mundo em valor de bem como para a melhoria contínua delas. mercado, criou o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) em 2005, com apoio financeiro da Corporação Financeira Quase todos os pesquisados do grupo 1 disseram que melho- Internacional (IFC). Na época de sua criação, havia apenas um raram suas práticas de sustentabilidade como resultado de sua índice de sustentabilidade nos mercados emergentes, o da Bolsa participação no ISE: 86 por cento das empresas perceberam de Valores de Johanesburgo, na África do Sul, que foi criado em uma melhoria em seu desempenho ambiental e de governan- 2004. De acordo com a Federação Mundial de Bolsas, existem ça, enquanto 57 por cento das empresas notaram uma mel- atualmente mais de 50 índices de sustentabilidade no mundo, horia em seu desempenho social. Várias empresas dos grupos através de suas 51 bolsas participantes.1 2, 3 e 4 notaram a importância de participar do processo de admissão do ISE, uma vez que isso confere às empresas uma No lançamento do ISE, a BM&FBOVESPA e sua parceira melhor compreensão de suas limitações em relação às práticas técnica, a Fundação Getúlio Vargas (FGV), procuraram desen- de sustentabilidade empresarial. volver um produto de investimento que pudesse ser utilizado por investidores responsáveis para facilitar o processo de investi- Uma empresa do grupo 1 que pertence a vários índices de- mento, seja através da compra de ações incluídas na carteira do clarou: “O ISE é mais rigoroso que outros índices porque temos ISE para obter um retorno semelhante, seja por meio da análise de apresentar provas de nossas práticas;” outra empresa notou: realizada por gestores do índice como proxies em suas decisões “Estar no ISE permitiu que nos diferenciássemos da concorrência de investimento. O ISE foi criado para propiciar um mecanis- nos serviços, que são basicamente uma commodity;” e uma em- mo eficiente de seleção de empresas com desempenho superior presa que falhou na tentativa de se tornar membro do Índice para enfrentar riscos e oportunidades decorrentes de questões comentou: “O questionário do ISE foi um roteiro muito valioso ambientais, sociais e de governança. para a nossa estratégia de sustentabilidade e espero que um dia sejamos classificados.” Previa-se que os líderes em sustentabilidade empresarial apre- sentariam um desempenho superior e que, consequentemente, As empresas que têm sido membro do Índice (por algum tem- a inclusão de uma empresa em um índice de sustentabili- po ou desde o seu início) relatam benefícios valiosos, como a dade estimularia a demanda por suas ações e, possivelmente, melhoria das práticas de sustentabilidade, a melhor reputação aumentaria o seu preço. Para serem incluídas no índice de e, em certa medida, o impacto positivo em seu preço das sustentabilidade, as empresas, por sua vez, teriam de demon- ações, acesso a capital e liquidez do mercado financeiro. strar a qualidade de suas práticas de sustentabilidade, um processo que poderia aumentar a competitividade da empresa, A avaliação concluiu que a expectativa de benefícios decor- melhorando sua reputação (em ambos os mercados financeiro rentes da adesão ao ISE, bem como a percepção dos resultados e de mercadorias e futuros). obtidos, são bastante elevadas. (Figura 1). Os principais bene- fícios parecem ser a revisão que as próprias empresas realizam Coincidindo com o quinto aniversário do ISE, a IFC enco- sobre suas práticas de sustentabilidade, gerando maior com- mendou uma avaliação de impacto do Índice sobre as práti- petitividade, satisfação por ser uma empresa responsável, além cas de sustentabilidade das empresas-membro. O objetivo foi de uma reputação melhorada. de avaliar o impacto do Índice no fortalecimento de práticas de sustentabilidade das empresas-membro. Os resultados e as conclusões foram baseados nas respostas das empre- FIGURA 1: RESPOSTAS AO QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO sas a um questionário online, em entrevistas pessoais e na SOBRE OS BENEFÍCIOS PERCEBIDOS DO ÍNDICE pesquisa documental de mais de 40 Indicadores-Chave de (Grupo 1 – empresas que sempre estiveram no Índice) Desempenho ao longo do tempo, encontrados em informa- ções disponibilizadas publicamente sobre as empresas. Para 50 avaliar o impacto do ISE em suas empresas-membro, elas 40 foram divididas em quatro grupos. O grupo 1 foi formado 30 por empresas que estiveram no Índice desde a sua criação; o 20 grupo 2 consistiu de empresas que eram membro, saíram do 10 Índice, e depois foram readmitidas; o grupo 3 incluiu em- 0 Melhor Relações Acesso Aumento Melhoria de presas que eram membro e saíram do Índice; e o grupo 4 foi desempenho de públicas a capital no valor competitividade composto de empresas que nunca fizeram parte do Índice. A sustentabilidade partir dessa avaliação, foi concluído que o ISE teve um im- Sem expectativa Expectativa razoável pacto considerável sobre as práticas de sustentabilidade das Expectativa baixa Expectativa alta 1 Federação Mundial de Bolsas, “Exchanges and Sustainable Investment,” Agosto de 2009. 2 ISE & as Práticas Responsáveis de Empresas Brasileiras O ISE impulsionou uma aceleração de práticas sustentáveis A avaliação do impacto do ISE na sustentabilidade empresar- entre as empresas-membro, com a maioria das empresas rela- ial também permitiu explorar o impacto sobre o desenvolvi- tivamente grandes, que dispunham de ações líquidas, ansiosas mento do Investimento Socialmente Responsável (ISR). Após para participar. Com a experiência adquirida, os requisitos a introdução do ISE, houve uma rápida movimentação para para a adesão foram dificultados e a novidade se desfez um se criar novos fundos ISR, mas a maioria deles se manteve pouco, e menos empresas têm se candidatado. O percentual relativamente pequena, com o mercado controlado pelos dois de empresas que aceitam o convite para se candidatar a mem- índices que já existiam antes da criação do ISE. Em outubro bro caiu continuamente de 52 por cento em 2005 para 38 por de 2010, existiam 10 fundos de sustentabilidade (não incluin- cento em 2009, enquanto o número de empresas convidadas do Fundos de Governança que já existiam antes da criação do se manteve relativamente constante ao redor de 130.2 Em ISE), gerindo US$580 milhões. Os dois maiores, que existiam 2010, esse número aumentou significativamente para 183, antes do ISE, gerem 70 por cento dos ativos. A maior parte do mas a taxa de resposta caiu para 29 por cento. crescimento observado foi resultado de apreciação do valor. Durante o período de análise, a sustentabilidade no Brasil fez, O Índice tem tido sucesso limitado em servir como refer- em geral, progressos significativos. Isso é evidenciado pelo encial para grandes investidores, uma vez que é composto crescimento de empresas-membro do Instituto Ethos (insti- por um número relativamente pequeno de empresas, o que tuição que promove práticas de responsabilidade empresarial proporciona uma diversificação apenas parcial. Além da no Brasil e na América Latina), que cresceu de 200 empresas questão estrutural, o argumento de que a sustentabilidade em 2000 para quase 1400 em 2010. Isso também se reflete no empresarial é importante para os investidores (porque se número de empresas signatárias do Pacto Global,3 cerca de destinaria a aumentar o valor de longo prazo para acionistas 92 das 3200 (~ 3 por cento) foram as signatárias do Brasil em através da integração dos aspectos econômicos, ambientais 2006, mas o número saltou para 354 das 7700 (~ 5 por cento) e sociais de longo prazo na estratégia de negócios) também em 2010. Além disso, o Brasil também é o país em desenvolvi- tem evidência limitada. mento que possui o maior número de instituições financeiras que são membros dos Princípios do Equador4 (oito de um Há um trade-off entre os rigorosos critérios de sustentabili- total de 68 membros em 2010). dade e a utilidade do Índice para os investidores. Quanto mais os investidores estiverem interessados no ISE, mais as empre- O ISE tem sido um dos muitos esforços realizados no Brasil sas receberão incentivos para adotar e implementar práticas para promover práticas sustentáveis. No entanto, 64 por cen- responsáveis. A fim de melhorar o impacto sobre os mercados to das empresas do grupo 1 (as que sempre foram membro financeiros (acesso a capital, preço das ações, liquidez), a do Índice) afirmaram que o ISE foi o fator mais importante avaliação sugere que o Índice precisa se tornar uma referência no desenvolvimento de práticas de sustentabilidade ao longo de investimento usada para construir e comparar o desem- dos últimos cinco anos. penho da carteira ISR e para atrair investimentos nacionais e estrangeiros para o Índice e para as ações que o compõem. Por sua construção, espera-se que os índices de sustentabilidade sirvam como referência independente, consistente e racional Em suma, a expectativa de que o Índice contribuiria para uma para investidores privados e institucionais na avaliação do maior conscientização de sustentabilidade e para melhorias desempenho de seus investimentos (incluindo fundos focados nas práticas de responsabilidade das empresas membro e em empresas de sustentabilidade). Assim, há uma expectativa não-membro no Brasil, bem como uma maior consciência da de que a liquidez, o acesso a capital e os preços das ações sejam sustentabilidade no Brasil, tem sido confirmada. impactados favoravelmente. No entanto, no caso do ISE, evi- dências nesse sentido não puderam ser encontradas. Olhando para o futuro, para que o Índice continue a ter um impacto sobre as práticas de sustentabilidade das empresas, é Além disso, a avaliação descobriu que a remoção de uma em- essencial que ele tenha também um impacto sobre a comu- presa do Índice teve pouco ou nenhum impacto sobre o preço nidade financeira. Portanto, a comunidade de investimentos de suas ações, ou sobre a reputação da empresa, ou sobre suas sustentáveis no Brasil deve considerar: práticas de sustentabilidade no curto prazo. Isso não significa que as empresas não se beneficiem por serem socialmente • Estimular a demanda comercial pelo ISE por meio da sen- responsáveis (por exemplo, sob a forma de acesso a mercados, sibilização de gestores de ativos, investidores institucionais, a melhores preços, a menores custos, a melhor valor para seus investidores e reguladores de varejo, de modo a aumentar ativos, a uma melhor reputação, a trabalhadores mais produti- a conscientização sobre a tradução de sustentabilidade vos etc.), mas isso é difícil de se provar. empresarial em melhores retornos para mercado acionário. 2 De 2005 a 2009, o número de empresas convidadas foi de 121, 120, 137, 137, 136 (os emissores das 150 ações mais líquidas), respectivamente. 3 O Pacto Global da ONU é uma iniciativa política estratégica para empresas que estejam comprometidas em alinhar suas operações e estratégias com os dez princípios aceitos universalmente nas áreas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e anticorrupção. 4 Os Princípios do Equador (PEs) são um conjunto voluntário de padrões para instituições financeiras, utilizados para determinar, avaliar e gerir riscos sociais e ambientais no financiamento de projetos. Eles são baseados nos guias e critérios do Grupo Banco Mundial. ISE & as Práticas Responsáveis de Empresas Brasileiras 3 O estímulo pode incluir a divulgação e o desenvolvimento SOBRE A BM&FBOVESPA de capacidades sobre o valor do investimento sustentável; • Reforçar o feedback e a transparência do ISE por meio do Estabelecida em 2008, a BMF&BOVESPA é a bolsa líder em compartilhamento com as empresas da lógica por trás da número de transações na América Latina e uma das maiores inclusão e da não-inclusão no Índice; do mundo em valor de mercado. Em 2009, ela compreendia • Revisar o questionário sobre admissão ao ISE, de modo a 80 por cento de todo o comércio de derivativos e 90 por cento permitir às empresas apresentar relatórios sobre as questões do comércio de ações. Possui 1.079 funcionários permanentes de sustentabilidade que considerem mais importantes; e e 67 estagiários (números de dezembro de 2009). Por meio • Diminuir o retorno das ações (tolerando pequenos desvios de suas plataformas de negociação, ela detém o registro, a de práticas responsáveis consideradas triviais, mas sem compensação e a liquidação de operações com ações, títulos, tolerar as irresponsáveis). commodities e outros. Também atua como uma central de valores mobiliários, licenças de software e índices de ações, SOBRE O IFC fornecendo informações para apoiar o mercado e promovendo atividades de gestão de risco das transações realizadas através A IFC - Corporação Financeira Internacional, membro do de seus sistemas. O objetivo da BM&FBOVESPA é de servir Grupo Banco Mundial, é a maior instituição de desenvolvimento como referência para as empresas cotadas. Em consonância global com foco no setor privado nos países em desenvolvim- com isso, tem desenvolvido um quadro coerente de governan- ento. A instituição, por intermédio de linhas de financiamento ça a fim de assegurar decisões seguras, restringindo desvios e prestação de serviços de consultoria, procura estimular o de conduta, observando o desenrolar dos processos internos, setor privado, tendo como foco a geração de oportunidades de controlando sistemas e procedimentos, além de oferecer o emprego e a promoção do desenvolvimento sustentável. Mesmo máximo de transparência a todos os seus stakeholders. em um cenário de incerteza global, os investimentos realizados pela instituição aumentaram para um valor recorde de US$18 SOBRE A FGV bilhoes no ano fiscal de 2010. Para obter maiores informações, visite www.ifc.org. Criada pela Fundação Getúlio Vargas, a FGV-EAESP é pio- neira no ensino de Administração de Empresas no Brasil e é um A estratégia do IFC no Brasil concentra-se em promover o acesso dos principais centros brasileiros de ensino, pesquisa, publica- ao financiamento e desenvolvimento de mercados de capital para ção e consultoria na área de Administração. A Escola oferece atingir pessoas de baixa renda, micro e pequenas empresas. A uma gama completa de cursos de formação profissional em IFC visa reforçar infraestruturas e serviços públicos, incluindo graduação, pós-graduação, e educação continuada. O Centro saúde e educação, através do aumento da participação do setor de Estudos em Sustentabilidade (GVces) é um local de estudo, privado. Outras áreas fundamentais incluem a melhoria do clima aprendizagem, reflexão, inovação e produção de conhecimento, de investimento e a ajuda às pequenas empresas para entrarem na composto por profissionais com uma vasta gama de conheci- economia formal. A IFC também promove práticas social e am- mentos multidisciplinares. O GVces trabalha na formulação bientalmente sustentáveis, especificamente na região amazônica. e no monitoramento de políticas públicas, na construção de Em junho de 2010, a carteira de garantias da IFC no Brasil foi de instrumentos de auto-regulação e no desenvolvimento de fer- US$2,4 bilhões. ramentas de gestão empresarial e de estratégias de sustentabili- dade de nível local, regional, nacional e internacional. Índice de Sustentabilidade Empresarial BM&FBovespa & as Práticas Responsáveis de Empresas Brasileiras: http://www.ifc.org/sustainableinvesting Escrito por Antonio Vives da Cumpetere, com base em uma avaliação realizada por Gijs Nolet da Steward Redqueen, Marcelo Linguitte da Terra Mater, e do autor. Equipe Editorial: Bajlit Wadhwa, Bruno Faria Maradei e Euan Marshall Agradecimentos especiais ao pessoal da BM&FBOVESPA e do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGV) por seu valioso apoio. Os resultados, interpretações e conclusões expressados nesta publicação não devem ser atribuídos, de maneira alguma, à Corporação Financeira Internacional (IFC), às suas organizações afiliadas, aos membros de seu quadro de Diretores Executivos ou aos países que eles representam. Embora todos os esforços tenham sido tomados para se verificar a veracidade destas informações, nem os consultores nem a IFC podem aceitar qualquer responsabilidade pela confiabilidade de qualquer pessoa sobre este resumo ou qualquer das informações, opiniões ou conclusões expostas neste resumo provisório. O material desta publicação possui direitos autorais. A IFC incentiva a divulgação do conteúdo para fins educacionais. 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