Banco Mundial `:` U3 26369 I» _ : o~~~~~~~~ n^, R_-- r ~~.Y..*,,-* .~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~. .,... ' _e CMPÇ.j 91o -E ,X& e iN _; ; A Série Água Brasil do Banco Mundial apresenta, até o momento, os seguintes documentos: 1. "Estratégias de gerenciamento de Recursos Hídricos no Brasil: Áreas de Cooperação com o Banco Mundial" - Autor: Francisco José Lobato da Costa 2. "Sistemas de Suporte à Decisão no Brasil: a outorga de Direitos de Uso da Água" -Autores: Aiexandre NM. Baltar, Luiz Gabriel T. Azevedo, Manuel Rego e Rubem La Laina Porto 3. "Recursos Hídricos e Saneamento na Região Metropolitana de São Paulo: Um Desafio do Tamanho da Cidade" - Autora: Monica Porto .Ha* i- . .;; - . : ;.* . . ,s '%; , L ', S;@ L, ,_' ' D~~~~. '. , ,' . . P -, ,,',@ * j:.õ ;q .,. :: .: . r ' 0 ` ~r.'.,'"''' J_ '''''' V, '. ' , 2 ' . ' , , , ' ': i . , ' . . . , , t , , . 2v " ' ^ ''' 'i' ' . . ' ' ,' , ' , ~~'1'tQ , , ,',t§ ''. . ,^ ~ ~~~~~~ it ,4-'.. a Qt ; 17c- - . .- "'' ~ f .1, .. :._ , '."'.-. o:, . , 4 rJ OC -. L 3[TEHrD~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~' -:-<: sAgua g Estratégias de Gerenciamento dos Recursos Híidricos no Brasil: Áreas de Cooperacao com o Banco Mundial Francisco José Lobato da Costa San,u Mund:a1 Brasilia, DF Abril, 2003 Estratcgias de Gerenciarnento de Recurso:s Hidricos no Brasil: Áreas de Cooperação com o Banco Mundial O Banco Mundial - Brasilia, 2003 As opiniões, interpretações e conclusões aqui apresentadas são dos autores e não devem ser atribuidas, de modo algum, ao Banco Mundial, às suas instituições afiadas, ao seu Conselho Diretor, ou aos países por eles representados. O Banco Mundial não garante a precisão da informação incluída nesta publicação e não aceita responsabilidade alguma por qualquer conseqüência de seu uso. É permintida a reprodução total ou parcial do texto deste documento, desde que citada a fonte. Banco Mundial Estratégias de Gerenciamento de Recursos Lldricos no Brasil: Áreas de Cooperação com o Banco Mundial - 1' edição - Brasília - 2003 204p. ISBN: 85-88192-03-09 1 - Autor: Costa, Francisco José Lobato da. Coordenação da Série Água Brasil Luiz Gabriel T. Azevedo Abel Mejia Projeto Gráfico e Impressão Estação Gráfica www.estagraf.com.br Criação de Identidade Visual Marcos Rebouças TDA Desenho & Arte Foto da capa Eraldo Perez Banco Mundial SCN Quadra 2 Lote A Ed. Corporate Financial Center, cj. 303/304 70712-900 - Brasília - DF Fone: (61) 329 1000 www.bancomundial.org.br Comentários e sugestões, favor enviar para: lazevedo@worldbank.org e/ou amejial@worldbank.org iv Bra t Agradecimentos Os autores e os coordenadores da Série Água Brasil gostariam de agradecer o apoio financeiro oferecido pelo programa do Governo da Holanda e do Banco Mundial de parceria pela água - Bank-Netherlands Water Partnership Program (BNWPP), sem oe qual a realização do estudo não teria sido possível. Por ocasião da edição deste documento, os seguintes agradecimentos devem ser registrados. Primeiramente, ao Dr. Jerson Kelman, Presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), pela organização de reuniões envolvendo diretores, superintendentes e técnicos da ANA e da Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente, com o objetivo de debater conceitos e perspectivas e incorporar sugestões ao presente trabalho. Agradecemos, também, ao então Secretário Nacional de Recursos Hídricos, Dr. Raymundo José Santos Garrido, por suas sugestões e comentários. À Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRH), na pessoa de seu então Presidente, Professor José Almir Cirilo, que franqueou espaço físico e tempo para encontros paralelos ao XIV Simpósio da ABRH, em novembro de 2002, em Maceió/Alagoas, nos quais foram colhidas inúmeras recomendações incorporadas a este documento. Todos os consultores que disponibilizaram seus conhecimentos nos referidos encontros paralelos de Maceió. Agradecemos, ainda, aos Srs. John Briscoe, Luiz Gabriel Azevedo e Abel Mejia, pelo apoio e pelos comentários que permitiram correções de rumo e a cobertura de lacunas importantes nas análises sobre o gerenciamento de recursos hídricos no Brasil. Fazemos, também, menção especial ao Professor Francisco Nunes Correia e ao Dr Nelson Luiz Rodrigues Nucci, pelas contribuições conceituais ao documento. Agradecemos também aos Professores Oscar de Moraes Cordeiro Netto e Carlos Eduardo Moreili Tucci, pela disponibilização de dados e informações vitais para a consolidação deste trabalho. Não poderíamnos deixar de mencionar o apoio que recebemos das engenheiras Lilian Pena Pereira e Juliana Menezes Garrido, consultoras do Banco Mundial, pelo trabalho de revisão final deste documento. Finalmeúte, gostaríamos de agradecer ao Sr. Marcus Rebouças e a equipe da TDA Desenho & Arte pelo excelente trabalho de design gráfico, e ainda, ao Sr. Nilo Sergio de França Ferreira da Estação Gráfica Ltda pelo empenho em editorar este livro, com qualidade, em tão pouco tempo. v Estratégias de CJerenciamento de Recursos Hidrico,s no Brasil: Arcas de (C"ooperação corm e, Banco Mundial Banco Mundial Vice-presidente, Região da América Latina e Caribe David de Ferranti Diretor para o Brasil Vinod Thomas Diretor, Desenvolvimento Ambiental e Socialmente Sustentável John Redwood Diretor, Finanças, Desenvolvimento do Setor Privado e Infraestrutura Danny Leipziger Coordenadores Setoriais Luiz Gabriel T. Azevedo e Abel Mejia Equipe de Recursos Hidricos e Saneamento Abel Mejia, Alexandre Baltar, Alvaro Soler, Carlos Vélez, Franz Drees, José Simas, Juliana Garrido, Karin Kemper, Lilian Pena, Luiz Gabriel T. Azevedo, Manuel Rêgo, Maria Angelica Sotomayor, Martin Gambrill, Michael Carroli, Musa Asad, Paula Freitas, Paula Pini. vi ~Brgas-i Apresentação Série Agua Brasil O Brasil concentra uma das maiores reservas de água doce do mundo que, aliada à sua biodiversidade e à beleza dos seus rios e lagos, representa um importante patrimônio natural do País. Todavia, os problemas relacionados à distribuição espacial e temporal da água têm representado enormes desafios para milhares de brasileiros. Neste contexto, o Banco Mundial se insere como um agente de desenvolvimento, disponibilizando assistência técnica, experiências internacionais e apoio financeiro para a elaboração e a implementação de programas sociais de impacto, visando a melhoria das condições de vida daqueles que são mais afetados por esses problemas. Durante a última década, problemas de escassez e poluição da água têm exigido dos govemos e da sociedade em geral uma maior atenção para o assunto. Expressivos avanços foram alcançados ao longo dos últimos 40 anos, quando o Brasil ampliou seus sistemas de abastecimento de água para servir uma população adicional de 100 milhões de habitantes, enquanto mais de 50 milhões de brasileiros passaram a ter acesso a serviços de esgotamento sanitário. Nos últimos sete anos, houve uma ampliação de cerca de 34% nas áreas irrigadas, com conseqüentes benefícios na produção de alimentos, geração de empregos e renda. O desenvolvimento hidroelétrico permitiu uma evolução do acesso à energia elétrica de 500 KWh para mais de 2.000 KWh per capita, em 30 anos. Entretanto, ainda existem imensos desafios a enfrentar em um País onde o acesso à água ainda é muito desigual, impondo enormes restrições à população mais pobre. Apenas na região Nordeste do País, mais de um terço da população não tem acesso confiável ao abastecimento de água potável. A poluição de rios e outros mananciais em regiões metropolitanas continua se alastrando. O País tem enfrentado terríveis perdas com enchentes, sobretudo em áreas urbanas de risco, que são densamente povoadas por famflias de baixa renda e onde, normalmente, os serviços de saneamento básico são precários ou inexistentes. .Há uma necessidade premente de dar continuidade ao processo, já iniciado, de desenvolvimento e melhor gerenciamento dos recursos hídricos para atender demandas sociais e econômicas. Nesse sentido, é essencial estender o abastecimento de água e o esgotamento sanitário para quem não tem acesso confiável e de qualidade a estes serviços. O Banco Mundial, atuando nos setores de recursos hídricos e saneamento, tem apoiado o Brasil no esforço de elevar o nível de atenção para os temas ligados a "agenda d'água ", de modo a tomá-la parte efetiva de um processo integrado de construção de um País mais justo, competitivo e sustentável. vii Estrategias de Gerenciamento de Recursos Flídrcos no Brasil Áreas de Cooperação com o Banco Mundial O Brasil passa por um importante momento de transição, no qual se observa um grande comprometimento das instituições públicas e privadas e da sociedade em geral com reformas estruturais necessárias ao objetivo maior de redução da pobreza e das desigualdades sociais. A conjuntura atual impõe enormes desafios e oportunidades inéditas. O governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva estabeleceu como prioridades a luta contra a fome, a melhoria da qualidade de vida e o resgate da cidadania e da auto-estima daqueles que estão à margem do processo de crescimento desta enorme nação. Neste contexto, o acesso justo e eqüitativo à água para o abastecimento humano e como insumo ao processo de desenvolvimento é condição essencial para a consecução do objetivos de construção de uma sociedade mais justa. A Série Água Brasil é fruto do trabalho conjunto do Banco Mundial e seus parceiros nacionais, realizado ao longo dos últimos anos. Nela, são levantadas e discutidas questões centrais para a solução de alguns dos principais problemas da agenda d'água no Brasil. Nossa intenção é abordar questões relevantes, promover reflexões, propor alternativas e caminhos que poderão ser trilhados na busca de solução para os grandes desafios que se apresentam. Esperamos que a Série Água Brasil se transforme em um veículo de profícuo e contínuo debate, e que este possa contribuir para consecução de nossos objetivos comuns de redução da pobreza, inclusão social, preservação do patrimônio natural e crescimento econômico sustentável. Vinod Thomas Diretor do Banco Mundial para o Brasil Apresentação viii - a~~~~~~~~~~~~~~~Ár~ o' s ) Sumário 1. Introdução e Contexto Geral ..................... ............................................... 3 2. A natureza dos problemas e questões relacionadas ao gerenciamento dos recursos hídricos no Brasil. 9 2.1. Recursos Hídricos na Região Amazônica ............................................................. 9 2.2. Recursos Hídricos na Bacia do Alto Paraguai e no Pantanal ...................... ......... 10 2.3. Recursos Hídricos nos Cerrados do Brasil Central ............................................... 13 2.4. A problemática de escassez de Recursos Hídricos no Semi-árido Brasileiro ...... 15 2.5. Problemas de Recursos Hídncos no Litoral e na Zona da Mata do Nordeste Brasileiro ............................................................ 17 2.6. Recursos Hídricos no Sul e no Sudeste Urbano: as Metrópolis Brasileiras ......... 19 2.7. Problemas de Recursos Hídricos na Zona Costeira do Sul e do Sudeste ............. 24 2.8. Os Recursos Hídricos e as Atividades Primárias do Sul e Sudeste ........... .......... 26 3. Conceitos selecionados para o enfrentamento dos problemas e questões identificadas ..31 3.1. Contextualização da Gestão de Recursos Hídricos ............................................... 31 3.2. Desenvolvimento Sustentável .............................................................. 33 3.3. Administração Estratégica e Planejamento Estratégico ......................................... 42 3.4. Subsidiariedade, Desconcentração e Descentralização de Processos Decisosos .42 ix Estrategias de Gerenciamento de Recursos Hidricos no Brasil Arcas de Cooperação com o Banco Mundial 4. Bases Legal e Institucional ................................................................. 45 4.1. Antecedentes: um breve hitórico ......................... .................................. 45 4.2. Os avanços recentes na constituição de uma base legal para o Gerenciamento dos Recursos Hídricos no Brasil e a Coordenação Regulatória com Setores Usuários ........................................................... 47 4.3. Gestão de Recursos Hídricos nos Estados: A Fragilidade das Instituições .......... 52 4.4. Participação Social e Descentralização Incipiente: a Experiência dos Comitês ... 57 4.5. As perspectivas com a criação da Agência Nacional de Águas ........................... 64 4.5.1. Antecedentes e motivações ........................................................... 64 4.5.2. Desafios, dificuldades e avanços do presente . ........................................ 68 4.6. As possibilidades abertas com a criação do Fundo Setorial de Recursos Hídricos .............................................. ............. 69 4.7. Avanços sob uma perspectiva histórica ........................................................... 70 5. Quatro alternativas institucionais avançadas em diferentes estados e os esforços da ANA no Paraíba do Sul: Sumário das Estratégias e dos Princípios Econômicos e Legais Aplicados à Gestão de Recursos Hídricos no Brasil ............................................... .................. 73 5.1. Antecedentes e Inspirações ........................ ......................................... 73 5.2. A Formulação Geral do Modelo Nacional e as Alternativas Institucionais em Curso ................................................................. 74 6. Questões-Chaves e Possíveis Caminhos . ................................................................. 87 6.1. Preliminares ....... 87 6.2. A Matriz Interinstitucional da Gestão das Águas no Brasil .............. ..................... 88 6.3. A Questão da Dominialidade dos Corpos D'água ................................................. 90 6.4. Possíveis Linha de Atuação ................ ........................................... 91 6.5. Alternativas para uma Formulação Genérica de Programas (Ações Programáticas) .91 Sumário x BÁgua 6.5.1. Programas Setoriais .................... ......................................... 91 6.5.2. Programas Integrados ....................... ...................................... 92 6.5.3. Programas Regionais de Recursos Hídricos ....................... ...................... 94 6.6. Áreas Prioritárias para a Cooperação do Banco Mundial com a ANA .............. ... 96 6.6.1. No âmbito do Programa Nacional de Despoluição de Bacias Hidrográficas ....................... ...................................... 96 6.6.2. Em operações de crédito para apoio a programas em bacias prioritárias ......................... .................................... 96 6.6.3. No Apoio a Estados Pré-dispostos à Implementação de Reformas ......... 97 6.6.4. Na Implementação de Instrumentos Regulatórios (ANA) ........... ............. 97 6.6.5. No Apoio à ANA para Aprimoramento e Conclusão de seu Plano Operacional (Business Plan) ................................................... 97 6.7. Convênios de Cooperação e/ou de Integração (Parcerias e Alianças) ................... 97 7. Uma Primeira Abordagem para uma Estratégia de Gerenciamento dos Recursos Hídricos no Brasil .99 7.1. Elementos para uma perspectiva Territorial da EGRHB ....................................... 99 7.1.1. Buscar Convergência com os Eixos Nacionais de Desenvolvimento ...... 99 7.1.2. Sumário do Approach proposto para desenho do "Mapa Geográfico Nacional da Gestão dos Recursos Hídricos no Brasil" .................... ......................................... 99 7.2. Diretrizes Preliminares para Atuação Ragional ..................................................... 101 7.2.1. Região Amazônica ................... .......................................... 101 7.2.2. Alto-Paraguai e Pantanal ................................. ............................ 102 7.2.3. Cerrados ............................................................. 102 7.2.4. Semi-árido .103 7.2.5. Zona da Mata e Litoral Nordestino .104 xi Sumário Estratepas de Gertncianento de Recursos Hídricos no Brasil Arcas dce C,,operação com o Banco Mulundial 7.2.6. Sul e Sudeste Urbano (Regiões Metropolitanas) .............. ........................ 104 7.2.7. Zona Costeira do Sul e Sudeste ............................................................... 105 7.3. Critérios de Elegibilidade de Áreas e Obras Prioritárias ...................................... 107 8. Como seguir adiante: Futuros Estudos, Metodologia para os Próximos Passos e Recomendações Finais ........................................................ 109 8.1. Estudos e Complementações Futuras ..109 8.2. Metodologia de Trabalho ..110 8.2.1. Convergência conceitual sobre as linhas de atuação e premissas .110 8.2.2. Estratégia de aproximações sucessivas dos problemas e questões prioritárias .110 8.2.3. Construção Gradativa de Consensos sobre o "Mapa Geográfico Nacional da Gestão de Recursos Hídricos" .111 8.2.4. Estabelecimento de Pauta de Prioridades, com os Estados e com os Setores Intervenientes na Gestão de Recursos Hídricos .112 Anexo 1: Evidências sobre a Relevância Econômica das Externalidades Relacionadas aos Recursos Hídricos no Brasil .117 1.1. Desenvolvimento Urbano .120 1.2. Energia .126 1.3. Desenvolvimento Rural .128 1.4. Enchentes .131 1.5. Transporte Fluvial .135 1.6. Secas .135 ANEXO II: Coleção de Tabelas e Quadros - Base Estatística . .143 ANEXO IH: Aspectos Metodológicos das Avaliações Procedidas . .169 Sumario xii gBÁa ANEXO IV: Esboço de um Plano Geral de Trabalho para os Convênios de Integração e/ou de Cooperação, previstos pela ANA ............................................... ..... .. 173 IV. 1. Apoio Institucional às Estruturas Estaduais de Gestão. 173 IV.2. Apoio para a Instalação e Funcionamento de Comitês e Agências de Bacia .174 IV.3. Implantação de Instrumentos de Gestão de Recursos Hídricos .175 xiii Sumario Estrategias de Gerenciamento de Recursos Hidncos íi-, Brasil Arcas de Cooperaçso com o Banco MIundial Lista de Boxes Box 2.1 Transporte hidroviário: o caso da hidrovia Paraná-Paraguai ................. .................... 12 Box 2.2 Características da irrigação brasileira ............................................................. 13 Box 2.3 Rio São Francisco e transposição ........................ ..................................... 16 Box 2.4 Águas subterrâneas e o aqüífero Guarani ............................................................. 18 Box 2.5 Recursos hídricos e regiões metropolitanas ............................................................. 21 Box 2.6 Complexo Piracicaba, Alto Tietê (Billings) e Baixada Santista ............... ................... 25 Box 2.7 Indicadores de saneamento básico no Brasil ............................................................. 28 Box 4.1 Recursos hídricos e geração de energia .................................................... ......... 48 Box 4.2 Recursos hídricos e as questões institucionais do setor de saneamento ........... .......... 50 Box 4.3 Avaliação dos sistemas de outorga em estados selecionados ..................................... 56 Box 4.4 Comitê de Integração da Bacia do Rio Piranhas-Açu (CIBHPA) .............. .................. 64 Box 4.5 A atuação do Conselho Nacional de Recursos Hídricos ....................... ..................... 65 Box 4.6 Fundo Setorial de Recursos Hídricos ................................... .......................... 69 Box 5.1 Contratos de fornecimento de água bruta ............................................................. 77 Box 5.2 A presença do Banco Mundial no processo ............................................................. 80 Box 5.3 A gestão na Bacia do Rio Paraíba do Sul ............................................................. 83 Box 6.1 Programa de Desenvolvimento Sustentável de Recursos Hídricos para o Semi-Árido Brasileiro - PROÁGUA/Semi-Árido ...................................................... 94 Box 7.1 Certificados de sustentabilidade de obras hídricas ..................................................... 107 xiv Lista de Tabelas Tabela 2.1 Regiões metropolitanas e recursos hídricos: principais problemas ................. 23 Tabela 2.2 Características relacionadas com os principais ambientes brasileiros ..... ...... 29 Tabela 3.1 Matriz de Investimentos e Benefícios em Recuperação Ambiental ................. 37 Tabela 4.1 Avaliação Institucional Qualitativa dos Órgãos Gestores Estaduais ............... 52 Tabela 4.2 Avaliação expedita de Comitês de Bacia Hidrográfica .................................... 61 Tabela 4.3 Resoluções do Conselho Nacional de Recursos Hídricos ................ ............... 66 Tabela 4.4 Comparação dos períodos de desenvolvimento ............................................... 71 Tabela 1.1 Taxonomia das técnicas de avaliação relevantes ............................................. 118 Tabela 1.2 Resumo das estimativas de externalidades econômicas associadas a problemas de gestão de recursos hídricos do Brasil .118 Tabela 1.3 Índice de Perdas Lineares, Volumes Desperdiçados de Água e Consumo Médio Diário - Brasil e Grandes Regiões - 1999 . 25 Tabela 1.4 Número de pessoas que poderiam ser atendidas com os volumes desperdiçados de água no Brasil - 199 .126 Tabela 1.5 Estimativa do custo das perdas lineares de água nos sistemas de abastecimento - Brasil -1999 .126 Tabela 1.6 Área e unidades habitacionais inundadas na Região Metropolitana de São Paulo segundo o tempo de recorrência de enchentes, de acordo com DAEE .132 Tabela 1.7 Estimativa dos danos diretos de enchentes na Região Metropolitana de São Paulo .133 Tabela 1.8 Custo total de horas perdidas com enchentes na RMSP - Tempo de Recorrência de 2 anos .133 xv lFstrategias de G,renciamento de Recursos Hidrcos no B,ssil Areas dc Cooperação corm o Banco IMundial Tabela 1.9 Custo total de horas perdidas com enchentes na RMSP - Tempo de Recorrência de 10 anos ..................................... ................... 134 Tabela 1.10 Custo total de horas perdidas com enchentes na RMSP - Tempo de Recorrência de 30 anos .134 Tabela 1 11 Custo total de enchentes na RMSP segundo o tempo de recorrência .134 Tabela 1.12 Região Nordeste do Brasil - Índice e Produto Interno Bruto do Setor Agropecuário - 1980-1998 ........................................................ 137 Tabela 1.13 Região Nordeste e Estados - Perdas e Ganhos de Renda do Setor Agropecuáno - 1998/97 ........................................................ 138 Tabela 1.14 Região Nordeste do Brasil - Produção física e variação % das principais culturas agrícolas - 1997/98 .139 Tabela 11.1 População e indicadores por região e por estados do Brasil .143 Tabela 11.2 Evolução da população total e da população urbana no Brasil (em mil habitantes) .144 Tabela 11.3 População das Regiões Metropolitanas em 2000 (em mil habitantes) .145 Tabela 11.4 Características da disponibilidade hídrica - grandes bacias brasileiras .146 Tabela 11.5 Consumo de água em 106 m3 por ano (Cenário Atual) .146 Tabela 11.6 Cenários de demanda em 106 m3 .147 Tabela 11.7 Disponibilidade/Demanda Atual para as bacias brasileiras .147 Tabela 11.8 Evolução da demanda por água para cenários futuros .148 Tabela 11.9 População com níveis de cobertura adequados em abastecimento de água e esgotamento sanitário, segundo faixas de rendimento médio mensal domiciliar (em salários mínimos) - 1999 .................................. 149 Tabela 11.10 Internações hospitalares causadas por doenças relacionadas com a falta de saneamento, segundo regiões brasileiras - 1998 a 2000 .153 Tabela 11.11 Óbitos associados a doenças relacionadas ao saneamento .159 Tabela II. 12 Distribuição dos prestadores de serviços, segundo características de atendimento .163 Tabela 11.13 Disponibilidade de potência instalada em dezembro de 200 .163 Lista de Tabelas xvi Tabela II.14 Evolução das Áreas Irrigadas no Brasil .................................................. 164 Tabela 11.15 Participação da Irrigação no Setor Agrícola do Brasil (em hectares) ..... 164 Tabela 11.16 Demanda Anual de Água para Irrigação no Brasil por Estados e Regiões em 1998 .165 Tabela 11.17 Evolução Recente das Áreas Irrigadas segundo Métodos de Irrigação (em hectares) ..................................................... 166 Tabela 11.18 Eficiência de Irrigação e Consumo de Energia ...................... ................ 166 Tabela 11. 19 Principais Hidrovias Brasileiras ..................................................... 167 Tabela 11.20 Quantidade de Carga Transportada Por Modalidade de Transporte (em milhões) ................................................ 167 Tabela 11.21 Execução Orçamentária de Órgãos Gestores Estaduais ............ ............. 168 xvii Lista cde Tabelas Estrategias de Gerenciamento de Recursos Hidricos no Brastl Arcas de Cooperçiio com o Banco Mundial Lista de Figuras Figura 2.1 Evolução da pobreza no Brasil e na RMSP ........................................................... 23 Figura 3.1 Elementos contextuais que condicionam a fornulação de políticas de recursos hídricos .32 Figura 3.2 Gerenciamento integrado de recursos hídricos e sua relação com os setores usuários ........................................................... 35 Figura 4.1 Participação orçamentária de órgãos gestores nos orçamentos estaduais .............. 54 Figura 4.2 Análise da variabilidade do orçamento executado, Ceará e Paraná, 1997 a 2000 ................... ........................................ 55 Figura 4.3 Localização dos comitês de bacias estaduais implantados ..................................... 58 Figura 1.1 Gráfico de Índices de Perdas Lineares nas Regiões do Brasil - 1999 .......... ......... 124 Figura 1.2 Evolução do Consumo de Energia e da Capacidade Instalada de Geração no Brasil - 1980-2000 .127 Figura 1.3 Nível (%) de armazenamento do reservatório equivalente do sistema SE/CO de janeiro de 1997 a junho de 2001 .127 xviii Água l Bras Lista de Abreviações AAGISA Agência de Regulação de Águas, Irrigação e Saneamento no Estado da Paraíba ABRH Associação Brasileira de Recursos Hídricos ANA Agência Nacional de Águas ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica BID Banco Interamericano de Desenvolvimento BIRD World Bank - Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento BNWPP World Bank - Netherlands Water Partnership Program BOT Build, Operate and Transfer CAS Country Assistance Strategy C@T@I Ciência, Tecnologia e Inovação CBH-PSM Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul e da Serra da Mantiqueira CBHRD Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce CCPE Comitê Coordenador do Planejamento da Expansão de Sistemas Elétricos C&T Ciência e Tecnologia CEEIBH Comitê Especial de Estudos Integrados de Bacias Hidrográficas CEEIVASF Comitê Especial de Estudos Integrados do Rio São Francisco CEEIVAP Comitê Executivo de Estudos Integrados do Vale do Paraíba do Sul CEIVAP Comitê para Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul CEMIG Companhia Energética de Minas Gerais xix Estraregias de Gerenciamen,to de Recursos l-Hidricos no Brasil Areas de Cooperaçào com o Banco Mundial CEPAM Conselho Estadual de Política Ambiental do Estado de Minas Gerais CERH Conselho Estadual de Recursos Hídricos CETESB Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental CHESF Companhia Hidro Elétrica do São Francisco CIBHAPP Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai-Pantanal CIBHPA Comitê de Integração da Bacia do Rio Piranhas-Açu CIH Comitê Intergovernamental da Hidrovia Paraná - Paraguai CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNRH Conselho Nacional de Recursos Hídricos CODE Commitee on Development Effectiveness CODEVASF Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco COGERH Companhia de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Estado do Ceará COMPESA Companhia Pernambucana de Saneamento CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente COPEL Companhia de Energia do Paraná COPPE Instituto Luiz Alberto Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenhana da Universidade Federal do Rio de Janeiro CORHI Comitê Coordenador do Plano Estadual de Recursos Hídricos no Estado de São Paulo CPRH Companhia Pernambucana do Meio Ambiente CRNs Casas de Recursos Naturais CT-HIDRO Fundo Setorial de Recursos Hídricos DAEE Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo DBO Demanda Bioquímica de Oxigênio DEX Despesas de Exploração DIEESE Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos Lista de Abreviações xx DNAEE Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica DS Desenvolvimento Sustentável EGRHB Estratégia de Gerenciamento dos Recursos Hídricos no Brasil ELETROBRÁS Centrais Elétricas Brasileiras S.A. EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária ESP Estado de São Paulo ETA Estação de Tratamento de Água FECAM Fundo Estadual de Conservação Ambiental do Estado do Rio de Janeiro FEPAM Fundo Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luis Roessler do Estado do Rio Grande do Sul FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço FGV Fundação Getúlio Vargas FIBGE Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística FIEMG Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais FIESP Federação das Indústrias do Estado de São Paulo FINEP Financiadora de Estudos e Projetos FEHIDRO Fundo Estadual de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo FUNASA Fundação Nacional de Saúde FUNCEME Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos GEF Global Environrnent Facility GEIPOT Empresa Brasileira de Planejamento e Transportes IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IGAM Instituto Mineiro de Gestão das Águas TICA Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura IPL índice de Perdas Lineares xxi Lista de Abreviações Estratégias de Gerenciamento de Recursos Hídrncos no Brasil Areas de Cooperação com o Banco Mlsundial IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ITEP Instituto Tecnológico do Estado de Pernambuco MAE Mercado Atacadista de Energia MCT Ministério de Ciência e Tecnologia MMA Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal MME Ministério das Minas e Energia O&M Operação e Manutenção OMM Organização Mundial de Meteorologia OMS Organização Mundial de Saúde ONG Organização Não Governamental ONS Operador Nacional do Sistema Elétrico OSCIP Organização da Sociedade Civil de Interesse Público PIB Produto Interno Bruto PLANASA Plano Nacional de Saneamento PMISA Programa de Manejo Integrado de Solos e Água PMSS Projeto de Modernização do Setor Saneamento PND Programa Nacional de Desestatização PNMA Programa Nacional de Meio Ambiente POA Plano Operativo Anual PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar PROSAM Programa de Saneamento Ambiental da Região Metropolitana de Curitiba RMC Região Metropolitana de Curitiba RMSP Região Metropolitana de São Paulo SECTMA Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente do Estado de Pernambuco Lsta de Abreviações XXii Álgua 5Bra SEDU Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano SEGRH Sistemas Estaduais de Gerenciamento de Recursos Hídricos SEMAIRS Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Estado do Rio Grande do Sul SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SEPURB Secretaria Especial de Política Urbana SINGRH Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos SNIRH Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos SNIS Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento SOHIDRA Superintendência de Obras Hídricas do Estado do Ceará SPE Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda SRH Secretaria de Recursos Hídricos SSD Sistema de Suporte à Decisão SUDENE Agência do Desenvolvimento do Nordeste SUDERHSA Superintendência de Desenvolvimento dos Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental do Estado do Paraná SUS Sistema Único de Saúde UEDs Unidades Executivas Descentralizadas UFSC Universidade Federal de Santa Catarina UGP Unidade de Gerenciamento de Projeto UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura UNICAMP Universidade Estadual de Campinas UNISINOS Universidade do Vale do Rio dos Sinos WRM Water Resources Management WRMSSP Water Resources Management Sector Strategy Paper xxiii Lista de Abreviações hstrtcgias de Gerencoamento de Rccursos Hidncos no Brasil Arwas de Cooperação com o Banco Mundi.9 Equipe Técnica (Créditos): Francisco José Lobato da Costa Coordenação e autoria Alexandre Moreira Baltar Coordenação, inserções. revisão geral e boxes temáticos Ricardo Guilherme de Araújo Comentários, inserções, revisão geral e boxes temáticos Oscar de Moraes Cordeiro Netto Comentários, inserções, revisão geral e boxes temáticos Mariano de Matos Macedo Autoria do Anexo 1 (Evidências Econômicas) Carlos Eduardo Curi Gallego Co-autoria do Anexo 1 (Evidências Econômicas) Maurício Pontes, Flávia Amorim e Juliana Garrido Assistentes de pesquisa Listagem dos Boxes Temáticos Box 2.1: Trasporte Hidroviário: O Caso da Hidrovia Box 4 3: Avaliação dos Sistemas de Outorga em Paraná-Paraguai Estados Selecionados Responsável: Antônio Paulo Vieira Responsável: Alexandre Moreira Baltar Box 2 2: Características da Irrigação Brasileira Box 4.4: Comitê de Integração da Bacia do Rio Responsável: José Simas Piranhas-Açu Box 2.3: Rio São Francisco e Transposição Responsável: Alexandre Moreira Baltar Responsável: Luiz Gabriel Azevedo Box 4.5: A Atuação do Conselho Nacional de Box 2.4: Águas Subterrâneas e o Aquífero Guarani Recursos Hídricos Responsáveis: Yára Christina Eisenbach e Ernani Responisável: Raimundo José dos Santtos Garrido Francisco da Rosa Filho Box 4.6: Fundo Setorial de Recursos Hídrícos Box 2.5: Recursos Hídricos e Regiões Responzsável: Oscar de Moraes Cordeiro Netto Metropolitanas Box 5. 1: Contratos de Fomecimento de Água Bruta Responsável: Ricardo Guilherme de Araújo Responsável: Franicisco José Lobato da Costa Box 2.6: Complexo Piracicaba, Alto Tietê (Billings) Box 5.2: A Presença do Banco Mundial no Processo e Baixada Santista Responsável: Francisco José Lobato da Costa Responsável:- José Mauro Rocha Box 5.3: A Gestão na Bacia do Rio Paraíba do Sul Box 2.7: Indicadores de Saneamento Básico no Responsável: Paulo Canedo de Magalhães Brasil Box 6. 1: Programa de Desenvolvimento Sustentável Responsável: Ricardo Guilherne de Araújo de Recursos Hídricos para o Semi-Árido Brasileiro Box 4.1: Recursos Hídricos e Geração de Energia -PROÁGUA Semi-Árido Responsável: Benedito Braga Junior Responsável: Gilberto Valente Caanali Box 4.2: Recursos Hídricos e as Questões Box 7.1: Certificados de Sustentabilidade de Obras Institucionais do Setor Saneamento Hídricas Responsável: Ricardo Guilherme de Araújo Responsável: Francisco José Lobato da Costa xxiv Água - Bra Pref ácio A gestão de recursos hídricos tem passado por um processo global de modernização que se intensificou na última década, sobretudo a partir da discussão, e lançamento em fóruns internacionais, de princípios delineadores de um novo paradigma para o uso, conservação e gestão da água. Sintonizado com esse processo, o Brasil lançou-se na dianteira desse movimento e aprovou uma nova Política Nacional de Recursos Hídricos, moderna e inovadora. A Lei n° 9.433, aprovada em 1997, foi o resultado de um intenso processo de discussão e debate que contou com ampla participação de setores interessados e da sociedade em geral. Passada essa fase de formulação de uma nova política, o país depara-se com um desafio muitas vezes maior - implementar essa política em um contexto de enorme complexidade, interesses múltiplos e conflitantes e diversidade hidrológica, econômica e social. Este documento tem por objetivo apresentar reflexões, análises e discussões sobre alguns dos principais problemas e desafios que o Brasil enfrenta no que se refere à água, tanto em sua dimensão de recurso natural, quanto em relação aos serviços públicos e atividades econômicas a ela associados. Neste contexto, ocupa-se, especificamente, de identificar e discutir oportunidades de cooperação entre o Banco Mundial e o Brasil para implementação da agenda do "setor água". O trabalho foi desenvolvido pelo Eng. Francisco Lobato, com a colaboração de alguns consultores, com o objetivo de subsidiar a preparação de um relatório do Banco Mundial sobre políticas públicas para a gestão de recursos hídricos e o setor de saneamento. Sua preparação foi norteada por consultas a técnicos do Governo Federal e Governos Estaduais, assim como junto a especialistas e a colegas do Banco Mundial. Esperamos que a disseminação deste trabalho contribua para enriquecer o debate e reforçar a determinação dos governos e da sociedade na busca de soluções para os problemas que se apresentam. Os recentes avanços alcançados pelo Brasil no campo do desenvolvimento de recursos hídricos foram significativos. O acesso à energia elétrica, por exemplo, passou de menos de 500 quilowatt/hora (KWh) per capita, em 1970, para mais de 2.000 KWh per capita, em 2000. Esses excelentes resultados foram logrados, em grande medida, mediante o desenvolvimento da hidroeletricidade, responsável atualmente por 91% da capacidade instalada do país. No setor de saneamento, os resultados são igualmente impressionantes. Nos últimos 40 anos, o Brasil ampliou seus sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário, respectivamente, para mais 100 milhões e 50 milhões de brasileiros, respectivamente. O total de áreas irrigadas cresceu de 2,6 milhões de hectares, em 1995, para cerca de 3,5 milhões de hectares, em 2002. Embora há mais de 80 anos o rio Amazonas seja utilizado para navegação interna, nos últimos anos o transporte fluvial vem aumentando sua abrangência geográfica e sua importância econômica, passando a fazer parte de um sistema multimodal. Desde 1991, 22 estados e o Distrito Federal adotaram legislação pertinente de modo a modernizar o gerenciamento dos recursos hídricos. Mais recentemente, em 2000, foi criada a Agência Nacional de Águas (ANA), com o mandato precípuo de implementar a Política Esiratégias dc Gerenciamentc, de Recursos 1 lidncos no Brasil Ares de Coopcração com o Banco Mlundial Nacional de Recursos Hídricos. De fato, o Brasil é reconhecido internacionalmente como um país inovador e líder em matéria de gerenciamento de recursos hídricos. Não obstante todos esses feitos marcantes, subsistem ainda importantes desafios a serem enfrentados. No que se refere aos recursos hídricos, o país enfrenta uma crise conformada por dois elementos principais - a seca no Nordeste e a poluição das águas nas proximidades dos grandes centros urbanos. Praticamente todos os rios que cruzam as áreas urbanas do país apresentam elevados índices de poluição, provocando graves problemas de saúde para as populações carentes, causando danos ambientais e elevando os custos do tratamento das águas para os usuários a jusante. Os serviços de saneamento não apresentam distribuição uniforme - a cobertura é particularmente deficiente nas regiões Norte e Nordeste - e os mais pobres têm menor probabilidade de obter acesso a um nível adequado de serviços do que o restante da população A maior parte dos sistemas de irrigação, abastecimento de água e esgotamento sanitário é ineficiente e economicamente inviável. São as populações pobres as que mais padecem a escassez e o mau gerenciamento dos recursos hídricos, a deficiência dos serviços e a insalubridade ambiental devido à ausência de sistemas adequados de abastecimento de água, esgotamento sanitário e tratamento de águas residuárias. Gestão apropriada dos recursos hídricos e maior acesso aos serviços básicos de saneamento são fatores que promovem a geração de empregos, melhoram as condições de saúde e elevam a qualidade do meio ambiente nos assentamentos humanos - iniciativas essenciais à redução da pobreza. Maiores avanços nessas áreas exigirão reforma e inovação em diferentes esferas: jurídica, institucional, financeira e técnica. Os desafios são imensos e o caminho a ser trilhado é longo e tortuoso. Determinação e perseverança são fundamentais, assim como um certa dose de pragmatismo para estabelecer prioridades em um cenário de restrição orçamentária e constrição fiscal. Para vencer esses obstáculos, será preciso inovar, cooperar, coordenar esforços, buscar parcerias, envolver a sociedade, promover a eficiência e criar um grande pacto capaz de garantir o avanço da agenda do "setor água", de modo a contribuir com um esforço nacional de redução da pobreza e das desigualdades sociais, por meio de um desenvolvimento socialmente justo e sustentável. O Banco Mundial continuará a apoiar os esforços do Governo Federal e dos Governos Estaduais no sentido de avançar na implementação das reformas e projetos prioritários ao desenvolvimento do país. Abel Mejia Luiz Gabriel T Azevedo Gerente Setorial de Saneamento Coordenador de Operações Setoriais para o Brasil para América Latina e Caribe Departamento de Desenvolvimento Ambiental Departamento de Finanças e Desenvolvimento e Social Sustentáveis do Setor Privado e Infra-estrutura Banco Mundial Banco Mundial Prefácio 2 1~~~~~~~~~~ B ras: Introdução e Contexto Geral O objetivo do presente documento é o de (ii) em segundo lugar, na medida em que o bom formular, em primeira aproximação, gerenciamento propicia ganhos, todavia, elementos para uma Estratégia de insuficientes para suprir todas as Gerenciamento dos Recursos Hídricos no Brasil necessidades, é preciso fazer frente à (EGRHB), identificando, em seu contexto, áreas demanda expressiva e crescente por de cooperação multilateral, de modo a consolidar o investimentos de modo a desenvolver um Banco Mundial como parceiro efetivo do país nessa estoque apropriado de infra-estrutura matéria. hidráulica, não obstante as controvérsias que cercam muitos desses empreendimentos, Com esse objetivo, o documento insere-se dentre particularmente quanto à barragens e à os desdobramentos do Water Resources transposições de bacias'. Manzagement - A World Bank Policy Paper No caso específico do Brasil, ambos os desafios se (1993), onde foram alinhados os conceitos e Nocasoespe osimosmboossdesafiose princípios regentes da atuação do Banco quanto aos verificam. Durante os últimos anos, iniciando em recursos hídricos. É importante notar que não se dez/9 1 por São Paulo, pioneiro na aprovação de sua lei estadual de gerenciamento de recursos hídricos, trata de reescrever o WRM - Policy Paper, mas buscartra dução prátc paRa o conc e . peri, mos passando pela edição da Lei Nacional n° 9.433/97, rart pri s o país avançou de modo substantivo no então formnulados, dispondo-os sobre o terreno. estabelecimento de um importante arcabouço legal, Com efeito, o Banco tem enfrentado dificuldades que hoje abrange 22 das 27 unidades da Federação em .àdois brasileira, à exceção de estados da região emadequario àiprátias de stualmentesoperações : amazônica, estes com questões relativas às águas desafios s o qdistintas das demais2 . No auge desse processo, com a edição da Lei Federal n° 9.984/00, o país instituiu (i) primeiramente, perseverar nos esforços em asaAêcaNcoa eÁus(N) favor de sistemas de gestão de recursos inserindo-a dentre as iniciativas de modernização hídricos (leis, regulamentos, instituições, do -a dentas niciasil. bases técnicas e práticas de envolvimento social), em atuação cercada de poucas controvérsias quanto à oportunidade de engajamento do Banco, mas onde nenhum país (desenvolvido ou em desenvolvimento) lWaterReàourcesSectorStrategy ConceptNotefordiscussion tenha aplicado, particularmente bem, wvth CODE. conceitos que permanecem atuais e 2 A bacia amazônica detém cerca de 70% da disponibilidade amplamente aceitos; hídrica do Brasil 3 Estratégias de Gerenciamento de Recursos Hídrncos no Brasil Aresa de Cooperação com o Banco Niundial Sem embargo de tais esforços, os maiores avanços natureza fiscal que afetam o Brasil, fatos que quanto a um sistema de gerenciamento de recursos impõem princípios de seletividade quanto aos hídricos efetivamente operativo seguem projetos a serem apoiados e efetividade em sua referenciados pelo Ceará, em grande medida pela implementação, tornando imperativa a construção estabilidade das políticas estaduais apoiadas de parceiras com o setor privado, sem as quais o (técnica, institucional e financeiramente) em Estado não alcançará os expressivos montantes de continuadas operações de crédito com o Banco financiamento necessários5. As participações Mundial3. Os demais estados - São Paulo, inclusive relativas do Banco estarão majoritariamente - permanecem em posição indeterminada, dispondo inseridas no agregado de investimentos setoriais que de arcabouço legal, todavia, com lacunas na abrangem os diferentes segmentos de usuários regulamentação necessária, além de reconhecidas (geração de energia, saneamento, irrigação e fragilidades institucionais, consolidação insuficiente drenagem, dentre outros). Com as concessões de bases e instrumentos técnicos de apoio à decisão privadas para a geração de hidreletricidade e e avanços pontuais quanto ao envolvimento da termeletricidade, e a corresponde mobilização, em sociedade civil e dos usuários junto aos sistemas. larga escala, de recursos privados e públicos, estes na forma majoritária de financiamentos, o Banco Em termos gerais, o país parece passar por um poderá dirigir concentradamente a sua atenção para turning-point, a partir do qual será possível as demais áreas, nas quais ainda é forte a presença consolidar conquistas definitivas ou derivar para mais do Estado e dos investimentos de companhias e um movimento de dispersão, tão peculiar e organizações públicas. recorrente na história das instituições brasileiras, a um só tempo, flexíveis e arrojadas o suficiente para Nesses campos, a atuação do Banco poderá permitir grandes inovações e experimentos, e fluidas abranger uma ampla gama de intervenções, partindo a ponto de minguarem com a mesma velocidade do saneamento ambiental urbano em áreas sub- com que floresceram4. Neste contexto, onde há normais (favelas e similares), passando por muitas razões para otimismo, o Banco Mundial programas de manejo e conservação de solos e poderá assumir um papel destacado ao apoiar água, até chegar na esfera de grandes equipamentos decisivamente as tentativas do país em implementar de infra-estrutura regional, como barragens e a nova abordagem para o gerenciamento dos transposição de bacias. recursos hídricos, tal como disposta no mencionado arcabouço legal, difundindo e compartilhando Para estes últimos, em geral cercados de riscos e experiências e aprendizados. controvérsias, as condições brasileiras se mostram favoráveis, dadas a experiência e a cultura No que concerne ao estoque de infra-estrutura consolidada na construção de reservatórios, em sua hidráulica, são reconhecidas as elevadas demandas maioria destinados à produção hidrelétnca, segundo por investimentos, assim como as restrições de procedimentos estabelecidos (para estudos de impactos e no processo de licenciamento ambiental) A estabilidade política e o pragmatismo verificado no Ceará na busca de resultados não eliminami, no entanto, os riscos 5 Estima-se que só o Setor Saneamento demande valores da de retrocessos, presentes assim que as operações com o Banco ordem de R$ 80 bilhões para atingir, nos próximos 15 anos, sejam finalizadas, deixando o Governo do Estado à conta de patamares adequados de universalização de serviços, seus quadros próprios, limitados em estrutura, número e notadamente para coleta e tratamento de esgotos domésticos, remuneraçao. principal fonte de poluição hídríca do país. Montantes São testemunhas de tais movimentos os setores de igualmente expressivos são necessános para oferta hídríca e Desenvolvimento Urbano, no passado alçado à esfera de ampliação da área irrigável e para empreendimentos Ministério e, mais recentemente, o de Saneamento destinados à geração hidrelétrica 1 Introdução 4 que já incorporaram muitas das demandas para a (v) reforçar os conceitos de excelência e mitigação dos efeitos sociais e ambientais associados credibilidade de seu staff técnico, a tais empreendimentos', sem eludir casos de maus particularmente mediante a habilitação em exemplos, dentre os quais o reservatório de Balbina conduzir performances abrangentes (full- aparece com dimensão singular7. service) sobre as perspectivas técnica, institucional, financeira, econômica, social Contudo, para recuperar uma posição mais destacada e ambiental e conjugar ações integradas como fonte de financiamento da infra-estrutura entre gestão e financiamento de infra- hidráulica necessária ao Brasil, campo onde declinou estrutura hídrical. substancialmente seu engajamento na década passada, em linhas gerais o Banco deverá: Em adição, o Banco pode auxiliar, em muito, na coleta e avaliação de evidências sobre a relevância (i) adotar maior razoabilidade quanto aos custos e magnitude dos benefícios e custos associados com e à aversão aos riscos envolvidos em suas a questão hídrica, com destaque para a sua operações, comparativamente a outras distribuição social, o que exige esforços possíveis alternativas de crédito ao país; metodológicos importantes, na medida em que muitas das externalidades relacionadas aos recursos (ii) sinalizar uma atitude de maior proximidade hídricos não correspondem a fluxos monetários e comprometimento com seu mutuário, diretos. Algumas contribuições neste sentido quando do surgimento de controvérsias e encontram-se no Anexo 1 deste documento, contestações aos projetos financiados; dedicado a um dimensionamento preliminar de externalidades econômicas relacionadas aos (iii) buscar a superação da atual imagem, em recursos hídricos no Brasil, explicitandojustificativas particular perante o setor privado, de um fundadas a propósito de sua importância. parceiro às vezes irrealista e nem sempre confiável, que não persevera sobre decisões De pronto, sabe-se que existem significativos tomadas; aspectos sociais envolvidos (como prêmios adicionais a serem considerados), uma vez que as (iv) adotar um posicionamento pro-átivo frente populações mais pobres são, usualmente, as mais à imprensa e setores de pressão da vulneráveis às desconformidades concernentes aos sociedade, informando sobre o balanço e recursos hídricos e às ineficiências na prestação de amplitude dos benefícios e custos serviços públicos a eles relacionados. Igualmente, relacionados aos empreendimentos, percebe-se que a inabilidade em prever e gerenciar vencendo a mera atitude reativa quanto a a quantidade e a qualidade das águas e os impactos impactos negativos específicos; e, decorrentes de secas, cheias e variações climáticas, assim como efeitos de runoff urbano e rural, resulta em custos que afetam largamente a sociedade brasileira, reproduzindo conflitos de caráter local historicamente conhecidos (seca no semi-árido 6 Estima-se que na Usina de Salto Caxías, construída pela brasileiro), potencializando e replicando outros mais Companhia de Energia do Paraná (COPEL), os custos de ' . .o mitigação de efeitos sócio-ambientais chegaram a cerca de recentes (cheias na Região Metropolitana de São 30% do valor do empreendimento Paulo), até atingir a amplitude presente de conflitos Anexo 3 - Relatório da Comissão de Barragens - Revisão de Questões de Políticas de Salva-guardas e Ações Recomendadas. In Water Resources Sector Strategy Conicept Note for 8WaterResources Sector Strategy: ConceptNotefordiscussion discussion w,vth CODE with CODE 5 1 Introdução Estrategins de Gerenciarerro de Recursos Hídricos no Brasil Arcas de Cooperação com o Banco Mundial nacionais (crise energética, pela escassez de água definir as questões-chaves que serão determinantes para a geração hidrelétrica)9. para o esboço dos elementos da Estratégia que se quer delinear. É sob tais perspectivas e neste contexto que se pretende delinear os elementos para uma EGRHB. E importante notar que os nichos para a atuação Em termos metodológicos, espera-se que tais preferencial do Banco Mundial em apoio à EGRHB elementos da Estratégia decorram da sequência e estarão inseridos em um contexto mais amplo de da interação dos temas que serão abordados pelo esforços nacionais relativos à gestão de recursos presente documento. O ponto de partida será a hídricos. Nessa perspectiva e em consonância com identificação dos principais problemas de recursos o disposto no Countty Assistanice Strategy (CAS) hídricos no Brasil, organizados segundo sua desenvolvido para o Brasil, duas linhas principais abrangência e tipologia regional (foco em problem- de cooperação podem ser previamente apontadas: sheds, mais do que water-sheds), sinalizando ações de combate à pobreza e apoio à reformas claramente que a estratégia deverá ser por eles (ou institucionais. Em ambas, a grande medida do para eles) orientada, portanto, em caminho inverso sucesso na cooperação multilateral dependerá da ao impulso natural de partir do WRM- Policy Paper, capacidade do Banco em compartilhar perspectivas passando pela recente WRMSSP - Concept Note, com os agentes locais intervenientes, postando-se para buscar sua aplicação ao caso brasileiro. como um parceiro efetivo no campo dos recursos hídricos. Neste sentido, os potenciais ganhos Definidos os problemas, não através de diagnósticos econômicos e sociais, decorrentes de ações na descritivos, mas em termos de sua percepção'0, gestão das águas, constituem os principais fatores traduzida mediante assertivas a propósito de suas de motivação para tal cooperação e em elementos natureza e dinâmica, o documento destacará essenciais na identificação seletiva de projetos, vistos seletivamente os princípios e conceitos considerados como janelas de oportunidades". essenciais para seu enfrentamento. No passo seguinte, pretende-se delimitar o contexto legal e Para concluir, vale observar que a metodologia institucional vigente, inclusive lacunas, fragilidades proposta tomou obrigatória a elaboração do presente e inconsistências existentes; que circunscrevem e, documento mediante um processo relativamente até certo ponto, condicionam as possíveis altemativas amplo de consultas e entrevistas. Primeiramente, para uma EGRHB. para afinar com especialistas as percepções sobre os principais problemas de recursos hídricos do país Completando o quadro geral interveniente, o (ver lista com autores dos boxes). Depois, para documento arroga-se a identificar 05 (cinco) "frentes colher expectativas e impressões gerais - de alguns avançadas" em curso hoje no Brasil, com distintas estados, inclusive - em reuniões amplas realizadas alternativas institucionais, procurando avaliar suas por ocasião do XIV Simpósio da Associação perspectivas, méritos e dificuldades prováveis. Esse Brasileira de Recursos Hídricos'2. Na sequência, o conjunto de insumos (problemas, conceitos, base trabalho recebeu contribuições do Dr. Francisco legal e alternativas institucionais) permitirá, então, Nunes Correia, especialista internacional em recursos hídricos, em particular no que concerne aos conceitos dispostos no capítulo 3. 9 Estima-se que a estiagem verificada em 2001 no Brasil (seca no Nordeste e crise energética) pode ter sido responsável por uma redução no crescimento do Produto Interno Bruto de até 2%. ' Water Resources Sector Strategy Concept Note for '° Percepção reconhecida como forma legítima de discussion with CODE conhecimento,ta]comoformuladoporEdgarMonn(1999), 12 XIV Simpósio da Associação Brasileira de Recursos "O Método 03. O Conhecimento do Conhecimento". Hídrícos, Aracaju, Sergipe, novembro de 2001. | Introdução 6 Porfim,odocumentofoi posto frente àsperspectivas staff do Banco Mundial, com vistas a colher do Governo Federal (Secretaria de Recursos comentários e sugestões para ajustes e correções Hídricos - SRH e Agência Nacional de Águas - no documento. Nesse encontro firmou-se o conceito, ANA), tendo sido realizadas reuniões com a ANA, disposto no Cap. 8, de que a edição de uma EGRHB em 12/dez/2001, para apresentação inicial do deve constituir um processo sujeito à contínuas trabalho, e em 04/fev/2002, esta com ampla adequações e aperfeiçoamentos. Sob esta ótica presença da Diretoria e quadros técnicos da ANA, deve ser lido o presente trabalho. do Secretário Nacional de Recursos Hídricos e do 7 1 Introdtição 2 A Natureza dos Problemas e Questões Relacionadas ao Gerenciamento dos Recursos Hídricos no Brasil A identificação dos principais problemas e se, dessa forma, o conceito de problem-sheds', questões concementes aos recursos hídricos considerado mais adequado ao traçado de estratégias no Brasil, para efeito deste documento, não institucionais e à busca de "janelas de oportunidade" implicará na elaboração de diagnósticos exaustivos. para a cooperação multilateral. Quando julgado Antes disso, tratará de organizar a percepção sobre necessário, os "cortes" regionais foram tais problemas e questões, procurando compreender complementados e/ou ilustrados com abordagens sua natureza e principais elementos de dinâmica, setoriais ou por bacias hidrográficas, dispostas em enquanto essenciais à orientação de ações boxes específicos. destinadas ao seu enfrentamento. Em cada região, salvo pequenos desvios, procurou- Sob esse enfoque, a abordagem dos quadros de se observar a seguinte itemização: panorama geral problemas e questões será efetuada mediante das disponibilidades hídricas; principais usos e assertivas - e não pela investigação - respaldadas, necessidades; características gerais da infra-estrutura se necessário, em evidências seletivamente disponível; e, com ênfase destacada, identificação indicadas. Com essa função, o Anexo II reuniu um da natureza dos principais conflitos e problemas. conjunto amplo de tabelas e dados estatísticos, que podem ser consultados para verificação da 2.1. RECURSOS HIDRICOS NA REGIÃO pertinência das assertivas que seguirão. Na ausência de evidências e quando do surgimento de dúvidas AMA° CA relevantes, registrar-se-ão as lacunas para fins de A Amazônia é a região brasileira de maior eventuais estudos complementares, subsequentes abundância em recursos hídricos, reunindo cerca de a este trabalho. 70% da disponibilidade nacional, que soma algo como 38.000 m3/hab.ano. Essa disponibilidade Assim sendo e tendo por finalidade a orientação decorre tanto da população rarefeita e da geral das iniciativas de ação e mais particularmente, precipitação média regional de 2.460 mm, quanto da atuação seletiva do Banco, os quadros de das dimensões da bacia do rio Amazonas e de seus problemas foram traçados mediante "cortes" principais afluentes, não somente em território regionais (áreas homogêneas ou biomas), permitindo definir tipologias, às quais correspondem distintas Grigg, N. S. (1996). Water Resources Management - matrizes de abordagem e enfrentamento. Privilegia- Principles, Regulations and Caseá, McGran-HIll, N.Y 9 Estrategias de Gerenciamento de Recursos Hídricos no Brasil Areas de Cooperação com o Banco Mundial nacional (com disponibilidade de 169.870 m3/s), Em face das vazões elevadas e da ocorrência de como também nos países de montante (Venezuela, transições de planaltos para planícies, é elevado o Colômbia, Peru e Bolivia, responsáveis por aportes potencial de aproveitamento hidrelétrico da região. de outros 89.000 m3/s). Cerca de metade do potencial hidrelétrico inventariado no Brasil encontra-se nessa região. O É reconhecida a elevada importância ambiental da aproveitamento hidrelétrico da Amazônia constitui região amazônica, dotada de enonme biodiversidade. questão importante para o País, em função, entre As ameaças (reais ou imaginárias) à integridade outros aspectos, da riqueza ambiental da região. da Amazônia apresentam repercussão internacional, notadamente em razão da Os problemas de contaminação hídrica são pontuais exuberância, vastidão e, ao mesmo tempo, da e localizados, em cidades (esgotos domésticos em fragilidade da floresta, assentada em planície Belém e Manaus, particularmente graves pela sedimentar dotada de camada orgânica delgada e contaminação dos igarapés) e em empreendimentos superficial, dependente da manutenção da cobertura de extração mineral (deposição de sólidos e de vegetal para sua autoreprodução e para a mercúrio em garimpos) e florestal (desmatamentos, estabilidade dos solos. com conseqüente erosão e perda das camadas férteis superficiais do solo). Há, hoje, elevados nscos ambientais envolvendo a velocidade e a amplitude do desmatamento da Cabe registrar que no trecho brasileiro da bacia a Amazônia, comrepercussões potenciais associadas jusante, já se acusam traços de algumas das à hipóteses de alterações climáticas do planeta, atividades desenvolvidas nos países de montante, assim como, significativos interesses relacionados onde se originam, por exemplo, problemas com à conservação e à exploração de sua reserva de mercúrio utilizado nos garimpos, além de biodiversidade, ainda pouco conhecida. agroquímicos conservativos amplamente aplicados nas plantações de coca . Há, também, preocupações No que conceme à utilização dos recursos hídricos, de natureza sanitária. Vale lembrar que a cólera a região amazônica se caracteriza pelas baixas reintroduziu-se no país, na década de 90, por meio densidades populacionais e pela ausência de da presença do vibrião na Amazônia peruana. concentrações urbanas de grande porte, à exceção de Manaus (1,4 milhão de habitantes, algo como Deve-se mencionar, ainda, com destaque no 50% da população do estado de Amazonas) e da contexto regional, os problemas relacionados aos Região Metropolitana de Belém. Não existem, vetores de doenças tropicais que dependem da água portanto, maiores limitações relacionadas ao em, pelo menos, uma de suas fases de abastecimento doméstico, a não ser aquelas desenvolvimento (malária, entre outras). associadas à disponibilidade de água de boa qualidade nas cercanias das aglomerações urbanas. 2.2. RECURSOS HíDRICOS NA BACIA DO ALTO PARAGUAI E NO PANTANAL Como conseqüência, a importância dos recursos hídricos está basicamente relacionada à A bacia do Alto Paraguai, que drena a chamada característica de navegabilidade, com os maiores "planície pantaneira", abriga a maior wetland do cursos d'água constituindo-se como os principais Planeta, o que lhe confere elevada importância corredores de transporte e comunicação da região. ambiental, notadamente pela singularidade dos Deve-se, também, mencionar a pesca, não somente ecossistemas que abriga e das interações como meio de subsistência, como também, para fins indissociáveis destes com a dinâmica regional dos de abastecimento de mercados locais e das demais recursos hídricos. A região é caracterizada pelo regiões do País. represamento e grande tempo de retenção das 2 Natureza dos Problemas 10 Água dBra~iV águas, redução nos fluxos de jusante e elevada Nesse quadro, os principais problemas de recursos importância da sazonalidade (dimensão das cheias hídricos na bacia do Alto Paraguai estão e duração dos períodos de estiagem), numa região relacionados: (i) à expansão de novas fronteiras onde são relativas às disponibilidades hídricas agrícolas no planalto central brasileiro (ver item 2.3), derivadas de precipitação média anual de 1.370 mm. onde se formam as nascentes do Alto Paraguai - rio Taquari, principalmente -, resultando em E de se ressaltar a grande fragilidade desse problemas de runoff rural com carreamento de ecossistema, bastante dependente de alterações nos sólidos e de agroquímicos conservativos; (ii) à fluxos e na qualidade das águas afluentes à planície poluição associada aos centros urbanos (esgotos pantaneira. Essa planície reúne elevados potenciais domésticos, principalmente); (iii) à remoção de paisagístico e turístico, com destaque para a vegetação ciliar e pisoteamento das margens, para biodiversidade singular e expressiva. Há quem acesso do gado aos rios e córregos; (iv) à focos de considere que sejam essas as principais funções contaminação por atividades dispersas de garimpo que devam ser destinadas aos recursos hídricos (sólidos suspensos e mercúno); e, (v) à alterações regionais. na dinâmica quali-quantitativa das águas sobre os ecossistemas pantaneiros. No que tange às demais formas de utilização de suas águas, a bacia do Alto Paraguai se caracteriza Mais recentemente, cabe ressaltar a previsão da pela baixa densidade populacional, com destaque instalação de grandes projetos de infra-estrutura de poucos centros urbanos de médio porte regional,comelevadosimpactospotenciaissobreo (Corumbá, Cuiabá e Aquidauana), sem que se Pantanal, dentre os quais se deve mencionar: pólo notem problemas de monta com disponibilidades siderúrgico nas vizinhanças de Corumbá, para para o abastecimento doméstico. aproveitamento do gás natural boliviano; obras para viabilizar a Hidrovia do Alto Paraguai, para fins de Por outro lado, esses centros urbanos têm dinâmicas transporte dos produtos siderúrgicos e de grãos para articuladas a partir de amplo predomínio de exportação, com interferências de difícil previsão atividades primárias extensivas, principalmente a nos níveis de água no Pantanal; e, iniciativas para a cultura de grãos e a pecuária de corte, decorrendo construção de diques de proteção e canais de de tais atividades demandas adicionais para a drenagem em áreas destinadas à ampliação da irrigação e para a dessedentação de rebanhos pecuária extensiva e do plantio de grãos. (cerca de 30 milhões de cabeças, somente no Mato Grosso do Sul). 1 2 Natureza dos Problemas Estrategias de Gerenciarnento de Recursos Hidricos no Brasil Arcas de Cooperação com o Banco Muodial Box 2.1: Transporte hidroviário: o caso da hidrovia Paraná-Paraguai A hidrovia Paraná - Paraguai é uma via navegável natural que se extende por cerca de 3.442 km, dos quais, 2.202 km pelo rio Paraguai, entre Cáceres (MT) e a confluência com o rio Paraná, e 1.240 km pelo rio Paraná, até Buenos Aires na República Argentina. A hidrovia interessa diretamente a cinco países: Brasil, Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai A navegação pela hidrovia é praticada desde os tempos coloniais. As condições favoráveis de navegabilidade dos dois rios constituintes da hidrovia se devem a sua baixíssima declividade, principalmente no Pantanal de Mato Grosso, e ao exuberante volume de água disponível, mesmo no período de estiagem. A região percorrida pela hidrovia dispõe de abundantes riquezas minerais e agrícolas, tomando-se uma via navegável de notório interesse econômico. Os países envolvidos criaram, em 1989, o Comitê Intergovernamental da Hidrovia Paraná - Paraguai (CIH), cuja atuação contribuiu para a intensificação do intercâmbio comercial com a expansão da frota, das tonelagens movimentadas e da proliferação de entrepostos portuários As cargas constituídas quase que exclusivamente por minéno de ferro e de manganês, com movimentação anual da ordem de 700 a 800 mil toneladas, foram expandidas em sua tonelagem e diversificadas para outros produtos, com predominância dos cereais. As cargas atualmente movimentadas na hidrovia são da ordem de 10 milhões de toneladas por ano e estima-se sua ampliação para cerca de 20 milhões, no horizonte de 2020. O projeto da Hidrovia Paraná-Paraguai tem enfrentado uma forte oposição em função dos possíveis impactos ambientais associados tanto às obras de ampliação quanto ao decorrente aumento do tráfego de,embarcações. Se por um lado, há impactos potenciais significativos do ponto de vista ambiental, existem, por outro, benefícios sociais e econômicos importantes associados ao transporte hidroviário. A hidrovia do Madeira, por exemplo, ligando Porto Velho a Itacoatlara, num percurso de 1.060 km, tomou possível a comercialização da crescente produção de soja de regiões interioranas de Mato Grosso e Rondônia que não podiam chegar aos portos de Santos e Paranaguá a preços competitivos no mercado internacional, utilizando o transporte rodoviário. Com a hidrovia, cerca de 700 mil a 1,0 milhão de toneladas, entre os anos de 1998 a 2000, deixaram de percorrer milhares de quilômetros de rodovias, evitando o desgaste do pavimento, o consumo elevado de combustível e a poluição nas cidades. Cada comboio de quatro barcaças, com 6.000 toneladas evitou o deslocamento de cerca de 200 caminhões, cujo custo de transporte por t/km é, no mínimo, três vezes mais elevado que o hidroviário. O sucesso na adoção da alternativa do rio Madeira pode ser avaliado pelo aumento das exportações pelo porto de Itacoatiara que prevê para os próximos anos uma movimentação de 5.000.000 toneladas. Já a hídrovia do Tietê-Paraná se estende por mais de 2.400km, desde a conclusão das obras da barragem e eclusas de Três Irmãos e do canal Pereira Barreto (Tramo Norte) e, em 1998, o término das obras da eclusa de Jupiá (Tramo Sul). A movimentação de cargas pela hidrovia que era da ordem de 500.000 t/ano, antes de 1998, cresceu rapidamente, atingindo um montante próximo de 2.000.000 toneladas em 2001, não incluído aí o transporte de areia, no rio Tíetê, da ordem de 4.500.000 t/ano. Só o embarque de soja e derivados evoluiu de 312 mil toneladas em 1996, para as esperadas 1.200.000 toneladas da safra de 2002. Apenas com transporte dessa safra pela hidrovia haverá uma economia de cerca de R$ 20 milhões. O ganho advindo da adoção do transporte hidroviário na região poderá aumentarjá que esse modal responde por apenas 13% do total movimentado. Os custos de transporte pelos diversos modais no Brasil variam, aproximadamente, nas seguintes proporções: 1,0 para o hidroviário, 2,0 a 3,0 para o ferroviáno e 3,0 a 5,0 para o rodoviário, sendo que esse último açambarca cerca de 80% do total movimentado. O transporte por navegação intenor, em 2002, deverá atingir o montante de 25.220.000 toneladas. Na hidrovia do Paraná - Paraguai, a expansão do tráfego fluvial parece ser uma questão de tempo e dependerá da existência de volumes expressivos de cargas a serem movimentadas de vez que a infra-estrutura natural disponível na via é excelente e as distâncias a serem percorridas suficientemente extensas para viabilizar o transporte fluvial. 2 Natureza dos Problemas 12 Água - Brai 2.3. RECURSOS HIDRICOS NOS menor porte. Por outro lado, à ocasião das chuvas CERRADOS DO BRASIL CENTRAL intensas, surgem problemas de assoreamento e contaminação por agroquímicos, agravados pela A região do bioma denominado "Cerrados" se refere retirada sistemática da vegetação ciliar. a uma extensa superfície que ocupa grande parte do planalto central do território brasileiro, Em adição, a ausência de tratamento dos efluentes espraiando-se sobre os estados de Tocantins, Goiás, urbanos implica em problemas de poluição, sul do Pará, nordeste do Mato Grosso, Minas Gerais, notadamente quando as cidades se localizam em norte de São Paulo e oeste da Bahia A região é divisores de águas e nascentes, com menores caracterizada por uma precipitação média da ordem disponibilidades para captação e volumes para de 1.660 mm anuais, sujeita a variações sazonais diluição (caso reconhecido da bacia do rio importantes (períodos pronunciados de chuvas Descoberto no Distrito Federal). Como essa região intensas e estiagens severas com 4 a 5 meses de situa-se a montante dos principais rios brasileiros, duração), o que causa situações sazonais de baixa os problemas mencionados "poderão potencialmente relativa na disponibilidade de recursos hídricos. impactar quase todo País" (Tucci, 2001)2. A área possui grandes extensões de relevo plano, O desenvolvimento dessa nova fronteira agrícola, facilitandoaexpansãodenovasfronteirasagrícolas, por seu turno, demanda vias alternativas para em especial de culturas extensivas dotadas de transporte maciço da produção regional, com elevado grau de mecanifização (grãos, em geral, destaque para as possibilidades a serem abertas pela em especial soja e milho), apoiadas na larga utilização hidrovia Araguaia-Tocantins, contemplando os das reservas hídricas regionais, com vistas à produtores com acesso privilegiado ao norte do país elevação da produtividade e da eficiência agrícola, (Pará), tendo emn vista os mercados norte-americano por vezes aplicando práticas de irrigação também e europeu. em pastagens, destinadas às atividades pecuárias complementares. Enquanto o rio Tocantins já se encontra alterado por sucessivos aproveitamentos hidrelétricos, o Por ocasião das estiagens sazonais, essa sobre- Araguaia reúne importante acervo ambiental, exploração dos recursos hídricos tem resultado em merecendo cuidadosa avaliação dos impactos conflitos de uso com o abastecimento público de potenciais sobre o meio ambiente, decorrentes de água, ocorrendo tanto em importantes pólos urbanos, seu eventual aproveitamento para geração como no próprio Distrnto Federal e nas cidades de hidrelétrica ou como hidrovia. Goiânia, Anápolis e Palmas, como em cidades de Box 2.2: Características da irrigação brasileira A área irrigada atualmente no Brasil é estimada em cerca de 3,2 a 3,5 milhões de hectares, mas o potencial para irrigação é enorme, sendo estimado em mais de 20 milhões de hectares A irrigação no Brasil apresenta características muito específicas se comparada com a de outros países da América Latina, em seus aspectos: institucionais, origem recente, financeiros, tecnológicos e diversidade de objetivos. No que se refere à gestão dos recursos hídncos, as reformas econômicas implementadas pelo governo brasileiro se traduziram na criação de um arcabouço legal e institucional visando à melhona da eficiência e eficácia do gerenciamento dos recursos hídricos No subsetor de irrigação, o envolvimento do governo está sendo cada vez mais direcionado para a irrigação como ferramenta de crescimento da agricultura comercial e de desenvolvimento regional, em contraste com os objetivos sociais mais restritos, tais como assentamentos em pequenas unidades familiares. Obviamente, 2 Tucci (2001), "Panorama dos Recursos Hídricos", mimeo. 13 2 Natureza dos Problemas Estrategias de Gerenciamento de Recursos Hídrícos no Brasil Arcas de Cooperação com o Banico Miundeal continuação do Box 2 2 essa nova abordagem não implica que o governo seja indiferente aos potenciais benefícios sociais dos projetos de irrigação. Pelo contrário, pressupõe-se que empreendimentos viáveis que emergem de tal investimento também deverão gerar benefícios sociais e econômicos substanciais, particularmente em termos de geração e melhona da qualidade do emprego e redução da pobreza rural Sob o aspecto institucional, os sistemas de irrigação brasileiros são em sua maioria privados (90%), derivando água diretamente de margens dos nos (sem armazenamento em barragens). Desde suas origens, eles foram desenvolvidos por agentes privados, incluindo o planejamento, construção e operação. Para aproximadamente 50% da área, no entanto, esses sistemas "privados" foram viabilizados com algum apoio público. Isto foi feito por meio de: redes elétricas (transmissão e distribuição) construídas com o apoio de programas de eletnficação do governo e linhas de crédito do tipo matching grants de 50% que foram também oferecidos aos agricultores irrigantes durante as décadas de 70 e 80 (programas PROVARZEAS e PROFIR) Quanto à sua ongem, apesar da expansão de grande parte da irrigação ter ocomdo nos últimos 25 anos, as origens do desenvolvimento privado da irrigação remontam ao início do século passado, já desde 1910, quando empreendedores começaram a irrigar arroz no estado do Rio Grande do Sul, onde hoje existem mais de 1 milhão de hectares irrigados. Os chamados projetos "públicos" de irrigação se iniciaram em meados da década de 70 apoiados por programas oficiais do govemno em algumas áreas do Nordeste semi-ándo, associados a programas de assentamento de pequenas unidades familiares, em lotes de 3 a 8 hectares, como parte de grandes sistemas similares a Distritos de Irrigação, onde a maior parte dos investimentos em infra-estrutura é pública. Atualmente, existem cerca de 250.000 hectares em projetos públicos de imgação no Brasil. O Banco Mundial esteve envolvido, sobretudo, com a irrigação pública associada à projetos na região Nordeste, reassentamentos involuntários do setor hidrelétrico e projetos de combate à pobreza. No que concerne às características tecnológicas, devido ao elevado nível de evapotranspiração no Nordeste e às necessidades de bombeamento prevalecentes nos projetos públicos, as culturas imgadas viáveis são sobretudo aquelas de alto valor agregado tais como frutas tropicais e hortaliças. No Brasil, de um modo geral, as fontes de água e a localização relativa das terras irrigáveis em relação a essas fontes são elementos que possuem importância chave na definição de políticas para o setor Primeiro, devido à limitada oferta de águas subterrâneas nas áreas irrigada, 95% da imgação utiliza águas superficiais. Segundo, as condições geomorfológicas das terras aráveis e irrig,, veis no Brasil fazem com que essas ocorram sobretudo em terras altas e não em planícies aluviais fáceis d( serem irrigadas por gravidade. Como conseqúência, o fornecimento de água para irrigação no Brasil é realizado quase sempre por meio de sistemas de recalque, demandando elevada quantidade de energia (diesel ou elétrica). Essa característica estimula a adoção de tecnologias com menor consumo de água e energia, influenciando a escolha de padrões de cultivos de alto valor. Os métodos de irrigação mais utilizados no Brasil são modernos, uma resposta natural aos elevados custos de energia existentes. Até mesmo no plantio de arroz irrigado por inundação, há muitas tecnologias poupadoras de água e energia. A maioria dos sistemas de irrigação brasileiros (56%) é pressurizado do ponto de denvação na fonte até a aplicação no terreno. Do ponto de vista agro-técnico, a irrigação brasileira é muito diversificada. Uma classificação razoável poderia ser: (i) irrigação de arroz; (ii) irrigação complementar; (iii) irrigação de frutas tropicais; (iv) imgação de biomassa (cana de açúcar e pastagens); (v) distritos públicos de irrgação (várias culturas); e, (vi) irrigação de horticultura. Apesar da utilização de métodos modernos, sobretudo se comparado com outros países da América Latina, os métodos de irrigação por gravidade ainda respondem por 48% do total (42% em arroz por inundação e 6% por sulcos e outros métodos), contra 52% de métodos de irrigação pressurizada (22% aspersão convencional, 23% aspersão mecanizada, 6% irrigação localizada e 1% mangueiras regadoras manuais e tubos perfurados). Como consequência, o Brasil conta hoje com uma indústria de equipamentos de irrigação de considerável importância. 2 Natureza dos Problemas 14 2.4. A PROBLEMÁTICA DE ESCASSEZ DE reservatórios de usinas geradoras. Em seu trecho RECURSOS HiDRICOS NO SEMI-ÁRIDO inferior, o rio São Francisco conta com vazões BRASILEIRO regularizadas da magnitude de 1.500 a 2.000m3/s. O semi-árido brasileiro estende-se pelos estados de Não obstante esse cenário, de adversidade climática Minas Gerais, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, e hidrológica somada a solos de baixa fertilidade, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí. persiste elevado contingente de população dispersa Caracteriza-se pela escassez de recursos hídricos, na região, no meio rural ou em pequenos núcleos com precipitação anual média na casa dos 900 mm, (cerca de 31% dos quase 48 milhões de nordestinos), chegando próxima a 400 mm, no interior da Paraíba, com amplo predomínio dos extratos inferiores de com elevada variabilidade na distribuição espacial renda. e temporal de chuvas na região (sazonalidade interanual), acompanhada de lirnitações nas Cabe notar que esse contingente rural situa-se bem possibilidades de extração de águas subterrâneas, acima da média nacional, hoje com taxa de devido tanto à formação cristalino, quanto à urbanização de 81%, e muito mais acima dos salobridade dos solos. números da região Sudeste, na qual a população rural não chega aos 10%. Essas características climatológicas e hidrológicas, associadas à conformação do relevo regional (que Quando não rural, a população localiza-se em propicia escoamentos para a vertente atlântica), dão pequenos núcleos do interior, sem que se verifique, origem a uma rede hidrográfica na qual são em qualquer dos estados nordestinos, uma malha recorrentes cursos com nascentes intermitentes, em urbana organizada3, em tipologia e hierarquia geral situadas no planalto do sertão semi-árido, funcional capazes de ordenar espacialmente as trechos médios que começam a estabilizar suas demandas por serviços públicos essenciais (saúde, vazões após vencer o agreste, até assumir corpo e educação e moradia, com destaque para saneamento volume já próximos de seus deságües no litoral, ora básico, na essencialidade limitado ao abastecimento ao leste (da Bahia ao Rio Grande do Norte), ora ao de água potável). norte brasileiro (do Rio Grande do Norte ao Ceará). Sem embargo de alternativas de baixo custo para As condições climáticas implicam na dificuldade de fornecimento de água potável, cumpre reconhecer disponíbilizar água a partir do simples os limites decorrentes da incipiência das atividades armazenamento em açudes e reservatórios, não produtivas do semi-árido (problemas de emprego e obstante seu expressivo número regional, dada à renda), restringindo a população rural à mera significativa evaporação potencial, que supera os sobrevivência, quando possibilitada por meios 2.000 mm anuais. alternativos como sistemas de poços de pequeno porte, barragens subterrâneas e cisternas para Esse panorama regional é cindido pelo curso captação das águas de chuva. principal do rio São Francisco, com nascentes e alguns tributários de porte em Minas Gerais, aliado O quadro incipiente do desenvolvimento regional à grande extensão territorial de sua bacia de resulta na manutenção de um verdadeiro "exército contribuição (634.000 km2), proporcionando-lhe rural de reserva", em equilíbrio instável, sustentado perenidade e vazão suficientes para transpassar o semi-árido, possibilitando aproveitamentos múltiplos 3 Esta assertiva é atestada pela comparação de qualquer dos - irrigação e geração de energia, principalmente -, Esta nrstino é ratestadanta cataração e qaque os mesmo com as enormes perdas devido à com a rede urbana mais bem distribuída do país (número e evaporação, pela amplitude dos espelhos d'água dos população de pequenas, médias e grandes cidades) 15 2 Nitureza dos Problemas Rstrategsas de Gerenciamento de Recursos Hídrícos no Brasil Arcas de CooperasIo com o Banco Nlundial por políticas compensatórias4, com elevado O que se deduz, portanto, é que a problemática dos potencial de migração para as demais áreas do país recursos hídricos no semi-árido brasileiro congrega (São Paulo, em um passado recente, e metrópoles ambas as frentes: no gerenciamento da oferta regionais, atualmente), cuja permanência implica em (estoques e transporte de água) e na gestão da elevados custos sociais, seja para a população em demanda (ordenamento espacial e eficiência na si, sujeitas à miséria absoluta e castigada pelas utilização de um recurso escasso), podendo a adversidades regionais, seja em termos de gastos disponibilidade de água, embora necessária, não ser governamentais em programas recorrentes de suficiente para imprimir dinâmica à economia cunho assistencialista (carros-pipa, cestas básicas regional, persistindo uma questão subjacente de e frentes de emergência). ordem social. Box 2.3: Rio São Francisco e transposição A bacia do rio São Francisco ocupa uma área de 634 mil km2, em seis Estados e no Distrito Federal. O no se estende por cerca de 2 700 km, com uma vazão mínima de 640m3/s e média de quase 3 000 m3/s. Vivem na bacia do São Francisco cerca de 15,5 milhões de pessoas em mais de 450 municípios Cerca de 56% desses municípios têm mais de 40% de suas familias abaixo da linha de pobreza extrema. O rio possui importância histórica e estratégica para o país e, sobretudo, para a Região Nordeste, onde os índices de pobreza são mais elevados e os recursos hídricos escassos. Há cerca de 360 mil hectares irrigados na bacia, correspondendo a apenas 45% do potencial estimado Cerca de 125 mil toneladas de carga são anualmente transportadas através do rio, e existe uma capacidade instalada de cerca de 10 mil MW nas cinco usinas hidrelétricas da CHESF. A idéia de transposição das águas do rio São Francisco para o Nordeste setentrional brasileiro remonta a meados do Século XIX. Até início da década de 80, no entanto, o projeto era considerado inviável devido à falta de energia para o bombeamento necessáno. Ainda nos anos 80, foi elaborado o primeiro projeto de transposição para uma vazão prevista de 300m3/s. Outras concepções foram sendo propostas até a versão atual, em que se considera uma vazão média a ser transposta de cerca de 64 m3/s, sendo 48 m3/s para o eixo norte (Ceará e Rio Grande do Norte) e 16 m3/s para o eixo leste (Paraíba e Pernambuco). As águas transpostas serviriam a três propósitos principais: (a) abastecimento rural para consumo humano e usos agrícolas difusos; (b) abastecimento urbano e industrial; e (c) estimular o desenvolvimento de agricultura irrigada de alto valor agregado. Em sua versão mais recente, as obras dos eixos principais totalizam investimentos da ordem de 1,5 bilhão de dólares, em valores de 1999 Apesar da vazão média retirada ser considerada praticamente insignificante em relação a vazão média do no nos pontos de derivação, o projeto de transposição do rio São Francisco tem sofrido forte oposição nos âmbitos técnico e político. Além da complexidade inerente a um projeto de transposição que envolve interesses conflitantes de dez unidades da federação e diferentes setores usuários de água, os seguintes aspectos têm dificultado a implantação do projeto: Negociação e resolução de conflitos: (l) não existem direitos de uso da água claramente definidos; (ii) até o momento, a discussão do projeto, entre governos e com a sociedade, tem sido altamente polarizada; (iii) a questão das eventuais compensações de estados receptores a estados doadores precisa ser negociada de modo transparente e acordada antes do início da implementação do projeto. Em muitas cidades e pequenos núcleos urbanos a aposentadoria se constitui na principal fonte de renda regional 2 Natureza dos Problemas 16 Água dBra~ continuação Box 2 3 Aspectos econômicos e financeiros: (i) apesar do projeto parecer justificável no contexto social, sua viabilidade econônuca ainda não está clara; (ii) a viabilidade financeira é essencial para garantir adequada operação e manutenção, e é questionável na concepção atual do projeto; (iii) trade-offs (ao menos em relação a outros tipos de intervenções na área de recursos hídrícos) precisam ser melhor analisados. Abordagem para concepção do projeto: (X) a concepção atual parece estar orientada pelo objetivo de ampliação da oferta, com pouca ênfase no gerenciamento da demanda e em instrumentos econômicos; (ii) a concepção e abordagens alternativas devenam ser consideradas, incluindo medidas de gestão da demanda e fazendo com que as obras e ações sejam iniciadas nas bacias receptoras, com melhor aproveitamento das potencialidades locais, para em seguida moverem-se em direção ao São Francisco Aspectos institucionais: (l) os arranjos institucionais para implementação e futura O&M ainda não estão claros; (ii) os papéis dos governos federal e estaduais precisam ser melhor definidos Questões ambientais e sociais: (i) o Estudo de Impacto Ambiental do projeto tem sido questionado por agências ambientais e ONGs, carecendo ainda de maior desenvolvimento e discussão; (ii) impactos sobre as comunidades rurais na bacia doadora assim como nas bacias receptoras (e.g. custo da água) precisam ser avaliados com a participação das populações afetadas; (iii) o desenvolvimento do projeto deve ser conduzido com grande transparência e participação das comunidades afetadas e da sociedade em geral. Os assuntos acima colocados ilustram que a implementação de projetos complexos e de grande magnitude exige tempo adequado de maturação e a abordagem de questões que transcendem os aspectos técnicos de engenharia. Um trabalho abrangente de planejamento e preparação pode significar a diferença entre um projeto coroado com êxito e benefícios para a sociedade e um projeto inócuo ou até mesmo prejudicial ao país e à região. 2.5. PROBLEMAS DE RECURSOS favelas, onde a renda familiar média não supera dois HIDRICOS NO LITORAL E NA ZONA DA salários mínimos. MATA DO NORDESTE BRASILEIRO Nessas áreas, localizadas nos trechos perenizados A primeira consequência do quadro descrito para o a jusante dos principais cursos d'água, com semi-árido consiste na migração da população, em precipitações médias de 1 .120 mm, as percurso direto da área rural para as grandes regiões disponibilidades hídricas são comprometidas, via de metropolitanas do Nordeste e para outras de suas regra, pela conjugação de poluição urbana originada conurbações de maior porte (Fortaleza, Recife e por esgotos domésticos, disposição de resíduos Salvador, além de Natal, João Pessoa, Maceió e sólidos e descargas industriais não tratadas, sobre a Aracaju), onde são notáveis os problemas ambientais qual se sobrepõem cheias periódicas, amplificadas urbanos, sempre associados à concentração de pela impermeabilização crescente do solo urbano. pobreza em favelas e ocupações irregulares, Em acréscimo, a contaminação dos mananciais notadamente em áreas de risco, tais como alagados, superficiais é seguida da sobre-exploração de encostas, várzeas e margens de rios e córregos. aqüíferos, caso no qual, novamente, Recife constitui destacado exemplo negativo. Com efeito, a grande maioria da população da Região Nordeste ocupa uma estreita faixa não superior a Dado o potencial turístico do litoral nordestino, como 100 km do litoral. Na Grande Recife, por exemplo, alternativa importante para o desenvolvimento da parte ponderável da população, próxima aos 3,5 região, passam a ser economicamente relevantes milhões de habitantes, reside em mais de 600 os problemas associados à ausência de infra- 1 7 2 Natureza dlos Problemas Estratégias de Gcrenciamento de Recursos Hidricos no Brasil Arcas de Cooperaçào com o Banco Miundial estrutura sanitária, muitas vezes resultando em Grande/PB, Caruaru/PE, Feira de Santana/BA, comprometimento da balneabilidade de praias e, Petrolina/PE e Juazeiro/BA), originados focos quando menos, na perda de potencial paisagístico localizados de poluição urbano-industrial, alguns dos (deságüe de línguas negras e problemas de odor, quais, por estarem localizados à montante dos cursos dentre outros). d'água de vertente atlântica, repercutem negativamente sobre as disponibilidades hídricas das Com pequenas variações, esse quadro é reproduzido grandes concentrações litorâneas (caso de Feira de também nos núcleos urbanos de médio porte que se Santana que apresenta despejos sobre o reservatório desenvolvem no Agreste e no Sertão (Campina de Pedra do Cavalo, manancial da Grande Salvador). Box 2.4: Águas subterrâneas e o aqüífero Guarani As águas subterrâneas até muito recentemente foram pouco reconhecidas como integrantes da disponibilidade hídnca para os diversos usos. O vertiginoso ritmo de degradação das águas superficiais - a exigir cada vez mais altos investimentos para utilização - e a velocidade do crescimento da demanda determinaram, contudo, que pesquisadores, entidades governamentais e não-governamentais, nacionais e internacionais, começassem a pnonzar estudos em tomo dos reservatórios subterraneos, tendo no horizonte seu uso racional e sustentável No Brasil, país de dimensões continentais, a disponibilidade de águas subterrâneas e a sua utilização encontram diferentes contornos. As regiões Sul e Sudeste, que podem ser definidas como Brasil Úmido, têm potencial hídríco superficial e subterrâneo ainda abundante, mas enfrentam enormes problemas com a qualidade da água. O Nordeste e Centro-Oeste circunscrevem o Brasil Seco, onde talvez seja ainda mais estratégica a implementação de estudos e pesquisas sobre esse tipo de manancial. Justificada pela abundância das águas superficiais e pela ocupação populacional pulverizada, a exploração da água subterrânea na Região Amazônica remonta à segunda metade da década de 90. Embora várias perfurações tenham apresentado resultados favoráveis, esse recurso é pouco adotado. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, de 1998, apontam que 51% do supnmento de água potável do Brasil são advindos do recurso hídríco subterrâneo. Diante dos múltiplos usos, e da importância estratégica das águas subterrâneas, é de se destacar o significativo alcance social da utilização de poços para atender com água potável de qualidade comunidades pobres ou distantes das redes de abastecimento público. Nesse contexto, inclusive, estão comprovadas a minimização dos casos de doenças de veiculação hídríca e a drástica redução nos indicadores de mortalidade infantil. Na porção Centro-Sul do Brasil, localiza-se a maior reserva de água doce do planeta. O Aqiífero Guarani, aliás, extrapola as fronteiras nacionais para alcançar parte do território do Paraguai, Uruguai e Argentina. A denominação "Aquífero Guarani" é utilizada para identificar uma formação sedimentar constituída basicamente de arenitos eólícos que ocorrem subjacentes aos basaltos da Serra Geral Estas unidades geológicas estão embutidas na Bacia Sedimentar do Paraná, com dimensões que ultrapassam uma área de 1.500.000 km2. Os basaltos apresentam espessuras de até 1.000 metros e os arenitos - o aqüífero em si -, uma média de 200 metros. Ainda a propósito da Bacia Sedimentar do Paraná, há que se frisar que o volume de água nela armazenado corresponde a aproximadamente 50% de todas as águas subterrâneas do Brasil. Com elevada capacidade de armazenamento e alta permeabilidade, o arenito possibilita a extração de água potável, via poços tubulares profundos, com vazões de até 500 m3/h. Vazões desta ordem permitem o abastecimento de cidades de médio porte, entie 50.000 a 500.000 habitantes, desde que implantadas baterias de poços em pontos estratégicos. Por outro lado, em diversos locais onde a cota planialtimétrnca é inferior a 350 metros, como às margens do Rio Paraná, a água pode ser captada sem a necessidade de bombeamento. Além destas vantagens, existe a característica de geotermalismo, com temperaturas da água atingindo 68°C; nestes casos, o manancial pode ser usado para fins de recreação, para a secagem de grãos em silos agrupados, dentre outras finalidades 2 Natureza dos Problemas 1 8 wBrag s4 continuação Box 2 4 Dada a magnitude espacial desse aquífero, ainda pouco se sabe das suas áreas de recarga e descarga, ou da qualidade da água em toda sua extensão. Daí a necessidade de se implantar um programa de estudos de forma coordenada entre os países onde ele ocorre e, a partir desses estudos, estabelecer uma formna de gestão compartilhada definindo mecanismos de proteção e volumes para a exploração sustentável. Esta é uma expectativa dos governos e organismos de pesquisas quanto ao denominado Projeto Guarani, no qual estão envolvidos o BIRD/GEF. Esses argumentos também valem para salientar que é muito importante a participação de instituições de pesquisa e ensino superior, desses países, neste projeto. Afinal, por meio delas, com elaboração de teses de mestrado e doutorado, será possível acelerar com base acadêmica o aprofundamento dos conhecimentos sobre a potencialidade hídrica desse extraordinário reservatório, forma única de garantir a continuidade das ações transfronteiriças após a implementação do projeto apoiado pelo Fundo Mundial do Meio Ambiente e pelo Banco Mundial. 2.6. RECURSOS HIDRICOS NO SUL E NO Em seu conjunto, aí incluídas as nordestinas, as SUDESTE URBANO: AS METRÓPOLES regiões metropolitanas5 representam 51 %, ou 68 dos BRASILEIRAS 133,6 milhões dos habitantes das cidades brasileiras, concentrados em apenas 156.187 km2 do território As regiões Sul e Sudeste contam com boa nacional (1,8% dos 8,5 milhões de km2), cabendo disponibilidade de água, razoavelmente bem destacar que somente a mancha, praticamente distribuída ao longo do ano, com ocorrência contínua, da Grande São Paulo, partindo da Baixada esporádica de eventos críticos de expressão Santista rumo à conurbação campineira (ou seja, as econômica (enchentes e estiagens). A precipitação três regiões metropolitanas formalmente instituídas média anual é da ordem de 1.350 mm. naquele estado), concentram 64,80% do Produto Interno Bruto (PIB) de São Paulo, ou 27% do PIB do Igualmente,áachidog a natuial nhomap ntas País, em uma área pouco superior a 13.000 km2. maiores obstáculos às atividades humanas, distribuindo-se entre uma faixa mais estreita, com Números igualmente impressionantes são obtidos vertente atlântica, e outra, com maior extensão mesmo quando se amplia o horizonte de análise para territorial, afluente às bacias do Prata-Paraná e do o eixo urbano-econômico que une as duas São Francisco. metrópoles nacionais, Rio de Janeiro e São Paulo, Não obstante tais predicados do meio ambiente margeando o no Paraíba do Sul, e ainda assim, caso se considere os movimentos mais recentes de natural, são agudos os problemas de recursos hídricos descentr e segmentos i ais rtcntes relacionados, principalmente, à poluição urbano- descentralização de segmentos industriais importantes industrial e às enchentes em cidades de grande e àparquel eixoa ives mropolitasd Crtiba médio porte, problemas, inequivocamente decorrentes das características dos processos de urbanização (ao sul) e de Belo Horizonte (a noroeste). no Brasil. Com efeito, a malha urbana do país recebeu, em São 23 (vinte e três) as regiões metropolitanas definidas em um lapso de 60 anos, algo como 1 1 O milhões de lei estadual, incluindo áreas de expansão. Porto Alegre (RS), novos moradores, partindo de uma taxa de Florianópolis, Vale do Itajaí e Norte - Nordeste Catarinense urbanização da ordem de 35% na década de 40, (SC); Curitiba, Londrina e Maringá (PR); São Paulo, para os atuais 81% na média nacional, próximos a Campinas e Baixada Santista (SP); Rio de Janeiro (RJ), Vitóna 90% quando consideradas apenas as regiões Sul e (ES); Belo Horizonte e Vale do Aço (MG); Goiânia (GO); Brasflía (DF), Maceió (AL), Salvador (BA); Recife (PE); Sudeste. Natal (RN); Fortaleza (CE), São Luíz (MA), e, Belém (PA) 19 2 Natureza dos Problemas E_stratégias de Gerencíamento de Recursos Hícdicos no Brasil Arcas de Cooperaçào com o Banco Mundial Embora a taxa anual de crescimento urbano do país domésticos, resíduos sólidos e efluentes industriais tenha decaído, dos 4,4% observados na década de não tratados, mais gravemente em encostas, fundos 70-80, para os atuais 2,43%, indicando alguma de vale, alagados, várzeas e beiras de rios e córregos, atenuação de fluxos migratórios rurais - urbano e geralmente ocupados de modo irregular por favelas importante queda na taxa de fecundidade, o fato é e loteamentos desconformes, configurando nichos que a concentração nas áreas metropolitanas e nas onde se conjugam pobreza urbana, ausência de maiores aglomerações urbanas do país tende a se serviços de infra-estrutura básica, degradação acentuar. No período 1991/96 as cidades com 100 ambiental e comprometimento de mananciais de a 499 mil habitantes passaram a abrigar 11,3% da abastecimento e lazer. população total contra 10,7% em 1991; as cidades com 50 a 99 mil habitantes passaram de 5,4% a Ainda que as cidades do sul e sudeste detenham 9,1%, muitas dessas localizadas no entomo de áreas maior capacidade institucional, renda per capita e metropolitanas. Já as cidades com mais de 500 mil potencial de arrecadação e investimento7, convivem habitantes passaram de 35,2% para 35,7%. com importantes problemas de saneamento ambiental urbano, notadamente com desafios que concemem Verifica-se essa tendência mesmo nos estados com à disponibilidade de recursos hídricos. rede urbana bem distribuída: Santa Catarina, p. ex., onde a concentração é crescente em Joinville, ou no Em acréscimo à poluição hídrica, agravaram-se, Paraná, com a Região Metropolitana de Curitiba também, os problemas recorrentes de cheias que, reunindo 56% do PIB industrial e mais de um terço virtualmente, paralisam cidades como São Paulo e da população do estado. resultam em custos que se repercutem amplamente sobre toda sociedade, pela obstrução do tráfego, Em termos intra-regionais, o crescimento se dá, perdas patrimoniais e interrupção das atividades em marcadamente, nas periferias e em enclaves (favelas geral (ver Anexo 1). e cortiços) ocupados pelos extratos inferiores de renda, onde as taxas de crescimento chegam a Em uma abordagem genérica, destacam-se os superar a marca de 15% ao ano, em contraponto à seguintes fatores como os de maior expressão na relativa estabilidade dos núcleos centrais (Tucci, delimitação do quadro de problemas de recursos 2001)6. hídricos nessas metrópoles: (i) os baixos níveis de tratamento dos esgotos domésticos8, mesmo em O resultado das elevadas concentração e velocidade cidades que lograram superar os 90% na coleta de que marcaram e persistem neste processo (ainda águas servidas (interior paulista, principalmente), o que atenuadas), reproduz, em grande medida, o que implica em lançamentos in natura quadro de comprometimento do meio ambiente concentrados9; (ii) a disposição inadequada de urbano, descrito quando da análise dos problemas resíduos sólidos, em lixões a céu aberto, quando predominantes na Zona da Mata e Litoral nordestinos. Afinal, as metrópoles que lá se desenvolveram A renda per capita média nas cidades do interior paulista é compõem, reconhecidamente, com tintas sociais mais substancialmente supenor do que a observada nas metrópoles severas, o retrato próprio das metrópoles brasileiras. do Nordeste, o orçamento da cidade de São Paulo é o terceiro do país, superando muitos dos principais estados. Esse quadro, vale repetir, caracteriza-se pela Estima-se que algo como 90% das descargas de DBO nas sobreposição de problemas na mesma porção de grandes cidades sejam de origem doméstica, contra apenas 10% industrial. Em Contagem, na Região Metropolitana de território, em milhares de fontes poluidoras pontuais Belo Horizonte, estes percentuais são respectivamente de e dispersas, como resultado da disposição de esgotos 93% e 7% 9 Ver Tabela II 9, com índices de atendimento em saneamento Tucci (2001). "Panorama dos Recursos Hídrícos", mimeo básico 2 Natureza dos Problemas 20 2 T não a ausência ou insuficiência de coleta em áreas de controle da poluição hídrica, não obstante ser de difícil acesso natural ou sem vias de circulação, pouco conhecida no presente e ainda ausente da particularmente em favelas e ocupações irregulares; pauta prioritária das cidades brasileiras, lacuna que (iii) a impermeabilização crescente do solo urbano, não deverá perdurar por muito tempo'°. com redução nos tempos de concentração e interferência nas condições naturais de drenagem, A identificação genénca dos fatores acima, todavia, amplificando os efeitos de cheias a jusante, muitas não torna trivial o desenho das soluções reclamadas vezes sem alternativas viáveis - técnica e/ou para o saneamento ambiental urbano. A múltipla e financeira - para intervenções em macrodrenagem; complexa combinação destes fatores, frente a outras (iv) o comprometimento de mananciais próximos, variáveis de natureza geomorfológica, peculiares a com escassez de disponibilidade hídrica em cada espaço geográfico, bem como, a questões qualidade adequada;e, (v) amútuainterdependência institucionais (ver Cap. 4), sócio-culturais e entre todos estes e outros fatores, devido a econômicas,exigeesforçosanalíticosemetodológicos condições operacionais decorrentes dos próprios importantes para o enfrentamento desses problemas, padrões inadequados de urbanização e de uso e dentre os quais a poluição hídrica e a preservação ocupação do solo, acarretando problemas para a de mananciais (qualidade versus escassez) ocupam prestação de diferentes serviços de interesse lugares centrais. público, como, p. ex., a obstrução da rede de drenagem pelo lixo não coletado, ligações de esgotos Para problemas dessa ordem, os esforços em galerias de águas pluviais (e vice-versa), metodológicos referidos não poderão se limitar ao inacessibilidade para O&M de redes e serviços, "o que fazer?", mas também, e muitas vezes, dentre as interferências mais comuns. principalmente, deverão conferir destaque ao "como fazer?"''. Em adição, sabe-se que a carga potencial proveniente de ruloff urbano é igualmente relevante para fins Box 2.5: Recursos hídricos e regiões metropolitanas Contrariamente aos países economicamente mais desenvolvidos, que possuem, em geral, uma configuração urbana policêntrica (apesar de situações excepcionais como Tóquio, Londres e Nova York, esta com expressão atenuada pela natureza multipolar do sistema urbano americano), o Brasil apresenta características próprias ao crescimento econômico tardio e acelerado: taxas relativamente altas de urbanização, similares a de países como os EUA e o Japão (sem considerar diferenças metodológicas sobre o que é urbano e rural) e distribuição desequilibrada da população entre grandes regiões, regiões metropolitanas e municípios. '° Estima-se que, em São Paulo, o aporte de nutnentes pela via difusa aproxime-se de um terço da carga total, superando a 40% na bacia do reservatóno do Guarapiranga, manancial de abastecimento Como apropriadamente sumarizado pela OED "Comprehensíve water management is inherently difficult ." In Water Resources Sector Strategy: Concept Notefor discussion with CODE 21 2 Natureza dos Problemas Estrarégias de Gerenciamento de Recursos Hídricos tio Brasdi Arcas de Cooperação com o Banco Mundial continuação Box 2 5 O crescimento urbano brasileiro foi reconhecidamente vertiginoso, com as taxas de concentração populacional nas cidades dando saltos sucessivos (ver tabela do Anexo II). Assinale-se que em 1940, apenas Rio de Janeiro, São Paulo e Recife apresentavam contingente populacional superior a 500 mil habitantes, unicamente oito cidades se situavam entre 100 e 500 mil habitantes Apesar deste movimento mais geral de concentração demográfica nas cidades, as taxas de urbanização para as grandes regiões brasileiras apresentam elevados níveis de diferenciação, com o percentual mais elevado (90,5%) verificado na Região Sudeste e o menor (69,0%) na Região Nordeste (ver tabela do Anexo II). Quanto à distribuição populacional, em 1991, dos 4.491 municípios então existentes, apenas 560 possuíam uma população superior a 20 mil habitantes, com concentração na área do Centro Sul. Dos 186 municípios com mais de 100 mil habitantes, 64 estavam situados nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro e 89 na região Sudeste As nove regiões metropolitanas criadas na década de 70 abrigavam 41,9 milhões de habitantes em 1991 e 48,9 milhões em 2000, mantendo-se sua participação relativa (respectivamente, 28,7% e 28,8 %) no total da população total do país. Como a Constituição Federal de 1988 abnu a oportunidade aos Estados, mediante Lei Complementar, de criar regiões metropolitanas, seu número cresceu recentemente Considerando apenas aquelas com mais de um milhão de habitantes, encontraremos um contingente populacional da ordem de 62,99 milhões ou 45,73% da população urbana e 37,14% da população total brasileira (ver Tabela 11.1). Estas metrópoles situam-se, quase todas, naquelas regiões onde é menor a disponibilidade hídrica, basicamente no Sudeste e Sul (São Paulo, Belo Horizonte e Curitiba situam-se em áreas de montante de bacias hidrográficas) e na longa costa nordestina. O ritmo forte de crescimento destas aglomerações e as suas características de baixo ordenamento territorial, aos quais se somam aspectos acentuados de pobreza, todas estas condições conjugadas desfavorecendo a efetividade de restrições legais e ordenadoras de usos urbanos, levaram à contamunação aguda dos cursos d'água, sem o contrapeso de infra-estrutura sanitária adequada e à fortes impactos de runoff; à recorrentes problemas de macrodrenagem, com intensificação de cheias urbanas; à pressão crescente sobre os recursos hídncos disponíveis para a finalidade de abastecimento público (problema de quantidade) e à dificuldades de proteção dos mananciais de abastecimento ameaçados pelo crescimento territorial extensivo (problema de qualidade). A Figura 2.1 apresenta a evolução recente dos níveis de pobreza absoluta no Brasil e nas regiões metropolitanas (em percentual de população), com destaque para o caso de São Paulo Apesar da expressão destas aglomerações metropolitanas, não há instituições ou iniciativas públicas relevantes aplicadas à sua administração (as organizações criadas ao longo da década de 70 perderam substância ou virtualmente desapareceram). Ao contrário, no gerenciamento das metrópoles, predomina a dispersão de esforços de governos estaduais e locais e têm influência determinante as políticas setoriais, desvinculadas de uma estratégia ordenadora do crescimento temtoríal e de qualidade de serviços básicos No caso da Grande São Paulo, na qual se registram aspectos críticos de qualidade e quantidade da água disponível para abastecimento, a gestão das áreas de mananciais, marcadas pela ocupação e pobreza urbana, foi atribuída ao sistema de gerenciamento de recursos hídncos, decisão motivada pela ausência de um sistema de gestão metropolitana. A Tabela 2.1 sumariza os prncipais problemas hoje verificados. É freqüente que os impactos de quantidade e, sobretudo, de qualidade, sejam ocasionados por causas múltiplas e inter-relacionadas. 2 Natureza dos Problemas 22 40,00 35,00- 30,00 25,00 20,00 1995 1997 1999 - BRASIL 33,23 34,09 34,95 - Metropolitano 31,16 33,18 36,88 -- ESP 22,01 25,21 29,35 - RMSP 26,89 32,09 38,97 Figura 2.1 - Evolução da pobreza no Brasil e na RMSP 1995 - 1999 (em % de população). Fonte: Fundação IBGE. Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios - PNAD. Tabulações Especiais (apud Rocha, 2000).2 Tabela 2.1 - Regiões metropolitanas e recursos hídricos: principais problemas Regiões metropolitanas Principais problemas Limitadas disponibilidades hídncas e conflitos inter-regionais pelo uso da água. Avanço urbano sobre áreas de mananciais, com problemas para o tratamento (São São Paulo Paulo). Limitações de qualidade da água bruta nas captações, por poluição doméstica, industrial e agrícola, agravada pela redução de vazão para abastecimento de São Campinas Paulo (Campinas). Poluição dos cursos d'água, com insuficiência dos sistemas de esgotamento e forte impacto de runoff(São Paulo, sobretudo, e Campinas). Cobertura Baixada Santista ainda não completa dos sistemas de esgotamento, com problemas localizados na balneabilidade de praias. Cheias urbanas de grande impacto (São Paulo). Poluição doméstica e industrial do Rio Paraíba, com impactos na captação de água para abastecimento. Forte poluição da Baía de Guanabara. Limitações do Rio de Janeiro sistema de esgotamento, com problemas repetidos de balneabilidade das praias. Problemas de drenagem e saneamento na Baixada Fluminense. Ausência de saneamento de morros e áreas de alagados. 2 Rocha (2000), "Pobreza e Desigualdade no Brasil. o Esgotamento dos Efeitos Distributivos do Plano Real" Texto para Discussão. IPEA. 23 2 Natureza dos Problemas Estrit(glas de Gerenciamento dc Recursos Hídricos nio Brasil Arcas de Cooperação com o Banco Mlundial Tabela 2.1 - Regiões metropolitanas e recursos hídricos: principais problemas contuitínua çacs Regiões metropolitanas Principais problemas Belo Honzonte Disponibilidade hídrica limitada. Ausência de tratamento de esgotos. Cheias urbanas. Baixa disponibilidade hídríca. Deficiências graves de quantidade e qualidade no Recife sistema de abastecimento. Superexploração de águas subterrâneas pela população Poluição dos cursos d'água, com impactos na balneabilidade das praias. Ausência de saneamento nos morros, favelas e alagados. Cheias urbanas Salvador Poluição hídríca, com impacto na balneabilidade das praias. Falta de saneamento em áreas de baixa renda, inclusive morros e alagados Poluição doméstica e industrial do rio Guaíba. Existência de plantas industriais a Porto Alegre montante da captação para abastecimento Insuficiência no controle de fontes de emissão industrial Oscilação na qualidade de água bruta na época de chuvas, com problemas no Cuntiba tratamento Avanço urbano sobre áreas de mananciais. Insuficiência no controle de fontes de emissão industrial. Problemas de macrodrenagem. Fortaleza e outras metrópoles Limitações nas disponibilidades hídricas. Poluição dos cursos d'água, com impactos nordestinas na balneabilidade das praias. Problemas de saneamento em áreas de renda baixa. 2.7. PROBLEMAS DE RECURSOS e sobrecarga, além de problemas para seu HIDRICOS NA ZONA COSTEIRA DO SUL E financiamento, quer no aporte de capital ou para DO SUDESTE fins de operação e manutenção. Excluídas as regiões metropolitanas de Vitória (ES), Em adição, são reconhecidamente menores as Rio de Janeiro (RJ), Santos (SP), Joinville (SC), Porto capacidades institucionais de municípios balneários, Alegre (RS) e, em parte, também Florianópolis (SC), frágeis no exercício de controles efetivos sobre o todas lindeiras ao mar e com enquadramentos típicos uso e ocupação do solo e submetidos a fortes pressões das demais metrópoles do País, os problemas da imobiliárias, com danos sobre o ordenamento tenitonal zona costeira do Sul e do Sudeste reproduzem as e a proteção de mananciais, áreas de várzeas, de deficiências de infra-estrutura sanitária já citadas e inundação natural, sujeitas à erosão marinha ou que recorrentes na malha urbana do país, todavia, com mereçam cuidados especiais e de preservação peculiariedades importantes. permanente (mangues, restingas e similares). Uma peculiaridade notável é constituída pela Por conseqüência, predominam padrões predatórios reduzida população residente e elevado fluxo de urbanização, inclusive no que tange à sazonal'3, o que implica em alternância de ociosidade verticalização injustificada com perda de potencial paisagístico, muitas vezes ao arrepio da lei, sem 3 Fator de multiplicação de até 20 vezes sobre a população que, nesses casos, as emergências associadas às residente. 2 Natureza dos Problemas 24 Água carências sociais possam servir como insuficiências no atendimento a serviços de justificativa. abastecimento de água (colapso freqüente nas temporadas), coleta e tratamento dos esgotos As repercussões são conhecidas: perda de potencial domésticos (línguas negras e odor nas praias), coleta turístico, desvalorização patrimonial e danos e disposição de resíduos sólidos, dentre outros. freqüentes associados à cheias urbanas e Box 2.6: Complexo Piracicaba, Alto Tietê (Billings) e Baixada Santista O no Tietê é afluente da margem esquerda do rio Paraná, cortando o Estado de São Paulo no sentido leste-oeste A denominada Bacia do Alto Tietê se situa próxima à costa Atlântica. Com seus 5.985 km2 (a montante da barragem de Rasgão), a bacia praticamente engloba toda a Região Metropolitana de São Paulo - RMSP, cuja população , z -' (Censo 2000) atingiu os 17,8 milhões de habitantes (10,5% do País e 48% do Estado de São Paulo, em apenas 2,4% da sua área), correspondendo a uma densidade demográfica - ' r\ de 2.957 hab/km2. O Alto Tietê está hidraulicamente vinculado a várias bacias v limítrofes (ver figura ao lado) principalmente: (i) à bacia do pR'Y' Y''O X rio Piracicaba, pelo Sistema Cantareira que realiza a >tOA - transferência de cerca de 30 m3/s de suas cabeceiras para SAl ^ abastecimento da RMSP, representando cerca de 47,5% da demanda total de 63 m3/s, e, (in) à Baixada Santista através do Sistema Billíngs. Atualmente, ele reverte do Alto Tietê para essa região uma vazão média de cerca de 10 m3/s (recalque das vazões de cheias) que, somada à vazão regulanzada no próprio compartimento do reservatório Billíngs, em torno dos 8 m3/s, totaliza algo como 18 m3/s para fins de abastecimento urbano (Santos, Cubatão e São Vicente insular) e industrial (pólo industrial de Cubatão) e de geração hidrelétrica na Usina Henry Borden (potência instalada de 880 MW). Essa vazão é muito inferior à média turbinável correspondente à plena capacidade da usina, de aproximadamente 94 m3/s. Tal redução se deveu a vários acordos entre as Secretarias de Estado envolvidas no aproveitamento do reservatório Billings, que limitaram a reversão do Alto Tietê para esse reservatório somente para controle de cheias, com vistas a recuperar a qualidade das suas águas para utilização como manancial da RMSP. São fatos destacados sobre o Alto Tietê: a desmedida concentração populacional; a escassez de disponibilidade hídrica, expressa por uma vazão Q7,0 de 20 m3/s (Demanda Urbana/Q71,0 = 3,25); a falta de tratamento de esgotos urbanos, pois somente com o Projeto de Despoluição do rio Tietê (investimentos da ordem de U$ 900 milhões), está se atingindo, atualmente, cerca de 60% de índice de tratamento do volume coletado; a disposição inadequada dos resíduos sólidos, a urbanização desordenada, aliada à excessiva impermeabilização do solo; e, a invasão de áreas de proteção de mananciais, todos estes fatores que atingem os recursos hídncos de forma adversa, decorrendo, desta conjugação, os seguintes problemas principais: > a necessidade de novos mananciais para fazer frente ao aumento da demanda, pois o período crítico de chuvas, que antecedeu o início do ano 2001, mostrou a vulnerabilidade do atual sistema de abastecimento da RMSP, quando da ocorrência de estiagens mais prolongadas; estima-se que será preciso buscar águas de outras bacias, implicando em negociações para minimizar os decorrentes impactos ambientais. Cabe frisar que a maioria dos 25 2 Natureza dos Problemas Estrategias de Gerenciamenro de Recursos Hídricos no Brasil Arcas de Cooperação com o Banco Mlundial (continuação Box 2.6) cursos d'água da bacia, vis-à-vis à degradação qualitativa de suas águas, restringe a utilização para usos mais nobres, problema que atinge, inclusive, os mananciais atuais, caso do Guarapiranga, responsável por cerca de 21% da oferta de água da RMSP; > a premência de tratar os esgotos coletados a fim de reduzir a poluição dos cursos d'água da bacia, cabendo ressaltar, no entanto, que segundo o Hidroplan (Plano Integrado de Aproveitamento e Controle dos Recursos Hídricos das Bacias do Alto Tietê, Piracicaba e Baixada Santista, 1995), para um cenário de 88,6% da população total da bacia (estimada para 2020, em 20,5 milhões) atendida por coleta e tratamento dos esgotos, os seus principais cursos d'água ainda permaneceriam com enquadramento indicativo de uso impróprio (Classe 4); > o imperativo de reduzir os impactos de tormentas, que atingiram proporções catastróficas, com imensos prejuízos ao tráfego, segurança e à saúde públicas, já que as chuvas mais intensas que ocorrem na bacia resultam em alagamentos, deslizamentos e inundações recorrentes na área urbana, além de problemas de erosão e crateras em vias públicas, arraste de transeuntes pelas enxurradas e desassossego da população. Nos últimos eventos de chuvas fortes registraram-se congestionamentos na casa dos 200 km, com o número de pontos de inundação saltando de 125 (1979) para 500 (1999); > a necessidade de integração efetiva da gestão da quantidade e da qualidade dos recursos hídricos da bacia, que seguem sob a responsabilidade de entidades distintas, assim como de promover a integração da gestão dos recursos hídricos com o planejamento urbano, detentor de instrumentos de controle do uso e da ocupação do solo; > a resolução de outros conflitos, com destaques para: (i) a reversão da bacia do Píracicaba para o Alto Tietê, envolvendo o abastecimento de mais de 10 milhões de habitantes da RMSP, à custa da diminuição de vazões na bacia doadora, cuja comunidade reivindica maior liberação de água para a própria bacia, assim como a devida retnbuição financeira pelo fornecimento; (ii) a exportação de esgotos para a bacia do Médio Tietê; e, (iii) o aproveitamento do reservatório Bíllings; e, por fim, > a mitigação da ameaça sobre os recursos hídricos subterrâneos, face à sua exploração predatória, na medida em que, atualmente, estima-se que cerca de 6.000 poços são utilizados na bacia, com uma vazão próxima a 8 m3/s 2.8. OS RECURSOS HIDRICOS E AS processo associado ao próprio histórico da ocupação ATIVIDADES PRIMÁRIAS DO SUL E do território nacional, facilidades de transporte e aos SUDESTE ciclos econômicos que marcaram o desenvolvimento Graças às características hidrometeorológícas do país. favoráveis, com precipitação média de 1.350 mm, Já no início do século passado (década de 30), a bem distribuída ao longo do ano, somadas à expansão das fronteiras agrícolas, capitaneada pelo ocorrência de solos de boa fertilidade, os estados vetor dominante da cafeicultura, propiciava a do Sul e Sudeste, nessa última região mais ocupação do sudoeste paulista, norte e noroeste propriamente, São Paulo, contam com uma paranaense, em um processo planejado e muito agricultura dinâmica, moderna e diversificada: grãos, veloz, que marcou a fundação da própria rede urbana em geral (soja, milho e trigo), café, cana-de-açúcar, de apoio àquela cultura de exportação5. algodão e fruticultura'4, resultado de um longo Somente o Paraná responde por cerca de 1/4 da produção nacional de grãos, que se aproxima de 100 milhões de Fundação de Londrina em 1935, hoje com cerca de 550 mil toneladas/ano habitantes 2 Natureza dos Problemas 26 Nas décadas seguintes (50 e 60), movimento similar, produtos de origem animal - o que resulta na porém mais atenuado, ocorria a partir da colonização presença de enclaves especializados em seu promovida pelos gaúchos, a oeste de Santa Catarina processamento, em torno dos quais gravitam e sudoeste do Paraná, espraiando-se até Mato pequenos e médios produtores, com problemas sérios Grosso do Sul. Já nos anos 70, amplia-se o de lançamentos concentrados de despejos animais, movimento até atingir as novas fronteiras agrícolas caso reconhecido das criações de suínos no oeste que chegam hoje aos cerrados e fustigam a região de Santa Catarina e sudoeste do Paraná. amazônica (Mato Grosso, Rondônia e Tocantins). Dentre as repercussões mais graves relacionadas É o esgotamento das fronteiras de expansão agrícola a esse conjunto de atividades, anotam-se: (i) a perda do Sul e Sudeste o fator determinante dos problemas das camadas superficiais dos solos'9, em ciclo vicioso de recursos hídricos hoje observados na zona rural de menor fertilidade e uso mais intensivo de dessas regiões. É certo que existem conflitos nutrientes; (ii) o assoreamento decorrente nos cursos importantes localizados na bacia do rio Uruguai, no d'água, com elevação da turbidez devida a sólidos Rio Grande do Sul, em razão dos volumes suspensos; (iii) contaminação por agroquímicos, expressivos necessários ao cultivo de arroz por inclusive conservativos; (iv) poluição das águas por inundação, demandando, inclusive, barragens para dejetos de animais in natura; (v) elevação regularização de vazões'". Contudo, a irrigação generalizada dos custos relacionados ao extensiva não constitui o maior problema aproveitamento dos recursos hídricos, para observado'7. Predominam os impactos de plantios abastecimento doméstico ou insumo industrial, até a beira dos cursos d'água, com remoção quase inclusive para a própria agroindústria alimentar. completa da cobertura vegetal, inclusive da mata Esse quadro de problemas passa a ser parcialmente de preservação ciliar, com vistas a explorar todo o modificado a partir da década de 80, mediante a potencial disponível nos terrenos, o que significa difusão de práticas de plantio direto e manejo elevada mecanização e aragem dos solos, uso integrado de solos e águas, em largas áreas de intensivo de agroquímicos (pesticidas e fertilzantes), cultivo, especialmente no Paraná, após sucessivos colheitas sazonais sucessivas e desconsideração programas de cooperação multilateral20, que pelos impactos ambientais decorrentes de tais propiciaram reduções importantes nos indicadores procedimentos. de carreamento de sólidos aos corpos d'água. Esse panorama geral, posto sobre uma estrutura Todavia, sem embargo de tais iniciativas, cumpre fundiária onde ainda é expressiva a presença de reconhecer que persistem problemas generalizados pequenas e médias propnedades (comparativamente de comprometimento das disponibilidades hídricas ao Mato Grosso do Sul, p. ex.)'8, é complementado em razão das atividades agropecuárias pela estreita vinculação das culturas primárias com desenvolvidas no meio rural das regiões Sul e a agroindústria alimentar (portanto, de comando urbano) - partindo dos derivados de soja até os '9 Perdas médias de 15 tlha/ano. Bragagnolo, N e Pan, W. In 16 0 Rio Grande do Sul tem cerca de 1,0 milhão de ha Irrigados, Munhoz, H R (org.), 2000. Interfaces da Gestão de a maior parte com arroz por inundação Recursos Hidrícos 17 O Paraná conta com apenas 47 mil ha irrigados, o país tem 20 Pro-Noroeste (década de 70), PMISA - Programa de Manejo pouco mais do que 3,0 milhões, sendo 16,1 milhões a área Integrado de Solos e Água (83-89); Pró-rural (82-86), Paraná potencial conhecida Rural (89-97) e Paraná 12 Meses (iniciado em 97), além do 18 Não obstante as culturas extensivas de grãos induzirem à Programa da Rede da Biodiversidade, aprovado pelo GEF concentração fundiária (Global Environment Facility), a ser iniciado em 2002. 27 2 Natureza dos Problemas Estraregias dc Gecenciamento dc Recursos Flidricos no Brasil Arcas de Cooperação com o Banco Mundial Sudeste, com largas margens para melhoria de problemas de contaminação hídrica concernentes à desempenho em termos ambientais. exploração de carvão mineral na região de Criciúma, Santa Catarina e, recorrentemente, a extração de Além dessas, ainda no que tange aos impactos areia nas periferias das cidades de médio e grande gerados por atividades primárias, deve-se anotar porte. Box 2.7: Indicadores de saneamento básico no Brasil (*) As seguintes características básicas permitem definir atualmente o setor de saneamento: > Percentual médio de cobertura com abastecimento de água à população urbana relativamente elevado, com um salto apreciável desde o ano de 1960 (então, atendimento de 44%), não obstante o acréscimo de mais de 100 milhões de habitantes urbanos no período Isto indica que, em quatro décadas, cerca de 110 milhões de novos usuários passaram a ser atendidos por sistemas públicos de abastecimento de água. > Existência de importantes desequilíbrios regionais na prestação do serviço, com situação mais favorável no Sudeste e Sul, e índices menores de atendimento no Nordeste, Norte e Centro-Oeste. > Déficit de cobertura nos anéis periféricos metropolitanos e urbanos e em favelas, atingindo população de renda mais baixa (por vezes, a situação física ou legal de loteamentos e favelas dificulta ou impede expansão de sistemas sanitários públicos). > Evolução menos bem sucedida dos serviços de coleta de esgotos, com atendimento concentrado em São Paulo e no Distrito Federal, seguindo-se Minas Gerais, e queda de cobertura nos demais estados, chegando a índices de atendimento residuais na região Norte. > Baixos volumes de esgotos tratados, com investimentos recentes concentrados em São Paulo. Há pouca informação disponível sobre a natureza dos processos, as vazões e a qualidade dos tratamentos existentes. > Baixos índices de atendimento direto ou de controle sanitário em áreas rurais (entretanto, o cnténo historicamente adotado pelo IBGE, para a definição de área urbana ou rural, é diverso da maioria dos outros países e leva a uma possível superestimação da população qualificada como urbana). (*) ver tabelas do Anexo II. Resumidamente2", Tucci (2001), adotando recorte ocorrência nos principais ambientes brasileiros (ver regional similar, assim apresentou os principais Tabela 2.2): problemas de recursos hídricos, segundo sua 21 Tucci (2001), "Panorama dos Recursos Hídncos", mimeo. 2 Natureza dos Problemas 28 gAua irgast Tabela 2.2 - Características relacionadas com os principais ambientes brasileiros (adaptada). Biomas Principais aspectos Amazônia Navegação, energia, pesca e turismo. Usos Efluentes das cidades, controle da navegação e reservatórios de energia. Impactos dos usos Inundação e saúde (doenças de veiculação hídrica). Impactos sobre a sociedade Desmatamento, queimadas, mineração e perda de biodiversidade. Inpactos ambientais Pantanal Agropecuária, abastecimento, tunsmo e navegação potencial Usos Navegação, efluentes urbanos e agropecuária no Planalto Central. Impactos sbos usos Inundações e saúde. Impactos ambrenta socisdade Mineraçao, desmatamento, queimadas, erosao e impactos sobre a biodiversidade Impactos ambientais,, Cerrado Irrigação, abastecimento e energia Usos Efluentes das cidades, reservatórios hidrelétricos, imgação de áreas agrícolas e Impactos dos usos pastos. Saúde e disponibilidades hídncas (usos múltiplos). Impactos sobre a sociedade Desmatamento, queimadas, efluentes urbanos e escassez sazonal. Impactos ambientais Semi-árido Abastecimento, imgação e energia no rio São Francisco. Usos Efluentes do abastecimento, efluentes de dessalinizadores e salinização Impactos dos usos Saúde e disponibilidade hídrica para o desenvolvimenro regional. Impactos sobre a sociedade Desertificação e erosão do solo Impactos ambientais Costeiro Abastecimento, irrigação, turismo e recreação. Usos Efluentes de abastecimento (industrial e doméstico) e da irrigação. Impactos dos usos Impactos dosob a sociedade Inundações e perda de balneabilidade de praias e de potencial turístico. Impactos sobre a sociedade Desmatamento, mineração e ocupação dos mangues e sistemas ambientes costeiros. Impactos ambientais Sul e Sudeste Abastecimento, irrigação e energia. Usos Efluentes de abastecimento (industrial e doméstico) e da irrigação. Impactos dos usos Inundações e perda de mananciais. Impactos sobre a sociedade Desmatamento, ms eração e alagamento de terras. Impactos ambientais Fonte: Tucci (2001), "Panorama dos Recursos Hídricos", mimeo. 29 2 Natureza dos Problemas Águ a' ~Bras 3 Conceitos Selecionados para o Enfrentamento dos Problemas e Questões O passo seguinte, na definição de uma circunscrevem os usos e as funções da água e os EGRHB, será a identificação de conceitos processos de decisão a eles relacionados. considerados úteis para enfrentar os problemas anteriormente definidos. Não se tratará No universo dos processos decisórios ligados à de uma mera abordagem teórica, mas de uma gestão da água, podem ser identificados, de uma tentativa de aplicação dos conceitos sobre os formaesquemática, um núcleo central deproblemas problemas (conforme exercitado nos Cap. 6 e 7), a resolver e um conjunto de três vertentes dispondo-os no terreno prático. fundamentais que é preciso ter em conta na resolução desses problemas. O diagrama 3.1. CONEXTUALIZÇÃO DA GSTÃO DE apresentado na Figura 3.1 representa graficamente 3.1. CONTEXTUALIZAÇAO DA GESTÃO DE espsa sistematização.a rpeetagaiaet RECURSOS HíDRICOSi. es itmtzço O planejamento e a gestão dos recursos hídricos Na Figura 3. 1, o núcleo central de problemas tem a levantam, necessariamente, problemas de natureza ver com a compatibilização entre necessidades e interssetorial e multidisciplinar. Tratando-se a água disponibilidades, no espaço e no tempo, em de um recurso partilhado pelos mais diversos setores quantidade e qualidade. É este o objetivo essencial de atividades, não pode deixar de estar sujeita a um da gestão dos recursos hídricos. Todavia, hoje é regime complexo de utilização e jurisdição que tem evidente que, para compreender e resolver melhor evoluído ao longo do tempo. Até os anos 70, centrava- esse núcleo de problemas, toma-se necessário olhar se grande ênfase nos aspectos estritamente técnicos para fora desse domínio restrito. A forma como, no relacionados com os aproveitamentos hidráulicos, mundo real, é feita a compatibilização entre edificando capacidade e competência tecnológica que, necessidades e disponibilidades, e a maneira como aliás, urge manter. Durante a década de 80, a ênfase a sociedade encara e valoriza essa compatibilização, derivou para os problemas da engenharia de recursos são fortemente influenciadas por três ordens de hídricos e para a elaboração de projetos. No final da fatores de natureza distinta a que é necessário década de 90 e princípios do novo século, julga-se atender. que uma parte importante dos esforços deverá incidir sobre o contexto da utilização do recurso, isto é, sobre Em primeiro lugar, há os instrumentos tecnológicos o conjunto de condicionamentos ambientais, e de gestão disponíveis, profundamente interligados econômico-sociais e institucionais que envolvem e com a problemática que se propõem a resolver. De fato, na medida em que se desenvolvem as 'Texto livremente adaptado de Correia, F. N (1997) Prefácio tecnologias que melhor contribuem para a resolução In: Barraqué, B . As Políticas da Água na Europa Edição de problemas concretos, se estabelece uma relação portuguesa dinâmica, sendo que as tecnologias disponíveis 31 Estrategias de Gerenciamento de Recursos Hiídncos no Brasil Areas de Cooperação com o Bqnco Míunwdial passam,então,ainfluenciardecisivamenteamaneira natureza e a dinâmica específica dos agentes pela qual os próprios problemas são formulados. envolvidos, quanto os valores e atitudes que determinam os seus comportamentos e opções. É Servindo a água a inúmeras finalidades sociais, um das ações de diferentes utilizadores, de suas segundo aspecto, que é determinante para a maneira motivações, de sua `cultura` que dependem, em como, no mundo real, são formulados e resolvidos larga medida, as formas concretas da utilização dos os problemas de recursos hídricos, envolve tanto a recursos hídricos. Critério de Avaliação para o Ações: Desenvolvimento Arenas: S uste ntável1 . Económicas S Poderes Legislativos - de Planelamento - Administração Pública - Acordos Voluntários - Municípios - Sistemas de Informações - Interfaces Formais INSTRUMENT ESTRUTURA EDPROCESSOS E BASE DE _FORMAiS E INFORMAIS CONHECIMENTO P P IDE TOMADA DE DECISÃO w OR M ULAÇAO \ DE POLÔTICA Objetívos: \ ARA ÁGUA Objetivos: EXIG NCIAS EXIGAs Atores: 'AGENTES DOS SEGMENTOS PúBLICO, PROFISSIONAL E ECONÔMICO - Opinião do público e dos lideres Imprensa e mídia Profissionais e associação de profissionais - Associações ambientaís - Indústria relacionada à água - Associações econômicas - Usuarios da água - Politicos Figura 3.1 - Elementos contextuais que condicionam a formulação de políticas de recursos hídricos 3 Conceitos Selecionados 32 N1 Bra Finalmente, em terceiro lugar, os agentes de decisão A água não é um simples recurso para satisfazer e as estruturas administrativas e jurídicas, que meras necessidades de utilização. Ela também é um enquadram e apóiam os processos de decisão, assim suporte imprescindível para os ecossistemas, aos como os mecanismos de execução, constituem, quais é atribuída cada vez mais importância. Por também, um fator de grande importância, outro lado, os condicionamentos sócio-econômicos determinante da forma pela qual são formulados e e institucionais pressupõem um modelo de resolvidos os problemas de recursos hídricos. A desenvolvimento que, em uma perspectiva ambiental, exemplo da componente tecnológica, os sistemas em última instância, deve ser sustentável. institucionais, em sentido lato, são também fortemente determinados pelos problemas concretos Com efeito, o desenvolvimento sustentável, que ocorrem em cada país ou região, constituindo, conceito central de todas as políticas modernas de afinal, soluções para fazer face a tais problemas. meio ambiente, deve ser considerado como o Todavia, as estruturas institucionais existentes grande objetivo das políticas de gestão dos recursos constituem, elas próprias, um elemento decisivo na hídricos. forma pela qual os problemas são formulados e na abordagem adotada para a sua resolução. 3.2. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Os três aspectos, descritos anteriormente, podem Os conceitos que seguem serão apresentados ser julgados suficientes para definir o contexto da segundo sua pertinência aos três eixos que utilização dos recursos hídricos. Contudo, a conformamasustentatibilidade:oecológico,oético crescente integração com as políticas mais gerais e o econômico (formulação de Correia et al., 1997)2. da gestão ambiental e a importância crescente dos É interessante notar que a eventual hipertrofia de aspectos sócio-econômicos e institucionais qualquer dos vetores (ênfase restrita às variáveis envolvidos, levam a expandir o esquema hidráulicas, p. ex.), resultaem desequilíbrio dafigura apresentado, conferindo destaque a tais fatores, que da sustentabilidade, ressaltando que as mútuas condicionam - e, por vezes, determinam - as soluções articulações e dependências entre os vetores são encontradas para os problemas de recursos hídricos. igualmente relevantes. Ecológico Ético ~~~~DS= E' Econômico 2 Correia, F N et al (1997) Documentos de Trabalho. In. Water 21 Project 33 3 Conceitos Selecionaclos Estratégias de Gerenciamento de Recursos Hidrícos no Brasil Areas de Cooperação com o Banco Mundial > Vetor Ecológico: problemas meramente a aspectos particulares aos recursos hídricos. Antes disso, para muitas das O vetor ecológico da sustentabilidade refere-se ao unidades de análise, a degradação ou escassez das imperativo de uma visão compreensiva dos águas devem constituir-se em aspectos, em larga problemas. A formulação geral que orienta as medida, da proteção ambiental e, mais amplamente, abordagens pertinentes a esse eixo é a de que a do desenvolvimento regional, com todas as problemática ambiental (nela inserida a de recursos implicações daí decorrentes para a definição de hídricos) é suscitada quando se pensa nas relações medidas locais específicas ou para a articulação da entre as sociedades e seus respectivos espaços política de recursos hídiicos com outras que lhe sejarn geográficos (binômio padrões de apropriação dos intervenientes (saneamento, energia ou irrigação, p. recursos naturais versus capacidade de suporte do ex.), ou supervenientes (desenvolvimento regional meio ambiente, que impõe limites à reprodução do e meio ambiente)3. antropo-social, do biológico e do físico). N Sob o entendimento precedente é questionável que Nessas relações, a disponibilidade hídrica não e em bacias de elevada densidade urbana e grande somententos estruturantes d dinâmica produtiva, as ações a serem prognosticadas desenvolvimento, como pode exercer também a possam restringir-se apenas àquelas de natureza função de fator de integração intersetorial, na setorial (p. ex., as pertinentes a recursos hídricos dimensão em que a água reflete, dadas suas ou mesmo ao meio ambiente strictu sensu). Mais múltiplas interfaces, os processos de apropriação apropriadamente, a gestão de recursos hídricos deve dos recursos ambientais em sua bacia hidrográfica, perseguir, ainda que sob o formato de diretrizes que recuperando o que a visão técnico-analítica do a conformam, a compatibilidade possível com a homem fragmentou. natureza plena dos problemas, em cada bacia hidrográfica, até o limite de abrigar a complexidade Aqui, a faculdade de simulação do comportamento de ações integradas público-privadas de dos corpos hídricos, mediante modelagem desenvolvimento regional, tomadas peculiares pelas matemática, permite utilizar a água como fator de emergências das questões relativas ao recurso água ordenamento do territóno, servindo ao diagnóstico exigindo por essa razão, instrumentos e sistemáticas e à previsão de impactos associados a diferentes de gestão também peculiares a cada região- cenários de desenvolvimento regional e dos problema. respectivos processos de uso e ocupação do solo, notadamente quando esses resultam em Convém reconhecer, portanto, que existem variáveis agravamento das condições naturais de seca, de sobrepostas ao diagrama definido pela Global cheias e inundações ou em quadros de poluição Water Partnership (Figura 3.2)4. concentrada dos corpos d'água. Em suma, a água pode servir como indicador privilegiado da eficácia e pertinência de intervenções antrópicas no meio ambiente. Nucci, N.L.R., Araújo, R G e Lobato da Costa, F. J. (1995). Não obstante tal possibilidade, uma atitude JNS -Engenharia e Gerenciamento Proposta Técnica ao Modelo de Gestão da Bacia do Alto Iguaçu Programa de compulsória na gestão dos recursos hídricos deve Saneamento Ambiental da Região Metropolitana de Cuntiba ser a continuada preocupação em respeitar a - PROSAMIPR natureza complexa e diversa dos problemas próprios 4Nucci, N L R , Araújo, R. G e Lobato da Costa, F. J. (1995) a cada bacia ou sub-bacia hidrográfica. Assim, a JNS -Engenharia e Gerenciamento Proposta Técnica ao definição das baciacomuiadesdepModelo de Gestão da Bacia do Alto Iguaçu. Programa de definiç nãdas bacas como umidades de planejamento Saneamento Ambiental da Região Metropolitana de Cuntiba e gestão não deve implicar na redução dos - PROSAMIPR. 3 Conceitos Selecionados 34 Água Bras Tensão da Sustentabilidade Desenvolvimento | A b n Regional Meio Ambiente Recursos hídricos Água como essencial como insumo aos ecossistemas < ~~~Gerenciamento Integrado de Recursos Hídricos Infra-estrutura para gerenciamento de enchentes e secas, reservação com objetivos múltiplos, qualidade de água e proteção de mananciais. Arcabouço Outros usos institucional Abastecimento Imgação e Serviços inclusive de água e drenagem Energia Ambientais industria e saneamento navegação Instrumentos de gerenciamento Política econômica de gerenciamento da água Usos da Água Figura 3.2 (adaptada): Gerenciamento integrado de recursos hídricos e sua relação com os setores usuários 35 3 Conceitos Selecionados Estratígias de Gerenciamento de Recursos Hclricos no Brasil Areas de Cooperação com o Banco Mundi.al De modo algum as observações apresentadas devem Na maioria dos casos, essas avaliações não são justificar a perda de carga de diagnósticos triviais. Ao menos três planos de estudo são intermináveis e excessivamente abrangentes5. Antes necessários. Primeiramente, cabe identificar os disso, cumpre seletivamente identificar quais são mecanismos existentes para a recuperação de custos. as variáveis-chaves, que conferem dinâmica aos Os mais evidentes são tarifas de prestação de problemas que se quer enfrentar, uma vez que, em serviços relacionados aos recursos naturais muitos casos, o controle de algumas dessas variáveis submetidos a processos de apropriação (saneamento, poderão estar fora do alcance dos instrumentos com ênfase particular); no entanto, impostos disponíveis para a gestão dos recursos hídricos (caso incidentes sobre o valor de propriedades podem ser notável de quadros de poluição hídrica associados igualmente considerados, quando acoplados a ao uso e ocupação do solo), exigindo, nesses casos, instrumentos capazes de mensurar e incorporar as articulações para cima (com as superveniências do alterações dos valores imobiliários que decorrem desenvolvimento regional e/ou meio ambiente) e/ dos mencionados processos. ou com setores intervenientes. O segundo plano refere-se à valoração dos recursos Sob tal perspectiva devem ser "lidos" os problemas ambientais, via de regra, envolvendo estimativas apresentados no segundo capítulo deste documento, (econômicas e sociais) mais amplas do que aquelas todavia, não antes da abordagem das variáveis captadas pelos instrumentos disponíveis para a concernentes aos demais eixos da sustentabilidade. recuperação de custos (monetárias)8. A base econômica para o tratamento destas avaliações é relativamente recente, envolvendo o conceito fundamental de que os preços correspondentes a O vetor econômico da sustentabilidade implica na transações de mercado não refletem plenamente identificação e na avaliação dos custos e benefícios, efeitos paralelos (externalidades) derivados dos econômicos e sociais, envolvidos nos processos de processos de produção e consumo. Essas apropriação dos recursos naturais disponíveis nas externalidades, no entanto, afetam a utilização de unidades territoriais de análise'. Implica, também, bens públicos, caso de recursos livres disponíveis em considerações sobre a eqüidade na distribuição no meio ambiente, cuja apropriação não se pode de tais benefícios e custos entre os diferentes atores individualizar. sociais afetados, direta ou indiretamente, pelos Busca-se, então, corrigir ineficiências alocativas dos recursos ambientais pelo mercado, mediante mecanismos de intemalização de efeitos externos, `Progress takes place more through 'unbalanced' uma vez que o sistema de preços não é capaz de development than comprehensive planning approaches captá-los, ou seja, as externalidades podem ser institutional development efforts should schedule and a reduzidas pela internalização de seus custos, nos partial, cumulative, and highly focused approach pursued " Water Resources Sector Strategy Concept Note for diferentes processos de produção e consumo. discussion w,th CODE. Obviamente que esses conceitos aplicam-se 1 Sempre que possível, conformadas segundo bacias plenamente aos recursos hídricos. hidrográficas, mas que podem assumir outros recortes, com geometria variável, a depender da natureza das questões predominantes em jogo "Water resources development and management are critical 8 No Brasil, existe um vasto campo onde a cooperação do for achíevement of the Bank's strategíc objectives of Banco Mundial pode ser substancial, envolvendo estudos sustainable economic growth and poverty reduction " Water de economia ambiental, segundo metodologias de avaliações Resources Sector Strategy Concept Note for discussion contingentes, preços hedônicos e equivalentes, na direção wzth CODE. de maior rigor metodológico e consistência de resultados 3 Conceitos Selecionados 36 Isso significa que a apropriação de recursos hídricos, não são captadas somente pelo setor específico, mas em particular, como insumos pelo setor produtivo são amplamente refletidas na esfera regional (ver corresponde a serviços que o meio ambiente presta, Tabela 3.1), exemplarmente no caso do tratamento incorporando subsídios, no caso de não ocorrer o de efluentes domésticos. pagamento correspondente, que deveriam ter seu valor acrescido ao produto, de modo que as Com efeito, no Brasil são reconhecidas as externalidades presentes no processo, incluindo dificuldades do setor saneamento em arcar com seus aquelas sobre terceiros, tenham uma equação próprios encargos (adução de água a distâncias adequada de valoração (precificação), distnbuição crescentes, tratamento e distribuição; coleta, e financiamento social entre os segmentos transporte e, ainda, tratamento de efluentes, intervenientes, no presente e sob perspectivas de submetidos a padrões mais restritivos de emissão). mais longo prazo9. Parece pouco razoável, portanto, depositar expectativas de que ações mais abrangentes voltadas Nada impede esforços no sentido de que tarifas à melhoria da qualidade ambiental tenham custos setoriais incorporem a maior parcela possível das recuperados mediante tarifas setoriais. De fato, externalidades geradas, como no caso do Reino assim sinalizam os resultados de avaliações Unido, p. ex., onde não existem previsões de contingentes feitas no País, em que a disposição a precificação dos recursos hídricos. Todavia, para o pagar se mostra sistematicamente menor para Brasil, tendo a França como referência, a opção acréscimos tarifários sobre serviços já prestados clara é pelo reconhecimento de que muitas das do que para financiar programas amplos de externalidades positivas (benefícios) relacionadas recuperação hídrica, com perspectivas de melhoria aos serviços intervenientes com os recursos hídrícos da qualidade do meio ambiente urbano ou regional. Tabela 3.1 - Matriz de Investimentos e Benefícios em Recuperação Ambiental Natureza dos Mantd Investimentos em Magnitude Externalidades (benefícios) e Vias de Natureza dos Agentes Recuperação Ambiental Inversões Recuperação de Custo Envolvidos e dos Recursos Hídricos Tarifas de Serviço, Desenvolvimento Operadores de Sistemas Sistemas de ALTA Sócio - econômico, Menores Custos de e/ou Outros Aporte Saneamento Produção e Mercado Imobiliário. Empreendedores Inicial de Capital Demais Desenvolvimento Sócio-econômico, Açeões ALTA Menores Custos de Produção e Outros Empreendedores Ações Mercado Imobiliário Operação e Manutenção BAIXA Tarifas e Taxas de Serviço Operadores de Sistemas Pereira, C. A. A O et al. (1996). Companhia Brasileira de Projetos e Empreendimentos Proposta Técnica aos Estudos Econômico-Financeiros do Modelo de Gestão da Bacia do Alto Iguaçiu. Programa de Saneamento Ambiental da Região Metropolitana de Curitiba - PROSAMIPR 37 3 Conceitos Selecionados Estratégias de Gerenciamento de Recursos Hidricos no Brasil Arcas de Cooperação com o Banco Mundial Na medida em que a cobrança pelo direito de uso hídricos encerra um aprendizado cívico, uma vez da água constitui um dos mecanismos para capturar que o pagamento pelo direito de uso da água externalidades relacionadas aos recursos hídricos e estabelece claras relações de direitos e deveres. tentar cobrir a distância entre os benefícios e perdas Todavia, deve-se reconhecer que nenhum país, sócio-econômicas identificadas e a recuperação desenvolvido ou em desenvolvimento, tem explorado monetária existente'°, caracteriza-se o terceiro plano particularmente bem os conceitos econômicos acima de estudos, pertinentes a precificação dos recursos formulados". Mais do que isso, são poucas as hídricos, em si. Novamente, não se trata de matéria evidências práticas sobre a relação entre as funções trivial. É certo que a mera cobrança sobre os recursos de incentivo e de renda das taxas de poluição'2. Nota conceitual para discussão com CODE Mesmo os países mais desenvolvidos estão distantes, na prática, da implementação total desses princípios, como indicado a seguir . progresso insuficiente da integração de políticas ambientais e setoriais; • padrões básicos de qualidade da água ainda não foram definidos, • os preços raramente refletem os custos totais econômicos e ambientais; • a maioria dos trabalhos para melhona da eficiência no uso da água ainda precisa ser realizada; . políticas de gerenciamento de demanda ainda encontram-se pouco desenvolvidas; • uso agrícola da água ainda é, na sua maioria, subsidiado; • o progresso atingido até o momento é o resultado dos esforços de muitos anos. Essas questões, em muito breve, estarão na ordem profundas sobre custos de oportunidade envolvidos do dia dos debates relativos à implementação prática e relações de elasticidade preço-demanda. de sistemas de gerenciameto de recursos hídncos no Brasil. No momento, predominam expectativas Não obstante tais dificuldades, amplia-se o escopo de financiamento parcial dos Planos de Bacias de instrumentos disponíveis à moderna gestão Hidrográficas, pela via da cobrança pelo direito de ambiental, em particular para os recursos hídricos, uso da água, contudo, sem avaliações mais cuja atuação passa a articular ações em quatro diferentes esferas, assim dispostas. (i) a primeira refere-se a atribuições indelegáveis e exclusivas do Estado, tradicionalmente aplicadas pelo Poder Público mediante disciplinamento legal e exercício do poder de polícia (Comando-Controle). Espaço estatal exclusivo '° Há fortes indícios práticos de que apenas parte das Water Resources Sector Strategy: Concept Note for externalidades seja coberta via cobrança, algo como 30 a díscussion with CODE. 40% dos montantes de investimento estimados para os 2 Banco Mundial (1998) Brasil: Gestão dos Problemas da Planos de Bacia Hidrográfica já elaborados no Brasil Poluição. Vol. I.Relatório de Política. 3 Conceitos Selecionados 38 '1 Devido à sua natureza regulatória, esses a custos inferiores aos demais. Em termos instrumentos de law-enforcement não levam em econômicos, são descartadas alternativas mais conta as diferenças de custos de controle entre os eficientes de alocação dos recursos naturais ou de agentes poluidores ou consumidores dos recursos atingimento da qualidade ambiental desejada a custos naturais. As normas e padrões são genericamente menores, assim como não são produzidos incentivos dispostos, não conferindo incentivos àqueles que para a geração de tecnologias mais eficientes na retêm vantagens na redução de suas extemalidades utilização de bens e serviços ambientais. (iv) na outra ponta (dos mercados), a gestão ambiental vem, mais recentemente, conformando alternativas de comando- controle pela via descentralizada da definição de mercados receptores de bens e serviços, disponíveis ao setor produtivo - privado ou estatal - somente se este obtiver certificações que visem às tecnologias de produção ambientalmente corretas, contemplando mecanismos para redução de suas externalidades, horizontal e verticalmente, na cadeia de seu processo produtivo (série ISO 14.000). Espaço dos mercados Esta via tem demonstrado importante capacidade demais países, reunindo méritos de promover de espraiar os padrões ambientais exigidos nos incentivos à modemização tecnológica e à redução principais mercados mundiais (notadamente, Europa de rejeitos, considerados como desperdícios dos e Estados Unidos) até os parques produtivos dos processos produtivos`. (ii) entre ambas as anteriores, uma segunda esfera avança adiante do comando e controle, sem abandoná-lo, ampliando as possibilidades do planejamento tradicional, mediante processos participativos de construção de consensos (consensus building) que franqueiam espaços para inserção da sociedade civil e de agentes econômicos com interesses particulares (públicos e privados) em tais processos de negociação. Espaço compartilhado A perspectiva assumida é a da contratualização de de recursos hídncos, definidos no âmbito de comitês objetivos e consensualização sobre os cenários de bacia hidrográfica, constituem bons exemplos dos desejados, em termos da qualidade ambiental e do processos de negociação social acima referidos. correspondente rateio de custos sociais. Os planos (iii) por fim, a terceira esfera de atuação é própria aos chamados instrumentos econômicos de gestão, assim entendidos os incentivos de mercado que orientem os agentes a valorizarem os bens e serviços ambientais (precificação e cobrança pelo direito de uso de recursos hídncos), de acordo com sua oferta e/ou escassez e em consonância com seu custo de oportunidade social. Espaço compartilhado Por sua constituição enquanto mecanismos de interesses de terceiros, não diretamente relacionados mercado, bem como pelas estimativas com as transações envolvendo recursos ambientais, particularizadas dos custos de oportunidade esses instrumentos econômicos (essencialmente a envolvidos - distintos para diferentes usos e usuários Refere-se aos conceitos de BATNERC - Best Available - e, ainda, pela necessidade de consideração de Technology Not Entaíling Raised Costs. 39 3 Conceitos Selecionados Estartegias de Gerenciamento de Recursos Hlidricos no Brasil Arcas de Cooperaçào com o Banco MNIundial cobrança pelo direito de uso da água) reclamam um papel dos atores particulares (agentes econômicos, modelo institucional de gestão compartilhada'4. públicos e privados, e sociedade civil em geral - com especial interesse na eqüidade distributiva e em Isso significa que, na ausência de um modelo mecanismos de inserção das populações marginais, institucional capaz de propiciar o compartilhamento excluídas dos processos econômico e decisório), público-privado da gestão, os instrumentos envolvendo também a estruturação da basejurídico- econômicos tendem a ser reduzidos em sua legal regente - e/ou tradutora - de tais arranjos. potencialidade, sendo 'percebidos' pelos usuários- pagadores como meros impostos ou penalidades Nesses debates, convém reiterar que as questões associadas aos mecanismos tradicionais de ambientais estão associadas a relações mais amplas Comando-Controle aplicados pelo Estado, com as (sociedade versus território) do que o setor público limitações que lhes são inerentes'5. pode (ou deve) abarcar, o que implica, conforme já abordado, em reconhecer os limites de mecanismos Com efeito, ao lado da definição dos níveis de gestão unicamente centrados no aparelho de adequados de preços, os desafios de guindar a Estado. De modo algum, no entanto, isso significa cobrança ao patamar pleno de instrumento de gestão, descuidar das tarefas inescapáveis de promover isto é, como item componente da matriz dos custos melhor desempenho aos instrumentos clássicos de de produção dos usuários, recaem, em grande parte, law-eniforcement até então aplicados. sobre a construção de arranjos institucionais, o que nos conduz ao vetor seguinte. No caso brasileiro e, particularmente, para os recursos hídricos, apenas recentemente dotados de > O Vetor Ético: estrutura institucional própria'", ao contrário das ordens gerais no sentido da desregulamentação, é O vetor ético da sustentabilidade refere-se aos preciso estruturar um aparato regulatório acordos sociais e à representatividade dos múltiplos minimamente competente, sendo o atual muito frágil, interesses e perspectivas relacionadas à gestão do quando não inexistente, o que constitui per si tarefa meio ambiente em geral, e dos recursos hídricos de monta, na medida em que deve ser empreendida em particular. Inscrevem-se, nesse campo, variáveis em meio a insuficiências estruturais, amplificadas associadas à organização formal (instituições e pelas crises fiscais e de gerenciamento do Estado aparato legal) e informal (organizações civis, brasileiro`. interesses difusos, hábitos e costumes decorrentes de tradição e cultura) da sociedade. Vale lembrar, contrariando visões teóricas e voluntaristas, que a legitimidade do poder de coerção Para o interesse da EGRHB, essas variáveis estão constitui força paralela essencial para induzir a nuclearmente referidas a debates sobre a própria disposição para que sejam obtidos os pertinência dos arranjos institucionais envolvendo cOnsensos. A construção dos arranjos institucionais, funções e responsabilidades do setor público e o portanto, não implica no abandono da organização administrativa existente, confiando integralmente a ' Lobato da Costa, F. J (1997). Dinâmica de Conitê' cde Bacia e Agências de Água Comunicação apresentada em 6 No âmbito federal, anteriormente insenda em organismos Mesa Redonda do XII Simpósio Brasileiro de Recursos de setores usuários (DNAEE - Departamento de Águas e Hídncos (ABRH) Energia Elétnca), surgindo a Secretana de Recursos Hídncos, '5 "O benefício potencial dos instrumentos econômicos, em 1995, e a Agência Nacional de Águas, em 2000. contudo, é maior nos países em desenvolvimento, onde os '' Neste contexto, o sistema de gerenciamento de recursos níveisgeraisdecontrolesãomaisbaixos. "BancoMundial hídrícos parece antecipar vetores iimportantes de (1998) Brasil Gestão dos Problemas da Poluição modernização do Aparelho de Estado no Brasil. 3 Conceitos Selecionados 40 I Bra Gestão às novas entidades (comitês e agências de Essas questões apresentam problemas de ordens bacia), que passariam a ser dotadas com todos os diversas - uma discussão das funções e dos limites poderes e instrumentos necessários. governamentais e entre esferas de governo; Essencialmente, significa qualificar as instituições considerações sobre desconcentração ou e a organização original com suas atribuições descentralização de processos decisórios; uma precípuas (fundamentalmente, regulatória e de eventual desconfiança sobre novas receitas fiscais planejamento), criando dispositivos adicionais para a serem instituídas pelo poder público e os critérios uma gestão conjugada, pautada por um patamar mais e resultados de sua aplicação; e, a disposição de avançado de articulação intergovernamental e setores privados específicos em considerar regras interssetorial e pela incorporação de interesses e novas que controlem/regulem as suas atividades'9. agentes particulares (empreendedores e sociedade civil orgamzada), parceiros potenciais de objetivos Evidentemente, não há resposta pronta a todas essas pactuados no âmbito de um novo modelo de gestão indagações. Não obstante, acredita-se que o dos recursos hídricos. tratamento das questões observadas, e de outras que venham a ser suscitadas, será provavelmente Esse caminho abre espaço a uma série complexa mais bem sucedido ao se adotar uma postura aberta de indagações que se mostrarão recorrentes durante e flexível. todas as etapas de definição da EGRHB. Preliinuarmente, pode-se apontar quatro delas: De positivo, pode-se afirmar que, dadas às dificuldades e/ou insuficiências institucionais dos > como serão demarcadas as esferas de setores supervenientes (desenvolvimento urbano e influência da organização político- regional e meio ambiente), bem como a administrativa atual (estados federados) e do inconveniência (para a energia) e/ou descompasso sistema de recursos hídricos (bacias (para o saneamento) de setores intervenientes, o hidrográficas como unidades de planejamento segmento dos recursos hídricos poderá manter e gestão)? posição de relativo destaque frente aos demais, em razão das potencialidades e do vigor que vem sendo > como serão divididas funções entre as esferas demonstrado por seu modelo institucional, ancorado do Poder Público no Brasil (União, estados e em fonte própria de financiamento20. municípios) sobre o território comum delimitado pelas bacias? Dispostos os conceitos de maior interesse para a EGRHB, pode-se, então, formular a articulação > como promover o gerenciamento integrado indispensável entre os três vetores da das águas, sendo que a bacia comporta sustentabilidade: diferentes domínios de corpos hídricos'8? > como serão afetadas as agências setoriais, com lógicas territoriais distintas, que hoje 19 Nucci, N L R., Araújo, R G. e Lobato da Costa, F J operam com razoável liberdade de (1995). JNS -Engenharia e Gerenciamento Proposta planejamento e ação? Técnica ao Modelo de Gestão da Bacia do Alto Iguaçu Programa de Saneamento Ambiental da Região Metropolitana de Cuntiba - PROSAM/PR. 20 "Embora a discussão sobre a gestão da bacia hidrográfica Is Os nos são de domínio da União ou dos estados, no primeiro no Brasil haja tendido a se concentrar em questões de caso, quando servirem de fronteira ou drenarem mais de distnbuição da água, a estrutura que está emergindo pode um temtóno estadual. As águas subterrâneas, por seu turno, ser usada para atender preocupações muito mais amplas " são de domínio estadual. Banco Mundial (1998). Brasil Gestão dos Problemas da Poluição. 41 3 Conceitos Selecionados Fstratégias de Gerenciamento de Recurcos fHidricos no Brasil Arcas de Coopcraçào com o Banco Mundial o conjunto dos interesses econômicos relacionados, direta ou indiretamente, aos processos sociais de apropriação de recursos ambientais, deve ser valorado e distribuído de modo equânime, no contexto de um arranjo institucional que compartilhe responsabilidades e possibilite a ancoragem da gestão sobre tal conjunto de interesses socialmente identificados. Essa nova perspectiva de equacionamento da gestão pela continuidade e pela permanência, significando ambiental alarga o campo de observação até um que o processo não admite descontinuidades, nem vasto número de atores, públicos e privados, os quais limites pré-estabelecidos de duração2"; na dimensão necessariamente expressarão uma sensível espacial, o processo envolve um ambiente interno diversidadedeinteresseseexperiências.Aavaliação ao Estado: as entidades públicas com cuidadosa dos resultados de variadas instituições e responsabilidades estabelecidas sobre a gestão das iniciativas de planejamento regional, no Brasil e em águas (ANA e suas correspondentes estaduais); e outros países, indica que o tratamento moderno a também um ambiente externo: o sistema de ser concedido a esse universo multifacetado é tomá- gerenciamento de recursos hídricos, em sentido lo como um dado permanente da equação. amplo (conselhos, comitês e agências e respectivos instrumentos de gestão), não havendo fronteiras Sob tal tratamento, dois princípios adicionais muito claras delimitando cada um desses ambientes22. parecem adquirir dimensão relevante para os fins da Estratégia que se quer edificar. O pnmeiro refere- Caracteriza-se, por conseguinte, um processo se aos conceitos de administração estratégica e permanente de negociação, como convém a um planejamento estratégico. O segundo envolve esforço de planejamento participativo, focando reflexões aplicadas aos conceitos de subsidiariedade, situações (contingências) objetivas e cenários desconcentração ou descentralização de processos desejados, com suas próprias especificidades, decisórios. segundo metodologias e procedimentos adequados a processos dinâmicos de negociação. 3.3. ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA E PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO 3.4. SUBSIDIARIEDADE, DESCONCENTRAÇÃO E Esses conceitos estão relacionados com o caráter DESCENTRALIZAÇÃO DE PROCESSOS dinâmico do processo de implementação de sistemas DECISÔRIOS de gerenciamento de recursos hídricos. Não se deve esquecer que os processos de planejamento, por sua Entende-se por subsidiariedade23 o princípio segundo natureza, são tentativos e iterativos. Assim sendo, o qual toda a ação que pode ser decidida e cabe a aplicação de uma espécie de lei da implementada em nível local, não deve ser essencialidade, pela qual apenas o fundamental deve ser considerado por antecipação, deixando-se as questões acessórias para a oportunidade em que, 21".. the progress achieved to date is the result of many years então sim, mostrem-se relevantes, no âmbito de uma of effort." Water Resources Sector Strategy. Concept Note abordagem contingencialista. for discussion w,th CODE. 22 Fundação Getúlio Vargas (1998) Política Nacional de A resposta adequada a tais preocupações pode ser Recursos Hídricos una Visão do Processo de conferida pela aplicação de princípios de Implementação. Plano Nacional de Recursos Hídricos, Documento Técnico N.° 05. planejamento e de administração estratégica, 23Correia,F.N etal.(1998).ReportonSubsidíantyandPolicy partindo de duas ordens ou dimensões: na ordem Integration - Subsidiarity in the National Context (paper) temporal, a abordagem estratégica caracteriza-se In. Water 21 Project (Phase II) 3 Conceitos Selecionados 42 submetida à decisão de nível hierárquico superior, transferidas decisões a institutos independentes do decorrendo daí uma divisão funcional que se ajusta governo central, ainda que sob condicionalidades, quanto à esfera mais adequada de implementação destinando-se poder (competências) e, em e acompanhamento, em termos dos arranjos contrapartida, encargos e responsabilidades, a institucionais e dos custos sociais envolvidos. Esse autoridades locais que lhe são periféricas. conceito parece extremamente pertinente quando se pensa na alocação de funções, responsabilidades Por óbvio que a desconcentração não pode ser vista e recursos entre as esferas de governo - federal, em conflito, nem como alternativa à estadual ou municipal - e seus respectivos níveis descentralização, particularmente quando estão em administrativos. questão objetivos de alavancar potencialidades locais endógenas de investimento, pela via da Nesses debates, são comuns resistências e implementação da cobrança pelo direito de uso de questionamentos sobre os limites e vantagens de recursos hídrícos24. Para o êxito da própria gestão processos de descentralização, invocando ganhos dos recursos hídricos, deve-se reconhecer que os de escala ou eventual sobrelevação de custos níveis de arrecadação, via cobrança, tendem a ser decorrentes da duplicação de estruturas maiores quando esta for realizada pelas instâncias administrativas (p. ex., custos duplicados pela locais, com maior proximidade dos usuários- sobreposição de comitês de bacias e de sub-bacias). pagadores. Mais do que isso, a funcionalidade da De outro lado, são apresentados argumentos em cobrança como instrumento de gestão, e não como contraponto à centralização, quase sempre imposto ou penalidade, depende, em larga medida, embasados em prerrogativas absolutas de autonomia dos arranjos institucionais e, por conseqüência, de do poder local. clara estratégia de descentralização na implementação do sistema de gestão. Uma solução conciliatória para esse embate - todavia, precária - consiste em concessões no Essas reflexões parecem conferir elementos para sentido da desconcentração de processos decisórios, a resolução de problemas relativos a dominialidade mediante as quais decisões são regionalizadas dos corpos d'água, assim como oferecem indicativos (como, p. ex., mediante a instalação de comitês de para definições sobre o nível apropriado à gestão macrobacias) sem que, no entanto, a autoridade e das águas no país, dentre as alternativas de privilegiar as responsabilidades deixem de remanescer em macrobacias, bacias regionais ou sub-bacias. 'Como departamentos do poder central. Sublinhe-se que a a maior parte dos problemas ambientais tem uma desconcentração configura, nesses casos, meros natureza local, a gestão descentralizada tem duas processos administrativos que podem até vantagens principais: (a) reduz os custos de incrementar as responsabilidades ao nível regional, informação, os residentes de uma jurisdição não oferecendo, contudo, espaço para a consolidação conhecem melhor seus interesses; e (b) permite que de real autonomia institucional. instrumentos de qualidade ambiental e de política variem de acordo com as regiões e as prioridades e Já o conceito de descentralização implica num limites orçamentários"25. processo mais avançado, mediante o qual são 24 Correia, F. N. et al. (1998) Report on Subsidiarity and Polhcy Integration - Subsidianty in the Natuonal Context (paper) ln Water 21 Projeci (Pliase 11) 25 Banco Mundial (1998) Brasil Gestão dos Problemas da Poluição 43 3 Conceitos Selecion.ados ______________ Á~gua 4 Bases Legal e Institucional 4.1. ANTECEDENTES: UM BREVE em qualquer hipótese, dava-se preferência à HISTÓRICO' denvação para abastecimento das populações. A té início do século XX, o aproveitamento A administração dos problemas de recursos hídricos, /I \da água no Brasil se dava, essencialmente, levando-se em conta os limites de uma bacia I 1.por iniciativa dos agentes privados e para O hidrográfica, não foi, historicamente, uma tradição abastecimento público. Vigorava de forma absoluta no Brasil. Até os anos 70, as questões de recursos o modelo de propriedade conjunta terra-água, sendo hídricos eram sistematicamente consideradas a partir virtualmente ausente o papel de regulação do poder de perspectivas próprias aos setores usuários das público. águas ou segundo políticas específicas de combate aos efeitos das secas e das inundações. A exceção Com a evolução de tecnologia, que permitiu um foi a criação, ao final dos anos 40, da Comissão do uso mais intenso da agua e uma consequente maior Vale do São Francisco, com uma proposta de geração de cargas poluidoras, assim como a desenvolvimento integrado dessa bacia. implantação de obras de engenharia de maior porte, passou a ser mais necessária uma ação de Os grandes projetos hidráulicos e as políticas de gerenciamento. recursos hídricos eram concebidos em cada um dos setores usuários: programa de geração de energia O Código de Águas, estabelecido pelo Decreto hidrelétrica, plano nacional de saneamento, Federal24643 del ode ulhode934foiaprimeira programas nacionais de irrigação, programas de tentativa de regular o aproveitamento da água Esse transportes hidroviários e outros. Esses programas Código, julgado inovador para a época, já foram implantados, a partir dos anos 40, com forte assegurava o uso gratuito de qualquer corrente ou participação estatal e sobretudo da área federal. nascente de água, para as primeiras necessidades Alguns estados, da e fede ral. da ida pemitndoa tdosusa dequasqur áuas Alguns estados, das regiões Sul e Sudeste, mais da vida, permitindo atodos usar de quaisquer águas ncos em potencial hidrelétrico, como São Paulo, públicas, conformando-se com os regulamentos Minas Gerais e Paraná, também criaram suas próprias administrativos. Era impedida a derivação das águas empresas de produção de energia. públicas para aplicação na agricultura, indústria e higiene sem a existência de concessão, no caso de A partir dos anos 70, no entanto, a ocorrência de utilidade pública, e de autorização nos outros casos; sérios conflitos de uso da água começou a suscitar discussões nos meios acadêmico e técnico- Barth, F T. (1999) Evolução nos aspectos institucionais e profissional sobre como minimizar os problemas no gerenciamento de recursos hídricos no Brasil. In O Estado decorrentes. Os conflitos envolviam não só diferentes das Águas no Brasil; Tucci et al. (no prelo). Gestão da setores usuários, como também os interesses de Água no Brasil; Pagnoccheschi, 2000 A Política Nacional unidades político-administrativas distintas (estados de Recursos Hídncos no cenáno da integração das políticas e municípios). Nesse período, o poder se achava públicas. In. Munhoz, H. R. (org ). Interfaces da Gestão de Recursos Hídricos. muito concentrado na área federal, tendo partido 45 Estrategias de Gerencíamento de Recursos Hidncos no Brasil Arcas de Cooperação com o Banco Aíundial justamente de técnicos do Governo Federal a quanto da evolução da natureza dos próprios iniciativa de se criarem estruturas para gestão dos problemas de recursos hídricos, que passaram a ser recursos hídricos por bacia hidrográfica. mais complexos e a demandar uma maior participação direta da sociedade para sua solução. Nesse campo, uma primeira experiência significativa foi a assinatura, em 1976, do Acordo Em 1991, é aprovada a lei de recursos hídricos do entre o Ministério das Minas e Energia e o Governo estado de São Paulo. Nesse mesmo ano, o governo do Estado de São Paulo para a criação do Comitê federal encaminha ao legislativo o primeiro projeto do Alto Tietê, cujo objetivo era o de buscar, a partir de lei criando o Sistema Nacional de Recursos da operação das estruturas hidráulicas existentes Hídricos e definindo a Política Nacional de Recursos para produção de energia, melhores condições Hídricos, a qual terá como primeiro relator o sanitárias nas bacias dos rios Tietê e Cubatão, no Deputado Fábio Feldman. Alguns estados como Estado de São Paulo. Ceará, São Paulo e Rio Grande do Sul avançaram bastante na implementação de seus sistemas de Deve-se registrar que, no período de 1976-83, gestão das águas. importantes decisões foram tomadas durante a vigência desse Acordo, entre as quais a reforma A tramitação do projeto de lei federal prossegue, de barragens e a definição de regras operativas de com ocorrência de debates, seminários e audiências reservatórios, objetivando controle de cheias e públicas. Como marco do reconhecimento político abastecimento de água da Região Metropolitana de da importância da área de recursos hídricos, o São Paulo. A partir de 1983, o Comitê do Alto Tietê Presidente Fernando Henrique Cardoso cria, em diminui seu ritmo de atuação, coincidindo com o 1995, o Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos período de democratização do País, em que ocorre Hídricos e da Amazônia Legal, com uma Secretaria maior descentralização, com ganho de maior poder de Recursos Hídricos. por parte dos estados e perda de influência do nível federal no processo. O Deputado Aroldo Cedraz substitui o Deputado Fábio Feldmann nas funções de relator do projeto Datam desse período, de maior centralização de lei federal, apresentando um substitutivo em administrativa, as iniciativas conduzidas pelo Comitê fevereiro de 1996, no qual incorpora uma proposição Especial de Estudos Integrados de Bacias mais flexível de gestão das bacias hidrográficas, Hidrográficas - CEEIBH, constituído conjuntamente propiciando contemplar as diversidades regionais pelos Ministérios de Minas e Energia e do Interior do país. (ver item 4.4), que resultaram na criação de mais de 10 comitês de rios federais. Finalmente, votada pela Câmara e pelo Senado, foi promulgada a Lei n° 9.433, de 8 de janeiro de 1997, A partir do processo de redemocratização no Brasil que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e da nova Constituição, de 1988, que deu maiores e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de poderes para estados e municípios, assiste-se, hoje, Recursos Hídricos. Essa lei culminou em um longo no País, a uma nova etapa no processo de gestão processo de avaliação das experiências de gestão dos recursos hídricos. de recursos hídricos e de formulação de propostas. Trata-se de um marco histórico, de grande Novas organizações foram criadas, fruto tanto da significado e importância para a gestão dos recursos evolução do quadro político-institucional do País, hídricos no Brasil. 4 Bases Legal e Institucional 46 dra 4.2. OS AVANÇOS RECENTES NA As dificuldades em se prosseguir na implementação CONSTITUIÇÃO DE UMA BASE LEGAL da lei têm proporcionado lacunas de PARA O GERENCIAMENTO DOS regulamentação que persistem como grandes RECURSOS HIDRICOS NO BRASIL E A fragilidades do SINGRH, a exemplo da lei que COORDENAÇÃO REGULATÓRIA COM deveria tratar sobre as Agências de Água. SETORES USUARIOS Uma outra estratégia adotada para buscar superar Transcorridos mais de cinco anos da promulgação as deficiências associadas à implementação do da Lei Federal n° 9.433/97, pode-se proceder a uma SINGRH consistiu em conceber a criação da avaliação sobre sua implementação. Embora seja Agência Nacional de Águas - ANA, como inegável a evolução do quadro legal e institucional, instituição reguladora do uso e do aproveitamento observam-se atrasos e deficiências significativas no da água. A ANA é uma agência com autonomia processo de implementação da Lei. administrativa e financeira vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, com a principal missão de Parte dessas dificuldades são devidas às própras implementar o SINGRH. A Agência foi criada pela característlcas da Lei 9 433, que remeteu a Lei Federal n° 9.984, de 18 de julho de 2000, e legislação complementar o detalhamento e a instalada por intermédio do Decreto n° 3.692, de regulamentaçao de uma série de aspectos dezembro de 2000 (ver item 4.5). essenciais do novo modelo institucional proposto. Em adição à regulamentação específica do sistema Outra parte dessas dificuldades se originou da de recursos hídricos, cabe ressaltar que muitos dos própria limitação da administração federal em se problemas presentes somente poderão ser organizar para coordenar o processo de efetivamente equacionados mediante a implementação do SINGRH - Sistema Nacional de etia neequainds mdat Gperencimentação de SINGRecurssHíSicosta poceson e consolidação de regulamentação própria aos setores Gerenciamento de Recursos Hídricos, processo esse usuários das águas, com destaques particulares para que demandava (e demanda) grande capacidade a geração hidrelétrica e para o saneamento. de planejamento e negociação. No caso da geração hidrelétrica, a existência das Com vistas a superar essas difculdades, algumas agências ANA e ANEEL (Agência Nacional de estrategias foram adotadas. Uma delas consistiu Energia Elétrica), ambas de âmbito federal, deverá em avançar na regulamentação pela via de propiciarasinergiadeprocedimentoseanecessária resoluções do CNRH - Conselho Nacional de coordenação regulatória, indispensáveis para a Recursos Hídricos. Essa opção tem gerado abordagem de problemas relacionados à questionamentos relativos ao que deveria ser pauta disponibilidade hídrica e à resolução de conflitos de de deliberação do Conselho e ao que deveria ser usos múltiplos (principalmente da energia frente à objeto de regulamentaçao por intermedio de irrigação, mas também, com a navegação, o controle decretos do Executivo, de cheias e outros). 47 4 Bases Legal e Institucional Estratégias de Gerenciamento de Recursos Hidricos no Brasil Arcas de Cooperação com o Banco Mllundial Box 4.1 - Recursos hídricos e geração de energia O sistema gerador de eletricidade no Brasil é predominantemente hidráulico. Esta tendência tem diminuído nos últimos anos. A percentagem de geração hidrelétrica já chegou a 96% no ano de 1992, tendo gradativamente caído para os 86% no ano de 2001 Em função da crise de energia de 2001, ocasionada por uma situação hidro-climatológica anômala associada à super utilização dos reservatórios de acumulação de água, houve uma falsa expectativa de que a geração térmica ina prevalecer na expansão do parque gerador brasileiro. A tendência para os próximos anos, pelo menos até o horizonte 2010, é de se manter a atual participação hidráulica no parque gerador brasileiro (CCPE, 2001 - ver figura). Os sistemas de geração hidrelétrica das regiões Sul, Sudeste-Centro-Oeste, Nordeste e Norte encontram-se interligados para possibilitar o sínergismo hídrológico das diferentes regiões. As principais características desses sistemas de geração e transmissão são: reservatónos com regularização multi-anual, grandes distâncias entre as usinas de geração e os centros de carga, bacias hidrográficas com diversidade hidrológica possibilitando sinergismos, grau muito grande de integração elétrica entre subsistemas e um grande potencial de desenvolvimento hidrelétrico, notadamente na Amazônia. Entretanto, ainda persistem algumas limitações para a transferência elétrica entre os subsístemas, que impediram, na crise de 2001, um balanceamento maior entre o excesso de energia no Sul e a escassez de energia no Sudeste e Nordeste 2000 0 Fonte Potencial Custo 06 GW-ano GW (US$/1MWh) 19 123 5 2470O 33% menor que 40 7 4 Hidro 29% enire 40 e 70 28 % maior que 70 Carvão 120 180s 50 a70 20 O-W Nuclear 150o 250O 60 a 70 2008 2002 2003 2i0 2005 ZiC 2i7 2008 200 2010 O3fPoRT IfODO 2420 3 200 3 220) 320( 1 200 3 200 9 200 3 200 3 200 flSAL ii 115 175 175 175 175 175 175 175 75 Total 1505 2900 oT R4fO 9D 02 518 ,7M5 1745 17345 17345 1735 7345 7345 iS654 36'1DR 0 í o 971 1. 359 67906 SI 274 72174 7479 77 023 02 BIS 00379 03291 Considerando-se o plano de expansão do sistema, preconizado pela ELETROBRAS para o ano 2015, os recursos elétricos brasileiros por diferentes fontes geradoras estão mostrados na Tabela acima. Pode-se observar que praticamente a única alternativa economicamente viável para os próximos anos é hidroeletricidade. Assim, e considerando o plano de expansão do CCPE, a ANEEL deverá concessionar usinas hidrelétricas por diversas razões que incluem: o grande potencial disponível a custos significativamente inferiores a outras alternativas, fonte renovável cujo custo de operação não está sujeito a oscilações de preço de combustível no mercado internacional, disponibilidade de pessoal técnico qualificado no país para projetar, construir e operar as usinas, possibilidade de uso múltiplo dos reservatórios (abastecimentos doméstico e industrial, irrigação, controle de cheias, turismo e lazer) melhorando a economia nacional em diferentes setores. Até meados da década de 90, o sistema elétrico brasileiro era praticamente estatal e altamente centralizado. A ELETROBRAS, empresa pública brasileira, se encarregava do planejamento e operação do setor. Em 1996, o Ministéno das Minas e Energia (MME) contratou o consórcio liderado pela Coopers & Lybrand que, com a participação de profissionais do setor, apresentou proposta para uma ampla reforma do setor elétrico. Esta reforrna caractenza-se por uma abertura ao capital privado na área de distribuição e geração de eletricidade. A partir de 1995, com a edição das Leis de Concessões (n's. 8.987 e 9.074) e a aprovação do Programa Nacional de Desestatização (PND) - e sua 4. Bases Legal e Institucional 48 ~B1 (continuação Box 4 1) extensão para os Programas Estaduais de Desestatização PED - o processo foi acelerado e hoje, na maioria dos Estados, a distnbuição de energia já é realizada por empresas privadas. Pela Lei 9.427, de 26 de dezembro de 1996, foi criada a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e teve início a consolidação de uma nova postura do Estado, que passou a ser o regulador e fiscalizador das políticas do setor. O planejamento da expansão do sistema fica ao encargo do Comitê Coordenador do Planejamento da Expansão de Sistemas Elétricos do Ministério de Minas e Energia - CCPE, responsável pela formulação da política e o planejamento da expansão da geração de eletricidade. Constituiu-se o Mercado Atacadista de Energia (MAE), organismo responsável pela implantação e operação dos contratos de suprimento de longo prazo do setor e fórum onde se processam os negócios do mercado spot, e o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), coordenador e controlador da operação da geração e transmissão de energia elétrica nos sistemas interligados, zelando pela sua otimização. Ambos (MAE e ONS) são entidades privadas e foram colocados em vigência mecanismos de regulamentação, desde a geração, passando pela transmissão, comercialização e distribuição da energia, direcionados a um mercado de livre concorrência. As concessões dadas pela ANEEL passam por um processo de consulta à Agência Nacional de Águas - ANA para certificar a disponibilidade hídrica da bacia hidrográfica. À ANA compete analisar outros usos da água no âmbito das bacias e compatibilizar os interesses locais, regionais e nacionais. Nota-se, portanto, que o uso da água para a hidroeletricidade continuará a ser preponderante no futuro próximo. Além disso, o setor tem uma nova organização institucional muito mais complexa envolvendo instituições privadas e estatais e está requerendo investimentos vultosos para fazer frente à demanda energética brasileira. Ao mesmo tempo, o interesse do país no uso múltiplo de seus recursos hídricos, irá requerer por parte da ANA uma competência ainda não disponível no Brasil. O setor elétrico capacitou maciçamente profissionais na década de 70 e chegou a um grau de eficiência comparável ao do primeiro mundo. Hoje, a ANA para fazer frente às demandas múltiplas para uso dos recursos hídricos terá que fazer o mesmo, só que na velocidade exigida pelos conflitos iminentes. Para tomar ainda mais complexas as relações entre recursos hídricos e energia, nota-se que mais de 50% de nosso potencial hidrelétrico está localizado na Bacia Amazônica, em particular no estado do Pará. A capacidade de transferência de energia entre a região Amazônica e as regiões Norte e Nordeste é maior que 5.000 MW e o sudeste/ centro-oeste varia entre 3 000 e 6.000 MW dependo dos cenários de demanda energética. Com a inclusão de Madeira e Tapajós, existe a possibilidade de se transfenr outros 1 1.000 MW. Quatro hidrelétricas podem supnr esta energia: Belo Monte (11.000 MW) e Altamira (5.720 MW) no Xingu; TA- 1 (9 528 MW) na bacia do no Tapajós e MR- 1 (6.854 MW) na bacia do Madeira. O relatório da Comissão Mundial de Barragens (2000) discorre sobre uma sucessão de casos em que, no passado, barragens foram construídas tendo em vista somente aspectos econômicos, resultando em danos sociais e ambientais consideráveis. Esses exemplos têm sido utilizados por grupos ambientalistas para justificar sua oposição à construção de novas barragens. Parece prudente que, no processo de construção destas hidrelétricas, importantíssimas para o desenvolvimento do país, a análise seja feita ao nível da bacia hidrográfica, dentro de um contexto de tomada de decisão com objetivos múltiplos que incorporariam não só as perspectivas econômicas, mas também aspectos sociais e ambientais Todos esses aspectos deveriam ser considerados desde as fases iniciais do aproveitamento, para evitar a necessidade de medidas mitigadoras preconizadas nos relatórios de impacto ambiental. Nesse sentido, não parece recomendável a utilização de indicadores simplistas como, p. ex., a relação área inundada por MW instalado, ou número de pessoas reassentadas involuntariamente, para decidir sobre a conveniência ou não de uma usina hidrelétrica. Novos paradigmas, como a inserção regional do projeto ao nível da comunidade local e os usos múltiplos de recursos hídricos, devem compor o processo decisório da localização de aproveitamentos hidrelétricos. 49 4 Bases Legal e Institucional Estrategias de Gerenciamento de Recursos Hídncos no Brasil Arcas de Cooperação com o Banco Mlundial No que tange ao estabelecimento de um marco questão. Vale lembrar que o setor possui faturamento regulatório para o setor saneamento, sem dúvidas, da ordem de R$ 13 bilhões anuais. as dificuldades são maiores. A começar pelas questões envolvendo a titularidade municipal, o que Sem embargo dessas dificuldades, o estabelecimento exige a construção de um modelo institucional a de uma regulação própria ao setor saneamento partir de perspectivas locais, passando pela passa a ser relevante para a gestão dos recursos construção de consensos de âmbito regional hídricos quando se considera que, dado o caráter (especialmente em aglomerações urbanas e regiões monopolista da prestação de serviços, é possível que metropolitanas), até chegar ao escopo da atuação parte das ineficiências operativas dos complementar dos estados e suplementar da União. concessionários seja encoberta, se a parcela relativa Recentemente, iniciativas de colocar esses e outros à cobrança pelo uso da água, como item incorporado temas do saneamento em debate, mediante o projeto às tarifas, venha a ser simplesmente repassada aos de lei n" 4.147, mostraram-se extremamente difíceis, consumidores finais, sem considerações sobre o dado os aspectos ideológicos envolvidos e os desempenho dos operadores de sistemas. elevados interesses políticos e financeiros em Box 4.2: Recursos hídricos e as questões institucionais do setor de saneamento Diversamente do que ocorreu em outras áreas de infra-estrutura pública, como energia e telecomunicações, que passaram por processos agudos e abrangentes de privatização, as intenções governamentais de reforma estrutural dos serviços públicos de saneamento básico - estritamente, abastecimento de água e esgotamento sanitário - apresentaram, até o momento, efeitos bastante reduzidos. Em larga medida, a escassez de resultados ongina-se da dificuldade de revisar a questão-chave da titularidade sobre os serviços, reconhecidamente pertencente aos municípios quando da prestação de serviços caracteristicamente locais, e mal definida quando de regiões metropolitanas e outras aglomerações urbanas. A iniciativa do Executivo federal anterior para a solução desta pendência, através de projeto de lei n° 4.147 (no essencial, a atribuição aos estados da competência sobre os serviços de âmbito regional), gerou intensa polêmica e abriu oportunidade a um projeto substitutivo de corte municipalista, terminando o assunto por ser retirado da pauta de discussão e votação do Congresso, com poucas possibilidades de reexame no ano de 2002. Nesta busca de definição para a titularidade sobre os serviços, dois propósitos são relevantes: (i) a formação de mercados que possibilitem ganhos de escala e a provisão de um serviço econômica e financeiramente auto-sustentável (as aglomerações metropolitanas e similares abrigam cerca de metade da população urbana brasileira), e, (u) o estabelecimento de condições para a existência de um marco regulatório melhor definido, estímulo indispensável à prestação de serviços mais abrangentes e eficientes Sob o aspecto prospectivo, é difícil avaliar o futuro institucional do setor. tanto um próximo governo poderá retomar a finalidade de reforma estrutural da prestação dos serviços, quanto optar por uma postura de mudanças mais gradativas, em apoio a políticas fixadas mais regionalmente, e sob a pressão de situações localizadas e bem definidas de oferta inadequada dos serviços Com a dificuldade das reformas, mantém-se a predominância de instrumentos básicos do Planasa - Plano Nacional de Saneamento (instituído em 1971)' recursos vinculados ao setor, provenientes do Fundo de Garantia por Tempo de 4 Bases Legal e Institucional 50 continuação Box 4.2 Serviço e companhias estaduais públicas de saneamento. Organizações municipais prestadoras de serviços - os casos de concessões privadas, efetuadas quase sempre por municípios, são ainda de abrangência residual - atendem um universo populacional menor (ver tabela Anexo II) Sob o aspecto financeiro, os seguintes itens podem ser ressaltados: (i) As receitas totais das companhias estaduais e de organizações munmcipais, para as quais se dispõe de informação, apresentam pequena margem positiva em relação às despesas totais. No entanto, apenas 10 das 27 empresas estaduais vêm apresentando superávit, o que indica baixa geração de recursos próprios para investimento e consequente dependência de aportes financiados ou transferidos. Há pouca margem para a elevação das tarifas atualmente praticadas, (ii) Por outro lado, a expansão dos sistemas, à parte as estruturas de tratamento de efluentes, é feita a custos crescentes, por restrições de mananciais (muitos afetados por usos urbanos), pela elevação recente de padrões exigidos para a qualidade da água e pela incorporação de novos usuános predominantemente de menor consumo médio e baixa renda; (iii) Medidas de contingenciamento de aportes novos do FGTS, situação de endividamento de governos e companhias estaduais e problemas da Caixa Econômica Federal com os termos do Acordo da Basiléia (excessiva exposição a número reduzido de devedores, assuntojá equacionado) ocasionaram um fluxo irregular do principal recurso de financiamento para o setor, problema parcialmente contornado pela elevação de dotações fiscais em anos recentes. O futuro do setor dependerá, em boa medida, das definições institucionais mencionadas e da natureza ou intensidade das reformas a serem implementadas. A par da manutenção da meta de universalização do atendimento de água, uma atenção especial devena ser requerida para os seguintes temas: (i) Vinculação dos recursos do FGTS e de transferências de recursos fiscais da União à políticas de melhoria generalizada de eficiência dos prestadores de serviços (institucionais, técnico-operacionais e econômico- financeiras); (ii) Reavahação das metas de atendimento com sistemas coletores e de tratamento de esgotos, com estudo de incentivos à adoção de sistemas alternativos (mantendo normas ambientais e de saúde pública, reduzindo custos de investimentos e adequando os sistemas às necessidades locais e às restrições de orçamentos familiares); (iii) Reforço ao programa da Agência Nacional de Águas de despoluição de bacias hidrográficas, com base no pagamento pelos esgotos tratados; (iv) Concentração de esforços no melhor rendimento operacional de sistemas de tratamento de esgotos já implantados; (v) Gestão da demanda de água, com incentivo ao seu uso racional, e consequente redução de impactos ambientais e de investimentos em ampliação de sistemas; (vi) Estruturação e financiamento de programas articulados de gestão temtorial, desenvolvimento urbano e proteção ambiental para casos críticos de impactos sobre mananciais de abastecimento por expansão e pobreza urbana. 51 4 Bases Legal e Institucional Estratégias de Gerenciamenso de Recursos Hídncos no Brasil Arcas de Cooperaçào com o Banco Mundial 4.3. GESTÃO DE RECURSOS HiDRICOS NOS A avaliação qualitativa das capacidades institucionais ESTADOS: A FRAGIUDADE DAS INSTITUIÇÕES instaladas nas diversas unidades da federação toma- se, então, fundamental para o delineamento da Vinte e dois estados brasileiros e o Distrito Federal já Estratégia aqui em pauta. Diante da inexistência de aprovaram leis que instituem políticas e sistemas levantamentos recentes, com a abrangência necessária estaduais de gerenciamento de recursos hídricos2, para os propósitos de uma EGRHB, adotou-se, para definindo as entidades governamentais responsáveis uma avaliação em primeira aproximação, uma pelo desempenho das tarefas próprias ao poder público metodologia baseada em entrevistas com profissionais estadual. Alguns estados da região Norte são, portanto, selecionados, detentores de conhecimento privilegiado os únicos que ainda não formularam suas leis, fato a cerca das realidades locais, de modo a capturar suas compreensível face à natureza distinta dos problemas percepções quanto àbase legal, ao aparato institucional daquela região, onde são abundantes os recursos e à base de informações existentes em cada um hídricos e os conflitos associados ao seu uso daqueles estados e no Distrito Federal. virtualmente ausentes. Foram entrevistadas 60 pessoas, três em cada unidade Tendo em vista a dimensão continental do país, suas pesquisada, duas pertencentes ao órgão gestor (uma especificidades regionais, regime político federativo e em cargo de direção e outra, técnico-operacional) e a divisão constitucional de titularidade das águas, uma não diretamente ligada à instituição, de forma a dividida entre a União e os estados, fica evidente a obter uma avaliação externa3. importância dos órgãos estaduais gestores de recursos hídricos, parceiros fundamentais na implementação de Os principais problemas identificados nessa pesquisa um Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos são apresentados no Tabela 4.1. Hídricos integrado e competente. Tabela 4.1 - Avaliação institucional qualitativa dos órgãos gestores estaduais Principais Problemas Evidências, observações e exemplos associados Em apenas 5 das 20 UFs houve consenso ao considerar a base legal consistente e completa o4 Houve expressivo avanço na Ç aprovação das leis, mas ainda há Em 12 UFs, a base legal foi considerada em consolidaçio, com a lei tida como consistente, 4 problemas associados às porém carente de melhor regulamentação A grande maiona dos entrevistados, no entanto, : regulamentações acredita que as inconsistências legais remanescentes não são determinantes para as t4 dificuldades pnncipais associadas à gestão de recursos hídncos A maiona dos órgãos gestores é da administração direta, Secretanas de Estado específicas de recursos hidncos (AL, CE, PE, RN), de meio ambiente e recursos hídncos (PB, PI, DF, GO), ou departamentos em outras secretanas (MA, SE, ES, SC, RS) Outros estão na administração indireta, porém em departamentos do órgão ambiental (MT, MS) o Ausência de efetiva autonomia Outros estados adotaram a solução de autarquias estaduais (BA, MG, SP, PR), que, apesar de X administrativa e financeira legalmente autônomas, também sofrem com as amarras administrativas impostas pelos regimentos do direito público A COGERH (CE) e a SERLA (RJ) são regidas pelo direito pnvado, mas pouco têm usufruído desta condição, tendo suas administrações fortemente condicionadas pelas secretanas a que estão vinculadas s:a Em apenas 5 UFs a visibilidade e importáncia institucional do órgão gestor foram Instituições ainda pouco consideradas alta Em 13 UFs, os órgãos foram considerados não consolidados e com consoldadas como gestoras dos atnbuições e responsabilidades pouco reconhecidas no govemo e/ou sociedade em geral Em recursos hiddico$ 2 estados (MG e DF) não houve consenso quanto a esse quesito 2 oMato Grosso do Sul teve sua lei aprovada em dezembro de 2001, mas ainda não sancionada pelo Poder Executtvo estadual. O Pará dispõe de let que trata da política de mineração e hídrica do Estado, não específica para recursos A metodologia e o questionário utltzados nas entrevistas são hídricos e bastante distinta das demais legislações estaduais. apresentados no Anexo III. 4. Bases Legal e Institucionral 52 (continuação) Principais Problemas Evidências, observações e exemplos associados Equipes técnicas inadequadas Em 9 das 20 UFs, as equipes técnicas foram consideradas inadequadas, em 10 foram para responder às atdbuições e consideradas altamente inadequadas e em 1 (MS) não houve consenso Em nenhum Estado prespons der dosatriç se houve consenso considerando a equipe apropnada Dos 60 entrevistados, apenas 4, em gestores diferentes Estados, consideraram suas equipes condizentes em face às responsabilidades da instituição. Em 11 Estados, houve consenso quanto à ongem federal preponderante dos recursos que sustentam as atividades da instituição Nesses Estados, a segurança e a regulandade do aporte Os Estados ainda dependem de recursos foram consideradas de média a baixa, com grande incerteza quanto à fortemente de recursos disponibilidade de recursos a cada ano Em apenas um caso (RS), o fluxo de recursos foi financeiros federais, com a considerado regular e garantido, tendo sua ongem identificada como repasses federais da segurança e regulandade do compensação financeira do setor elétnco aporte de recursos sendo, em geral, média a baixa Entre os 7 Estados em que a origem pnncipal dos recursos foi identificada como estadual, apenas em 2 a segurança e regulandade do fluxo de recursos foram consideradas altas (SP e RJ) Monitoramento e fiscalização foram as atividades mais citadas (38 em 136 citações) entre as Atividades de monitoramento e mais prejudicadas pela falta de um aporte regular de recursos financeiros A manutenção da fiscalização e a manutenção da infra-estrutura existente foi a segunda atividade mais citada (24 em 136) infra-estrutura existente são as Considerando apenas as entrevistas nos estados nordestinos, o item mais citado como mais prejudicadas por falta de prejudicado foi a manutenção da infra-estrutura (20 em 75), o que revela o estado de recursos regulares abandono da infra-estrutura existente e põe em dúvida a segurança e a sustentabílídade das disponibilidades hídncas mobilizadas por essa infra-estrutura hidráulica Em todas as UFs, as redes de monitoramento da quantidade de água (fluviometna, pluviometna, níveis de reservatónos, etc ) foram consideradas insuficientes em termos de As redes de monitoramento de cobertura Em 12 UFs, no entanto, a rede foi considerada bem operada e em 8, mal operada quantidade e qualidade da água são deficientes Quanto à qualidade da água, a situação se repete com uma exceção, Pemambuco, em que os entrevistados consideraram a rede suficiente e bem operada Nas demais UFs, o conceito prevalecente foi o de insuficiente, bem operada em 12 e mal operada em 7 lo A fiscalização dos usos da água não é sistemática, dificultando a Em nenhuma das UFs foi apontada a existência de fiscalização sistemática dos usos da água. atualização e venficação dos Em 9 UFs existe fiscalização eventual, normalmente em função de denúncias Em 11 Estados, cadastros de usuánoos e o a fiscalização é praticamente inexistente fortalecimento da outorga Em 11 UFs foi apontada a inexistência de sistemas de informações implantados capazes de A maioria dos Estados não auxiliar os processos de tomada de decisão dos órgãos gestores dispõe de sistemas de Em 5 estados (CE, RN, MG, SP, PR) foi relatado que os sistemas existem e são atualizados informação implantados regularmente Em outros 4 estados (PB, PE, PI, SE), existem sistemas de informações, porém sem atualização regular UF Unidade da Federação 53 4 Bases Legal e Institucional Estra«tgsas de Gerenciamento de Recursos Fidricos no Brasil Areas de Cooperaçào com o Banco Mundial A Figura 4.1 apresenta a evolução da Ceará, Paraná, Minas Gerais e São Paulo, que participação percentual de órgãos gestores de estão entre os mais avançados em termos de recursos hídricos nos orçamentos estaduais gestão de recursos hídricos. executados entre 1997 e 2000, nos Estados do Orçamento Executado (Orçamento do Órgão Gestor / Orçamento Geral do Estado) 3,5% - 3,0% -__ 2,5% - -m- Ceará -SR 2,0% - Paraná - SUDERHSA --M Minas Gerais - IGAM 1,0% _-- São Paulo - DAEE 0,5% 0,0% 1997 1998 1999 2000 Ano Orçamento Executado (Orçamento do Órgão Gestor* / Orçamento Geral do Estado) 3,5% 3,0% - 2,5% - _ Ceará - SRH 2,0% - Parana - SUDERHSA 1 ,5% ~--Minas Gerais - IGAM São Paulo - DAEE 1,0% 0,0% 1997 1998 1999 2000 Ano * Descontados os valores relativos a investimentos Figura 4.1 - Participação orçamentária de órgãos gestores nos orçamentos estaduais 4 Bases Legal e Institucional 54 Água llBlras A Figura 4.2 apresenta, para os Estados do Ceará e O gráfico é apresentado de forma parametrizada em Paraná, uma análise sobre a variação dos orçamentos relação ao valor mínimo observado no período de executados dos órgãos gestores em termos de: (i) 1997 a 2000, para cada uma das variáveis analisadas. gastos totais; (ii) gastos na categoria investimentos; Sua avaliação permite constatar uma acentuada e (iii) gastos totais excluindo os investimentos, assim irregularidade no aporte de recursos.4 como (iv) a variação do percentual em relação ao orçamento executado total do Estado. Estado do Ceará SRH o 5,0 E 4,0 o a -- ~~~~~~~~~~~~~~~~~Total Executado 8 3,0C_ =- Investimento E 2,0 - ///-_ Total-Investimento __________ __________ __________ __________ __________ z I -X % O rçam ento do Estado ,1,0. > 0,0 1997 1998 1999 2000 Ano Estado do Paraná SUDERHSA o 5,0 - E4,0 2 o a -M- Total Executado .8 / O / = Investimento ; 2,0 -4_-- Total-Investimento E_____________________________________ s-fO % Orçamento do Estado o > 0,0 1997 1998 1999 2000 Ano Figura 4.2 - Análise da varabilidade do orçamento executado, Ceará e Paraná, 1997 a 2000 4Os dados de execução orçamentária constam da Tabela II 21 55 4 Bases Legal e lnstitucional Estrategias de Gerenciamento de Recursos Hídricos no Brasil Arcas de Cooperaçao com o Banco Mundial Box 4.3: Avaliação dos sistemas de outorga em Estados selecionados Recentemente, o Banco Mundial, com o apoio do World Bank - Netherlands Water Partnership Program (BNWPP), financiou um estudo para avaliação do suporte à decisão para outorga Ceará de direitos de uso da água em utilização no Brasil. Foram Penmbc pesquisados os seis estados que mais avançaram na aplicação n Pernambuco da outorga e no uso de sistemas de suporte à decisão (São Paulo, Bahia, Paraná, Ceará, Minas Gerais e Pernambuco). Com isso, a amostra pôde contemplar diferentes realidades existentes no país no que se refere ao desenvolvimento institucional do setor de recursos hídricos, ao estágio de Bahia implantação da outorga e do sistema estadual de gerenciamento e aos problemas predominantes- qualitativos no Sul/Sudeste e tnas quantitativos no Nordeste. Foi pesquisada, também, a ais implantação da outorga no nível federal. Paraná São Paulo A capacidade institucional instalada vana muito de um estado para outro De um modo geral, os órgãos gestores dos recursos hídricos, responsáveis pela outorga, apresentam limitações de recursos e, sobretudo, de pessoal, exceto São Paulo, que conta com estrutura de maior porte no DAEE. Entre os demais, Paraná e Bahia apresentam equipes de outorga mais bem estruturadas, enquanto que nos restantes existem sérias limitações, tanto no número quanto no perfil dos técnicos envolvidos Um dos problemas mais sérios que os estados têm enfrentado na implantação de seus sistemas de gerenciamento e, especificamente, da outorga de direitos de uso da água, é a deficiência da base de informações técnicas disponíveis. De um modo geral, o monitoramento de quantidade e qualidade da água é limitado e os dados existentes muitas vezes são sub-aproveitados por falta de uma sistematização adequada. Nos estados do Nordeste, há um número insuficiente de estações fluviométncas e pouca informação sobre a capacidade dos aqüíferos existentes, limitando bastante o conhecimento das disponibilidades hídrícas e, em consequência, reduzindo a credibilidade do instrumento de outorga No Sul/Sudeste, as disponibilidades hídncas são mais bem conhecidas e monitoradas, mas persiste a limitação quanto ao monitoramento da qualidade da água. Algumas das deficiências encontradas, p ex., no que diz respeito à base de informações, à manutenção de uma equipe adequada, à ausência de fiscalização sistemática, ou ao tratamento dos aspectos de qualidade da água e da outorga de águas subterrâneas, estão intimamente relacionadas à falta de autonomia financeira das instituições. Esta limitação está associada não só ao montante total de recursos alocados, como também, à irregularidade desses recursos, que muitas vezes chegam em espasmos. O processo de outorga é um processo contínuo que está sempre em evolução. Nesse caso, o fluxo regular de recursos é fundamental para que se possa planejar o que fazer e como fazer, inclusive sobre o desenvolvimento de sistemas de suporte à decisão (SSD) A solução para esse problema passa, necessariamente, pelo aspecto financeiro e, sobre isto, a política nacional prega e as experiências internacionais bem sucedidas mostram, que a cobrança pelo uso dos recursos hídncos é uma das pnncipais alavancas para a consolidação dos sistemas de gestão. A avaliação realizada permitiu a indicação de algumas recomendações para projeto, concepção e implementação de novos sistemas de suporte à decisão para outorga: (i) clareza na definição dos objetivos e das funções do SSD; (li) discussão ampla e sintonia entre tomadores de decisão e técnicos; (iii) capacitação e dimensionamento adequado das equipes; (iv) flexibilidade do suporte à decisão; (v) organização, tratamento e atualização das informações disponíveis; (vi) tratamento adequado das questões de qualidade da água; (vii) ampliação e melhoria da base de informações para outorga de águas subterrâneas; (viii) modelagem adequada dos sistemas de reservatórios; (ix) eficiência e facilidade de uso dos recursos de análise; e, (x) adequação na comunicação dos resultados. Além disso, foram enumerados requisitos mímmos que devem ser verificados antes de se desenvolver e implantar um SSD específico para outorga. Esses requisitos foram agrupados em três dimensões: do problema a analisar (conhecimento e caracterização das decisões), da informação (conhecimento e organização da base de dados e informações) e do usuário (existência de equipe com potencial para assimilar a tecnologia). 4 Bases Legal e Institucional 56 4.4. PARTICIPAÇÃO SOCIAL E Especial de Estudos Integrados de Bacias DESCENTRALIZAÇÃO INCIPIENTE: A Hidrográficas (CEEIBH), em 1978, pela Portaria EXPERIÊNCIA DOS COMITÊS Interministerial no 90, de 25 de março de 1978. O CEEIBH teve como objetivo principal "a Os Comitês de Bacias Hidrográficas são órgãos classificação dos cursos de água da União, o estudo colegstados egrados por representantes da União, integrado e o acompanhamento da utilização racional dos Estados e do Distrito Federal, e dos Municípios dos recursos hídricos das bacias hidrográficas dos - cujos territórios se situem, ainda que parcialmente, rios federais, o aproveitamento múltiplo dos cursos em suas respectivas áreas de atuação -, dos usuários d'água e a mitigação de conseqüências nocivas à da água da bacia e de entidades da sociedade civil, ecologia da região". A partir de 1979, foram criados A proporcionalidade entre esses segmentos foi mais de dez comitês, com destaque para os das definida pelo Conselho Nacional de Recursos bacias hidrográficas dos rios Paraíba do Sul, São Hídricos,atravésdaResoluçãon005,de lOdeabril Francisco, Doce, Grande, Mogi-Guaçu e de 2000, que estabelece diretrizes para formação e Paranapanema. funcionamento dos Comitês. Segundo a Resolução, o Comitê deve ser composto por 40% de Esses comitês eram essencialmente integrados pelo representantes dos usuários da água, no máximo Poder Público, com a participação exclusiva de 40% de representantes dos govemos municipais, técnicos do Estado. A inserção de municípios e da estaduais e federal e, no mínimo, 20% da sociedade sociedade civil organizada era praticamente civil organizada. inexistente. Com o processo de democratização e descentralização verificada no país a partir de Segundo a Lei Nacional n° 9.433/97, compete aos meados dos anos 80, esses comitês virtualmente Comitês de Bacia Hidrográfica, no âmbito da sua paralisaram suas atividades, permanecendo em áreadeatuação: (i)promoverodebatedasquestões funcionamento, apenas, o comitê do rio São relacionadas aos recursos hídricos e articular a Francisco - CEEIVASF5. atuação das entidades intervenientes; (ii) arbitrar, em primeira instância administrativa, os conflitos Atualmente, a Agência Nacional de Águas (ANA) relacionados aos recursos hídricos; (iii) aprovar e tem como uma de suas atribuições dar o suporte acompanhar a execução do Plano de Recursos necessário, tanto em termos financeiros quanto de Hídricos da bacia e sugerir as providências acompanhamento técnico, à estruturação de comitês necessárias ao cumprimento de suas metas; (iv) de bacias hidrográficas, além de promover maior propor ao Conselho Nacional e aos Conselhos articulação interestadual entre as partes que os Estaduais de Recursos Hídricos as acumulações, integram, assim como realizar eventos (oficinas e derivações, captações e lançamentos de pouca seminários) que envolvam os diferentes setores expressão, para efeito da isenção da obrigatoriedade usuários dos recursos hídricos. Esse suporte tem da outorga de direitos de uso dos recursos hídricos, como finalidade subsidiar a definição de pautas de acordo com os seus domínios; (v) estabelecer prioritárias para ações e intervenções nas bacias os mecanismos de cobrança pelo uso de recursos hidrográficas, a elaboração de planos de trabalho hídricos e sugerir os valores a serem cobrados; e, para a estruturação de comitês, além da realização (vi) estabelecer critérios e promover o rateio de de convênios com vistas a descentralizar atividades custo das obras de uso múltiplo, de interesse comum de gestão dos recursos hídricos. No âmbito federal, ou coletivo. Anteriormente a atual legislação, um dos marcos para a reformulação institucional brasileira na área Kettelhut et ai. (1998). A experiência brasileira de de recursos hídricos foi a criação do Comitê implementação de comitês de bacias hidrográficas. 57 4 Bases Legal e Institucional Estratégias de Gerenciamento de Recursos l-lídncos no Brasil Areas de Cooperação com o Banco Niundial a ANA vem se articulando com diversos comitês, Açu, São Francisco, Piracicaba, Doce e Verde tanto para atuar em questões relativas à efetivação Grande. Vários outros estão em pleno processo de da cobrança de recursos hídricos de domínio da mobilização. Com relação aos comitês de bacias União (Paraíba do Sul, principalmente), quanto para hidrográficas de rios estaduais, pode-se notar, desenvolver ações de estruturação dos próprios conforne Figura 4.3, que as regiões Sudeste e Sul comitês (São Francisco, Verde Grande, Piranhas- são as que mais se destacam em número de comitês Açu e outros). criados, especialmente nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, sendo poucos Segundo informações da ANA, encontram-se criados os comitês criados nas demais regiões (Norte, os seguintes comitês em bacias hidrográficas de rios Nordeste e Centro-Oeste). federais: Paraíba do Sul, Alto-Paraguai, Piranhas- Sedes de Comitês de Bacias Hidrográficas do Brasil Bacias Hidrográficas Amazonas LZ~Atlântico-Trecho Leste LIIAtlântico-Trecho Norte/Nordeste f3Atlântico-Trecho Sudeste jjjjParaná [11]São Francisco 111]Tocantins EIIUruguai * Sedes de Comitês Fonte: ANA Figura 4.3 - Localização dos comitês de bacias estaduais implantados 4 Bases Legal e Instrucional 58 <-;Brga O Comitê para Integração da Bacia Hidrográfica do municípios7. Recentemente, após grande esforço Rio Paraíba do Sul (CEIVAP) foi criado em 1996 institucional, a ANA logrou instalar o Comitê da como resultado da reformulação do antigo CEEIBH Bacia do Rio São Francisco segundo as disposições de 1978. A bacia do rio Paraíba do Sul compreende da Lei Nacional n° 9.433/97. uma área de aproximadamente 55.000 km2 e caracteriza-se como uma bacia predominantemente O Comitê da Bacia Hidrográfica do rio Doce urbana, com taxa de urbanização em tomo de 85%. (CBHRD), cujos movimentos de criação iniciaram- O novo comitê buscou atender a necessidade de se em 1992, foi oficializado recentemente, em descentralização das ações desenvolvidas pelos novembro/2001. A bacia do rio Doce tem área governos estaduais e pela União, permitindo uma aproximada de 83.500 km2, sendo 86% em Minas maior participação dos setores usuários. Em Gerais e 14% no Espírito Santo, reunindo mais de dezembro de 2001, a implantação da cobrança pelo 3,5 milhões de habitantes distribuídos em 222 uso da água foi aprovada pelo CEIVAP, gerando mumcípios, além de 3,6 mil indústrias, sendo a maior expectativa de sua aplicação ainda em 2002. A parte concentrada nas regiões dos vales do Rio cobrança incidirá sobre cerca de 180 municípios e Doce e do Aço. 8.000 indústrias que utilizam as águas do rio. Entre as experiências estaduais de criação de O Comúte de Integração da Bacia Hidrográfica do comitês de bacias hidrográficas, podem ser citados Alto Para .P fi c o pa os casos dos comitês do Alto Tietê, em São Paulo, Alto Paraguai-Pantanal (CIBHAPP) foi criado pela e dos rios dos Sinos e Gravataí, no Rio Grande do Portaria Interministerial n° 01, de 19 de dezembro S o com da bia hrográfica do Galt de de 99, snd copoto or29 emros(1 Sul. O comitê da bacia hidrográfica do Alto Tietê de 1996, sendo comos pora29 embros e foi implantado em 1994, em substituição ao comi.tê representantes dos Governos Federal, estaduais e do Alt Tit craoe edsd éaad 0 municipais; 2 de conselhos estaduais de meio do Alto Tietê criado em meados da década de 70, munllpas; deconelhs etadalsde elo que objetivou atingir melhores condições de ambiente; 12 representantes de usuários e 4 da saeametoe abastecimentode áunas bi sociedade civil). A bacia hidrográfica do Alto dos rios Tietê e Cubatão e o desenvolvimento de Paraguai compreende uma área de 496.000 km2, intervenções emergenciais. Os comitês das bacias sendo 393.000 km2 em território brasileiro, dos rios dos Sinos e Gravataí, afluentes do rio Guaíba, abrangendo parte dos estados de Mato Grosso, Mato foram criados em 1988, liderados por iniciativas Grosso do Sul e Goiás. A fragilidade institucional e conjuntas de universidades, prefeituras e legal desses estados, no que se refere aos recursos comunidades locais8. hídricos, tem constituído dificuldade adicional ao funcionamento e consolidação do comitê6. A Tabela 4.2 sintetiza a experiência de funcionamento de alguns comitês de bacias, de O Comitê Executivo de Estudos Integrados do rio São âmbito federal e estadual, considerando 04 estudos Francisco (CEEIVASF), que abrange os estados de de casos distintos: rio Paraíba do Sul (MG, RJ e Minas Gerais, Bahia, Pemambuco, Paraíba, Alagoas, SP), rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (SP), rio dos Sergipe e Distrito Federal, foi criado ainda no âmbito Sinos (RS) e rio Pirapama (PE). São abordados dos CEEIBH's, tendo sido inicialmente suportado pela aspectos relativos às suas estruturas (composição), CODEVASF e, mais recentemente, pela CHESF. representatividade social, efetividade de atuação, Além desse suporte, contribuíram para a sua continuidade as ações de descentralização, mediante 7 Barth, F.T. (1999) Evolução nos aspectos institucionais e a criação de sub-comitês, e as articulações com no gerenciamento de recursos hídricos no Brasil. In O Estado das Águas no Brasil. 8 Barth, F.T. (1999). Evolução nos aspectos institucionais e 6 Kettelhut et al. (1998) A experiência brasileira de no gerenciamento de recursos hídricos no Brasil In O implementação de comitês de bacias hidrográficas Estado das Águas no Brasil. 59 4 Bases Legal e Institucional Estratégias de Gerenciamento de Recursos Hídricos no Brasil Áreas de Cooperação com o Banco Mundial resultado de ações (diagnósticos, planos de bacias obtidas por meio de entrevistas com dirigentes e implementação de instrumentos de gestão) e desses comitês e profissionais da Agência Nacional dinâmica de funcionamento. As informações foram de Águas (ver Anexo III). 4 Bases Legal e Institucional 60 Tabela 4.2 - Avaliação expedita de Comitês de Bacia Hidrográfica. Comitês Paraiíba do Sul Piracicaba, Capivari e Jundiaí Sinos Pirapama 60 mnembros, sendo 3 do govemo federal e 104 entidades distnbuídas da seguinte 40 vagas, distnbuídas entre os seguintes 32 vagas distnbuídas entre os seguintes 19 de cada um dos estados (Minas, São forna. (1) Estado (16 entidades - 16 grupos (i) usuános da água (16 vagas), grupos (i) município (7 vagas), (u) Paulo e Rio de Janeiro) votos), (ii) Municípios (58 prefeitos - 16 (i) população da bacia (16 vagas), e, (iii) govemo (9 vagas), (iii) usuános da água e votos), (iii) Sociedade Clvil (30 entidades govemo (8 vagas) sociedade civil (16 vagas) 40% vagas/votos são dos usuános da água - 16 votos) (companhia hidrelétnca, mdústna, ernpresa de saneamento, empresa Composição agropecuána, setor de pesca, etc) formal 25% vagas/votos são de organizações civis (associações de amigos do bairro, ONGs, associações de profissionais, comno a ABiRH e consórcios intermunicipais) O restante (35%) é do poder púbhco União 3 votos e Estados e Municípios cada um com nove votos A representatividade é bastante A questão da representatividade tem sido O exercício da representatividade assim Os membros do Comitê têm se mostrado expressiva. Todos os setores têm expressiva uma vez que cada grupo/setor como a noção do coletivo constltui uma capacitados para representar seus grupos procurado representar seus grupos, tem tido uma grande preocupação em característica bem desenvolvida no com uma participação efetiva, apesar das Represen- defendendo interesses comuns As ONGs temros de representar seu grupo ou Comitê Em geral, a fiequência é boa em diferenças culturais e sociais entre os tatividade enfrentam problema de moblidade para entidade e o processo tem evoluído termos de representatividade, membros observada participarem das reumões de câmaras gradualmente pnncipalmente por parte dos usuános técmcas, por não possuírem recursos clássicos (indústna, abastecimento púbhco financeios para fazer esse e agncultura) acompanhamento. a Além do poder púbhco, que é sempre A participação em termos de efetividade Os setores rmrs efetivos correspondem ao Indústnas, setor de abastecimento de muito presente, destaca-se também a tem sido muito expresslva em todos os industnal e ao abastecimento púbhco No água, usuános domésticos, pequenos n' " Efetividade participação do setor industnal nos três setores, sem distinção entanto, também existem setores agricultores, pescadores e representantes estados, pnncipalmente usinas mobihzáveis como as ONGs, as das mulheres/ONGs a hidrelétncas (Ltghs e Fumas) universidades e as associações técnico- científicas oa Tabela 4.2 - Avaliação expedita de Comitês de Bacia Hidrográfica. (continuação) Comitês Paraíba do Sul Piracicaba, Capivari e Jundiaí Sinos Pirapama o n 5 o3 Programa Nacional de De-spoluição Programa de Investimentos para a Projeto Peixe Dourado (estudo da O Comitê da bacia é o Fórum de discussão da de Bacias "ldrográficas da ANA Proteção e Recuperação Ambiental das biologia do peixe dourado) (em Agenda 21/ Plano de Desenvolvimento 3 (em andamento), Bacias (concluído em 99), desenvolvido andamento), Sustentável, que é composto de 4 Estratégias com no âmbito do Projeto Qualidade da Água e 44 projetos pnontários. Programa de Investimentos para a Controle da Poluição Hídnca (BIRD), Projeto Monitoramento em Tempo Real ° Gestão Integrada e Recuperação - tem como objetivo avaliar a Diagnóstico Integrado da Bacia do no Pirapama Ambiental da Bacia Hidrográfica do Plano da Bacia Hidrográfica 2000/2003 qualidade da água ao longo do no dos (reahzado em 1998) que subsidiou a elaboração da 9 no Paraíba do Sul (concluído em (concluído); Sinos desde as nascentes até a foz, Agenda 21 Purapama, 1999), desenvolvido no âmbito do acompanhando as mudanças ocomdas Projeto Qualidade da Água e Resumo do Plano da Bacia Hidrográfica em consequência das atividades na Agenda 21 Pirapama, que constituí um plano de Controle da Poluição Hídnca (Relatóno Gerencial) - a ser publicado em bacia hidrográfica (em andamento), bacia com ações pnontánas, (BIRD), 2002; Projeto Rede Regional de Educação Estabelecimento de uma Câmara Técnmca de Projeto Inicial para o Gerenciamento Contnbuição para o projeto de lei da Ambiental (em andamento), Cobrança que realizou um estudo para a cobrança o' dos Recursos Hídncos do Paraíba do cobrança pelo uso dos recursos hídncos na bacia O refendo estudo foi aprovado no Sul (concluído em 2000), (em andamento), Projeto de Enquadramento das Águas Comitê que foi encamnhado ao Conselho Estadual da Bacia do no dos Sinos (em de Recursos Hídncos e a SRHtPE, Evidências da Programa Curso d' Água de IEncontro de Educação Ambiental andamento), Educação Ambiental (suspenso em (realizado em dezembro de 2001), Projeto para o Reenquadramento - foi atuaçao nimo de 2000 por falta de recursos), Proposta de ações para reflorestamento encaminhado para a SRH uma vez que a bacia tem Diretrizes e cnténos para novos e proteção das nascentes do no dos o seu enquadramento por Decreto Estadual Programa de Mobilização estabelecimentos de atividades Sinos antenor a Resolução CONAMA 20, Partiicpativa (concluído em 2000), consumidoras de água, Monitoramento sistemátco realizado pela CPRH e Cobrança do uso da água aprovada Desenvolvimento do Plano Diretor para uma campanha especial proveniente dos Projetos em 06/12/01, aumento da produção de água - adoção de da Agenda 21 e realizado em conjunto com a medidas não-estruturais, visa ações no COMPESA, C`RI, ITEP e ANEEANA, Início da elaboração do Plano de sentido de conservação e recuperação da Recursos Hídncos para o período de bacia, Projetos de educação ambiental com realização de 2002 a 2006, vánas oficinas de educação ambiental em diversas Cadastramnento de imgantes; áreas da bacia, Campanha de Campo na Bacia do Rio Pardíba do Sul, Programa de Gestão Municipal dos Realização de diversos seminános, work.shops e Recursos Híd,cos, visando a reflexão das cursos de capacitação com vistas às necessidades Promoção do Curso de Gestão de questões relativas à preocupação com os do Comutê (realização do Diagnóstico, da Agenda Recursos Hídncos em conjunto com recursos hídncos no âmbito municipal 21, do Estudo de Cobrança, do Zoneamento a ANA Ecológico Econômuco, etc) Tabela 4.2 - Avaliação expedita de Comitês de Bacia Hidrográfica. (continuação) Coímitês Paraíba do Sul Piracicaba, Capivari e Jundiaí Sinos Pirapama Apoio técnico do Laboratório de hidrologia da Apoio logístico do DAEE para a sede e Apoio logístico e de sede desde a origem Apoio político da Secretaria de Meio COPPE, local das deliberações, pela UNISINOS, que também é responsável Ambiente do Estado - SECTMA/CPRH. pela personalidade jurídica do Comutê, da SRH e da prefeitura de Cabo de Santo Apoio financeiro da própria ANA mediante Apoio para coordenação das Câmaras e Agostinho, que preside o Comitê, contrato com a UNESCO para apoio à sede e Grupos Técnicos por diversos órgãos Apoio técnico e financeiro pela Secretana de pagamento de pessoal, estaduais e municipais. Recursos Hídncos do MMA nos Projetos Cooperação Técnica da CPRH através do Enquadramento das Águas da Bacia do rio Projeto Pirapama. que é um projeto de Apoio do SIRJAN/ SENAI que cedeu o espaço Apoio técnico da UNICAMP na área de dos Sinos e Peixe Dourado, cooperação bilateral Brasil - Reino Unido, do escritóno técnico de apoio de Resende/RJ, difusão de pesquisas e de tecnologia, coordenado pela CPRH Participação Parcerias Apoio técnico pela SEMA/RS e FEPAM no técnica também das prefeituras locais e Apoio financeiro, no início, para compra de Parceria com o Consórcio Intermunicipal Projeto Enquadramento das Águas da Bacia outras instituições, como por exemplo. matenais de escritório, computadores, etc por Piracicaba - Capivan, que atua como do ro dos Sinos, Compesa, Fddem, ITEP e Secretanas de meio do Fundo FECAM agente executor de algumas atividades, cabendo registrar campos de disputa Apoio financeiro da GERDAU para o institucional entre ambos Projeto Rede Regional de Educação Apoio financeiro do Projeto Pirapama, Ambiental (através de medida que coordenou e financiou todo o compensatória), processo de estabelecimento do Comitê, Apoio técnico da FAP e extensão Apoio logístico das prefeituras locais. universitária da UFSC para o Projeto Peixe sobretudo do Cabo de Santo Agostinho e Dourado da CPRH A convocação dos 60 membros é dada em São realizadas 2 reuniões ordinárias por Segundo o Regimento do Comitê estabelece- O estatuto do Comitê prevê 02 reuniões momentos de decisão Aproximadamente 2 ano (I em cada semestre) As reuniões se uma reunião ordinária, no mínimo, a cada ordinárias por ano, mas à medida que reumões ordinárias por ano extraordinánas são realizadas quando dois meses e extraordinária sempre que surgem conflitos ou necessidade por necessánas, em média tem-se venficado 1 necessário Contudo, na prática, tem-se aprovação de temas, como, por exemplo, a O comutê trabalha subsidiado por três càmaras ou 2 reuniões a cada ano O quorum nas observado em média uma reunião por mês Agenda 21 e o zoneamento ecológico Dinâmica técnicas Institucional, de Planejamento e reuniões apresenta-se bem elevado (cerca em função da alta demanda de assuntos a econômico, verificou-se a necessidade de Investimento e de Educação ambiental, recém de 80% a 90% de frequência em média) serem deliberados A frequência das diversas reuniões extraordinárias No de cnada As cámaras técnicas, istitucional e de reuniões também tem sido bem satisfatória período de julho de 1998 até dezembro de futciona Planejamento e Investimento têm se reunido 2001 (42 meses) foram realizadas 19 mento do bimestralmente reuniões extraordinárias e 9 reuniões ordinárias, sendo que apenas 1 não teve Comntê quorum A frequência é em média de 60% A frequência às reuniões ordinánas é bastante a 70% Dependendo da pauta, existe uma satisfatóna No ano de 2001 a frequência às diferenciação mais acentuada na reuniões foi excelente, pnncipalmente por causa representação dos grupos da discussão sobre a cobrança de água A indústna e o setor público participaram ativamente das discussões 0 EFRIE~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~FI C ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~F Estratégias de Gerenciamenio de Recursos Hidricos no Brasil Arcas de Cooperação com o Banco Miundial Box 4.4 - Comitê de Integração da Bacia do rio Piranhas-Açu (CIBHPA) Único Comitê de âmbito federal localizado integralmente na região do Semi-árido nordestino, o Comitê de Integração da Bacia do no Piranhas-Açu (CIBHPA) foi cnado pela Portaria Interministerial n°2, de 20 de dezembro de 1997. A bacia hidrográfica do rio Piranhas-Açu localiza-se nos estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte, ocupando uma área de aproximadamente 44.600 kM2, sendo 39% de seu território distribuído no Rio Grande do Norte e 61 % na Paraíba. Apesar de ter sido um dos primeiros comitês criados pelo Governo Federal, em meados da década de 90, o processo de formação não se completou, principalmente, devido à falta de articulação institucional entre os estados que o integram. Prova dessa desarticulação, foi o episódio de elaboração de planos diretores de sub-bacias do Piranhas-Açu, nos dois estados constituintes. A Paraíba e o Rio Grande do Norte elaboraram seus respectivos planos sem qualquer preocupação de integração. Discrepâncias de metodologias, profundidade de análise e conteúdo dos trabalhos impedem a utilização desses planos de forma conjunta para a bacia como um todo. Um novo trabalho está para ser contratado com o objetivo de revisar, complementar e compatibilizar os planos já elaborados. No processo atual de formação do Comitê, a próxima etapa será a oficialização de sua composição, que deverá apresentar um total de 27 integrantes, sendo 3 vagas destinadas ao Governo Federal e 24 vagas a representantes estaduais (12 de cada estado), assim distnbuídas 02 representantes do governo estadual, 02 representantes dos municípios, 06 dos usuários e 02 da sociedade civil. 4.5. AS PERSPECTIVAS COM A para fins de concessão de outorga e arrecadação CRIAÇÃO DA AGÊNCIA NACIONAL DE via cobrança pelo uso da água. AGUAS Ademais, os encargos da regulamentação da Lei Nacional não se completaram, sem embargo dos esforços da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), A iniciativa para a criação da Agência Nacional de do Ministério do Meio Ambiente, alçada à condição Águas (ANA) decorreu, essencialmente, de de Secretaria Executiva do Conselho Nacional de preocupações associadas aos impactos causados Recursos Hídricos (CNRH), objeto do único decreto pela seca de 1998, que reclamavam medidas do Executivo, publicado sobre a matéria. É certo capazes de superar ações de natureza episódica e, que houve, na época, iniciativas detidas em favor a partir desta perspectiva, do reconhecimento da do chamado "decretão", que reunia, em peça única, complexidade e das dificuldades inerentes à todos os principais aspectos considerados essenciais implementação do Sistema Nacional de para conferir sustentação aos instrumentos e às Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGRH), instâncias decisórias do SINGRH. Tais iniciativas, como resposta institucional efetiva para esse e contudo, não prosperaram. outros problemas nesse campo. Com efeito, após a promulgação da Lei Nacional n° 9.433/97, não se Pode-se argumentar que a própria instalação do confirmaram as expectativas presentes (porventura, CNRH teria implicado em delegação dos encargos um tanto ingênuas ou voluntariosas) de que os de regulação ao Conselho e às suas câmaras comitês, apenas pelo mero advento da Lei, surgissem temáticas (ver Box 4.5 e Tabela 4.3). Com efeito, eadquinssemdinâmicacomoqueespontaneamente, nota-se que muitas das resoluções aprovadas bem como, que os estados passassem a se estruturar cobrem, ao menos em parte, algumas das lacunas 4 Bases Legal e Institucional 64 mga' existentes na regulamentação da Lei Nacional. tempo e com as coerências técnica e jurídica Todavia, há controvérsias sobre o acerto de exigidas, vencendo os limites próprios a colegiados, promover, exclusivamente via CNRH, o complexo dos quais se espera, essencialmente, a definição de detalhamento operacional do Sistema Nacional, a diretrizes e políticas gerais. Box 4.5 - A atuação do Conselho Nacional de Recursos Hídricos A Reforma do Aparelho do Estado, relevante dimensão da Reforma do próprio Estado Brasileiro, concebida no primeiro quatriênio do Presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-1998), identificou, em seu Plano Diretor, quatro setores do Estado. O primeiro, denominado Núcleo Estratégico, onde se dá a definição das leis e políticas públicas, compreendendo, no Poder Executivo Federal, os órgãos da Administração direta que integram a estrutura da Presidência da República e os Ministénos. O segundo setor, de atividades exclusivas de Estado, compreendendo atividades em que o `poder de Estado` é exercido, aí incluindo-se a regulação, fiscalização, o exercício do poder de política e outras Para esse setor, a Reforma indicou a necessidade de novas entidades da Administração indireta, dotadas de agilidade, do que decorreu a criação das agências reguladoras e implementadoras de políticas setonais. Há, ainda, dois outros setores: o de serviços não-exclusivos ou competitivos e o setor de produção de bens e serviços. De interesse para o presente documento é o pnmeiro setor, que se ocupa da formulação da Política Nacional de Recursos. A formulação da Política de uso dos mananciais brasileiros é emanada da Pasta do Meio Ambiente que, para tanto, conta com a Secretaria de Recursos Hídricos que tem, sob sua responsabilidade, a direção do Conselho Nacional de Recursos Hídricos - CNRH. O CNRH é um corpo colegiado integrado por representantes das esferas federal e estadual do Poder Executivo, de setores usuános da água e da sociedade civil organizada. Uma de suas pnncipais atribuições é a de estabelecer as diretrizes complementares para a implementação da Política Nacional de Recursos Hídrícos, aplicação de seus instrumentos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (Art. 35, inc VI da Lei Federal n° 9.433/97). O trabalho técnico ao qual se arrima o CNRH, para a sua tomada de decisão, é realizado pela Secretaria de Recursos Hídncos do Ministéno do Meio Ambiente, em sua condição de Secretaria Executiva do Conselho, e que acolhe as sugestões onundas de quaisquer setores ou segmentos da sociedade brasileira interessados no tema da água. Ora, como a gestão de recursos hídncos é, por excelência, participativa, o Conselho, sendo o corpo colegiado que se situa no topo da hierarquia do Sistema Nacional de Recursos Hídricos, termina por dar um expressivo exemplo, para todos os demais agentes desse Sistema, difundindo a prática da tomada de decisão que leve em conta os interesses dos governos, dos usuános da água e de segmentos da sociedade, legitimando, destarte, suas deliberações. Aí está um raro aspecto que tem feito com que a Política de Recursos Hídricos do Brasil seja considerada, por inúmeros países, como uma das mais aperfeiçoadas entre quantas se conhecem. 65 4 Bases Legal e Institucional Estrategias de Gerenciamento de Recursos H-lidncos no Brasil Arcas de Coopcração com o Banco Mundial Cumpre reconhecer que persistiam (e persistem) autonomia decisória, independência financeira e indefinições sobre aspectos importantes ao agilidade operacional9, capaz de por em marcha o funcionamento do SINGRH, parte deles inseridos Sistema Nacional, inclusive no que tange à no Projeto de Lei no 1.616, que sofre longa e cooperação e apoio aos estados federados, na indeterminada tramitação no Congresso Nacional. compreensão de que o SINGRH deve ser Para além das lacunas da regulamentação, a mera constituído integralmente, sem distinção entre os existência de visões divergentes sobre a condução corpos d'água de domínios federal e estadual. De do processo revela problemas na distribuição de fato, sem embargo das iniciativas que vinham sendo competências e atribuições institucionais entre levadas a cabo pela Secretaria de Recursos CNRH, SRH e ANA, ainda não claramente Hídricos, são reconhecidas as dificuldades estabelecidas. operacionais de órgãos da administração direta, sempre amplificadas por amarras burocráticas, Como consenso, contava-se com a percepção de demandas políticas e limitações de quadros de que o SINGRH precisava de uma entidade motora pessoal. mais potente, dotada da necessária estabilidade, com Tabela 4.3 - Resoluções do Conselho Nacional de Recursos Hídricos Resolução Data Súmula Responsável pela definição da forma de encaminhamento de sugestões de alterações ao 01 05/11/98 Regimento Interno proposto para o CERH, bem como pelo estabelecimento do prazo final de aprovação do Regimento 02 05/11/98 Instituí o Calendário de Reumuões Ordnâárlas e Extraordinánas do CNRH para o exercício de 1999 Institui o Grupo de Trabalho para a elaboração de propostas de criação de Câmaras 03 10/06/99 Técnicas Permanentes e Provisórias, tratando ainda dos prazos e da metodologia de trabalho do Grupo Institui as Câmaras Técmcas Pennanentes do Plano Nacional de Recursos Hídncos e de 04 10/06/99 Assuntos Legais e Institucionais, tratando de suas competências, composição e forma de trabalho Estabelece diretnzes para a formação e funcionamento dos Comitês de Bacias 05 10/04/00 Hidrográficas, com respeito às articulações institucionais necessárias, áreas de atuação, competências, regimentos, composição e mandatos dos membros, propostas de cnação e prazos estipulados Propõe alterações nos artigos 3° e 4° da Resolução/CNRH/N° 003, de 10 de junho de 06 21/06/00 1999, em relação ao prazo de conclusão dos trabalhos e à Reunião do CERH que tratará das propostas Instituí a Câmara Técnica Permanente de Integração de Procedimentos, Ações de 07 21/06/00 Outorga e Ações Reguladoras, trata de suas competências, composição e prazo de instalação 08 21106/00 Institui a Câmara Técnica Permanente de Análise de Projeto, suas competências, 0composição e prazo de instalação 9Sobesse aspecto, a ANA insere-se junto aos esforços do Governo Federal para a modernização do Aparelho de Estado no Brasil, dos quais denvaram as Agências Reguladoras hoje existentes (Telecomunicações, Petróleo, Energia Elétrica, Vigilância Sanitária e outras) 4 Bases Legal e Institucional 66 guaa Tabela 4.3 - Resoluções do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (continuação) Resolução Data Súmula 09 21/06/00 Institui a Câmara Técnica Permanente de Águas Subterrâneas, suas competências, composição e prazo de instalação. 10 o 21/06/00 Institui a Câmara Técmca Permanente de Gestão dos Recursos Hídncos Transfronteinços, suas competências, composição e prazo de instalação 21/06/00 Institui a Câmara Técnica Permanente de Ciência e Tecnologia, suas competências, composição e prazo de instalação Estabelece procedimentos para o enquadramento de corpos de água em classes segundo 12 19/07/00 os usos preponderantes Trata das competências institucionais, dos procedimentos para enquadramento, das audiências públicas de divulgação e da forma de controle Estabelece diretrizes para a implementação do Sistema Nacional de Informações sobre 13 25/09/00 Recursos Hídricos - SNIRH, tratando das atnbuições da ANA, articulações institucionais, acordos e convênios e forma de disponibilização preferencial das informações Define o processo de indicação dos representantes dos Conselhos Estaduais, dos 14 20/10/00 Usuános e dds Organizações Civis de Recursos Hídrícos, tratando das normas para os procedimentos de indicação dos representantes, das Assembléias Deliberativas de indicação e dos documentos para habilitação dos representantes 1 5 11/01/01 Trata das águas superficiais, subterrâneas e meteóncas e dispõe sobre as diretnzes necessánas para a sua gestão, considerando as suas interdependências Dispõe sobre a Outorga de Direitos de Uso de Recursos Hídrícos, tratando do 16 08/05/01 instrumento da outorga, dos usos sujeitos à outorga, dos usos insignificantes e de outros aspectos relacionados ao regime Dispõe sobre os Planos de Recursos Hídricos de Bacias Hidrográficas, sua elaboração, a 17 29/05/01 participação social, seu conteúdo e sobre o Termo de Referência orientativo que será dísponibilizado 18 20/12/01 Possibilita a prorrogação do mandato da Diretona Provisória dos Comitês de Bacia Hidrográfica Portanto, tendo como missão primordial implementar há que se conferir especial destaque para os esforços o SINGRH, inclusive no que tange à sua ealiderançapessoaldoGovemadordoCeará,Tasso regulamentação operativa - que ainda está por vir -, Jereissati, ciente da importância da matéria, sem a ANA foi criada em julho e instalada em dezembro esquecer das manifestações e recomendações de 2000, tendo seus diretores sido submetidos à favoráveis do Banco Mundial, quando consultado. aprovação pelo Senado Federal. Nesse processo, 67 4 Bases Legal e Institucional Estratégias de Gerenciamento de Recursos Hidricos no Brasil Áreas de Cooperaçao com o Banco Mundial 4.5.2. Desafios, dificuldades e avanços energia, marcada pela baixa disponibilidade hídrica do presente em reservatórios, com tarefas associadas com a Provavelmente, o principal desafio encerrado pela moderação de conflitos de usos múltiplos, como criovavelmenAtserefe, à prn ipnexisa nciradno âmbio também, a assumir frente em iniciativas de criação da ANA se refere à inexistência, no ambito ordenamento institucional do setor saneamento"', do Governo Federal, de instituição que a tenha sem que contassem com a estrutura minimamente antecedido. Com efeito, se a Agência Nacional de necessária para dar conta, simultaneamente, de sua Energia Elétrica (ANEEL) pôde apoiar-se, ao menos própria instalação e das outras tarefas que lhe foram em parte, nos quadros, estrutura e procedimentos postas. do extinto Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica (DNAEE), a ANA nasce com o Sob o aspecto de sua própria estruturação, cumpre encargo de estabelecer cultura e rotinas novas, reconhecer que a montagem de uma agência de anteriormente só parcialmente desenvolvidas em âmbito nacional, com duplos encargos, regulatónos poucos estados, com destaques para São Paulo 1(outorga) e executivos (instalar o SINGRH), não (Departamento de Águas e Energia Elétrica - se constitui em tarefa trivial, nem pode ser levada a DAEE) e Paraná (Superintendência de cabo seguindo meros exemplos ou modelos prontos Desenvolvimento dos Recursos Hídricos e para serem simplesmente transpostos à realidade Saneamento Ambiental - SUDERHSA). brasileira. Antes disso, os temas do planejamento institucional merecem tratamento especializado, Não bastasse esse desafio, logo em sua partida, a para que se responda, de modo consistente, a Agência e seus dirigentes foram instados a exercer parguetsecres,ota, como: papel central em decisões concernentes à crise de perguntas-chaves, tais como: (i) qual a missão da entidade? (ii) qual o seu "ambiente institucional", o seu público-alvo e quem são os seus principais interlocutores e parceiros? (iii) qual a estratégia institucional para tal interlocução, dingida à montagem do SINGRH, e que instrumentos devem (ou podem) ser utilizados para consubstanciar os acordos necessários? (iv) como relacionar-se com os Sistemas Estaduais de Gerenciamento de Recursos Hídncos (SEGRH's), em distintos estágios de desenvolvimento institucional, alguns mais avançados do que a União? (v) definida a estratégia institucional, qual a estrutura organizacional que melhor responde às demandas de atuação decorrentes de tal estratégia? (vi) face à estrutura organizacional adotada, como definir rotinas e procedimentos adequados, integrando critérios e decisões com os estados, também detentores de domínio dos corpos hídricos? Evidentemente que as respostas às indagações tático, a ANA logrou marcar presença nacional a acima não são traçadas em folhas em branco, mas partir do muito bem recebido "Programa Nacional estão inseridas em processos dinâmicos onde, de Despoluição de Bacias Hidrográficas", baseado cotidianamente, atender ao urgente toma espaço e no conceito inovador de pagar pelo resultado final tempo do que é estratégico. Certamente que algumas do tratamento de esgotos domésticos (remoção de das questões acima formuladas não estão respondidas e parte delas demandará maiores prazos Foi proposto no Projeto de Lei n ° 4 147/01, que a Agência de maturação. Nacional de Aguas assumisse os encargos de entidade responsável pela certificação de agências reguladoras de serviços de água e esgotos, estaduais ou municipais, que Não obstante, o caminho já trilhado é promissor, viessem a ser instituídas no país, além do gerenciamento do particularmente quando se verifica que, no plano Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento. 4 Bases Legal e Institucional 68 cargas poluidoras), subsidiando a amortização de Governo do Ceará, que resultaram na cobrança pela aportes de capital empregado na construção de água bruta utilizada em cultivos agrícolas de maior estações de tratamento, sob requisitos de prévia valor agregado, bem como, na substituição de existência de comitês e de respectivas deliberações culturas com irrigação intensiva por outras com em favor da implantação da cobrança pelo uso da menor demanda por recursos hídricos, constituindo água na bacia hidrográfica do empreendimento. mecanismos de subsídio à agricultura de subsistência e para otimizar a alocação das disponibilidades Igualmente, ao sinalizar concretamente suas hídricas. diretrizes de descentralização, delegando competências e atribuições ao Governo do Paraná (para outorga, fiscalização, monitoramento e 4.6. AS POSSIBILIDADES ABERTAS COM A cobrança pelo uso da água)", no âmbito do CRIAÇAO DO FUNDO SETORIAL DE complexo formado pelas bacias do Alto Iguaçu e RECURSOS HIDRICOS Alto Ribeira, correspondente à Região Um aspecto que distingue hoje o Brasil do grupo de Metropolitana de Curitiba, onde os problemas de países que se encontram em processo de recursos hídricos apresentam inequívoco caráter implementação de sistemas de gerenciamento de local (uso e ocupação do solo, principalmente), não recursos hídricos é a existência de um Fundo obstante o domínio federal nas calhas principais dos Financeiro, de nível nacional, específico para rios Iguaçu e Ribeira. financiamento de ações de C@T@I (Ciência, Tecnologia e Inovação) em recursos hídricos. Uma Maisareenemente dambém aonobte com discussão sobre o primeiro ano de funcionamento negociações, empreendidas em conjunto com o desse fundo é apresentada no Box 4.6. Box 4.6: Fundo Setorial de Recursos Hídricos No Brasil, os Fundos Setoriais de C&T (Ciência e Tecnologia) foram criados para incentivar o desenvolvimento científico e tecnológico em áreas estratégicas a partir da construção de uma nova forma de financiamento de ações em C&T. Esses Fundos podem financiar desde encontros, congressos, publicações, auxílios individuais, infra- estrutura de pesquisa, bolsas de formação e de fomento tecnológico, projetos cooperativos entre universidades e empresas, redes cooperativas, entre entidades de pesquisa, até grandes projetos estruturantes. O Fundo Setorial de Recursos Hídricos, o CT-HIDRO, foi criado pela lei n. 9.993, de 24 de julho de 2000, tendo as atividades se iniciado, de fato, somente no ano seguinte, com a regulamentação proporcionada pelo Decreto n. 3.874, de 19 de julho de 2001. Trata-se de um dos quatro fundos setoriais já em funcionamento (os outros são o de Petróleo, o de Energia e o de Recursos Minerais) As decisões de investimento do CT-HIDRO são tomadas por um Comitê Gestor composto por representantes do Ministério de Ciência Tecnologia, do CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, da FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos, da Secretaria de Energia do Ministéno de Minas e Energia, da ANA e da SRH, além de representantes do setor produtivo e da área acadêmica A prioridade para investimento, estabelecida em lei, é o financiamento de projetos científicos e de desenvolvimento tecnológico, destinados tanto a aperfeiçoar os diversos usos da água, de modo a garantir à atual e às futuras gerações alto padrão de qualidade, com utilização racional e integrada da água, com vistas ao desenvolvimento sustentável, quanto a promover a prevenção e a defesa contra fenômenos hidrológicos críticos, naturais ou associados ao uso A delegação de atribuições e competências foi consubstanciada mediante Convênio de Integração, tendo como objetivo a gestão das bacias referidas, independentemente dos domínios dos corpos d'água que as compõem 69 4 Bases Legal e Institucional Esregias de Gerenciamento de Recursos Hídricos no Brasil Arcas de Cooperação com o Banco Mlundial continuação Box 4 6 inadequado de recursos naturais. Os recursos do Fundo originam-se, atualmente, da compensação financeira pela exploração de recursos hídricos, atingindo da ordem de US$ 10 milhões anuais. Cabe ao Comitê Gestor definir um Plano Pluri-Anual de Investimentos, com base em um documento de referência (Diretrizes Estratégicas do CT-HIDRO), aprovado pelo próprio Comitê Gestor. As ações a serem apoiadas pelo CT-HIDRO devem estar enquadradas em uma das quatro áreas-programa (1. Gerenciamento de Recursos Hídricos, 2. Conservação de Água no Meio Urbano, 3. Sustentabilidade nos Ambientes Brasileiros e 4. Uso Integrado e Eficiente da Água) ou em uma das quatro atividades gerais (1. capacitação de recursos humanos, II. avaliação de processos socioeconômicos e ambientais nos sistemas hídricos brasileiros, Ill. desenvolvimento de produtos, processos e equipamentos e IV. ampliação ou adaptação da infra-estrutura). O Comitê Gestor, indicado por portaria de 30 de agosto de 2001, não teve como promover indução de projetos via Editais em 2001, tendo optado por avaliar projetos existentes em carteira no CNPq e na FINEP, além de projetos que haviam sido submetidos à ANA, à SRH ou ao MCT. Em 2001, foram assim avaliados 237 projetos, tendo sido aprovados 147, dos quais 128 foram contratados. O valor total dos contratos perfaz R$ 23,6 milhões. Os recursos destinados a projetos nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, que, por lei, não podem ser inferiores a 30 % dos recursos do Fundo, alcançaram, em 2001, 38,2% dos recursos aplicados. O CT-HIDRO tem sido identificado como uma iniciativa bastante promissora, sobretudo por se constituir em alternativa de aporte regular de recursos para o desenvolvimento científico e tecnológico Os grupos de pesquisa na área de recursos hídricos no Brasil têm, historicamente, padecido da falta de regularidade no fluxo plurianual de recursos para seus projetos Essa foi uma das razões pelas quais, neste primeiro ano de funcionamento, O CT-HIDRO atendeu, essencialmente, à demanda reprimida nas Universidades e Centros de Pesquisa por projetos de caráter mais científico. De fato, constatou-se, em 2001, a ausência de participação efetiva do setor produtivo na proposição de projetos. É de se esperar, para os próximos anos, uma participação mais intensa desse setor, a partir de ações do CT-HIDRO na indução de projetos de desenvolvimento de produtos, processos e equipamentos 4.7.AVANÇOS SOB UMA PERSPECTIVA Sob uma perspectiva histórica mais ampla, a Tabela HISTÓRICA 4.4 apresenta uma súmula comparativa sobre a temática ambiental e os estágios alcançados na Em linhas gerais, portanto, é este o atual estado da gestão dos recursos hídricos, observados nos países arte da gestão dos recursos hídricos no Brasil, em de maior desenvolvimento institucional e no Brasil. termos dos avanços legais e institucionais já obtidos. 4 Bases Legal e Institucional 70 Tabela 4.4 - Comparação dos períodos de desenvolvimento Período Países desenvolvidos Brasil 1945-60 * Uso dos r ecursos hídricos: * Inventário dos recursos hídricos; Cres0imento abastecimento, navegação, energia, * Início dos empreendimentos hidrelétricos Cdustreimlent etc e planos de grandes sistemas. industrial e populacional a Qualidade da água dos rios; a Controle das enchentes com obras. 1960-70 * Controle de efluentes; * Início da construção de grandes * Medidas não estruturais para empreendimentos hidrelétricos, ,nício da pressão enchentes, * Deterioração da qualidade da água de rios ambpental * Legislação para qualidade da água e lagos próximos a centros urbanos dos rios * Legislação ambiental, * Ênfase em hidrelétricas e abastecimento 1970-1980 * Contaminação de aquíferos, de água; * Deterioração aíibiental de grandes * Início da pressão ambiental; Inicio do áreas metropolitanas; * Deterioração da qualidade da água dos controle ambiental * Controle na fonte da drenagem ros devido ao aumento da produção urbana, da poluição doméstica e industrial e concentração urbana. industrial * Impactos Climáticos Globais; * Redução do investimento em * Preocupação com conservação das hidrelétricas; 1980-90 florestas, * Piora das condições urbanas. enchentes, * Prevenção de desastres, qualidade da água; Interações do * Fontes pontuais e não pontuais; * Fortes impactos das secas do Nordeste; ambiente global * Poluição rural; * Aumento de investimentos em irrigação; * Controle dos impactos da urbanização * Legislação ambiental. sobre o ambiente; * Contaminação de aquíferos. * Desenvolvimento Sustentável; * Legislação de recursos hídricos; * Aumento do conhecimento sobre o * Investimento no controle sanitário das comportamento ambiental causado grandes cidades; 1990-2000 pelas atividades humanas, * Aumento do impacto das enchentes * Controle ambiental das grandes urbanas; Desenvolvimento metrópoles; * Programas de conservação dos biomas sustentável * Pressão para controle da emissão de nacionais Amazônia, Pantanal, Cerrado gases, preservação da camada de e Costeiro; ozônio; * Início da privatização dos serviços de * Controle da contaminação dos energia e saneamento. aquíferos das fontes não-pontuais. * Desenvolvimento da Visão Mundial * Avanço do desenvolvimento dos da Água; aspectos institucionais da água; * Uso integrado dos Recursos Hídrícos; * Privatização do setor energético e de 2000- * Melhora da qualidade da água das saneamento; fontes difusas rural e urbana; * Diversificação da matriz energética; Ênfase na água * Busca de solução para os conflitos * Aumento da disponibilidade de água no transfronteiriços; Nordeste; * Desenvolvimento do gerenciamento * Planos de Drenagem urbana para as dos recursos hídrícos dentro de bases cidades. sustentáveis. Fonte Tucci, C E, em "Panorama dos Recursos Hídncos (set/2001) 71 4 Bases Legal e Institucional 5 Quatro Alternativas Institucionais Avançadas em Diferentes Estados e os Esforços da ANA no Paraíba do Sul: Sumário das Estratégias e dos Princípios Econômicos e Legais Aplicados à Gestão de Recursos Hídricos no Brasil 5.1. ANTECEDENTES E INSPIRAÇÕES conhecidas"'. Vale sempre lembrar que a França é um país unitário, sem a estrutura federada _xistem poucas controvérsias a propósito do constitucionalmente estabelecida no Brasil. Por modelo francês ser a principal fonte de outro lado, a Históna brasileira sempre foi eivada , i inspiração dos sistemas institucionais que se de forte centralização, decorrente do domínio encontram em implementação no Brasil, seja a português e subjacente à própria divisão territorial conformação geral delineada pela Lei Nacional n ° dos estados, que teve como base as capitanias 9.433/97, sejam as variações sobre o tema aplicadas hereditárias, em decisões que a esquerda nacional pelos estados, à luz de suas especificidades regionais. chegou a caracterizar como similares a "via Com efeito, a formação de comitês de bacia e de prussiana"2 ou às decisões 'pelo alto', em remissões agências de água adquirnu uma força simbólica de à experiência socialista do leste europeu tal ordem, que alguns consideram a possibilidade da gestão social participativa 'substituir' o aparato O fato é que, inversamente à França, onde convivem estatal de comando e controle, delegando-se a em paradoxo o Estado Nacional Unitário e o extremo colegiados regionais (os comitês), sob a vigilância da sociedade organizada, a própria concessão de outorgas de direito de uso da água. Barraqué, B., (2001) LesAgences de L'Eau Francaises Un Modele PourBresil?. IV Diálogo Interamencano das Águas Todavia, sem prejuízo da popularidade do modelo - Foz do Iguaçu francês, "não é certo que as razões históricas e 2 O conceito de "via prussiana" foi cunhado por Lênin, V. 1., políticas que levaram à sua criação e para caracterizar as relações de modernização da sociedade soviética que não incorporavam as camadas populares e o desenvolvimento na França sejam bem campesinato 73 Estratégias de Gerenciamento de Recursos Flidricos no Brasil Arcas de Cooperação com o Banco Mundial respeito às comunas locais, no Brasil Federado a (ii) um modelo institucional, composto de um presença dos municípios nos processos de tomada colegiado deliberativo superior (Conselho de decisão foi sempre acanhada, até muito Nacional e seus correspondentes nos recentemente, mesmo em serviços sob sua estados); colegiados regionais deliberativos titularidade, caso notável do saneamento3. Como a serem instalados nas unidades de explicar, portanto, porque o país se definiu pela gestão planejamento e gestão (os Comitês de Bacia); por bacias hidrográficas, descasadas de sua divisão e, as instâncias executivas das decisões dos federada, quando a Diretiva Quadro da Comunidade colegiados regionais (as agências de água ou Européia não chegou a fazê-lo, mesmo sendo de bacia hidrográfica); integrada por países de estrutura institucional com origem nas velhas monarquias centrais? (iii) um conjunto de instrumentos de gestão composto:- dos planos nacional e estaduais Seguramente, será esse um dos principais desafios d eusshdio epao ebca a vencer na implementação de um genuíno Sistema drogrs; drano do cps Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, d'ág ecassenaliando objetvosod capaz de vencer a tradição centralista, rumo a um qual e assere alcando quando da approach peculiar regido pelo princípio da implantaçãodosplanosdebacia;outorgapelo subsidiariedade. direito de uso da água, como instrumento de regulação pública (estatal) de uso, tomada 5.2. A FORMULAÇÃO GERAL DO compatível com os objetivos socialmente MODELO NACIONAL E AS ALTERNATIVAS estabelecidos nos planos e respectivos INSTITUCIONAIS EM CURSO enquadramentos; cobrança pelo direito de uso de recursos hídricos, sinalizando que a água Em sua formulação geral, existe importante tem valor econômico e que sua disponibilidade similaridade entre a legislação nacional e a grande corresponde a um preço social (público); e, maioria das leis estaduais vigentes, relativas aos sistemas de informnações de recursos hídricos, sistemas de gerenciamento de recursos hídricos. onde estão reunidos, consistidos e disponíveis Com efeito, em todas é possível identificar três blocos dados de oferta (disponibilidades), de principais, cujos conteúdos podem ser assim demandas (cadastros de usuários) e sistemas sintetizados: de suporte à decisão (bases geográficas e modelos de simulação). (i) fundamentos, objetivos e diretrizes gerais de ação, que expressam conceitos "amplamente Essa aparente uniformidade, no entanto, guarda aceitos" relativos a: visão compreensiva dos diferenças importantes que precisam ser problemas; usos múltiplos dos recursos hídricos; explicitadas e debatidas até que se determinem seus água como recurso escasso dotado de valor desdobramentos práticos. A começar pelo econômico; articulação e integração com verdadeiro significado de muitos dos conceitos outros setores; uso da bacia hidrográfica como "amplamente aceitos", cuja tradução efetiva reclama unidade de planejamento e gestão; gestão aprofundamentos que puderam ser apenas descentralizada e participativa; dentre outros; vislumbrados no capítulo 3 deste documento. Por exemplo, a diretriz da descentralização posta à frente 3 É reconhecido que o Plano Nacional de Saneamento da divisão federada do país e do questionamento (PLANASA), pela via da restrição ao crédito, submeteu os sobre como devem ser exercidas as prerrogativas municípios (concedentes) aos interesses das companhias de domínio federal em muitos dos principais cursos estaduais (concessionánas), controladas pelos govermos dos estados. - d'água do país. 5 Quatro Alternativas Institucionais Avançadas 74 As diferenças persistem, também, no entendimento Essas diferenças se replicam no que tange aos sobre os limites e possibilidades dos instrumentos modelos institucionais, revelando o imperativo de de gestão, sem que exista compreensão clara adequação da gestão à diversidade física, biótica, estabelecida sobre, pelo menos, os tópicos seguintes: institucional e cultural observada num país de dimensões continentais como o Brasil. > a abordagem, conteúdo e divisão de encargos entre os planos Nacional e estaduais de Sob esse aspecto, o presente documento arrisca-se recursos hídricos e desses em relação aos na tentativa de identificar quatro diferentes planos de bacia hidrográfica; alternativas (ou "apostas") de estratégia institucional em curso nos estados, acrescidas dos esforços da > ainteração, pelaviado enquadramento, entre ANA centrados na bacia do rio Paraíba do Sul, objeivos da gestão ambiental e a dos recursos alternativas essas, ora impostas pela natureza dos hídricos; problemas a enfrentar, ora mediadas por > a integração entre os processos de perspectivas de cunho técnico, econômico ou licenciamento ambiental e a concessão de político, sem que haja préviojuízo de valor a respeito outorgas (eventualmente, ainda, de uso e de suas validades:- são apenas diferentes e todas ocupação do solo), envolvendo as diferentes legitimas em suas iniciativas de instalação de perspectivas de padrões de emissão e sistemas de gestão de recursos hídricos. capacidade de suporte dos corpos receptores; 19 Alternativo: O Ceará como > a responsabilidade devida (ou possível, em Referência ao Semi-árido termos jurídicos) dos comitês de bacia quanto ao procedimento (estatal e indelegável) de Semii descer a detalhes específicos, a primeira outorga de direitos de uso da água; alternativa é conformada pela experiência do Ceará, marcada pela busca de um modelo próprio ao semi- > igualmente quanto aos encargos das agências árido brasileiro. Em grande parte de seu percurso, de bacia no que concerne à cobrança pelo apoiado por sucessivas operações de crédito com o direito de uso de recursos hídricos e Banco Mundial, o modelo adotado no Ceará pode administração e manejo das receitas auferidas ser assim caracterizado: (envolvendo, inclusive, questões sobre a posse dos ativos construídos com recursos da > administração de estoques de água cobrança); reservados em açudes, dada a escassez decorrente da sazonalidade plurianual das > as relações entre as funções da cobrança precipitações e a elevada evapotranspiração como fonte de arrecadação ou de incentivo à presentes no semi-árido; mudança de comportamento; > alocação de água para usos múltiplos, > os problemas de natureza operacional e respaldada em decisões socialmente tecnológica, p. ex., aqueles relativos à negociadas em colegiados de usuários sistemática de integração e troca de dados (associações de utilizadores dos açudes, entre os sistemas de informação gerados principalmente), tendo como suporte à pelas bacias, estados e pelo Governo Federal decisão o traçado de curvas-chaves (relações (ANA), com dificuldades inerentes quanto à cota-volume) que oferecem projeções e sua consistência e compatibilidade de estimativas relativamente confiáveis para as formatos, linguagens, sistemas e disponibilidades, em horizontes de curto e equipamentos. médio prazos; 75 5 Quatro Alternativas Institucionais Avançadas Estratégias de Gerenciamento de Recursos Hidricos no Brasil Areas de Cooperação com o Banco Mundial > transporte de água bruta a longas distâncias, > permanecem com a Secretaria de Recursos vencendo os limites das bacias hidrográficas Hídricos as competências próprias ao Estado, rumo aos maiores centros de demanda, em notadamente quanto à concessão de outorgas especial para a Região Metropolitana de e à sistemática de fiscalização, devendo-se Fortaleza, onde se concentram as grandes mencionar a existência complementar de uma demandas de consumo industrial e doméstico; entidade com especialização na construção de obras civis (a Superintendência de Obras > tarifação dos serviços de reservação, Hídricas - SOHIDRA) e outra para coleta e transporte e distribuição de água não potável sistematização de dados hidrometeorológicos aos usuários industriais e à concessionária de (a Fundação Cearense de Meteorologia e saneamento, com larga diferenciação entre Recursos Hídrncos - FUNCEME); preços unitários, da ordem de R$ 0,73/m3 aos primeiros e R$ 0,03/m3 ao segundo, > atualmente, a COGERH aufere arrecadação caracterizando subsídio cruzado em favor do mensal da ordem de R$ 1,0 milhão, parte abastecimento doméstico4; substantiva da qual cobre despesas operacionais com sistemas de reservação e > adoção de mecanismos de negociação entre transporte de água bruta; segmentos de usuários, de modo a permitir alterações na alocação das disponibilidades > cumpre anotar, ainda, que permanecem hídricas, para fins de aumento na eficiência pendentes problemas de remuneração e de uso (setores com maior valor agregado estabilidade dos quadros de pessoal da efetuampagamentosparasubsidiararedução Companhia, parte deles mantidos por ou suspensão de atividades - irrigação, em programas de cooperação (UCA) financiados particular - dos utilizadores com menor no contexto das operações de crédito vigentes capacidade de pagamento); entre o Banco Mundial e o Estado do Ceará. > promoção do associativismo local de Esse modelo - em grande medida creditado à pequenos usuários, com vistas a facilitar os estabilidade das políticas estaduais e cujo processos de negociação relativos à alocação pragmatismo na busca de resultados tem conferido das disponibilidades hídricas; ao Ceará elevado reconhecimento em todo o país-, reúne potencial que respalda o seu espraiamento, > o modelo é baseado na atuação de uma observados os ajustes devidos, sobre quase todos agência estatal única - a Companhia de os demais estados do semi-árido (Rio Grande do Gerenciamento de Recursos Hídricos Norte5, Paraíba, Pernambuco e Alagoas, além de (COGERH) -, com ação sobre todo o parte importante do territóno da Bahia), com as território estadual, na medida em que opera seguintes exceções: para além das bacias hidrográficas mediante a interligação de sistemas de açudes e > porções da Bahia dotadas de reservas adutoras, com demandas relativas à sua subterrâneas importantes, além das áreas manutenção e operação; próximas ao Rio São Francisco, sem considerar as especificidades de natureza A cobrança foi implantada, já em dezembro de 1996, com institucional que conferem importância ao redução da renda geral auferida, transfenndo encargos da Concessionária de Saneamento para a entidade de recursos Deve-se destacar o incentivo à constituição de associações e hídncos, propiciando ganhos de eficiência operacional e comunidades de usuános - que somam mais de 1 15 no estado redução dos custos de disponibilização de água bruta, não - como a principal característica própria ao Rio Grande do obstante a mencionada redução das receitas gerais Norte 5 Quatro Alternativas Institucionais Avançadas 76 Água iBrag papel das Casas de Recursos Naturais > o caso de Sergipe, estado com pequena (CRNs), como estruturas de apoio ao sistema dimensão territorial e dotado de extensa de gerenciamento de recursos hídricos em rede de adutoras (cerca de 4mil km), com implementação naquele estado; adução de águas captadas no trecho de jusante do Rio São Francisco e distribuídas > a experiência, porvir, da Agência de a montante de suas principais bacias, Regulação de Águas, Irrigação e Saneamento caracterizando a possível convivência de - AAGISA, em etapa inicial de implantação uma Superintendência Estadual de Gestão na Paraíba, englobando na mesma entidade de Recursos Hídricos e de organizações as funções de gestão de recursos hídricos e autônomas (comitês e agências) em regulação de setores usuários e de contratos algumas de suas bacias hidrográficas (rio de concessão para a prestação de serviços Sergipe, particularmente). de abastecimento de água potável, coleta e tratamento de esgotos domésticos; e, Box 5.1 - Contratos de fornecimento de água bruta O modelo cearense tem permitido ao Estado tomar neutras eventuais restrições (desvantagens competitivas) decorrentes de incertezas associadas às disponibilidades hídricas. Com interlocutor definido e de competência estabelecida (COGERH), os investidores industriais contratam fornecimento de água bruta, admitindo preços unitános mais elevados em troca de níveis adequados de garantia (níveis tarifános versus graus de risco) Nesse caso, o pagamento ao Estado implica na obtenção de direitos, contratualmente estabelecidos, portanto, podendo gerar demandas judiciais de ressarcimento, caso as variáveis em questão recaiam sobre a eventual inabilidade gerencial do Estado. Esses modelos de contratos estão presentemente em desenvolvimento. 22 Alternativa: O Modelo Pioneiro de São Em linhas gerais, o modelo paulista pode ser assim Paulo sintetizado: O Estado de São Paulo teve sua legislação (Lei > prévia divisão do território estadual em 22 Estadual n° 7.663) aprovada em dezembro de 1991, (vinte e duas) unidades de planejamento e portanto com dianteira de cinco anos relativamente gestão, com base na "leitura" dos principais à Lei Nacional n° 9.433/97, o que lhe confere problemas, características geográficas e inegável pioneirismo nesta matéria, não somente no outras variáveis intervenientes nas questões que conceme à estruturação de um sistema estadual pertinentes aos recursos hídricos que drenam de gerenciamento de recursos hídricos, digno do o estado (divisão político-administrativa, p. nome, como também quanto à implementação de ex.), com flexibilidade para o agrupamento sistemática para a concessão de outorgas pelo direito de bacias ou divisão de outras em sub-bacias de uso da água, em todas as bacias que drenam seu e trechos de rios (alto, médio e baixo território. Paranapanema, p.ex)6; Com efeito, muitas das legislações que surgiram em 6 A unidade de planejamento e gestão do Alto Tietê, outros estados brasileiros, ao longo do período 93- correspondente à Região Metropolitana de São Paulo, frente 96, reproduzem quase mecanicamente o modelo à enorme complexidade de seus problemas, foi subdividida em sub-comitês, observando-se, para tanto, a lógica urbana e institucional paulista, sem o cuidado com os ajustes político-administrativa (municípios e regionais da Prefeitura que seriam necessários. de São Paulo) 77 5 Quatro Alternativas Institucionais Avançadas Estratégias dc Gerenciamento de Recursos Hidricos no Brasil Arcas de Cooperação com o Banco Mundial > forte movimento político do Governo do Recursos Hídricos - CORHI, constituído Estado, ora com presença do próprio como instância de assessoramento ao Governador, quando menos, do Secretário de Conselho Estadual de Recursos Hídricos; Recursos Hídricos, Saneamento e Obras (SRHSO), com apoio técnico do > relativamenteàparticipaçãodosmunicípios, Departamento de Águas e Energia Elétrica observa-se adesão importante e qualificada (DAEE), no sentido da formação de comitês em quase todas as regiões de São Paulo de bacia hidrográfica, instalados em todas as (comitês do rio Paranapanema, Comitê do unidades de planejamento e gestão e trecho paulista do rio Paraíba do Sul e em compostos, paritariamente, por terços do outros), não obstante a presença de conflitos Estado, dos municípios e da chamada quando a atuação do Estado é sobreposta a sociedade civil; organizações regionais autônomas, pré- existentes, caso reconhecido do Consórcio > constituição do Fundo Estadual de Recursos Intermunicipal dos rios Piracicaba e Capivari, Hídricos (FEHIDRO), onde foram a longo tempo e ainda nesse momento, envolto consignados aportes provenientes da em disputas e duplicidades de ação com o compensação financeira por áreas alagadas, comitê daquelas bacias; recolhida pelo setor elétrico à conta de pagamento pelo direito de uso da água, em > no que conceme ao segmento da sociedade valores anuais que montam a R$ 35 milhões, civil, é digna de nota a resistência do setor postos como suporte ao funcionamento dos industrial, capitaneado pela Federação das comitês, em cujo âmbito delibera-se sobre Indústrias do Estado de São Paulo - FLESP, a sua aplicação, efetuadas mediante convênios quem se atribuem às dificuldades ponderáveis do Estado com as prefeituras municipais'; de aprovar a legislação que regulamenta a cobrança pelo direito de uso de recursos > além dos recursos transferidos, a dinâmica hídricos, em tramntação legislativa desde 1998, dos comitês é apoiada pelo concurso de mesmo à custa de sucessivas versões, quadros técnicos do DAEE e, bem assim, de acordos e substitutivos; outras entidades estaduais (destaque para a Companhia Tecnologia de Saneamento > com efeito, no modelo paulista, o segmento Ambiental - CETESB), regionalmente dos usuários de recursos hídricos, principais organizados e presentes nos comitês, que contribuintes do sistema, confunde-se em elaboram relatórios anuais sobre a situação meio à representação da sociedade civil dos recursos hídricos em cada unidade de (organizações de defesa do meio ambiente, planejamento e gestão, com vistas a orientar entidades profissionais, de classe, de ensino a alocação dos aportes disponíveis e a e de pesquisa), com as quais divide um terço definição de eventuais planos e programas dos assentos no Conselho Estadual, nos de ação; comitês e, igualmente, nos conselhos de administração das futuras agências de bacia, > essas entidades têm, ainda, presença no definidas na figura de fundações de direito Comitê Coordenador do Plano Estadual de privado; > assim, salvo melhor juízo, pode-se debitar ao 7A alocação dos recursos entre bacias tem base em crntérios de modelo institucional a redução verificada no população relativa, dentre outros fatores, com média anual da ordem de R$ 1,6 milhões/unidade de planejamento e vigor e na velocidade inicialmente gestão demonstrada por São Paulo na implementação 5 Quatro Alternativas Institucionais Avançadas 78 gua dBraiV de seu Sistema Estadual de Gerenciamento mencionar o funcionamento exemplar de sistemática de Recursos Hídricos, fato atestado por de licenciamento ambiental, respaldada pela tentativas de acordos que modificavam o peso manifestação do Conselho Estadual de Política relativo dos atores emjogo (maior ponderação Ambiental, o CEPAM. aos usuários pagadores), por ocasião de deliberações envolvendo a cobrança pelo Todavia, guardadas as especificidades dos modelos direito de uso de recursos hídricos. institucionais de ambos os estados (uma vez que existem peculiariedades importantes no caso do Rio Grande do Sul8), há que se destacar que a ênfase 3G Alternativa: Minas Gerais e Rio na mobilização social constitui a principal marca da Grande do Sul - as marcas da estratégia adotada por ambos na implementação de mobilização social seus sistemas de gerenciamento de recursos hídricos. O Rio Grande do Sul, na bacia do rio dos Sinos, abriga o Comitê mais antigo do Brasil, com mais de A descrição que segue, das iniciativas de Minas 13 anos de atuação, secundado pelo Comitê do rio Gerais conhecidas como "Pré-Conferências das Gravataí e de outras iniciativas similares, como no Águas", situa bem a referida estratégia: Rio Santa Maria, p. ex., os primeiros induzidos pela degradação das águas associada a atividades urbano- > as 17 bacias hidrográficas de Minas foram industriais, próximas à Grande Porto Alegre, e o divididas em 34 unidades de planejamento e último em região onde são freqüentes conflitos de gestão, abrigando 12 comitês em usos múltiplos originados pelo cultivo de arroz funcionamento no presente, cobrindo área irrigado por inundação. correspondente a cerca de 80% do território estadual; Por seu turno, Minas Gerais foi o único estado brasileiro com aprovação recente de duas > sob iniciativa do IGAM, durante o exercício legislações de recursos hídricos, a primeira datada de 2000, foi empreendida grande mobilização de 1994, transcrição imperfeita da lei paulista e a com vistas à realização da , Ia Conferência atual, Lei Estadual n ° 13.199, atualizada em janeiro das Águas em Minas Gerais", por ocasião do de 1999. 22/março, Dia Mundial da Água; Em ambos, a mobilização da sociedade civil parece > em 31 das unidades de planejamento e gestão andar a frente da própria estruturação dos sistemas foram realizadas "Pré-Conferências estaduais de gerenciamento de recursos hídricos. Municipais das Águas", antecedidas de forte De fato, é paradoxal que o Rio Grande do Sul não trabalho de sensibilização e mobilização tenha instituição específica nem opere um sistema social, segundo metodologia e sistemática formal de outorgas de direito de uso de recursos própria de trabalho, envolvendo equipes hídricos, permanecendo a gestão das águas preparatórias e prévia identificação de circunscrita como tópico dos processos de lideranças regionais, entre prefeitos e licenciamento ambiental. representantes de entidades da sociedade civil organizada; Já em Minas, esta distância é bem mais reduzida, como atestam os importantes avanços empreendidos em favor da estruturação do Instituto Mineiro de Comitês formados por bacia, com funcionamento a ser Gestão das Águas - IGAM, organizado e operando apoiado em futuras empresas públicas, constituídas como agências de abrangência sobre amplas regiões hidrográficas a concessão de outorgas, sendo Importante definidas pelo Governo do Estado 79 5 Quatro Alternativas Institucionais Avançadas Estratégias de Gerenciamento de Recursos Hiídrícos no Brasil Arcas de Cooperaçào com o Banco Mundsal 7 como resultado, as "Pré-Conferências" relacionados à admninistração de importantes arregimentaram mais de 4.500 participantes, conflitos regionais; divididos em grupos de trabalho sobre temas afetos à gestão de recursos hídricos, com > não existem maiores registros sobre a eleição de 300 delegados indicados a presença de usuários propriamente ditos participar da " a Conferência das Águas", que nestas "Pré-Conferências", não obstante a contou com mais de 500 ouvintes; interlocução próxima mantida permanentemente pelo IGAM com a > esses esforços impulsionaram a formação e Federação das Indústrias do Estado de Minas a dinâmica social de comitês de bacia, Gerais (FIEMG), e bem assim, também no notadamente quando prefeitos, ONG's e Rio Grande do Sul, no que tange ao lideranças locais perceberam o potencial de acompanhamento mantido por parte do representatividade dos institutos previstos pelo segmento industrial, dos debates sobre sistema de gerenciamento de recursos atividades que deverão ser empreendidas hídricos, além de outros, também para os fins relativamente à futura recuperação dos nos de sua manifestação junto aos processos de dos Sinos e Gravataí. concessão de outorgas, por vezes Box 5.2 - A presença do Banco Mundial no processo De modo algum pode-se desconsiderar o importante papel do Banco Mundial no processo de institucionalização da gestão de recursos hídncos no Brasil, senão vejamos: > é conhecido o aporte técnico, institucional e financeiro do Banco nos programas que resultaram no modelo do Ceará, partindo de iniciativas voltadas à questão urbana até chegar ao presente Programa de Gerenciamento de Recursos Hídncos, em percurso decisivo na própria instalação e apoio ao funcionamento da COGERH; > de modo similar se desenvolvem esforços na Bahia, já com importante substrato anterior construído pelo Estado, que deverá seguir adiante contando com aportes do Banco; > em todos os demais estados do Semi-árido, notadamente naqueles com menor desenvolvimento institucional e, também assim, em Minas Gerais (pela via de apoios ao IGAM), os sistemas de gerenciamento avançaram substancialmente com suporte em estudos e compromissos firmados no âmbito do PROÁGUA (ver Box 5.3); > insere-se nesse conjunto de iniciativas patrocinadas pelo Banco o Water Quality and Pollution Control Project, composto por três programas experimentais e um componente nacional (Loan n ° 3503-BR), que deixaram como legados- * em Pemambuco, proposta estruturada de programa de investimentos que deverá resultar no Pro-Metrópole, para recuperação ambiental urbana de favelas na bacia do rio Beberibe, Região Metropolitana de Recife; * na região de Feira de Santana (BA), proposta de programa para proteção do Baixo Paraguaçu, na área de influência do Reservatório de Pedra do Cavalo, manancial da Grande Salvador; * na bacia dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (SP), proposta de investimentos hierarquizados que servirão de linha mestra ao plano daquelas bacias hidrográficas, * igualmente, na bacia do rio Paraíba do Sul (ver Box 5.3), programa inicial de investimentos cuja elaboração serviu de motivação onginal à própria reformulação do Comitê de Integração da Bacia (CEIVAP); * em Minas Gerais, a reformulação da legislação, patrocinada pelo Programa de Saneamento Ambiental da Região Metropolitana de Belo Honzonte (Loan n° 3554-BR), consubstanciada na Lei Estadual n° 13.199/99; 5 Quatro Alternativas Institucionais Avançadas 80 Águatk continuação Box 5 2 * em São Paulo, na revisão da Lei de Proteção aos Mananciais do Estado de São Paulo, concebida no âmbito do Programa de Saneamento Ambiental da Bacia da Guarapiranga (Loan n °3504-BR); * no Paraná, pelo advento do Sistema Integrado de Gestão e Proteção aos Mananciais da Região Metropolitana de Curitiba - RMC (Lei Estadual n O 12.248/98) e do Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídncos (Lei Estadual n ° 12.246/99), ambos concebidos e regulamentados no contexto do Programa de Saneamento Ambiental da RMC, bacias do Alto Iguaçu e Alto Ribeira (Loan n ° 3505-BR). Quanto a esse último, numa clara demonstração de quanto é importante perseverar nos esforços de natureza institucional, por solicitação do Estado, o Banco chegou a "descancelar" parcela dos recursos de empréstimo (US$ 6 milhões), como forma de garantir apoio e continuidade à regulamentação da legislação de recursos hídricos, obtendo como resultado a recente aprovação, pelo Conselho Estadual, de decreto que estabelece a cobrança pelo direito de uso da água. 42 Alternativa: Paraná - ênfase na Com efeito, são 07 (decretos), consistidos e interlocução com os usuários articulados mutuamente, ordenados em dois conjuntos:- o primeiro referindo-se ao modelo Dentre os estados de maior desenvolvimento institucional (do CERH; dos comitês de bacia; das econômico da Federação, o Paraná foi o último a associações de usuários e demais organizações da aprovar sua Lei Estadual de Recursos Hídricos, sociedade civil; e, do poder público outorgante); e o datada de novembro de 19999. Não obstante, tratou segundo, aos instrumentos do sistema (dos de acompanhar a regulamentação necessária com procedimentos de outorga; do Fundo Estadual de estudos técnicos detidos, financiados no âmbito do Recursos Hídricos; e, da cobrança pelo direito de Programa de Saneamento Ambiental da Região uso da água), todos publicados e vigentes, este Metropolitana de Curitiba (PROSAM)'°. último, aprovado pela unanimidade do CERH em dezembro de 2001 e publicado em fevereiro de 2002. Com tal suporte, a regulamentação foi empreendida sob acompanhamento de um grupo técnico, instituído Assim, o atraso inicial da partida do Sistema deu pelo Governo do Estado, composto por 17 lugar, hoje, a um avanço significativo na instituições, dentre usuários de recursos hídricos implementação do modelo paranaense, o que pode (segmentos da indústria, agricultura e ser atestado pela instalaçao da Agencia das Bacias concessionários de saneamento e energia), do Alto Iguaçu e Alto Ribeira, a primeira do país organizações não governamentais, universidades, que conta com Conselho de Administração definitivo entidades profissionais, prefeituras municipais e e com Diretona Executiva, além de sede física e de órgãos do estado, em trabalho com duração próxima todos os equipamentos (comunicações, transporte adoisanos,tenda coo d resultadoamais completa e informática) necessários ao início de suas regulamentação dentre os sistemas de recursos operações. Em dezembro de 2002, esta entidade hídricos do país. celebrou com o Estado do Paraná o primeiro e, até o presente, único Contrato de Gestão do país, A legislação paranaense foi a única a estabelecer (Art 53, § documento legal que formaliza as suas funções único) isenção da cobrança para as captações destinadas à Ag^ d b produção agropecuária, originando inconsistência e incorreção como gência as acias. frente à Lei Nacional e às de todos os demais estados, além de problemas para a aplicação de tal dispositivo, em razão Deve-se observar que os comitês cnados no Paraná da existência de diferentes domínios (federal e estadual) na nascem respaldados, na maioria dos casos mesma bacia hidrográfica. (Complexo do Alto Iguaçu e Alto Ribeira, Tibagi, '° Inserido nas operações de crédito do Banco Mundial, referentes ao Water Quality and Pollution Control Project - Pirapó, Jordão, Paraná III e outras bacias), por Loan Agreement n ° 3505-BR. consórcios ou associações de usuários, como foi 81 5 Quatro Alternativas Instiucionais Avançadas Estr,tegias de Gerenciamento de Recursos Hídricos no Brasil Arcas de Cooperação com o Banco Míundial possível observar no Alto Iguaçu e Alto Ribeira, SEGRH, conjuguem esforços e propósitos, onde a associação é dotada de peso relativo numa estratégia de contratualização de ponderável". Esses consórcios ou associações, que objetivos; se credenciam ao papel de agências de bacias, são instituídos como entidades de direito privado, no > a segunda distinção do modelo paranaense formato de organizações da sociedade civil de tem a ver com nova inversão, desta vez na interesse público (OSCIPs). Tal possibilidade é estrutura vertical observada nos modelos dos certamente conseqüência das características demais estados, onde todos os atores estão peculiares ao modelo institucional paranaense que presentes, com igual peso, em todas as pode ser assim sintetizado: instâncias decisórias (Conselho, comitês e agências). O sistema paranaense, então, > o modelo é composto pelo Conselho Estadual estrutura-se a partir de uma divisão horizontal de Recursos Hídricos (CERH), comitês de de trabalho, diferenciando composição e bacia e pelas chamadas "unidades executivas encargos entre os três níveis institucionais, descentralizadas (UED's)", constituídas a cada qual com identidades e instrumentos partir da prévia formação de associações de próprios de atuação: usuários de recursos hídricos e/ou de consórcios intermunicipais de bacias * o primeiro, na ponta do Sistema, é hidrográficas, com a finalidade de exercerem formado a partir do pacto e funções e competências inerentes às convergência de interesses agências de água (ou de bacia); particulares, públicos e privados, de usuários de recursos hídricos (dentre > portanto, o que difere a alternativa esses, os municípios), consubstanciada paranaense é, primeiramente, o seu por proposta de plano de bacia movimento institucional inverso, conferindo hidrográfica, com financiamento aos usuários as iniciativas e o papel dinâmico parcial previsto à conta da cobrança principal do sistema, ou seja, os comitês são pelo direito de uso da água:- as UED's formados como resposta à solicitações dos (domínio dos interesses usuários, motivados pelas prerrogativas particulares); reservadas às UED's - enquanto de seu domínio exclusivo (espaço de interesses o o segundo, colegiado, de âmbito e particulares) - de proporem valores de identidade regionais, com o encargo de cobrança e os seus correspondentes planos cotejar e convergir os interesses de aplicação (os planos de bacia); particulares dos usuários frente ao interesse público mais amplo, mediante > sob tal perspectiva, busca-se ter como raiz e a análise e aprovação dos planos de substrato, sempre que possível, o intervenção:- os comitês de bacia consorciamento de interesses dos usuários hidrográfica (domínio comparti- locais socialmente identificados - municípios lhado); e, por fim, e agentes, públicos ou privados - , para que esses, em parceria consolidada no âmbito do o a instância mais elevada de decisão e recurso, na qual o Governo do Estado Integram a Associação. Petrobrás, Copel (concessionária de mantém forte posição, paritária frente energia), Sanepar (concessionária de saneamento), AMBEV, à soma dos demais integrantes, para Coca-Cola, Cocelpa (papel e celulose), Incopa (denvados de os fins de planejamento estratégico, soja) e Frogorífico Argus, dentre outros usuários de grande OSbin o de conflito e condução porte arbitramento de conflitos e condução 5 Quatro Alternativas Institucionais Avançadas 82 Agua política do processo:- o Conselho bacias hidrográficas cuja relevância de Estadual de Recursos Hídricos problemas assim o justifiquem ou que (domínio do Estado). apresentem importância estratégica no contexto estadual; percebe-se a intenção de proceder a uma clara divisão de trabalho: (a) os > por fim, cumpre alertar para dois aspectos empreendedores (usuários) propõem e que merecem atenção na instalação do executam encargos de natureza executiva sistema: (i) o modelo exige, como (plano e cobrança); (b) a sociedade civil, contrapartida ao grau de descentralização em presente nos comitês, exerce a vigilância favor dos usuários, o fortalecimento das social (os planos devem ser obrigatoriamente funções públicas de regulação ambiental, o aprovados nos comitês, onde os usuários são que implica na estruturação obrigatória dos minoria frente à soma de sociedade civil mais procedimentos de outorga, monitoramento e Estado); e, (c) o Estado regula o processo e fiscalização junto à entidade estadual arbitra conflitos, a partir de sua posição no responsável, sem garantias de que esta venha CERH; a ocorrer; e, (ii) não existem claros mecanismos de incentivo à participação da em termos da dimensão espacial, pretende- sociedade civil junto ao sistema, o que poderá se a instalação de aparatos de gestão resultar na preponderância excessiva do papel (Comitê e respectiva UED) somente em reservado aos grandes usuários. Os esforços da ANA para implementar o Sistema de Gestão na Bacia do rio Paraíba do Sul Box 5.3 - A gestão na Bacia do Rio Paraíba do Sul Espalhada em 55.500km2, a bacia do Paraíba do Sul cobre parte de três importantes Estados brasileiros; São Paulo (13 900km2; 25%), Rio de Janeiro (20.900km2; 38%) e Minas Gerais (20.700km2; 37%). Os seus 39 municípios paulistas, 53 fluminenses e 88 mineiros formam um dos mais expressivos vales do País, ocupado por cerca de 3% da população brasileira e responsável por cerca de 12% do PIB nacional. Além de fornecer água para a população urbana da bacia (4 852.971 habitantes; IBGE/2000), o no Paraíba do Sul abastece quase toda a população da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, ou seja, cerca de 8,5 milhões de pessoas, através da transposição de vazão deste vale para a bacia do no Guandu, na vertente atlântica. Outrossim, o fato de o no se desenvolver paralelamente à Via Dutra, eixo rodoviáno que interliga as Metrópoles Nacionais, São Paulo e Rio de Janeiro, acabou por dar notoriedade às cidades ribeirinhas, trazendo, portanto, riqueza e prosperidade à região. Foi essa importância econômica e estratégica que motivou o Governo Federal a criar, no final dos anos 70, a primeira semente da gestão das águas, o "Comitê Especial de Estudos Integrados de Bacias Hidrográficas" (CEEIBH) e o "Comitê Executivo de Estudos Integrados do Vale do Paraíba do Sul" (CEEIVAP), que tinha uma função meramente consultiva nas ações de recuperação ambiental promovidas pela administração pública brasileira. Apesar do esforço do CEEIVAP e de sua contribuição na identificação e proposição de ações corretivas, ao longo de mais de uma década, o vale não recebeu o necessário apoio político, nem o necessário investimento, para implementar as medidas que foram propostas. Somente em 1992, em decorrência da bem-sucedida experiência na bacia do no Doce, teve início a "Cooperação França-Brasil", para a bacia do rio Paraíba do Sul. Essa Cooperação, ao longo de seus sete anos, realizou amplo trabalho de atualização, aquisição e sistematização de dados relacionados aos recursos hídricos da bacia, sobretudo aqueles relativos à qualidade da água e à poluição decorrente da atividade industrial. 83 5 Quatro Alternativas Institucionais Avançadas Estratégias de Gerenciamento de Recursos Flídncos no Brasil Arcas de Cooperação com o Banco Mundial continuação Box 5 3 Ao final de 1994, o Estado de São Paulo criou o "Comitê da Bacia Hidrográfica do no Paraíba do Sul e da Serra da Mantiqueira" (CBH-PSM) para colaborar na gestão das águas desta bacia, no território paulista. Com o amadurecimento dos conceitos de gestão das águas trazidos com a realização da ECO-92 no Rio de Janeiro, o governo federal cnou, por decreto presidencial, em março de 1996, o novo "Comitê para Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul" (CEIVAP), constituindo-se no pnmeiro passo efetivo da implantação de um novo paradigma de gestão pública no País. Iniciava-se aí o novo processo descentralizado e participativo de gestão das águas, que foi legalmente implantado mediante a aprovação da Lei 9.433/97, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e cnou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hiídricos. Mais recentemente foi também criado o "Comitê das Bacias dos Rios Muriaé e Pomba", rios afluentes do Paraíba do Sul, ambos com domínio federal. Embora a gestão da bacia do Paraíba do Sul seja da competência do CEIVAP, a atuação dos vários comitês, dos consórcios intermunicipais e de outras organizações sumlares denotam o nível de associatividade e de interesse que a sociedade do vale do Paraíba vem apresentando com relação aos seus recursos hídncos. Concomitantemente com a criação do CEIVAP, o Governo Federal implementou, com créditos tomados junto ao Banco Mundial, o Water Quality and Pollution Control Project (Loan 3503-BR), conduzido no âmbito da Secretaria de Política Urbana do Ministério do Planejamento e Orçamento, em convênio com os Estados do Rio de Janeiro e São Paulo. Tal Projeto foi responsável pela realização de uma série de estudos visando à elaboração de um Programa de Investimentos para a recuperação ambiental da bacia, desenvolvida com financiamento do BlRD. Similarmente, o Programa de Investimento relativo à parte mineira da bacia foi posteriormente elaborado como parte de um outro Projeto, denominado "Projeto Preparatório para o Gerenciamento dos Recursos Hídricos no Paraíba do Sul", esse conduzido com recursos de um Grant do Governo japonês. Os estudos e projetos resultantes desses Programas, executados no período 1996 - 1999, evidenciaram os inúmeros e sérios problemas ambientais da bacia decorrentes do uso predatório e descontrolado de seus recursos naturais. Apesar de se tratar de uma região razoavelmente próspera, inúmeros problemas de infraestrutura vêm afetando a qualidade das águas fluviais O setor saneamento, por exemplo, é responsável por maior parte da poluição encontrada nas águas do Paraíba do Sul. Apenas 58% da população têm seus esgotos coletados e menos de 5% os têm tratados. A disposição dos resíduos sólidos urbanos constitui-se também em grande problema. Mais de 53% dos resíduos coletados são dispostos em "lixões" e quase sempre em locais inadequados e sem a segregação dos resíduos patogênicos. Bueiros e riachos são obstruídos por depósito de lixo e'entulho, causando retenções de escoamento e cheias. No setor industrial são produzidos quase 30 milhões de toneladas/ano de resíduos. Embora os maiores produtores de resíduos de classes 1 e II (resíduos perigosos e resíduos não inertes, respectivamente) estejam sob controle, não é pequeno o número de industrias que, sem a devida fiscalização, fazem uma disposição inadequada de seus resíduos. Não menos impactante ao meio ambiente é a ocupação inadequada do solo, a erosão provocada por desmatamentos, bem como os assoreamentos que incrementam as danosas consequências das cheias dos afluentes do Paraíba. Todos esses fatos, com reflexos negativos para a saúde pública, afligem a população da bacia e precisam ser imediatamente revertidos com ações institucionais, não estruturais e estruturais, que foram estimadas em cerca de R$3 bilhões. Os estudos mostraram também ser factível o financiamento total desses investimentos com os recursos provenientes da "cobrança pelo uso da água" já a partir do quarto ano de sua implementação. Motivado por esses estudos, o CEIVAP deliberou pela aprovação da cobrança pelos usos das águas da bacia, cujo início deverá ocorrer ainda no primeiro semestre de 2003, sendo calculada por uma fónmula simplificada que abrange, preliminarmente, apenas os usuários do setor de saneamento e do setor industrial. Esta deliberação encontra-se respaldada por igual aprovação do Conselho Nacional de Recursos Hídricos, conferindo grande legitimidade ao início da cobrança. 5 Quatro Alternativas Institucionais Avançadas 84 Água continuação Box 5.3 Por seu turno, a Agência Nacional de Águas, com jurisdição limitada, aos corpos hídricos federais, promoveu, também em 2002, a celebração de convênios de integração com os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, com o objetivo de que as outorgas e as respectivas cobranças sejam feitas de forma coordenada e conjunta. Em complemento, o CEIVAP e, na seqüência, o Conselho Nacional de Recursos Hídricos, aprovaram a criação da Agência de Águas da Bacia, constituindo e instalando o seu Conselho de Administração, presidido por um representante do setor usuário da indústria. A agência encontra-se em processo de credenciamento como Organização Social Autônoma (OS), uma das figuras previstas pela Reforma Administrativa do Aparelho de Estado, devendo ser fisicamente implantada ao longo de 2003, assim que os estudos sobre a sua estrutura organizacional forem ultimados, sob o patrocínio da ANA. Estes fatos e eventos demonstram que a implementação do Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos na Bacia do Paraíba do Sul constitui prioridade vital para a ANA, tanto em razão de sua importância no complexo nacional, quanto pela possibilidade de consubstanciar um exemplo paradigmático a ser replicado em outras bacias do país. Não por outras razões, os esforços da ANA vem sendo acompanhados de estudos complementares, de modo a subsidiar futuros aprimoramentos nos procedimentos de outorga e de cobrança no Paraíba do Sul, conformando quase que um laboratório para a consolidação de métodos e processos de gestão de recursos hídricos. ,~~~~~~~~~~~~~~~, X~~~~~~~~ .,u-,- (? ,es* ¼a ie v LEEA N 2 uormlto p \, J~~~~~~- C~ ~df* ; w<"_ .,,E Fo- PPG (2600) 85 5. Quatro Alternativas Institucionais Avançadas 6 Questões-Chaves e Possíveis Caminhos 6.1. PRELIMINARES institutos do sistema de gestão aos governos endo como objetivo apoiar a consolidação estabelecidos:- os comitês não são ONG's de cm objetv apoiar que devam ser aparelhadas para fins de crítica hídricos no Brasil, não somente no que às instituições, mas espaços para uma gestão h~ ~ .dio no Brsl nã .oeten u compartilhada entre o Estado e a sociedade; concerne às questões institucionais, mas também, c quanto à definição e financiamento de um estoque > por outro lado, não cabe aprisionar o sistema apropriado de infra-estrutura hidráulica, os de gestão no contexto de modelos elementos de uma EGRHB devem incorporar duas tecnocráticos:- os comitês e agências de bacia abordagens simultâneas: constituem-se em espaços institucionais > bottom-up, com o sentido de dar apoio a abertos à participação e à dinâmica social, dinâmicas pré-existentes (lifting forces), não se limitando a meros apêndices do respeitando diferenças e criando Aparelho de Estado, que possam (ou devam) competências e recursos locais, de modo a ser submetidos por controles, métodos e motivar a sociedade e buscar respaldo práticas tradicionais da administração molítivar a, sociedade ebuscarrespaldopública, sabidamente imprópnos ao trato dos político; e, também, problemas complexos que se quer enfrentar; > top-down, sem fugir às responsabilidades de a uniformização de modelos e altemativas, definir desígnios e objetivos (água para traçando o Brasil como Estado Unitário:- o diversos usos e para todos) e metas para o respeito ao federalismo e autonomia local - país, explicitando conceitos e princípios mediada frente a interesses de terceiros e da ornentadores, com vistas ao seu consenso; dneve-setainda, aomvistuar modospró-ativos Nação como um todo -, deve ser estabelecido como diretriz de trabalho, assim como "o resolução e/ou superação de diferenças e . g confltos etre etado e enre baias.avanço gradativo em áreas determinadas, que possam consolidar experiências e aprendizados Nessas abordagens, são atitudes a evitar: passíveis de replicação e aprimoramento, devem constituir-se em caminhos legítimos a > a adoção dos instrumentos e sistemas de serem reconhecidos e respaldados"'; gestão como dogmas, objetivos centrais ou fins em si mesmo:- os sistemas e instrumentos > a duplicidade e as disputas de atnbuiçóes e visam a resolver problemas e esses devem competências entre entidades e esferas de constituir-se nos orientadores e indicadores Governo:- cumpre integrar ações sobre o finais sobre a proficiência das ações; território comum das bacias hidrográficas, > a descrença e o confronto com o Estado Carta de Aracajú (2001). XIV Simpósio da Associação Democrático de Direito, contrapondo os novos Brasileira de Recursos Hídncos - ABRH 87 Estrategias de Gerenciamento dc Recursos Hídricos no Brasil Areas de Coopergção com o Banco Mdundial sem distinção dos domínios dos corpos d'água, Parece razoável supor que o advento dos Sistemas segundo uma divisão de funções que otimize Nacional e Estaduais de Gerenciamento de Recursos capacidades institucionais existentes, Hídricos propicia (ou deveria propiciar) outras orientada pela natureza dos problemas a alternativas para soluções aplicáveis aos mesmos enfrentar. problemas, graças à nova lógica conceitual e legal da gestão, que alterou seu modelo institucional, não No contexto de uma EGRHB, a posição do Banco somente na forma, mas também, no conteúdo. Esse Mundial deverá: upgrade nas formas de cooperação multilateral seguramente será exigido, tanto pelas novas > servir como catalizador de iniciativas; possibilidades institucionais, quanto pela insuficiência do modelo das atuais operações de crédito. > propiciar estabilidade, continuidade e permanência, quando das mudanças de governos; 6.2. A MATRIZ INTERINSTITUCIONAL DA GESTÃO DAS ÁGUAS NO BRASIL > apoiar nichos de projetos específicos que não encontram abrigo nas linhas tradicionais de Dispostas as atitudes acima, a questão que se coloca crédito, notadamente quando esses reclamam é:- como identificar os campos de atuação da assistência técnica, proficiência e experiência EGRHB, no contexto da divisão de trabalho que na estruturação de arranjos abrangentes (full deverá ser estabelecida, para a estruturação do services); e, SINGRH e para o enfrentamento dos principais problemas de recursos hídricos no Brasil? > assistir tecnicamente, apoiar e complementar linhas de crédito e programas existentes, O ponto de partida deve ser o reconhecimento da sempre que a cooperação multilateral se natureza plena (complexa) de muitos dos problemas mostre necessária e/ou agregue valor a tais a enfrentar, o que exige articulações institucionais programas. igualmente complexas, cabendo, por conseguinte, a investigação de procedimentos metodológicos A identificação das áreas prioritárias para a capazes de estabelecer a divisão de encargos e de cooperação do Banco Mundial deverá ter como formas de articulação entre as ações dos diferentes bases a própria expenência prática de suas operações atores e níveis de governo envolvidos. no Brasil, as variadas demandas pela sua cooperação financeira e institucional e as áreas temáticas onde De pronto, surgem dificuldades caso se pretenda o seu apoio pode constituir elemento decisivo de operar de modo centralizado, dada a elevada viabilização de programas, projetos e complexidade da matriz institucional resultante:- de empreendimentos, públicos e privados. um lado, múltiplos agentes (ONGs e municípios até a inclusão do Ministério de Relações Exteriores para Todavia, dadas as alterações institucionais em curso as águas compartilhadas com países vizinhos); e, no país, promovidas no âmbito da Lei Nacional n° de outro, a natureza multidisciplinar dos problemas 9.433/97, com mudanças significativas quanto aos a enfrentar (da irrigação e geração de energia até interlocutores com os quais o Banco deverá entabular os aspectos ecológicos e problemas relativos ao uso entendimentos, caberia avançar, principalmente, em e ocupação do solo, próprios à competência formas inovadoras sobre "como executar operações legislativa municipal). de crédito externo" nesse novo contexto, ou seja, há espaço para upgrade nos próprios mecanismos Dois procedimentos metodológicos concomitantes institucionais de cooperação multilateral com o Brasil. parecem oportunos: 6 Questões-chaves e Possíveis Caminhos 88 Água -Brria (i) o primeiro refere-se à espacialização da > qualamelhordivisãodetrabalhoentreplanos Matriz, construindo-a progressivamente, da de bacia hidrográfica (eventualmente base inferior até a base superior, tal como um definidos no âmbito de sub-bacias e tronco de cone, segundo a ocorrência local, consistidos regionalmente), planos estaduais regional, estadual, em regiões hidrográficas e o Plano Nacional de Recursos Hídricos? ou de âmbito nacional das articulações institucionais a considerar, de modo a > quais as articulações troncais e estratégicas destacar, para interesse de uma Estratégia que, vencidas as bases inferior e Nacional, somente aquelas troncais e de intermediárias, compõem a base superior do importância estratégica, sem as quais as tronco de cone? articulações dos níveis inferiores não ocorreriam ou senam dificultadas; > como a ANA/União deve atuar, em cooperação com os sistemas estaduais e na (ii) o segundo implica no cruzamento das implantação das ferramentas de apoio articulações institucionais com o conjunto previstas pelo SINGRH, considerando a real de problemas (Matnz Aplicada), tal como divisão de encargos explicitada pela matriz identificados por diagnósticos no contexto de institucional assim definida ("espacializada" planos de bacia e de planos estaduais de e aplicada aos problemas reais)? recursos hídricos, igualmente ordenados segundo a pertinência do nível hierárquico > quais os nichos onde a cooperação do Banco mais baixo capaz de equacioná-los, o que Mundial é desejada e poderá ser pressupõe algum cotejamento entre a natureza potencializada? dos problemas e o maior ou menor grau de delegação para a gestão das águas (descen- a A observação dos conceitos e procedimentos tralização calibrada), segundo a capacidade acima enunciados implica na necessidade de institucional instalada em cada região. serem efetuadas avaliações sobre o estágio de avanço e maturidade institucional dos Em tais procedimentos - da base ao topo do tronco sistemas estaduais de gerenciamento de de cone, numa sobreposição sucessiva de sub- recursos hídricos (SEGRH's)2, de modo que matrizes na direção da matriz intennstitucional de o SINGRH (do qual os SEGRH's são peças interesse para os elementos que informarão a constitutivas fundamentais) possa assumir EGRHB -, os principais questionamentos parecem frente a eles uma atitude de cooperação, ser: complementação e/ou indução positiva, evitando o equívoco de políticas veladas de > quais os problemas regionais relevantes e sua centralização, competição ou paternalismo. hierarquia segundo a abrangência ou área de influência crescente? > quais as articulações institucionais mais simples (considerando, de um lado, a 2 Preliminarmente efetuada no Cap 4 deste documento capacidade institucional instalada e, de Todavia, para os fins de uma EGRHB deve-se pensar em outro, os limites operacionais da União) que trabalhos mais sistemáticos e continuados Uma boa permitem equacionar os problemas alternativa seria a incorporação da Metodologia APEX, pdermitemdo equacionadoresetmne proposta nos documentos preliminares do Water 2l Project, identificados e ordenados crescentemente patrocinado pela Comunidade Européia, que poderia ser - segundo sua abrangência / área de quando e se oportuno - incorporada ao arsenal de influência? instrumentos disponíveis para a EGRHB 89 6 Questões-chaves e Possíveis Caminhos Estratégias de Gerenciamento de Recursoc Hiídncos no Brasil Arcas de Cooperação com o Banco Mundial 6.3. A QUESTÃO DA DOMINIALIDADE pertinentes à organização federada do país, nem se DOS CORPOS D'ÁGUA reveste da inteligência necessária para dar cabo às imensas tarefas que o gerenciamento das águas do O tratamento a ser dado ao problema do domínio país encerra dos corpos d'água constitui-se num bom exemplo de aplicação dos conceitos até aqui enunciados. O que se pode propor, alternativamente, é o entendimento cooperado, com base nas Uma alternativa mais arrojada para superar o possib es t Opelos a os 4 artcuaç problema de uma gestão que se pretende integrada, coss estados ara gerigus de interess mas é confrontada por diferentes domínios - e comum) e 14° (possibilidade de delegação de conseqüentes poderes de outorga e de cobrança, compêi e outorga)da Le Nacioalãn 93 por cnseqência comdistitas no tiing, competências de outorga) da Lei Nacional n° 9.43 3/ por~~ ~ cosqêca'o isits(otmng 97, de modo que a remissão ao Judiciário, de inclusive) execuções orçamentárias -, implicaria em even mdiputas erem ne Jdecovrno,d . ' . . ~eventuais disputas entre níveis de governo, alteração das disposições constitucionais, na direção denuncie a própria inapetência desses em exercitar dos modernos conceitos de um "federalismo de formas inteligentes de articulação que são cooperação", em contraponto ao anterior, "de reclamadas pela Lei Nacional de gerenciamento competências exclusivas", de modo a vencer a das águas. conservadora tradição patrimonialista, ainda tao presente na cena nacional (este rio é "meu", aquele Os dispositivos legais e as noções de engenharia de recursos hídricos devem, então, ser considerados Admitida esta hipótese, o domínio das águas de como condições de contorno, que condicionam, mas interesse comum poderia, p.ex., passar a ser não limitam as possibilidades de atuação cooperada compartilhado entre os estados, sempre com a e de construção de formas compartilhadas de gestão. presença moderadora da União, para dirimir No que concerne às soluções, propriamente ditas, conflitos earbtrarir . devem estar assentadas no princípio da subsidiariedade, privilegiando os problemas como norteadores da ação. Não sendo viável tal alteração constitucional, o problema que se coloca é a possibilidade de vigorar Em termos práticos, poder-se-ia conformar uma um traçado rígido e restrito, delimitando as unidades de resolutio", co nformar uma de planejamento e gestão como macro-bacias "MatrizdeResolução", composta,ide umclado,pelo hidrográficas, ou seja, sempre com jurisdição de reconhecimento das disposições constitucionais comitês federais, à exceção daquelas poucas bacias relativas ao domínio da União ou dos estados, e de menores com vertente marítima, que outro, do arsenal de diplomas legais disponíveis para permaneceriam com domínios estaduais. delegação de atribuições e competências (convênios e similares), para cima (caso, por Certamente uma leitura assim, estreita, é dissonante exemplo, de questões afetas à geração de dos fundamentos e diretrizes gerais que embasam hidreletricidade) ou para baixo (caso de problemas a Política Nacional de Recursos Hídricos. Não de controle de poluição urbana pertinentes ao uso considera também a relevância de aspectos e ocupação do solo), tendo sempre em vista a natureza dos problemas identificados na respectiva bacia hidrográfica e a disponibilidade, em cada 3 CafféAlves A.(1998). WaterQuality and Pollution Control nível de governo, dos instrumentos (técnicos, Project. In Nota Técnica 03-003 A - Programa de institucionais, financeiros e políticos) capazes de Investimentos da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do equacioná-los. Sul, Trecho Paulista 6 Questões-chaves e Possíveis Caminhos 90 6.4. POSSIVEIS LINHAS DE ATUAÇAO > pela via dos estados, formalizando compromissos recíprocos entre as entidades Por óbvio que a espinha dorsal que orienta os gestorassos recuro cos e a eNA. elementos componentes de uma EGRHB será gestoras de recursos hídricos e a ANA. definida pela Agência Nacional de Águas (ANA). Em ambas as alternativas (pelas bacias ou via Parece razoável supor que a atuação da ANA seja estados), a serem determinadas segundo ordenada: conveniências de ordem tática, poder-se-á atuar: (i) de um lado, por linhas de ação programática, > em apoio institucional para a consolidação dentre outros objetivos específicos, com o das estruturas estaduais de gestão, intuito de ordenar as demandas que lhe notadamente de entidades responsáveis pelo chegam (dos estados, das bacias gerenciamento dos recursos hídricos; hidrográficas e/ou de setores usuários), sempre com riscos elevados de dispersão no > em apoio para a instalação e funcionamento varejodoatendimentopolíticomncontomável; de comitês e agências de bacia, em e, consonância com as áreas prioritárias identificadas pelo "mapa geográfico de (ii) de outro, pela construção de parcerias e gestão" (conceito formulado no capítulo 7), alianças - com os estados e com organismos em atuação coordenada com a instalação de de bacias, portanto, sempre sob uma ótica comitês em rios de domínio federal, inclusive espacial, antes do que setorial - de modo a na forma de comitês de integração, quando ordenar as demandas não equacionadas por couber; suas linhas programáticas e estabelecer consensos sobre pautas regionais de > na implantação de instrumentos de gestão de prioridades. recursos hídricos, partindo de rede de dados hidrometeorológicos, cadastros de usuários, No que concerne às (i) ações programáticas, sistemas de outorgaede cobrança, propostas também é razoável supor que sejam estabelecidas de enquadramento dos corpos hídricos e para o enfrentamento: planos de bacia hidrográfica, culminando com sistemática de consolidação e troca de > de problemas setoriais que se mostrem informações em recursos hidrícos. recorrentes em todo o território nacional, por conseguinte, tendo suporte em questões como as dispostas no Cap. 2 deste documento; ou, 6.5. ALTERNATIVAS PARA UMA FORMULAÇÃO GENÉRICA DE > de problemáticas regionais, cujas dimensões PROGRAMAS (AÇÕES e/ou relevância estratégica para o país, assim PROGRAMATICAS) o justifiquem. Sob o ordenamento apresentado para as possíveis No que tange às (ii) parcerias e alianças linhas de atuação, genericamente poderiam ser institucionais, o estabelecimento de pautas de propostos os seguintes planos e programas: prioridades poderá ser efetuado segundo: 6.5.1. Programas Setoriais, nas áreas > as bacias hidrográficas de interesse prioritário seguintes: da ANA, com vistas à implantação integrada dos sistemas Nacional e estaduais de > Controle de Poluição Hídrica: manter e gerenciamento de recursos hídricos; ou, reforçar (inclusive com base nos testes e 91 6 Questões-chaves e Possiveis Caminhos Estratégias de Gerencíamento de Recursos Hídricos no Brasil Arcas de Cooperação coni o Banco Mundial aprendizados encerrados em sua fase elaboração de manuais operativos e cademos pioneira de implementação) a iniciativa do regionais de conservação de solos e água e ProgramaNacionaldeDespoluiçãodeBacias de eventuais programas sob a ótica de Hidrográficas4, uma vez que a demanda por incentivos, tais como o pagamento pela recursos (projetos habilitados) superou em redução no carreamento de sólidos e muito as disponibilidades no pnmeiro ano agroquímicos aos corpos hídricos. do Programa; > Drenagem e Controle de 1nundações: 6.5.2. Programas Integrados, com objetivos de perseguindo lógica similar ao anterior, saneamento ambiental em unidades territornais com baseada na obtenção de resultados objetivos geometria variável (bacias e sub-bacias no controle de cheias5; hidrográficas, aglomerações urbanas, áreas metropolitanas e regiões homogêneas): > Conservação do Solo Rural: estruturado de > Public-Private-Partnerships (PPP): dadas forma abrangente, incluindo distintas formas às limitações na capacidade de de ação, tais como: (i) desenvolvimento, endividamento do setor público no Brasil, consolidação e difusão de práticas de manejo bem como, considerando a matriz de captura integrado; (ii) articulação institucional (troca das externalidades relacionadas a de informações, coordenação de atividades investimentos em saneamento ambiental (ver e critérios e sinergia com programas Cap. 3), esses programas deveriam ser correlatos); (iii) mecanismos descentralizados organizados no formato de Adaptable para indução e incentivo (critérios setoriais Lending, gerando, em sua primeira etapa, de elegibilidade, em linhas de crédito e na futuras operações interligadas, na modalidade concessão de bonificações fiscais); (iv) de project finance; O Programa baseia-se no pagamento, após comprovação, do efetivo abatimento de cargas poluídoras, na proporção de até 50% dos aportes de capital empregado na construção de sistemas de tratamento de esgotos (estações e parte da rede de transporte), tendo a existência de comitês e de suas competentes resoluções instituindo a cobrança pelo uso da água como condições de habilitação Reduções das "manchas" e/ou dos níveis e da recorrência de inundações poderiam constituir produtos contra os quais seriam transferidos subsídios fiscais aos municípios e/ou estados. 6 Questões-chaves e Possíveis Caminhos 92 Um possível equacionamento parece ser: Programa Inicial Público (mínimo): * componentes sem mecanismos de recuperação de custo (sub-programa de gestão e ações de cunho ambiental regional) Programas Privados: * preparação de Projects Finance • p a PProjects Finance (inclusive BOT's) traçados regionalmente, referentes aos componentes de investimento com mecanismos estabelecidos para recuperação de custos. Para a viabilidade de tal esquema, antes de (Vetor Maior; abaixo), buscando ancora-las sob a apresentar contas de demandas de investimentos ótica de oportunidades de negócios e análise de complementares que deveriam ser "bancados" pelo riscos evitados (comprometimento das setor privado, caberia identificar e mensurar as disponibilidades hídricas, p. ex., em atividades água- externalidades (benefícios) que seriam geradas por dependentes). operações de recuperação da qualidade ambiental (IDemanda por ações setoriais Setores Usuários: Contas Gerais de Meio Ambiente e Saneamento Energia Demanda de Desenvolvimento Regional Recursos Investimentos para (e Urbano) estimar participação Navegação, Turismo e do Setor Privado Lazer Ótica da oportunidade de negócios Cownas conipenientares e análise de riscos envolvidos 93 6 Questões-chaves e Possíveis Caminhos Estrategias de Gerenciamento de Recursos llídricos no Brasil Arcas de Cooperaçao com o Banco Mundial Para essa modalidade de operações há um grande decorrente (e ao mesmo tempo agravante) da falta e complexo campo de atuação nas grandes de uma política mais definida do Governo Federal metrópoles e cidades, onde cresce o registro de para estas áreas. Para estas situações, a presença situações críticas narelação entre desenvolvimento do Banco poderá ser elemento decisivo para urbano e recursos hídricos, as quais, com viabilizar as ações planejadas e agregar os diferentes freqüência, envolvem, ainda, características interesses envolvidos. abrangentes e acentuadas de pobreza. Nesse caso, há dificuldades institucionais provavelmente mais 6.5.3. Programas Regionais de Recursos desafiadoras, na medida em que as ações requeridas Hídricos, sob o entendimento de que o PROÁGUA/ exigem forte cooperação entre organizações Semi-árido é um projeto de sucesso, que merece públicas diversas, e dessas com a sociedade civil e com agentes privados. Além disso, o tratamento apoio e continuidade, sem embargo de possíveis prático de questões de natureza constitucional sobre aperfetçoamentos, notadamente nos mecanismos de os interesses comum e local ainda não está contratação eaferição do desempenho dos estados, plenamenteresses aomadurecid; ainda riestá com vistas ao acesso a fundos competitivos (obras plenamente amadurecxdo; nas regnoes hídricas determinadas pelo processo de gestão). metropolitanas, em geral, Nesse quesito, os Convênios de Cooperação e/ou substantivas instituições de planejamento e de Integração (item 6.7), enquanto instrumentos coordenação geral de ação de governos. Por outro devIstegr ação da Ana, instrumer lado, embora multipliquem-se problemas concretos, utilizados, para reforço de tal aferição de não há disponibilidade de fontes nacionais de desempeno e ara ço do te técnio e - desempenho e ampliação do suporte técnico e financiamento para programas e projetos, o que é institucional aos estados. Box 6.1 - Programa de Desenvolvimento Sustentável de Recursos Hídricos para o Semi-Árido Brasileiro - PROÁGUA/Semi-Árido Decorridos pouco mais de três anos desde o início do Programa, a avaliação do seu papel nos estados contemplados é globalmente positiva. Apesar de múltiplas dificuldades e limitações, o PROÁGUA/Semi-Árido tem contnbuído, e pode continuar contribuindo, para fortalecer os sistemas institucionais de gestão da água e para orientar esses sistemas no sentido de uma maior participação dos usuários, um melhor conhecimento das disponibilidades e demandas de água, e uma elaboração critenosa de projetos e obras. A gestão dos recursos hídricos nos estados se apresenta em distintos graus de avanço, tendendo para uma semelhança à medida que os instrumentos de gestão se aperfeiçoam e os estados se capacitam para exercê-la, embora se faça necessáno um importante esforço em um ou outro estado para superar algumas ameaças à consolidação almejada Assim, a situação ainda difere de estado para estado, não porque o Programa seja distinto, mas porque é muito diferente a importância atribuída às questões da água e à motivação ou disponibilidade de cada um em mobilizar recursos físicos e humanos de forma a tirar partido da oportunidade proporcionada pelo PROÁGUA. Nesse sentido, alguns exemplos de sucesso são notáveis, como os estados do Rio Grande do Norte, Paraíba e Sergipe. Naturalmente, aqueles que se encontravam em situação mais adiantada, como Ceará, Bahia e Minas Gerais, caminham no sentido de aprimorar seus mecanismos de gestão e os próprios órgãos gestores. No âmbito federal, os avanços foram relativamente modestos até o ano 2000, mas o início de funcionamento da ANA, em 200 1,apresenta perspectivas de intensificação de atividades e busca de cumprimento dos objetivos do PROÁGUA/ Semi-Ándo. Por outro lado, é preciso chamar atenção para algumas ameaças ao sucesso do Programa, representadas, entre outras, pela excessiva dependência aos recursos e à motivação por ele trazidos. Em outras palavras, é preciso continuamente 6 Questões-chaves e Possíveis Caminhos 94 Água continuação Box 6 1 indagar, a título de avaliação dos resultados, se as estruturas de gestão montadas nos estados serão capazes de sobreviver após o término do Programa, como são os casos de Maranhão, Piauí e Alagoas 6. Além disto, é necessário zelar pela própria consistência interna do Programa, quer quanto à maneira com que cada estado planeja e busca atingir os objetivos propostos, quer quanto à condução administrativa e financeira na aprovação dos Planos Operativos Anuais (POA's) e conseqientes procedimentos de liberação de recursos, prestação de contas, etc. Objetivamente- > é preciso insistir na busca de meios e formas que permitam aos estados manter estruturas e recursos humanos bem dimensionados para o desempenho da gestão. Com poucas exceções, constata-se que os órgãos gestores de recursos hídricos são carentes de pessoal capacitado, obrigando-se a recorrer à contratação de serviços de consultona de prazo determinado, em excessiva fragmentação de atividades, o que não leva à fixação de quadros, nem à indispensável consistência de enfoques, critérios, etc; > é muito importante promover uma constante menção aos propósitos do Programa, particularmente quanto à descentralização, à participação pública, à recuperação de custos. Ao mesmo tempo em que se constata iniciativas muito importantes quanto aos dois pnmeiros, há uma tendência à desconsideração da importância da sustentabilidade dos sistemas (tanto de gestão, como de suprimento de água). A cobrança pelo direito de uso dos recursos hídricos, como regra geral, ainda está longe de ser iniciada; > é importante insistir no conceito e na implementação de bases técnicas para a gestão, que engloba a ampliação, operação e manutenção das redes hidrometeorológícas, a coleta confiável de dados e o seu processamento. O mesmo se aplica a outras categorias de informação ambiental, essenciais para a operacionalização consistente dos instrumentos de gestão no âmbito estadual. Os sistemas de informação estão sendo paulatinamente implementados, mas de forma independente pelos estados mais avançados, faltando ainda uma diretriz integradora a nível nacional; > é necessário estimular a integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental, uma diretriz geral de ação estabelecida na Política Nacional Lei 9.433/97, entretanto ainda não adotada de modo vigoroso e sistemático Constata-se que, na maioria dos estados, as estruturas de gestão ambiental e de gestão de recursos hídricos estão separadas, em diferentes áreas de Governo; > será oportuno empreender a revisão de meio termo, prevista nos documentos contratuais do Programa, esclarecendo, uniformizando e reorientando, conforme necessáno em cada caso, os objetivos estratégicos e as prioridades do Programa com maior realismo e consistência, incluindo uma revisão das funções de monitona, produção de informações e avaliação de interesse gerencial, essenciais para assegurar o sucesso pleno do PROÁGUA; > é muito importante que o PROÁGUA, no seu conjunto, seja gerenciado de uma forma previsível e tempestiva, no que se refere à liberação de recursos, sugerindo-se que sejam despendidos esforços para minimizar os impactos que as limitações orçamentánas no âmbito federal podem ocasionar sobre os programas estaduais, assim como analisar formas de superar obstáculos, por vezes transitónos. Atrasos e incertezas nos orçamentos contribuem para desestimular os estados no cumprimento de suas metas, quando, na verdade, colhe-se uma impressão de que alguns estados estão preparados para assumir metas ainda mais ambiciosas, se lhes for facilitado o acesso aos recursos correspondentes às ações planejadas. 60 Estado do Espírito Santo foi incluído no Programa recentemente, de modo que ainda não é possível fazer referência a avanços ou dificuldades lá expenmentados. 95 6 Questões-chaves e Possíveis Caminhos Estratégias de Gerenciamento de Recursos Hídricos no Brasil Areas de Cooperaçào com o Banco Mlundial Observou-se, nesse contexto, que o Programa tem sido marcado por uma forte restrição dos recursos financeiros liberados aos estados, especialmente para a componente Gestão, que reduziu o ritmo das ações já em andamento ou planejadas e comprometeu severamente os resultados esperados, com algum prejuízo do entusiasmo que se verificava nos órgãos gestores. As razões que levaram a essa restrição foram, aparentemente, de um lado, as conhecidas limitações impostas pela política de controle do déficit público da União e dos estados, que se fizeram sentir nos montantes aprovados para os Planos Operacionais Anuais (POA's). De outro lado. as razões foram principalmente de ordem operacional e burocrática, as quais estão a exigir um esforço conjunto e pró-ativo da União, dos estados e do Banco Mundial, visando assegurar a regularidade do fluxo financeiro e a superação de dificuldades no atendimento dos requisitos e normas do Programa, com antecipação e programações realistas. Os estados consideram em geral, com alguma melhoria de ano para ano, muito moroso o processo de preparação e aprovação de projetos e contratações, fruto de uma cadeia de procedimentos que envolvem o órgão gestor estadual, a unidade gestora federal e o Banco Mundial. Apontam dificuldades no enquadramento inicial das ações previstas aos múltiplos requisitos, que tomaram as metas inatingíveis e revelaram que os cronogramas iniciais foram pouco realistas. O principal resultado é que o Programa andou mais lentamente do que o desejável, especialmente a componente Gestão. De fato, enquanto a componente Obras vem apresentando melhor andamento, os montantes liberados para a componente Gestão foram muitíssimo modestos, com diferente repercussão de estado para estado. 6.6. ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA A > como recomendação inicial, o Banco sugere COOPERAÇÃO DO BANCO MUNDIAL que sejam concentrados esforços nesta COM A ANA primeira iniciativa para, então, com maiores indícios sobre a consistência operacional do No contexto das possíveis linhas de atuação e das conceito, ampliar sua aplicação a outros correspondentes alternativas para a estruturação de problemas (fornecimento de água bruta, Programas, pode-se identificar, de pronto, as drenagem urbana e outros). seguintes áreas prioritárias para a cooperação do Banco Mundial com a ANA, em curto e médio prazos: 6.6.2. Em operações de crédito para apoio a programas em bacias prioritárias 6.6.1. No âmbito do Programa Nacional de Despoluição de Bacias A atuação do Banco observará: Hidrográficas ~> concentração inicial nas bacias dos rios A cooperação do Banco seria pautada pelos tópicos Paraíba do Sul e São Francisco; seguintes: > em relação ao Paraíba do Sul, consolidação > reconhecimento da importância e de evidências sobre a relevância institucional oportunidade desta iniciativa inovadora de (efeito demonstração), econômica (potencial vincular recursos a resultados; de arrecadação da cobrança e conseqüente redução de demandas por recursos fiscais) e > com vistas a contribuir para o sucesso da social (redução de riscos associados iniciativa, o Banco poderia apoiar, de imediato, sobretudo ao abastecimento da Região uma análise para identificação de riscos Metropolitana do Rio de Janeiro), com o associados à operacionalização do Programa, objetivo de conseguir apoio por parte da bem como, de formas para minimizá-los e/ou Fazenda Nacional e viabilizar uma parceria preveni-los; de longo prazo com o Banco; 6 Questões-chaves e Possíveis Caminhos 96 > para a bacia do rio São Francisco, e articulações com estados e setores estabelecimento de parcerias institucionais e usuários); investigação sobre o amplo escopo das possíveis intervenções, sem exclusão de ? apoio à implementação de procedimentos projetos de infra-estrutura hidráulica com regulatónos por parte da ANA, compatíveis vistas ao desenvolvimento regional; com a disponibilidade de informações e recursos humanos e tecnológícos; > para ambos, ênfase na implementação de sistemas de gestão, em particular, de agências > definição de prioridades para o de bacia hidrográfica e de procedimentos para desenvolvimento da base de informações outorga de direitos de uso da água. necessárias à implementação dos instrumentos regulatórios; 6.6.3. No Apoio a Estados Pré-dispostos > disponibilidade para intercâmbio de à 5mplementação de Reformas experiências com outros países (apoio de Nesses casos, sob as seguintes diretrizes: consultores internacionais e realização de cursos). > continuidade do apoio do Banco, via projetos existentes ou em novas operações de crédito, aos estados que se proponham ou estejam 6.6.5. No Apoio à ANA pora realizando ações de reformas institucionais ap o ramente onusão de se (revisão da natureza jurídica de entidades de Plano Operacional destaque para aspectos relativos aos Já no que conceme à mencionada construção de procedimentos para a concessão de outorgas parcerias e alianças, prevê-se que a atuação da de direito de uso de recursos hídricos; ANA dar-se-á mediante a celebração de Convênios, concebidos como instrumentos capazes de > disponibilidade para ajustes de natureza consubstanciar as pautas regionais (Integração) ou operacional nos programas existentes estaduais (Cooperação) de prioridades, e a (PROÁGUA e PMSS), com vistas a melhorar distribuição de encargos e competências a serem seu desempenho. acionadas em favor da gestão de recursos hídricos, portanto, sempre sob uma ótica espacial, antes do 6.6.4. Na Implementação de que setorial. Instrumentos Regulatórios identificação dos campos próprios à atuação problemas e estabelecimento das unidades de do Governo Federal e dos estados (parcerias planejamento e gestão de recursos hídrícos 97 6 Questões-chaves e Possíveis Caminhos Estrategias de Gerenciamento de Recursos Hidrícos no Brasil Areas de Cooperação com o Banco MIlundial (eventualmente, em unidades sobrepostas), além de desenvolvidos e negociados segundo a ordem ordenar as demandas não equacionadas pelas linhas das prioridades, com o detalhamento devido programáticas propostas (cf. item 6.5). a cada situação específica quanto à divisão de encargos e recursos (ver Plano Genérico A divisão de encargos seria calibrada para as de Trabalho - Anexo IV). diferentes bacias e sub-bacias hidrográficas, segundo a natureza dos problemas, as capacidades Entende-se que os Convênios de Cooperação e/ou institucionais instaladas e as competências e os Integração substituem, com vantagens, a estruturação instrumentos das esferas de governo concementes de programas de desenvolvimento institucional, na aos problemas a serem enfrentados. medida em que podem estabelecer objetivos agregados quanto aos sistemas institucionais e à Em seu formato genérico, os Convênios devem operacionalização de instrumentos de gestão das conter: águas8. (i) um corpo principal com os objetivos, Vale lembrar que, nos programas de diretrizes de atuação e a previsão de desenvolvimento institucional, os instrumentos e as prerrogativas e obrigações dos signatários7, ferramentas de apoio à decisão podem ser quanto à instalação, funcionamento e acessados, isolada ou parcialmente, como que num financiamento: (a) das estruturas estaduais "cardápio" de possibilidades, por conseguinte, sem de gestão de recursos hídricos; (b) de comitês a garantia de que o conjunto dos instrumentos e e agências de bacia; e, (c) relativamente a ferramentas esteja completo, de modo a garantir cada um dos instrumentos de gestão de sua operacionalidade9. recursos hídricos; e, Nesse sentido, a sistemática de aplicação de (ii) planos de trabalho, como acordos de projeto recursos e supervisão de metas, poderia seguir a (Project Agreements) firmados pelo Banco modalidade Output-Based Aid, ou seja, Mundial, referentes às bacias e sub-bacias, liberações (ajudas) baseadas no alcance de conformes com o "mapa da gestão" (ver efetivos resultados institucionais e/ou conceito adiante), gradativamente operacionais. s Recomendação efetuada pelo Dr. Antônio Eduardo Lanna, por ocasião das reuniões de trabalho junto ao XIV Simpósio da ABRH, em nov/2001, Aracajú/SE 9É o caso de planos de bacia ou procedimentos de outorga Agência Nacional de Águas, Governos dos Estados e Banco sem cadastros de usuários, assim como, planos sem metas de Mundial, quando operações de crédito deste estiverem enquadramento dos corpos d'água, além de outras lacunas e envolvidas. inconsistências smlares 6 Questões-chaves e Possíveis Caminhos 98 Água Brasa 7 Uma Primeira Abordagem para uma Estratégia de Gerenciamento dos Recursos Hídricos no Brasil C onforme disposto na introdução a este 7.1. ELEMENTOS PARA UMA PERSPECTIVA documento, os elementos da Estratégia TERRITORIAL DA EGRHB decorrem da seqüência e da interação do conjunto de insumos já apresentados (problemas, 7.1 .1. Buscar Convergência com os conceitos, base legal e alternativas institucionais), Eixos Nacionais de Desenvolvimento frente aos quais foram identificadas questões- chaves e possíveis caminhos. Por óbvio que os nichos Ainda que óbvia, merece registro a preocupação para a atuação preferencial do Banco Mundial, em primeira, com o alinhamento frentes às grandes apoio à EGRHB, estarão inseridos num contexto políticas públicas nacionais. mais amplo de esforços nacionais relativos à gestão de recursos hídricos. 7.1.2 Sumário do Approach proposto Contudo, nesse momento é importante ressaltar o para desenho do "Mapa Geográfico limitado alcance possível de traduções práticas (ou Nacional da Gesti o dos Recursos operacionais) da Estratégia que se está a definir: Hídricos no Brasil" tais desdobramentos estarão sujeitos aos É preciso, gradativamente, consolidar uma "leitura" procedimentos de construção de consensos e ao territorial do país, sob a perspectiva própria à gestão estabelecimento pactuado de prioridades, segundo dos recursos hídricos, sendo ocioso afirmar que a metodologia disposta no Cap. 8, a seguir, sendo mera divisão geográfica em macro-bacias está longe possível, por ora, delimutar os contornos que devem de responder à complexidade inerente ao tema, orientar tais procedimentos, a serem estabelecidos como fartamente o demonstram os conceitos a partir: (i) de uma perspectiva territorial; (ii) de dispostos no Cap.3, deste documento. diretrizes para atuação regional e, (iii) mediante o estabelecimento de critérios regentes da definição Sendo assim, um procedimento possível poderia ser: de prioridades. > cruzar a natureza dos problemas e suas prioridades (Cap. 2) com os conceitos identificados como úteis para seu enfrentamento (Cap. 3), tendo em vista os limites e condicionantes do contexto legal e institucional vigente (Caps. 4 e 5), para a abordagem de questões e problemas atuais e futuros (Cap. 6); 99 Estrarégias de Gerenciamenta de Recursos Hídricrís no Brasil Areas dc Cr-rperaç~ãc corm rB Banco Mun1dial C1~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~- ---p-ç | paiaSa e Ira.i* elairenoct pesas.l . i s z vúd dbrrPs p= a.Caer. tira. I I -, AtMad s I. riS 4 Prasars caa;Kdab lní r!cr II ia esums -giairaeete aa riada a rraorgsra! is U 'trAdiadeoned 17e Ssrepailieeiplrs-çfie f ; ;D t j, -a r e d dje W taaíâa du vdad ~fli~0V o f,griprwrnideab d r rdar eilar pescasb urll>er .rM Erlrçad ó etas! a rara arias mr1 a.t çç eodSd red gnalls seargaircas lacaDenv vida Icra l d mnurl nPws r, ó YCODIÚC catv d Mft~ ..U2UU~~~,. ::~~~~~;z~~~~~:~~~~z~~~~2 111<~ã -1Kd. si-.M... Fonte: ANA~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~[ets > o resultado poderá ser expresso no formato )> o "Mapa'l pode, tambémX auxiliar na~~~~par araratl paí de urn "mapa geográfico nacional do identifica,cão de instrumentos de~al actiaralcarrcmraa BraiPa(rrolerreaeasrrlociraris, su-ais edlmtçãirçdod lns etaah -d. d.~~~~~ça os níveis federalt estadual e municipal! em Coope~~~~~~~~~~~~~~~raçãos comúst Esadia/o d apoio d(fin â- t,danceiro erc- > o " Mapa" deve possibilitar a definição de uma Mundial, seja diretamentetea cdomaacaí sire aada abordagem amreda i ararl. ladecdarai probemas prea aie c acessar os p~~~robiemacra durter aicordrr com sra ua pestrrads.{aapolmtca seíia natureza~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~Ptna euits aekron esecfio áaasd Fonte: ANA > o resultado poderá ser expresso no fortmato > o "Mapa" pode, também, auxiliar na de um "mapa geográfico nacional do identificação de instrumnentos de gerenbiamento dos recursos hídricos no implementação, notadamente quanto à Brasil" (problemas locais, sub-bacias, e delimitação e traçado de planos de trabalho regionais, referidos à divi são de funções entre anexos aos mencionados Convênios de os níveis federal, estadual e municipal, em Cooperação com os Estados e/ou de conformidade com o processo decisório Integração para bacias hidrográficas, tal lelacionado à gestão dos recursos hídricos); comio previstos pela ANA, com o possível apoio (financeiro e técnico) do Banco > o " Mapa" deve possibilitar adefinição de uma Mundial, seja diretamente com a ANA (para abordagem in~titucional adequada para problemas e questões gerais) e/ou com os acessar os problemas, de acordo com sua estados (para problemáticas específicas); natureza e background específico (áreas de ação de políticas públicas e de participação » a bacia hidrográfica, como um espaço do setor privado): geográfico natural de solidariedade, seria 7. Primeira Abordagem para uma Estrarégia 1 00 sempre utilizada para convergência e contornos, com geometria variável, baseados coordenação de políticas, entre no conceito de problem-sheds, de modo a desenvolvimento regional, questões de meio conferir maior foco em áreas com problemas ambiente, gerenciamento de recursos hídricos concentrados, sempre que questões e setores usuários; envolvendo desenvolvimento regional, meio ambiente ou de natureza institucional se > as unidades para implementação de mostrem proeminentes para tanto. programas e projetos poderiam assumir outros "Layers' sobrepostos, com unidades de geometria variável sendo convergidas para os fins de coordenação no âmbito da bacia: unidades para enfrentar problemas coordenação de políticas no âmbito da bacia 7.2. DIRETRIZES PRELIMINARES PARA tradicionais dispostos pela Lei Nacional no ATUAÇÃO REGIONAL 9.433/97 (planos de recursos hídricos; enquadramento dos corpos d'água; outorgas Em primeira aproxlmação, tendo como referência de direitos de uso da água; cobrança pelo uso o corte regional e abordagem dos problemas de recursos hídricos e sistema de apresentados no Cap. 2 deste documento, podenam informação); ser formuladas as seguintes diretrizes para uma atuação voltada ao gerenciamento de recursos > frente à dispersão da população e das hídricos: atividades, vis-à-vis a grande extensão territorial das bacias hidrográficas afluentes 7.2.1. Região Amazônica: ao rio Amazonas, são inerentes e evidentes as dificuldades na instalação e no > ausência de condições objetivas para funcionamentoefetivodosinstitutosprevistos aplicação e efetividade dos instrumentos pelo Sistema Nacional de Gerenciamento de 101 7 Primeira Abordagem para uma Estratégia Estratégias de Gerenciamento de Recursos Hídricos no Brasil Areis de Cooperação com o Banco Mundial Recursos Hídricos, baseado em Comitês de efluentes -, cobrança pelo uso da água e Bacia Hidrográfica e Agências de Água (ou sistema de informações), sendo imperativo de Bacia); criar instrumentos de apoio à decisão (modelagem hidráulica) para a aferição de > decorre do exposto, a superveniência das interferências e impactos destas bacias e questões de preservação ambiental, que sub-bacias sobre o conjunto, afetando condicionam e atrelam quaisquer dos potencialmente os ecossistemas da região eventuais problemas de recursos hídricos, pantaneira; delimitando as ações de gestão, principalmente, ao campo da fiscalização de > dadas as dimensões territoriais em jogo atividades impactantes; (393.000 km2), a dispersão relativa da população e das atividades regionais e a > por conseqüência, prevalecem as demandas identificação de focos localizados de para estruturação de entidades gestoras do problemas hídricos, o sistema de meio ambiente, indicando que as "janelas de gerenciamento das águas deve ser oportunidade" em projetos regionais devem constituído sob a perspectiva de unidades concentrar-se na continuidade da locais (comitês de bacias e sub-bacias para implementação do Programa Nacional de problemas específicos), obrigatoriamente Meio Ambiente (PNMA - II); articuladas, em seu conjunto, a partir de uma perspectiva de preservação e/ou > nesse contexto, ênfase particular deve ser conservação ambiental, onde predominem conferida à manutenção da legislação a ênfase na manutenção da dinâmica quali- ambiental e ao Código Florestal vigente, no quantitativa das águas necessárias aos momento fustigado por fortes iniciativas ecossistemas pantaneiros e nas ações de relacionadas à exploração madeireira; fiscalização e disciplina de atividades > uma agenda possível teria como itens:- rede impactantes; de dados hidrometeorológicos, para melhor > para estas articulações do conjunto, parece conhecimento das disponibilidades; oportuno e adequado pensar na linha de uma instrumentos para prevenção de cheias; apoio agência regional de meio ambiente e à constituição de consórcios com finalidades desenvolvimento, estruturada a partir dos específicas (serviços relacionados aos diversos programas atualmente em curso recursos hídricos e proteção ambiental); e, na área (PNMA II, GEF Pantanal e planos e programas para resolução de Programa BID-Pantanal, esse último com problemas localizados (poluição de igarapés, recursos da ordem de US$ 400 milhões, já p.ex.). assegurados). 7.2.2. Alto-Paraguai e Pantanal 7.2.3. Cerrados > aplicação potencial dos instrumentos de > os conflitos sazonais de usos múltiplos gestão preconizados pela Lei Nacional n.° indicam prioridade para a instalação de 9.433/97, em bacias e sub-bacias instrumentos de controle da utilização dos determinadas (trecho superior do rio recursos hídncos, nomeadamente, cadastro Cuiabá, rio Miranda e rio Taquari, para as de usuários, outorga de direitos de uso e quais caberia desenvolver plano de bacia, planos de bacia hidrográfica, com a necessária enquadramento, outorga - inclusive de instalação de entidades estaduais gestoras em 7 Primeira Abordagem para uma Estratégia 102 Goiás, Tocantins e no Distrito Federal, nesse > gerenciamento da demanda: (l) redução de último, com forte articulação com questões perdas e desperdícios - operação e de desenvolvimento urbano e regional; manutenção de sistemas; (ii) uso de instrumentos econômicos (negociações na esteira de ações para a gestão das relacionadas à alocação das disponibilidades demandas (cadastro e outorga, entre setores usuários); (iii) ordenamento principalmente), a presença de irrigação espacial da demanda (indução positiva à extensiva indica espaços para a difusão de migração intra-regional, consolidação de tecnologias visando à maior eficiência no redes urbanas e promoção de aproveitamento dos recursos hídricos, a reassentamentos, em casos extremos, como serem incentivadas mediante programas alternativa à problemática da população rural específicos e contempladas com preços dispersa); diferenciados da cobrança pelo direito de uso da água (escala vertical de preços, crescente adequação dos instrumentos preconizados segundo maiores índices de utilização por pela Lei Nacional n° 9.433/97 às unidade de área irrigada); peculariedades regionais: (i) os planos estarão em adição aos instrumentos e entidades centrados na construção e operação da infra- estaduais de controle, cabem estudos detidos estrutura hídrica; (ii) o enquadramento para o traçado das unidades de planejamento qua]ltativo parece distante da ordem do dia; e gestão, contemplando focos de problemas (iii) a outorga deve ser flexibilizada para a (em geral, em nascentes e divisores de águas, curta duração e sujeita a regimes de onde foram instalados núcleos urbanos) e, racionamento; (iv) a cobrança deve ser simultaneamente, as bacias de grande efetuada na forma de tarifa pelos serviços extensão, dadas as características das de fornecimento de água bruta e como atividades agrícolas e os demais usos, de mecanismo de compensação às decisões de geração de energia e navegação. alocação de água para usos com maior valor agregado; (v) os sistemas de informações são essenciais aos processos de tomada de 7.2.4. Semi-árido decisões; > gerenciamento das disponibilidades: (i) infra- esrtr deamznmnocreaet pelo lado dos sistemas institucionais: (i) a estrutura de armazenamento corretamente construída (mitigar efeitos da unidade de gestão é o sistema de açudes e evapotranspiração e otimizar regularização); adutoras; (ii) os comitês terão dinâmica social (ii) infra-estrutura de transporte definida centrada nos usuários-consumidores, segundo eixos com localização compatível apoiados pela operadora (agência) de água com o desenvolvimento de atividades bruta; (iii) cabe estabelecer uma lógica econômicas e com as estratégias de particular para empreendimentos consolidação e adensamento da rede urbana; econômicos, irrigação principalmente (iv) (iii) desenvolvimento de alternativas de baixo deve-se incentivar e, eventualmente, custo para sistemas localizados; (iv) subsidiar, a adequação do perfil de atividades informações hidrometeorológicas e sistemas ao meio físico regional; e, (v) é reservado de suporte à decisão para gerenciamento das papel fundamental para as estruturas disponibilidades, operados por instituições estaduais de gestão no processo de auto-sustentadas capazes de garantir sua consolidação de Sistemas de Gerenciamento aplicação junto aos usuários e comunidades; de Recursos Hídricos. 103 7 Primeira Abordagem para uma Estratégia Estratégias de Gerenciamento de Recursos Hjdncos no Brasil Areas de Cooperação com o Banco Mundial 7.2.5. Zona da Mata e Litoral Nordestino > dada a complexidade dos problemas a enfrentar e, por conseqüência, dos programas os modelos institucionais serão distintos do resultantes, parece recomendável pensar em empregado para o Agreste e Sertão, operações de crédito na modalidade de aproximando-se do desenho geral formulado Adaptable Lending, com conteúdo similar pela Lei Nacional n ° 9.433/97, sendo as àquele em desenvolvimento no Pro- unidades de planejamento e gestão menores, Metrópole, previsto como operação do Banco seja em razão das dimensões de bacias com na bacia do rio Beberibe, Região vertente atlântica, seja pela perenização dos Metropolitana de Recife/PE; rios apenas em seu cursos baixos; > não obstante tais programas terem atuação - em razão da elevada concentração da definida segundo problem-sheds, nada em razãoda elevaa concenração daimpede que suas metas institucionais tenham população nas faixas lindeiras ao mar, as i q questões de recursos hídricos estarão por objetivo a consolidação de sistemas vinculadas ao recursomphdrotimsentao dinstitucionais de maior abrangência territorial. vinculadas ao comprometimento de mananciais, exigindo abordagens integradas (esgotos domésticos, efluentes industriais, lixo, 7.2.6. Sul e Sudeste Urbano (Regiões drenagem e infra-estrutura urbana), com Metropolitanas): ênfase em áreas de concentração de pobreza > os instrumentos de gestão e, bem assim, o (favelas, cortiços e ocupações modelo institucional propugnados pela Lei desconformes); Nacional n° 9.433/97 são perfeitamente a indispensável definição de prioridades, face aplicáveis; à magnitude dos investimentos envolvidos, > os desafios estão na conjugação de poderia observar três vetores de abordagens com base em problem-sheds preocupações: (i) impactos ambientais (sub-bacias com externalidades amnbientais urbanos, mensurados através de melhoria nos concentradas) e na coordenação de políticas padrões de qualidade hídrica (modelos de no âmbito das bacias hidrográficas como um simulação indicando a eficiência ambiental todo, em reconhecimento às interferências e das intervenções); (ii) dimensão (relações impactos de montante para jusante, (p. ex., custo/benefício) e distribuição social dos soluções especializadas para a bacia do benefícios econômicos associados a tais Guarapiranga, no contexto do Alto Tietê e, melhorias; e, também, (iii) factibilidade em num plano mais abrangente, para as sua implementação, em termos gerenciais e interferências da Região Metropolitana de político-administrativos (complexidade das São Paulo sobre o Médio Tietê)'; intervenções e motivação das lideranças regionais); "Nos casos em que os problemas de poluição não interagem entre sub-bacias de forma substancial, a unidade apropriada > as ações, portanto, poderão cumprir duplo de gestão pode ser a sub-bacia. Se todos os problemas tiverem objetivo: de combate à pobreza e de melhoria de ser tratados em nível da bacia, a contínua participação dos ambiental urbana, o que é possível na medida usuários da água que não são realmente afetados por muitos problemas seria difícil de manter. Considerando que mesmo em que ambos os problemas encontram-se grandes fontes de poluição de água têm raramente um efeito sobrepostos nas mesmas porções de território substancial em mais de 100 km a Jusante, a sub-bacia (várzeas, fundos de vale e beira de rios e frequentemente será o nível mais adequado de gestão da córregos); poluição" Banco Mundial (1998) Brasil: Gestão dos Problemas da Poluição. 7 Pramcera Abordagem para uma Estratégia 104 gua a abordagem dos problemas tanto poderá implementada enquanto instrumento advir de movimentos top-doivni (atuação via econômico para a captura de externalidades CEIVAP, motivado pelo Programa de (benefícios) que escapam dos mecanismos Investimentos na Bacia do Paraíba do Sul, p. tradicionais de recuperação de custo (tarifas, ex.), quanto bottoni-up (Programa de essencialmente); Saneamento da Região Metropolitana de Curitiba - bacia do Alto Iguaçu, que > em razão da prevalência de problemas engendrou a legislação estadual de recursos relacionados ao uso e à ocupação do solo hídricos do Paraná), a serem definidos (superveniência de questões de segundo conveniências de ordem tática desenvolvimento urbano e regional), os (Identificação de "Janelas de oportunidade"); sistemas de gestão de recursos hídricos devem ser articulados a outros sistemas, com dada a recorrência de problemas comuns instrumentos especializados no trato de (tratamento de esgotos e drenagem urbana), problemas de uso do solo, a exemplo daqueles linhas de atuação setorial podem ser constituídos pela Lei de Proteção aos importantes para fazer frente e ordenar a Mananciais do Estado de São Paulo e do elevada demanda de investimentos; Sistema Integrado de Gestão e Proteção aos Mananciais da Região Metropolitana de de modo similar à Zona da Mata e Litoral do Curitiba; Nordeste, aplicam-se às diretrizes sobre o imperativo de implementação de programas > essa complementação implica na articulação de ação integrada (esgotos domésticos, de planos temáticos referentes a: (Z) efluentes industriais, lixo, drenagem e infra- diretrizes de âmbito regional (planos estrutura urbana, inclusive habitação e metropolitanos de desenvolvimento reassentamentos), notadamente em áreas de integrado); (ii) planos de bacia e/ou sub- proteção a mananciais que, por tal destinação, bacias hidrográficas; e, (iii) a planos locais acabam depreciadas para fins imobiliários e (micro-bacias e/ou agregação destas) para sensíveis a invasões e ocupações irregulares, ordenamento do uso do solo e recuperação sendo igualmente aplicáveis os critérios de de qualidade ambiental urbana2. priorização de investimentos, tendo como base: (i) impactos ambientais urbanos, 7.2.7. Zona Costeira do Sul e Sudeste: mensurados através de melhoria nos padrões de qualidade hídrica; (ii) dimensão (relações > as especificidades de ocupação sazonal destas custo/benefício) e distribuição social dos áreas costeiras apontam, preliminarmente, benefícios econômicos associados a tais para a conveniência de serem constituídos melhorias; e, (iii) factibilidade de sua comitês e conselhos com a finalidade de implementação, em termos gerenciais e disciplinar e fiscalizar o uso e a ocupação do político-administrativos; solo, seja para fins de preservação do próprio para esses programas, deve ser conferida potencial turístico e ambiental, seja para ênfase particular à práticas de gerenciamento de sua implementação (como fazer?), por 2 Na França, a nova Le da Água (93), obmnga à elaboração dos vezes mais complexa do que a sua concepção, SDAGE (SScchemas Dírecíeurs d'Amenagement et Gestion vezes ~~~~~~~~~~~~de 1l'Eau") e dos SAGE ("Schlemas d 'Amena gement ei Gesízon propriamente dita (o que fazer?); de I 'Eau"), revendo, também, o papel das Agências de Bacia, de modo a abnr espaço para a criação de "Associações Locais nessas áreas, a cobrança pelo direito de uso da Água", que têm por objetvo convergir interesses em torno de recursos hídricos ganha espaço para ser de sistemas hídrícos específicos 105 7 Primeira Abordagem para uma Estratégia Estrategias de Gerenciamento de Recursos Hídricos no Brasil Areas de Cooperação com o Banco Mundial observância dos indicadores de projetos de ao carreamento de sólidos, plantio direto, infra-estrutura, freqüentemente remanejamento de estradas rurais, desrespeitados em termos de maiores recomposição de matas ciliares, redução da adensamentos e verticalização, com as aplicação de agroquímicos, desenvolvimento consequências previsíveis (sobrecarga dos e difusão de controles biológicos, além do sistemas) quando de temporadas; monitoramento para fins de consolidação de indicadores capazes de aferir a poluição pela instrumentos na modalidade do zoneamento via de runoff rural, segundo tipologia ecológíco-econômico também devem ser adequada de solos, declividades e índices de acionados, por vezes extrapolando os limites precipitação; temáticos de planos de bacia, de modo a contemplar as perspectivas ambiental, > de modo mais ambicioso, estas ações poderão turística e de manutenção de atividades visar à consolidação de "corredores de econômicas de subsistências das populações biodiversidade", mediante a união, pela via das residentes; matas lindeiras aos cursos d'água, de áreas de conservação e florestas nativas, > nesse contexto, as zonas de especial interesse submetidas a impactos reduzidos em suas ambiental (mangues, restingas e afins), devem respectivas bacias hidrográficas, em ser objeto de planos específicos de manejo decorrência das práticas acima mencionadas; ou instituídas como áreas de preservação permanente; > ações dessa natureza podem ser contempladas no âmbito de planos de bacia no que concerne às cidades e balneários, hidrográfica, de modo a possibilitar sua configuram, em parte substantiva dos casos, viabilidade mediante subsídios provenientes oportunidades para a realização de operações de maiores preços unitários pagos pelos interligadas, com a finalidade de recuperaçao segmentos industrial e de concessionárias de da balneabilidade de praias e revitalização serviços de saneamento e energia, à conta turística, carecendo dos adequados arranjos da cobrança pelo direito de uso da água; institucionais (acordos entre operadores de sistemas urbanos, agentes imobiliários e do > igual mecanismo de subsídios, no contexto de ramo hoteleiro e setor público) e dos estudos planos de bacia hidrográfica, pode operar em de benefícios e custos econômicos envolvidos, favor de produtores rurais que se localizam capazesdeexplicitaraviabilidadedeprojects em torno de enclaves agroindustriais, finances; notadamente na indústria de produtos alimentícios, caso notável da cnação de suínos, > por fim, essas áreas poderão ser igualmente cujo potencial de poluição é bastante elevado, contempladas no escopo de programas exigindo investimentos acima das limitadas setoriaisjá mencionados, para equacionamento capacidades de tais produtores. de problemas setoriais recorrentes. Atividades Primárias do Sul e Sudeste: > as ações devem ter como prioridade a difusão de práticas de manejo e conservação de solos e água, dentre as quais se inserem:- o plantio em curvas de nível, barreiras de contenção 7 Primeira Abordagem para uma Estrategia 106 gAua~ Á ia 7.3. CRITÉRIOS DE ELEGIBILIDADE DE ÁREAS E OBRAS PRIORITÁRIAS `A identificação de projetos prioritários é decorrência do próprno processo de gestão"3. Eis a diretriz básica que deve orientar os critérios de elegibilidade de áreas e obras de infra-estrutura hídrica. Box 7.1 - Certificados de sustentabilidade de obras hídricas Uma excelente iniciativa no sentido desta diretnz foi o recém editado Decreto Presidencial n° 4.024, de 21 de novembro de 2001, que estabeleceu a obrigatoriedade de critérios de sustentabilidade, nas perspectivas hídríca e operacional, da infra-estrutura a ser construída com aportes financeiros da União. Para atestar tais critérios, as obras hídricas que impliquem em montantes acima de R$ 10 milhões, ficam condicionadas à apresentação de "Certificado de Avaliação da Sustentabilidade da Obra", a ser emitido pela Agência Nacional de Águas. A motivação para tal iniciativa esteve diretamente associada ao PROÁGUA Semi-árido, devendo ser duplamente creditada à ANA e ao Tribunal de Contas da União que, em Relatório de Auditoria, recomendou o emprego de critérios similares àqueles aplicados pelo Programa. Sob tais antecedentes positivos, sem prejuízo de notadamente quanto à cobrança pelo uso da outros aspectos que venham a ser considerados água. relevantes, a seleção de projetos poderá ser pautada pelos seguintes critérios de elegibilidade, ponderados (iii) operacionais e institucionais: condições segundo pesos relativos previamente definidos, operacionais de implementação de planos e visando a estruturação de um modelo multicritério programas em recursos hídricos, em termos de hierarquização: de compromissos para o fortalecimento e modernização da(s) entidade(s) estadual(is) (i) complexidade e/ou gravidade da problemática responsável(is), verificando se estão dotadas de recursos hídricos a ser equacionada: do devido suporte institucional conferido, na atestada mediante relações de custo - maioria dos casos, pela existência prévia de benefício e indicadores equivalentes, Secretaria de Estado no campo dos recursos estimados em termos financeiros e, também, hídricos; sob perspectivas econômicas e sociais mais amplas (a política econômica dos recursos (iv) base legal: prévia base legal necessária à hídricos), incluindo dados de avaliações gestão dos recursos hídricos, considerada contingentes ou metodologias similares, de indispensável para o equacionamento modo a conferir base numérica à seleção das sustentado dos problemas que deram origem bacias prioritárias; à seleção da(s) bacia(s) e do estado; (ii) sustentabilidade das intervenções propostas: (v) prioridades de governo e elementos de mensurada em termos dos mecanismos de planejamento estratégico: definição de recuperação de custos existentes ou com prioridade de governo para os recursos hídricos potencial de instalação nas áreas selecionadas, e/ou para o problema(s)/bacia(s) identificada(s), com preferência quando acompanhada de Frase do Sr. Paulo Lopes Varella Neto, Secretário de Estado estratégia para implementação de sistemas de dos Recursos Hídncos do Rio Grande do Norte gestão; 107 7 Primeira Abordagem para uma Estratégia Estrategias de Gerencíarnento de Recursos Flidricos no Brasil Areas de Cooperação com o Banco Mundial (vi) base técnica esperada para os sistemas de implementação de sistemas de outorga, gestão: condições prévias e compromissos incluindo o lançamento de efluentes; envolvendo o acesso às informações compromissos que permitam abrir debates existentes, permitindo consolidar suporte sobre a cobrança pelo direito de uso da água; mínimo para a definição de intervenções e, estimativas, ainda que preliminares, sobre necessárias e estruturar a gestão na(s) a magnitude dos investimentos requeridos, bacia(s) selecionada(s); antecedentes legais mesmo que não consolidados na forma de que permitam a regulamentação e/ou planos de bacia. 7 Prinmeira Abordagem para uma Estratégia 108 8 Como Seguir Adiante: Futuros Estudos, Metodologia para os Próximos Passos e Recomendações Finais ste documento não se pretende final. momento, cercada de incertezas quanto ao E Certamente há assertivas a corrigir e muitos seu efetivo potencial de arrecadação, uma vez consensos a construir. Não obstante, para que não existem muitas evidências sobre as que se obtenha avanços é preciso ousar e assumir funções de incentivo e renda desse riscos, garantida, sempre, a flexibilidade para recuos instrumento; e, (iii) aportes fiscais da União, e ajustes inerentes ao conceito de "processo", a ser estados e municípios, sendo que essa última obrigatoriamente aplicado na definição dos (re)coloca em questão problemas de eqüidade elementos de uma EGRHB. e de custos de oportunidade em termos de retornos sociais alternativos'1 Sendo um processo (conduzido sob os conceitos de administração estratégica e de planejamento > precisar avaliações de custo-efetividade em estratégico, conforme Cap. 3), torna-se ações de recursos hídricos (para unidades imprescindível identificar áreas de insuficiência, territoriais de intervenção e, quando possível, futuros estudos e propor uma metodologia para a na sua consolidação em termos do país), possível seqüência dos trabalhos. incluindo análises comparativas frente aos mencionados retornos sociais alternativos 8.1. ESTUDOS E COMPLEMENTAÇÕES (internamente ao setor e dele em relação aos FUTURAS demais - saúde, educação, etc.), de modo a conferir justificativas sustentadas para a Dentre as áreas de insuficiência do presente definição de prioridades em favor da melhoria documento, para as quais deverão ser demandados das disponibilidades hídricas2; estudos e complementações futuras, pode-se apontar, de imediato: Convém lembrar, a propósito, que as ações dos planos de bacia não apresentam vinculações entre ongem das receitas > a identificação da matriz de financiamento e destino das inversões, sendo lícito esperar que o setor do setor de recursos hídricos no Brasil, em industrial acabe por subsidiar investimentos sociais e/ou de princípio coberta, pelo menos, por:- (i) saneamento básico, elevando a atratividade de aportes fiscais recursos com origem nos próprios setores aos planos de bacia, na razão direta de seu potencial de usuários (tarifas de saneamento, energia e fomento. inversões industriais em tratamento de 2 É procedente indagar, p. ex., se os aportes fiscais, via Programa Nacional de Despoluição de Bacias Hidrográficas, efluentes); (ii) cobrança pelo uso da água justificam-se frente a outras alternativas de aplicação de (captações e lançamentos residuais), no recursos escassos da União 109 Estrategias de Gerenciamento de Recursos Hídncos no Brasil Areas de Cooperaçào com o Banco Mundial > investigar os impactos distributivos de ações Diretoria Colegiada da ANA, contando com a em recursos hídricos, com vistas ao cooperação do Banco Mundial, por intermédio de enfrentamento dos reconhecidos problemas oficinas e seminários, de curta duração, com a de eqüidade, presentes na sociedade presença seletiva de consultores. Além do presente brasileira; e, documento, outros temas poderão ser abordados, como suporte à definição da EGRHB, por exemplo: > identificar os vetores dominantes da política econômica da gestão dos recursos hídricos > Federalismo, Subsidiariedade e Processos no Brasil, traduzidos em termos dos fatos e Decisórios na Gestão de Recursos Hídricos; fatores que têm permitido avanços, representados em uma Matriz síntese. > Modernização do Aparelho de Estado no Brasil e Gestão de Recursos Hídricos; 8.2. METODOLOGIA DE TRABALHO > Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente Especificamente no que concerne aos próximos e a Gestão de Recursos Hídricos; passos, em favor de uma EGRHB, são propostas > Gestão de Recursos Hídricos e Setores as seguintes etapas: Usuários (saneamento, indústria, energia, > convergência conceitual, com a ANA e irrigação e outros). demais atores identificados como relevantes na definição da Estratégia, sobre as linhas 8.2.2. Estratégia de aproximações de atuação e premissas, apresentadas neste sucessivas dos problemas e questões documento; prioritárias > estratégia de aproximações sucessivas dos Essa aproximação sucessiva dar-se-á, num primeiro problemas e questões pnoritárias, em âmbito momento, mediante: nacional e, logo em seguida, em cada região, estado e/ou bacia hidrográfica; > mapeamento preliminar das áreas (bacias, sub-bacias e regiões geográficas) com > construção gradativa de consensos a serem conflitos relacionados aos recursos hídricos, expressos pelo "mapa geográfico", com as conformando a 1a aproximação do "mapa bacias e sub-bacias, em seus níveis geográfico nacional de gestão de recursos sobrepostos, sobre o qual deve ser edificada hídncos"; a gestão dos recursos hídricos no Brasil; e lr> esse mapeamento envolveria, não somente > estabelecimento de pauta de prioridades, problemas físicos, como também, variáveis também com os setores intervenientes na institucionais e instrumentais relacionadas à gestão dos recursos hídricos, com base no gestão de recursos hídricos; "mapa geográfico da gestão" e segundo a metodologia de aproximações sucessivas. > aplicação de dinâmica de grupo (brainstorming, zoomp, ou metodologias 8.2.1. Convergência conceitual sobre similares), para ordenamento das percepções as linhas de atuação e premissas sobre os problemas mapeados, envolvendo técnicos, consultores especializados e A convergência conceitual, indispensável à definição dirigentes (ANA, SRH/MMA), além de de uma EGRHB, deverá ser conduzida pela outros atores identificados como relevantes 8 Próximos Passos e Recomendaçõcs Finais 1 1 0 (p.ex., representantes de setores usuários das > mapeamento de bacias, sub-bacias águas e, mesmo, organizações não hidrográficas e áreas com elevada governamentais), até que se consolide, uma concentração de externalidades negativas "leitura" territorial e institucional do país, relacionadas aos recursos hídricos (escassez relativa aos problemas de recursos hídricos; de oferta, concentração de demandas, cheias e inundações, quadros críticos de poluição, > a abordagem dos problemas deve pautar-se risco a ecossistemas relevantes, conflitos de pelas linhas de atuação e premissas dispostas uso, etc.); no presente documento, postas em questão e consenso durante a fase de convergência > mapeamento de quadros de maior conceitual. abrangência regional com externalidades negativas relacionadas aos recursos hídricos Num segundo momento, a "leitura" relativa aos (semi-árido, p. ex.); problemas de recursos hídricos, deverá ser testada e convergida, dentro do possível, com outras > identificação de interesses estaduais e/ou instâncias do Governo Federal, no âmbito do próprio federais afetos aos problemas (mapeamento MMA e, posteriormente, dos principais setores geopolítico de problemas com recursos intervenientes (energia, saneamento, irrigação e hídricos); outros). > identificação das capacidades institucionais Por fim, num terceiro momento (ou em paralelo ao instaladas para fazer frente aos problemas segundo), as oficinas de dinâmica de grupo deverão mapeados, segundo sua natureza diversa ser realizadas com os estados e/ou por macro-bacia (local, estadual e/ou nacional); hidrográfica, contando com o apoio de consultores com conhecimentos detalhados sobre cada região > dimensionamento dos instrumentos de gestão mapeada, permitindo a consolidação negociada a e respectivas proficiências necessárias ao que se refere o item seguinte. equacionamento dos diferentes problemas mapeados, nas escalas locais, estaduais ou nacional (cadastros, dados, informações e 8.2.3. Construção Gradativa deesuo estudos complementares, sistemas de outorga Consensos sobre o "Mapa Geográfico e cobrança, planos e projetos, etc.); Nacional da Gestão de Recursos Hídricos" > proposição de instâncias institucionais São dois os principais resultados que se pretende apropriadas para o planejamento e a gestão com as oficinas regionais e/ou estaduais. O primeiro dos problemas regionais, estaduais e nacionais é a construção gradativa de consensos (na ANA e acima mapeados, inclusive mediante dela com seus interlocutores no âmbito federal e instâncias sobrepostas, a exemplo de "comitês com os estados) e a legitimação do traçado do de integração", nos moldes do CEIVAP; "mapa geográfico", com as bacias e sub-bacias, em seus níveis sobrepostos, sobre o qual deve ser d gestão de recusosehgricos". edificada a gestão dos recursos hídricos no Brasil. O desenho do "mapa geográfico nacional da gestão de recursos hídricos" envolverá as seguintes etapas sucessivas: 1 1 1 8 Próximos Passos e Recomendações Finais Estratégias de Gerenciamento dc Recursos Hidricos no Brasil Arcas dc Cooperaçào com o Banco Mundial 8.2.4. Estabelecimento de Pauta de Secretaria de Recursos Hídricos - Prioridades, com os Estados e com os SRH; Setores Intervenientes na Gestão de Recursos Hídricos > critérios, condicionantes e sistemática para: (a) liberação de recursos O segundo resultado, possibilitado pelo desenho do federais; (b) elaboração de programa "mapa da gestão", será a eleição negociada de orais; (b) prestação de cograma prioridades e o comprometimento das instâncias orçamentário; (c) prestação de contas; envolvidas frente a estas. Pretende-se que estas (iii) a definição de requisitos mínimos para a instâncias possam atuar como "filtros" capazes de descentralização, de modo a mitigar riscos evitar a dispersão de demandas oriundas de centenas de descumprimento de competências e de comitês, consórcios e entidades relacionadas aos responsabilidades da ANA, verificando-se. recursos hídricos, a reivindicar apoio orçamentário da União. Por outro lado, os estados devem assumir > aspectos jurídico-legais das políticas e compromissos de alavancar capacidades locais dos sistemas estaduais de recursos endógenas, essenciais para a sustentabílidade das hídricos; estruturas de gestão de recursos hídricos. Assim, o "mapa" e a pauta de prioridades configuram-se > capacitação e aparelhamento técnico como instrumentos para ordenar demandas. e institucional dos estados; As etapas para o estabelecimento da pauta de > integração com as políticas de meio prioridades envolvem: ambiente, desenvolvimento regional e (i) a negociação circunstanciada de uma divisão de uso e ocupação do solo; funcional entre a União (ANA) e estados > articulação das políticas estaduais de (entidade responsável), relativa às questões recursos hidrícos com o planejamento e problemas mapeados, em cada bacia ' ~~~~~~~e a operação de Infra-estrutura dos hidrográfica; setores usuários. (ii) a elaboração de proposta de descentralização > busca de uniformidade quanto a: da gestão de recursos hídricos, com base na mencionada divisão funcional, contendo: ' ~~~~~~* parâmetros e critérios para a > atribuições e competências a serem concessão de outorgas de descentralizadas direitos de uso de recursos hídricos; > identificação de programas a serem descentralizados; * modelos hidrológicos e de qualidade de água a serem > características do controle de empregados nas sistemáticas de desempenho e resultados e da outorga; fiscalização a serem exercidos pela União (ANA, especialmente); * regimes de outorga e cobrança pelo direito de uso da água; > características do acompanhamento a ser exercido pelo Conselho Nacional * sistemáticas de monitoramento de Recursos Hídricos - CNRH e e fiscalização; 8 Próximos Passos e Recomendações Finais 1 12 Água Bras * metodologias de elaboração de planos de bacia hidrográfica; * divisão de encargos entre planos de bacia, planos estaduais e Plano Nacional de Recursos Hídncos; e, * estrutura de bancos de dados e características de software e hardware para garantir o intercâmbio entre os sistemas nacional e estaduais de informações em recursos hídricos. 1 13 8 Próximos Passos e Recomendações Finais Aggua Anexos 115 ~Brgasíf ANEXO 1 Evidências Sobre a Relevância Econômica das Externalidades Relacionadas aos Recursos Hídricos no Brasil' A inabilidade em prever e gerenciar a um detalhado balanço desses métodos: quantidade e qualidade das águas e os produtividade marginal, avaliação contingente, custos impactos decorrentes de secas, cheias e de viagem, preços hedônicos, custos evitáveis e variações climáticas, assim como efeitos de custos de oportunidade. Munasinghe e McNeely runoff urbano e rural, resulta em custos que (1995)3 organizaram as metodologias existentes para afetam largamente a sociedade brasileira, a determinação do valor econômico - de uso e de reproduzindo conflitos de caráter local não uso - dos ativos ambientais, bem como, as historicamente conhecidos (problemas tipologias de técnicas que permitem o cálculo desse decorrentes de condições de saneamento valor, de acordo com as características dos mercados inadequadas e seca no semi-árido brasileiro), a que cada técnica se refere:- mercados reais (efeitos potencializando e replicando outros mais recentes sobre a produção; efeitos sobre a saúde; custos (prejuízos devidos a enchentes urbanas, cada vez defensivos ou preventivos; custos de reposição; e mais freqüentes), até atingir a amplitude presente preços sombra); mercados implícitos (custos de de conflitos nacionais (crise energética). viagem; bens substitutos; valores patrimoniais; diferenciais de remuneração); e, mercados O objetivo deste anexo é o de sistematizar evidências construídos (avaliação contingente), conforme o sobre a relevância econômica das principais Tabela 1.1, a seguir. extemalidades relacionadas aos recursos hídricos no Brasil. Nesse anexo, optou-se pelo uso de técnicas como as de efeitos sobre a saúde, efeitos sobre a produção, Vários são os métodos de avaliação econômica custos de reposição, custos evitáveis e valores dessas extemalidades. Seroa da Motta (1998)2 faz patrimoniais dos níveis de agregação, considerando Este Anexo foi elaborado por Mariano de Matos Macedo e Carlos Eduardo Cun Gallego, sob a coordenação de Francisco Lobato. Cabe registrar os comentános detalhados e inclusões propostas pelo Secretário de Recursos Hídricos, Raimundo 3 Munasinghe, M e McNelly, J. (1995) Key concepts and José dos Santos Garrido terminology of sustainable development. ln: Munasingue, 2 Seroa da Motta, R. (1998). Manual para valorização de M e Searer, W. Defining and Measuring Sustaznability. recursos ambientais Ministéno do Meio Ambiente, dos ihe Bíogeophysical Foundations United Nations University Recursos Renováveis e da Amazônia Legal, Brasilia and World Bank, Washington, D C 117 Estratégias de Gerenciamento de Recursos Hídricos no Brasil Arcas de Cooperaçào com o Banco Mundial Tabela 1.1 - Taxonomia das técnicas de avaliação relevantes Base Mercado convencional Mercado implícito Mercado construído Efeitos sobre a produção Custo de viagem Efeitos sobre a saúde Diferenciais de realada no Custos preventivos ou remuneração Mercado artificial comportamento real defensivos Valores patrimomais Bens substitutos Baseada no Custo de reposição Avaliação contingente comportamento potencial Preços sombra as dificuldades de operar, em curto prazo, métodos rural, transporte fluvial, secas e enchentes4. que implicam em pesquisas de campo, como os de Conforme pode ser observado na Tabela 1.2, para avaliação contingente e de custos de viagem. cada um desses setores, são definidos os seus vetores de custo, os direcionadores de custo desses O nível de agregação da análise é o de setores, vetores e estimados os custos evitáveis, de definidos segundo os diferentes e principais focos oportunidade ou a produtividade marginal (negativa) ou objetos específicos de gestão de recursos hídricos: das principais externalidades relacionadas aos desenvolvimento urbano, energia, desenvolvimento problemas de gestão de recursos hídricos5. Tabela 1.2 - Resumo das estimativas de externalidades econômicas associadas a problemas de gestão de recursos hídricos no Brasil Setores Vetores de Custo Direcionadores de Custo Abrangência Custo Anual Frequência e valor das despesas com internações Na al Doenças: hospitalares (AlH) associadas acion R$ 109,6 milhões a) doenças associadas a a essas doenças. problemas de saneamento básico. Mortalidade associada a essas Mortalidade: doenças; Esperança de Vida Nacional R$ 39,5 mulhões ao nascer; PIB's per capita (sem efeito regionais. cumulativo) Desenvolvimento Custo de tratamento Urbano (despesas de exploração com b) diferencial de custo produtos químicos) de águas de tratamento devido à degradadas; custo de Nacional R$ 42,5 milhões degradação das águas. tratamento de águas límpidas; volume de águas degradadas tratadas e de águas límpidas. c) perdas físicas de água tratada pelas Quantidade de perdas (m3); companhias de estimativa de preço do m3 Nacional R$ 1.958 milhões saneamento. a) custo do não atendimento da Energia demanda em razão de do PIB de 2002. Nacional R$ 14,6 bilhões escassez de recursos hídrícos. Anexo 1 118 Tabela 1.2 - Resumo das estimativas de externalidades econômicas associadas a problemas de gestão de recursos hídricos no Brasil continuação Setores Vetores de Custo Direcionadores de Custo Abrangência Custo Anual Estimativa da quantidade de a) perdas associadas à terras carreadas pela erosão; degradação do solo. custo de reposição das perdas Naconal R$ 6 bilhões de nutrientes. b) custos associados à Valor das perdas de água Desenvolvimento baixa eficiência na associadas a essa baixa Nacional R$ 338 milhões Rural irrigação. eficiência. AIH derivadas de Estimativa não c) custos associados à contaminação química das realizada em degradação química dos águas; custo de tratamento Nacional função da efluentes. das águas associado a essa precariedade das efluentes. daseáguasrassociadoã a essainformações degradação. necessárias. a) custos associados à Estimativa das perdas Regional - R$ 11,2 milhões Enchentes enchentes devido ao patrimoniais; custos de local (Região (estimativa para Enchentes processo inadequado de paralisação de atividades Metropolitana RMSP, para tempo urbanização. econômicas. de São Paulo) de recorrência de 02 anos) Valor do trade off de carga entre transporte rodoviário e Transporte do não uso de transporte fluvial na matriz de Nacional US$ 725,1 a Fluvial fluvia transp rte pre lvaln atie1520,9 milhões transporte dos Estados Unidos. Estimativa do valor das . R$ 7,2 bilhões a) custos associados à perdas de produção. (perda de PIB) Secas ocorrência de secas C usto dos freqúentes no Nordeste. compensatórios ou de Prog os emergência. R$ 206,8 milhões A abrangência espacial de análise é o Brasil. No regionalizada segundo unidades da Federação entanto, quando foi possível em função da (estados) e grandes regiões brasileiras (Norte, disponibilidade de informações, a análise está Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste). Os principais problemas, tendências e necessidades de cada um desses setores, relacionados à gestão de recursos hídricos Alguns desses custos estão estimados em nível nacional, no Brasil, são apresentados no relatóno Ministéno de Ciência outros em nível regional e local. Isso decorre principalmente e Tecnologia (2001) Panorama dos Recursos Hidrícos do fato de que nem sempre foi possível estimar todos os (versão 3.0). Centro de Estudos e Gestão Estratégica custos em nível nacional em função da precariedade da base (mimeo). de informações 119 Anexo 1 Estrategias de Gerenciamento de Recursos Hídrícos no Brasil Areas de Cooperação com o Banco Mundial 1.1 - DESENVOLVIMENTO URBANO Constitui ainda um fator agravante dessa situação, o fato de que somente uma pequena parcela (cerca Os principais vetores de custo (ou de extemalidades d 20%) do esoto cea sq o tra antes negativas) associados ao padrão de desenvolvimento que infiltrados em lençóis freáticos ou despejados urbano no Brasil, definidos como relevantes para a nos cursos de água. análise, são os seguintes: doenças associadas às condições inadequadas de saneamento básico; As carências do sistema de abastecimento de água diferencial de custo de tratamento associado à e de esgotamento sanitário geram externalidades degradação das águas; e, perdas físicas de água negativas na forma de doenças que lhes são pelo sistema de abastecimento'. associadas. a) Doenças relacionadas a condições inadequadas Dado o padrao de mortalidade e morbidade que de saneamento básico caracteriza atualmente a sociedade brasileira, as Uma caracterização geral das condições de principais doenças que podem ser relacionadas às saneamento básico no Brasil e em suas grandes condições inadequadas de saneamento ou a regiões pode ser observada na Tabela 11.9. problemas de manejo de recursos hídricos são as seguintes: febre tifóide e paratifóide; shiguelose; Em 1999, cerca de 93% da população brasileira amebíase; diarréia e gastrenterite de origem urbana era atendida por rede geral de abastecimento infecciosa presumível; outras doenças infecciosas de água e permaneciam ainda sem rede coletora de intestinais; cólera; dengue; febre hemorrágica esgotos ou fossa séptica 26% dessa população. derivada do vírus da dengue; malária7; e esquistossomose. No entanto, esses percentuais de cobertura de abastecimento de água e esgotamento sanitário Um dos direcionadores que podem ser utilizados variam de forma muito expressiva entre a população, para avaliar os custos sociais derivados desse vetor segundo a região de moradia e faixas de - doenças associadas a condições inadequadas de rendimentos. No Nordeste, 62% da população saneamento - é o número e o valor das despesas urbana com rendimentos mensais domiciliares de com internações hospitalares no Sistema Único de até 1 salário mínimo conta com rede geral de Saúde (SUS)8. abastecimento de água, embora cerca de 70% dessa população não esteja ligada à rede coletora de esgotos ou possuam fossa séptica. Nas diversas regiões do Brasil, a taxa de cobertura de abastecimento de água e esgotamento sanitário da população urbana com rendimentos mensais 7O estudo do MCT (2001) considera a malána como uma das domiciliares superiores a 20 salários mínimos alcança doenças associadas a condições de saneamento Da mesma níveis próximos a 100%. forma o faz o estudo de Maciel Filho et al (2000). Interfaces níveis próximos a 100%. da gestão de recursos hídncos e saúde pública In Mufioz, H Interfaces da Gestão de Recursos Hidrícos desafios da lei das Águas de 1997. Secretaria de Recursos Hídrícos, Ministéno do Meio Ambiente, Brasilia, www mma.gov.br. O mesmo não acontece com o Diagnóstico do Setor de Saneamento. Estudo Econômico e Financeiro, realizado pela SEPURB (Série Modernização do Setor de Saneamento, 1995), www.planalto.gov br/sedu 02/Desan/mndex.html. 6 As perdas de faturamento nos sistemas de abastecimento 8 Não é possível levantar informações sobre o número e não foram consideradas como um desses vetores em razão despesas com consultas ambulatonais realizadas pelo SUS dos motivos expostos no tópico 1 1 c desse anexo segundo o tipo de doença. Anexo 1 120 Em 1999, no Brasil, o número e o valor das despesas que para cada real gasto em saneamento podem ser com internações hospitalares no SUS vinculadas a economizados cerca de cinco reais em saúde pública. essas doenças foi de 571.993 internações e R$ 109.586.325,00, respectivamente9. A Região Outro direcionador que pode ser utilizado para Nordeste responde por quase a metade dessas avaliar os custos sociais relativos ao vetor doenças intemações (46%) e despesas (45%). associadas a condições inadequadas de saneamento é a perda de produto social (Produto Interno Bruto) No Brasil, cerca de 93% das internações e valor derivada dos óbitos que lhes podem ser associados. das despesas com doenças associadas a condições inadequadas de saneamento são devidas a diarréias Essa perda pode ser estimada da seguinte forma: e gastrenterite de origem infecciosa presumida e . a outras doenças infecciosas intestinais (Tabela 1. 10). em a de obito em um deeriado an Em 199, ssasdoenas eam rsponávei porem cada faixa etária da população nas Em 1999, essas doenças eram responsáveis por diversas regiões brasileiras, é possível associar 16,6% do total das internações de crianças menores um indicador de defasagem de sobrevivência, definido pela diferença entre a idade média É importante ressaltar que esses dados se referem da faixa etária e a esperança de vida ao somente às internações hospitalares realizadas no nascer em cada região; âmbito do SUS em decorrência de doenças . ., associadas a problemas de saneamento. Outros (ii) com base nessas variáveis, pode-se estimar custosiadiciaponaimasnã foramesti.mad os o número total de anos não vividos pelo total custos adicionais não foram estimados emdeóioemcargã; decorrência da precariedade das bases de de óbitos em cada região; informações (p. ex., os custos relacionados aos (iii) a perda anual de produto social regional atendimentos médicos prestados pela rede privada decorrente de cada ano não vivido pode ser de serviços de saúde ou os ambulatoriais realizados estimada pela produtividade médiaper capita pelo SUS) ou ainda aqueles que não foram possíveis em cada região; de serem sistematizados, em curto prazo, como o tempo de trabalho perdido, gastos de locomoção para (iv) essa produtividade pode ser inferida pelo valor atendimento médico-hospitalar e gastos públicos do Produto Interno Bruto Regionalpercapita'°; relacionados à prevenção e ao controle de endemias (dengue e outras). (v) a partir do número total de anos não vividos em cada região e do valor do PIB Regional Deve-se mencionar que, se esses custos adicionais per capita é possível estimar a perda total - forem agregados, é possível que seja comprovado relativa a todos os anos de defasagem de sobrevivência - de PIB Regional decorrente A ordem de grandeza desse valor é compatível com o estimado do total de óbitos verificados em determinado em um estudo realizado pelo Ministéno da Saúde em ano"; 1994, quando R$1,00 era igual a US$1,00. Segundo esse estudo "as doenças decorrentes da deficiência do saneamento representam um significativo percentual das internações, acarretando ao país uma despesa média anual de US$ 90 '° O Produto Interno Bruto per capita é a medida mais simples e milhões, sem que se possa ponderar o custo social daí genénca da produtividade do trabalho em uma região ou país. decorrente" MINISTÉRIO DA SAÚDE/FUNASA. " Poder-se-ia pensar na necessidade de definir uma taxa anual de Programa de Saneamento para Proteção à Saúde. Brasílha, crescimento do PIB Regional per capita para estimar as perdas 1994, apud SEPURB, 1995 Diagnóstico do Setor de anuaisfuturasrelativasaoperíodoconrespondenteàdefasagem Saneamento: Estudo Econômico e Financeiro. Série de sobrevivência, bem como na necessidade de uma taxa de Saneamnto: studoEconôico eFinaneiro.Série conversão ou retomo de valores futuros para o presente. No Modernização do Setor de Saneamento, p. 46 In entanto, se assumurmos a hipótese de que tais taxas podem ser www planalto.gov.br/sedu 02/Desan/index.html. idênticas, a metodologia se toma bem mais simples. 121 Anexo I Estrategias de Gerenciamento de Recursos Hídrícos no Brasil Arcas de Cooperação cotn o Banco Mundial (vi) a partir desse valor e da defasagem média O Sistema Nacional de Informações sobre de sobrevivência do total dos óbitos Saneamento-SNIS'3, organizado pela Secretaria verificados em determinado ano em cada Especial de Políticas Urbanas-SEPURB da região pode-se estimar a perda anual de PIB Presidência da República, sistematiza, dentre outras, Regional no decorrer do período de anos as informações de volume de água produzido, relativos a essa defasagem'2. volume de água tratado em ETA's, volume de água tratada por simples desinfecção'4 e despesas de A Tabela 1. 1 1 apresenta, para cada faixa etária da exploração (DEX) com produtos químicos dos população, os óbitos ocorridos no Brasil e em suas prestadores de serviços de abrangência regional e grandes regiões, em 1999, em decorrência de microrregional. doenças relacionadas a condições inadequadas de saneamento. Nesse ano, o total desses óbitos Existem vários desses prestadores que produzem alcançou 8.835 pessoas. Cerca de 91% desses óbitos água exclusivamente tratada por simples são devidos a diarréias, concentrados em grande desinfecção. Outros, produzem somente água tratada parte (61%) na população com idade até 4 anos. em ETA's. Também existem prestadores que Regionalmente, o Nordeste responde por 54,6% produzem água dos dois tipos. desses óbitos e o Sudeste, 22,3%. Em 1999, a DEX-Produtos Químicos média por m3 Pode-se estimar que, no Brasil, a perda de produto para o conjunto desses grupos de prestadores foi de social decorrente de óbitos, ocorridos em 1999 e R$ 11,22. A DEX-Produtos Químicos média do relacionados a condições inadequadas de primeiro grupo foi de R$ 2,59/m3 e a do segundo saneamento, alcança cerca de R$ 39,47 milhões a grupo, R$ 15,2 1/m3. cada ano, nos próximos 59 anos. Tomando por base a confiabilidade dos dados No Nordeste esse montante corresponde a R$ 10,37 milhões (26,2% do total) e no Sudeste R$ 10,63 levantados pela SEPURB, é possível estimar o custo milhões (26,2% do tot nos Sueste 56 10,6 de tratamento associado à degradação das águas a milhões (26,3%) por ano, nos próximos 57 e 56 anos ~ rdodfrnil eDXPoutsQíio repetvaene Ese' aoe,ebr partir do diferencial de DEX-Produtos Químicos respectivamente. ~ ~ Ese vaoe,ebr média existente entre o segundo e o primeiro grupo semelhantes, encobrem diferenças significativas entre essas regiões no que se refere ao número de de prestadores e do volume de água tratada em óbitos, na distribuição dos óbitos segundo a faixa ETA s. Esse diferencial é de R$ 12,62/ m3 e o volume ' ~~~~~~~~~~~corresponde a 3.390.400 m3, de forma que o total etária, à esperança de vida ao nascer (65,5 anos no destonde amento relto à degradaçao Nordeste e 69,4 anos no Sudeste) e no PIB Regional da gus no anood el199 vodesr ado per capita (R$ 2.67 1,00 no Nordeste e R$ 7.843,00 das águas, no ano de 1999, pode ser estimado per capitR.6 em R$ 42,8 milhões. Esse valor corresponde à no Sudeste). cerca de 76% da DEX-Produtos Químicos do b) Custo de tratamento associado à degradação das conjunto de prestadores de serviços de abrangência águas regional e microrregional pesquisados pela SEPURB nesse ano. 12 Torna-se importante realçar que neste relatório a estimativa c) Perdas físicas pelas companhias de saneamento das perdas anuais de produto social decorrentes de óbitos causados por doenças relacionadas a condições inadequadas de saneamento refere-se somente aos óbitos venficados em um determinado ano, no caso 1999. O efeito cumulativo de "4 Volume de água captada em manancial subterrâneo ou fonte perdas anuais de produto social decorrentes de óbitos de cabeceira, que apresenta naturalmente características verificados em anos antenores não está computado. físicas, químicas e organolépticas que a qualificam como www.planalto.gov.br/sedu 02/Desan/index html água potável e, por isso, recebem simples desinfecção Anexo 1 122 gua As perdas nos sistemas de abastecimento de água racional da água tratada ao impor ao usuário a englobam as perdas físicas [volumes de água condição de pagador pela totalidade do volume (produzido + tratado importado - de serviço) - consumido. volume de água consumido] e as perdas de faturamento [volumes de água (produzido + tratado As perdas físicas podem ser caracterizadas como importado - de serviço) - volume de água desperdício de água e, portanto, como custos que faturado]'5. As perdas físicas se referem se traduz, via tarifas, em externalidades negativas principalmente a vazamentos no sistema de dessascompanhiasparaasociedadecomoumtodo. abastecimento, enquanto que perdas de faturamento As perdas decorrentes diretamente da menor decorrem de ligações clandestinas ou não racionalidade do uso de água tratada em decorrência cadastradas, fraudes ou hidrômetros com problemas. de perdas de faturamento por parte das prestadoras A redução das perdas físicas implica em diminuição de serviço não serão estimadas nesse anexo, em de custos de produção (consumo de energia, função da dificuldade, em curto prazo, de serem produtos quírnicos utilizados, etc.) em relação ao definidos metodologicamente os parâmetros e volume consumido e na possibilidade de prorrogação funções adequadas para estimá-las. dos horizontes de planejamento, uma vez que permite o aumento da oferta a partir de uma dada capacidade A Figura 1.1 apresenta os Índices Regionais de instalada do sistema. A redução das perdas de Perdas Lineares verificados em 1999, segundo o faturamento leva a um aumento da receita Sistema Nacional de Informações sobre operacional e à melhoria dos índices de desempenho Saneamento (SNIS). Esse Índice (IPL) é definido financeiro do operador, além de induzir ao uso mais pela seguinte fórmula: IPL = Vazão de Água (Produzido + Tratado Importado - de Serviço) - Vazão de Água Consumido Extensão da Rede Conforme se pode observar na Figura 1. 1, em 1999, 5 Segundo o SNIS, os conceitos dessas variáveis são os o Índice de Perdas Lineares no Brasil foi de 1,7 m3/ seguintes hora/km. Para efeito de comparação, na Europa - Volume de Água Produzido volume de água disponível para Ocidental esse índice é de cerca de 0,5 m3/hora/km, consumo, compreendendo a água captada pelo prestador de serviço e a água importada bruta, ambas tratadas na(s) enquanto na Europa Oriental e no Extremo Oriente unidade(s) de tratamento do prestador de serviços, medidas alcança níveis próximos a 2,0 e 3,8 m3/hora/km, e/ou estimadas na(s) saída(s) da(s) ETA(s) ou Unidade(s) de Tratamento Simplificado Inclui também os volumes de respectivamente'6. água captada pelo prestador de serviços que sejam disponibilizados para consumo sem tratamento, medidos na(s) entrada(s) do sistema de distribuição, - Volume de Água Bruta Importada: volume de água bruta 16 Conforme Silva e Conejo (1998), "uma das dificuldades recebido de outros fornecedores, para tratamento ou maiores na comparação entre esses valores está na maneira distribuição direta; como são considerados e incluídos os ramais prediais, que - Volume de Água de Serviço valor da soma dos volumes de podem ter extensão total maior do que a das adutoras, sub- água para atividades operacionais e especiais, com o volume adutoras e redes de distribuição Ademais, nos países em de água recuperado; que há maior controle tende-se a registrar nos indicadores - Volume de Água Consumido. volume de água consumido por lineares apenas as perdas físicas, enquanto naqueles onde todos os usuários, compreendendo o volume micromedido, os controles - e presumivelmente a operação - são mais o volume estimado para as ligações desprovidas de aparelho de medição (hidrômetro) e o volume de água tratada precános, registram-se conjuntamente perdas físicas e não exportado; e físicas, e isso aumenta a diferença entre eles" Silva, R. T - Volume de água.faturado. volume de água debitado ao total e Conejo, J. G. L (1998). Definição de perdas nos Sistemas de economias (mediadas e não medidas), para fins de Públicos de Abastecimento Secretaria Especial de Política faturamento. Inclui o volume de água tratada exportado Urbana, Ministério do Planejamento, Brasflia, p. 37 123 Anexo I Estratégias de Gerenciamento de Recursos Hidricos no Brasil Arcas de Cooperação com o Banco Mundial 3. E Z 9 ~~~~2,1 2,1_ 1 ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~~~~~~~~, E~~~~~~~~~~~~~WE c 2- _ 1 - . I 1,7 Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Totais Regiões Figuro 1.1 - Gráfico de Índices de Perdas Lineares nas Regiões do Brasil - 1999. Fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) No Brasil, merecem destaque a situação das a0, 8 m3lhoralkm'; Regiões Nordeste e Sudeste, com Índices de Perdas > como o índice de Perdas Lineares no Brasil é Físicas de 2,1 m3lhoralkm. A Região Centro-Oeste de 1,69 m3/horalkm, pode-se considerar, de apresenta o menor Índice de Perdas Físicas dentre forma geral, como acima do aceitável - ou as grandes regiões brasileiras (0,8 m3lhoralk). desperdício de água - a perda de 0,89 m31 Um dos possíveis direcionadores de custo dessas horalkm'8; perdas (físicas) relaciona-se com o número de > considerando a extensão total da rede do habitantes que poderiam ser atendidos com os seus sistema de abastecimento no País, essa perda correspondentes volumes de água além de um limite corresponde a um volume desperdiçado de considerado como aceitável. Um outro direcionador _______ se refere ao valor da receita equivalente que poderia I' Esse menor valor do IPL da região Centro-Oeste ser auferida com esse atendimento. possivelmente pode ser explicado pelas seguintes razões. (a) a urbanização e a infraestrutura de saneamento dessa Com vistas à estimativa dos valores relativos a esses região é mais recente do que nas demais regiões; e, (b) direcionadres, foramadotados o seguintes dadas às características da rede regional (de escalas mínimas direciondores, fram adotdos os sguintes de capacidade ainda não plenamente utilizadas), as vazões procedimentos: atuais ainda implicam pouca densidade de seu uso. O que não significa que um índice dessa magnitude seja > definiu-se como aceitável o menor valor do justificável A aceitação do índice constitui um mero recurso Índice de Perdas Lineares existente no Brasil, metodológico, de forma a estimar as perdas físicas de água correspondente à Região Centro-Oeste, igual tratada no País. Anexo 1 124 água de 5.519.625 m3/dia'9 (a Tabela 1.3 > com base nessa fórmula, pode-se estimar que apresenta as dimensões nacional e regionais o sistema de abastecimento poderia atender dessas perdas); dianamente uma população de mais de 35 > o número de pessoas/dia que poderiam ser milhões de pessoas/dia, apenas com os atendidas com os volumes de água volumes de água desperdiçados (Tabela 1.4); desperdiçados pode ser determinado através da seguinte fórmula: ) considerando o volume desperdiçado de água V e a tarifa média de água paga pelo metro N = V cúbico em cada região, pode-se estimar que o custo das perdas físicas nos sistemas de CPC abastecimentos soma cerca de R$ 1.958 milhões (Tabela 1.5). em que: N = número de pessoas que poderiam ser atendidas com os volumes desperdiçados; CPC = consumo médio per capita diário (m3/hab); V = volumes de perdas físicas diárias (m3/ dia). Tabela 1.3 - índice de Perdas Lineares, Volumes Desperdiçados de Água e Consumo Médio Diário - Brasil e Grandes Regiões - 1999 íegião Índice de Perdas Percentual do IPL Volumes Consumoper capita Região Lineares (m3/hora/km) acima do aceitável desperdiçados médio diário Lineres horakm) (m3/hora/kmn) diários (m 3) (m3fhab) Norte 1,91 1,12 393.082,6 0,115 Nordeste 2,08 1,29 1 706.305 0,113 Sudeste 2,12 1,33 3.136.788 0,205 Sul 0,97 0,18 283.449 0,133 Centro-Oeste 0,79 0,150 Fonte: Valores calculados a partir dos dados do SNIS. '9 Em 1999, o volume de água produzida pelas empresas prestadoras de serviços alcançou cerca de 11,3 bilhões de m3, correspondentes a 30,9 milhões de m3/dia O volume de perdas físicas, considerado aceitável, estimado em 5,5 milhões m3/dia, representa cerca de 18% desse total. 125 Anexo 1 Estratégias de Gerenciamento de Recursos Hídricos no Brasil Arcas de Cooperação com o Banco Mundial Tabela 1.4 - Número de pessoas que poderiam ser atendidas com os volumes desperdiçados de água no Região Número de Habitantes Norte 3 418.110 Nordeste 15.100.041 Sudeste 15.301.403 Sul 2.131.195 Centro-Oeste Total 35.950.749 Fonte Valores calculados a partir dos dados do SNIS. Tabela 1.5 - Estimativa do custo das perdas lineares de água nos sistemas de abastecimento - Brasil -1999 Região Tarifas Médias (R$/m3) Custo Anual de Perdas Lineares (R$/ano) Norte 1,05 150.648.920,5 Nordeste 0,81 504.468.976,3 Sudeste 1,02 1.167.826.044,6 Sul 1,31 135 531.134,3 Centro-Oeste 0,96 Total 1.958.475.075,7 Fonte: Valores calculados a partir dos dados do SNIS 1.2 - ENERGIA nos últimos anos20, à expansão da demanda a taxas superiores a da capacidade de geração (Figura 1.2) Umsdo do m aiordesafios enfrentados pelo País no e à escassez de água provocada por razões setor de energia ocorreu em 2001, devido à sua base climáticas. hídrica dominante (92%), à retração de investimentos em geração e distribuição verificada 20 A retração de investimentos no setor energético brasileiro decorreu não somente das políticas de estabilização monetána e de contenção do déficit (ou necessidades de financiamento) do setor público e de suas empresas estatais, mas também das incertezas do marco regulatóno do setor, o que ainda vem inibindo os investimentos do setor pnvado. Anexo 1 126 Com base nesse contexto, Luís Sauer (200 1)21 gerar energia do que foi disponibilizada pela explica o processo que levou a sociedade brasileira hidrologia. A progressiva dilapidação dos à crise energética de 2001: "a partir de 1995, para reservatórios destruiu a segurança do sistema e, ao compensar a defasagem entre capacidade e final das chuvas de 2001, o nível estava abaixo de demanda, em todos os anos usou-se mais água para 33%". 300,00 250,00 200,00- 150,00- 100,00 - 50,00 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 _ Consumo ~ Capacidade Instalada Figura 1.2 - Evolução do Consumo de Energia e da Capacidade Instalada de Geração no Brasil - 1980-2000 Fonte. Instituto Ilumina, em http //www ilumina.org.br/de95a2000.html Elaboração DIEESE 100 90 80 èL ~ 70 -N :~ 60- 50- N 40 30- 20 - o 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49 51 53 mês Figura 1.3 - Nível (%) de armazenamento do reservatório equivalente do sistema SEI CO de janeiro de 1997 a junho de 2001. Fonte. ANEEL, 2001 MCT (2001) É possível estimar o vetor de custos associados ao Um dos melhores estudos realizados com esse objetivo racionamento ou não atendimento da demanda de foi elaborado pela Secretaria de Política Econômnica energia elétrica na forma de seu impacto sobre o Produto Intemo Bruto da Economia. 21 Sauer, L. (2001). A crônica de uma cnse anunciada. Folha de São Paulo, p B 4 127 Anexo 1 Estratégias de Gcerenciamenso de Recursos Hídncos no Brasil Arcas de Cooperação com o Banco Nlundial (SPE) do Ministério da Fazendas2. Através de modelos Um estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas- de simulação elaborados a partir de matrizes de FGV25 chegou a conclusões semelhantes às obtidas relações intersetoriais e das elasticidades da demanda pela SPE. No modelo da FGV, simulações de de energia de mais de 40 setores, a principal conclusão diferentes intensidades efetivas de racionamento desse estudo é que a Taxa de Crescimento do PIiB (5% a 25% de corte de oferta), a partir de uma inicialmente prevista para 2001 (4,4%) viria a ser Taxa de Crescimento Prevista do PIB de 3,5% em reduzida para 2,4% - em 2 pontos percentuais - caso 2001, resultam em impactos sobre o PIB variando fossem adotadas linearmente, em todos os segmentos, de R$ 3,7 a R$ 18,2 bilhões, que correspondem a uma redução de 20% no consumo de energia elétrica, reduções de 0,4 a 1,9 pontos percentuais nessa taxa. conforme o defimdo pelo Comitê Gestor de Energia Ao nível de racionamento definido pelo CGE previsto (CGE), mesmo prevendo algum ajuste de e praticamente realizado de 20% da oferta, a racionalização do consumo. A redução de 2 pontos diminuição do PIB, em 2001, estimada pela FGV é percentuais na Taxa de Crescimento do PIB em 2001 de R$ 14,6 bilhões ou menos 1,5 ponto percentual implicaria em uma diminuição absoluta do PIB de na taxa inicialmente esperada26. cerca de R$ 21,7 bilhões23. No entanto, em uma das simulações realizadas no 1.3 - DESENVOLVIMENTO RURAL modelo, a SPE identificou que, caso fossem Os principais vetores de custo relativos a problemas otimizadas as transferências de energia entre setores de gestão de recursos hídricos são os seguintes: eletro-intensivos e o resto da economia, a Taxa de custos associados à degradação dos solos e custos Crescimento do PIB prevista para 2001 poderia decorrentes da baixa eficiência de irrigação27. reduzir somente para 3,6% - em 0,8% pontos percentuais. Essa hipótese resultaria em uma a) Custos associados à degradação dos solos diminuição absoluta no PIB previsto para 2001 de agrícolas cerca de R$ 8,7 bilhões. Um importante estudo sobre prejuízos com as perdas Dessa forma, no conjunto das simulações dos efeitos de solo nas áreas agrícolas foi realizado do racionamento de energia sobre a oferta agregada, recentemente pelo Prof. Altir Corrêa25. realizadas pela SPE, a Taxa de Crescimento do PIB esperada para 2001 deve se situar entre 2,4% e 3,6% com reduções de 0,8 a 2,0 pontos percentuais em relação à taxa inicialmente prevista para esse ano (4,4%). O custo social desse racionamento, 25 FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS (2001). Impactos do portanto, pode ser estimado entre R$ 8,7 a R$ 21,7 racionamento de energia sobre o setor de cloro-soda. FGV, bilhões (a preços de 2000)24. Rio de Janeiro. 26 Segundo dados do IBGE, a queda da PIB dos Serviços Industnais de Utilidade Pública (geração e distnbuição de 22 MINISTÉRIO DA FAZENDA (2001). Panorama energia + serviços de saneamento) no 3° trimestre de 2001, 22 MINISTÉRIO DA FAZENDA (2001). Panorama após o início do racionamento de energia em junho, foi de Macroeconômico Brasileiro: efeitos do racionamento de cerca de 12% em relação ao mesmo tnmestre do ano antenor energia sobre a oferta agregada Secretana de Política 27 Um terceiro vetor corresponde aos custos relacionados à Econômica, Brasília degradação química de afluentes. No entanto, no curto 23 A estimativa dos impactos do racionamento de energia se prazo, a quantificação desses custos carece de uma maior restnnge aos seus efeitos somente no ano 2001. Possíveis disponibilidade e precisão de informações relativas a esse efeitos ou sequelas do racionamento em anos postenores tipo de degradação. não foram considerados no modelo de análise 25 Correia, A. (2000) Prejuízos com as perdas de solo nas 24 A preços de 1999, esses valores correspondem a R$ 20,1 e áreas agrícolas. Cuidando do Planeta. In: http:// R$ 8,0 bilhões, respectivamente. www cnps embrapa.br, capturado em 07/08/2000 Anexo 1 128 Água ~ B r Uma de suas conclusões é a de que é "praticamente solo de 12,5 toneladas para cada tonelada inexeqüível a estimativa de quanto o País perdeu, de grãos produzida29, o carreamento pela em valores econômicos, de nutrientes dos solos e enxurrada é de cerca de um bilhão de fertilizantes com o carreamento de terras em virtude toneladas de solo (80 milhões x 12,5) no da ação das enxurradas sobre os terrenos. Há efeitos ano; diretos, sentidos pelos usuários, que se refletem na redução da fertilidade dos solos; e, conseqúentes, > adotando a média de produção de grãos de 2 como a poluição da água das correntes fluviais e ton/ha, 80 milhões de toneladas de grãos reservatórios. Há prejuízos imediatos, resultantes ocupam anualmente 40 milhões de ha30; das ações erosivas anteriores e os que serão detectados no futuro, pela ausência do emprego > portanto, para restabelecer anualmente a de processos de controle da erosão. O atual fertilidade dessa área, são necessárias 12 descaso com a conservação do solo e da água milhões de toneladas de adubos completos3' atinge a população atual e afeta a sustentabilidade (40 milhões ha x 300 quilos de adubos/ha), o das gerações futuras. Há muitos anos os que corresponde a um custo de R$ 6 bilhões conservacionistas vêm alertando os dirigentes do (12 milhões de toneladas de adubos x R$ País para os efeitos catastróficos da erosão dos 500,00/tonelada). solos, que está roubando a fertilidade dos terrenos, preciosa herança que deveria ser transmitida Na realidade, essa perda é bem maior. A área de integralmente" lavouras (não somente grãos) é de cerca de 100 milhões de hectares (incluindo os terrenos em Visando a mensurar os custos associados à rodízio) e existem ainda 200 milhões de hectares degradação ou às perdas de solos agrícolas, Altir ocupados com pastos, além das áreas incultas e Corrêa desenvolve a seguinte metodologia, apenas desmatadas e queimadas. Segundo Altir adotando como principal direcionador desses Correia, dadas as práticas usuais de manejo desses custos o valor das despesas com adubos solos e de gestão de recursos hídricos na atividade completos (nutrientes e corretivos) que seriam agropecuária, pode-se estimar uma perda de 3 a necessários para repor a qualidade de terras 3,5 bilhões de toneladas de terras degradadas degradadas: anualmente no Brasil, adotando-se uma média de 10 a 12 toneladas por hectare32. >' estima-se que para repor as perdas de nutrientes decorrentes da degradação do solo são necessários 300 quilos de adubos completos por hectare, ao preço médio de `9 Segundo o Prof. Altir Corrêa, para cada tonelada de grãos R$o500,00laetosnpoheldar, Esao p dia o dem produzida anualmente no Brasil, perde-se cerca de 10 a 15 R$ 500,00 a tonelada. Essa avaliação tem toneladas de solo devido à falta de manejo e uso adequado por base a análise do quantitativo de dos terrenos. elementos nutrientes e corretivos - 30 Segundo os parâmetros utilizados por Altir Corrêa, estima- nitrogênio, fósforo e potássio (NPK), além se que a perda de solos na produção de grãos no Brasil, do cálcio e magnésio - de terras segundo talhões experimentais, corresponde à cerca de 25 transportadas dos talhões experimentais e toneladas por hectare A EMBRAPA estima que, no Rio Grande do Sul, nas culturas de soja, essa perda alcance 20,1 retidas em tanques medidores de perda de toneladasporhectare(Bley,C (1999) Erosãosolar-rnscos solo; a considerar para a agricultura nos trópicos.ln http:// www.ecoltec com br/pub4.htm, capturado em 1999) > considerando apenas a produção de grãos `" NPK, cálcio e magnésio no Brasil, em 2000, em torno de 80 milhões ` Essa média se refere ao conjunto dos cultivos agrícolas e não de toneladas e adotando a perda média de somente à produção de grãos 129 Anexo 1 Estrategías de Gerenciarnento de Recursos Hidricos no Brasil Arcas de Cooperaçào com o Banco IMundial b) Custos decorrentes da baixa eficiência de irrigação A área irrigada no Brasil vem crescendo (Tabela 11. 14). Entre 1996 e 1998, apesar do decréscimo da Lima, Ferreira e Christofidis (2000) fizeram uma área plantada no país, da ordem de 8,90% ao ano, detalhada análise do uso da irrigação no Brasil33. as áreas irrigadas sofreram uma taxa de crescimento Segundo esses autores, irrigação é "o conjunto de de 3,95% ao ano. Nesse período, a participação das técnicas destinadas a deslocar a água no tempo ou áreas irrigadas no total da área plantada aumentou no espaço para modificar as possibilidades agrícolas de 4,83% para 6,19%. O aumento dessa participação de cada região e visa corrigir a distribuição natural ocorreu com maior intensidade no Nordeste, das chuvas. O aumento do custo da terra, aliado ao Sudeste e Sul do País (Tabela 1. 15). considerável capital necessário à exploração agrícola, não permite mais que a produção final Estima-se que o Brasil possui 29.564.000 ha com dependa da ocorrência ou não de um regime de potencial para o uso de irrigação (3,5% da área do precipitação adequado"34. território nacional). Em 1998, a área irrigada O"manejo racional da irrigaçãoconsistenaaplicação alcançou 2.870.204 ha (41,5% no Sul e 31,0% no "m9jrcoadiraãoosseapi ã Sudeste), demandando um volume de água da quantidade necessária de água às plantas no correspondente à cerca de 33.777.297.000 m3/ano momento correto. Por não adotar um método de (Tabela II.16). controle da irrigação, o produtor rural usualmente irriga em excesso, temendo que a cultura sofra um O método de irrigação mais utilizado é o de estresse hídrico, o que pode comprometer a superfície. Em 1998, esse método respondeu por produção. Esse excesso tem como conseqüência o 57,9% do total da área irrigada. Os demais métodos, desperdício de energia e de água, que poderiam vir pivô central, aspersão convencional e de irrigação a ser utilizadas de forma produtiva em outras localizadaabarcaram 17,5%,19,1%e6,3% do total atividades econômicas"35. dessa área (Tabela 11.17). A eficiência de irrigação A agricultura irrigada é "a atividade humana que desses métodos é diferenciada. Define-se essa A ~~~~~~~~~~~~eficiência como "a relação entre a quantidade de demanda maior quantidade total de água. Em termos mundiais, estima-se que esse uso responda por cerca água requerida pela cultura e a quantidade total de 80% das derivações de água. No Brasil, esse aplicada pelo sistema para suprir essa necessidade. valor supera os 60%'36. Quanto menores as perdas de água devido ao escoamento superficial, evaporação, deriva e drenagem profunda, maior será a eficiência de 3 Lima, J. E. W., Ferreira, R. A., Chnstofidis, D. (2000) O irrigação de um sistema"3". Os valores médios de uso da irngação no Brasil In Freitas, M. V. (ed.). O Estado eficiência de irrigação segundo os diferentes métodos das Águas no Brasil - 1999. ANEEL - MMA/SRH - OMM, podem ser observados na Tabela 11.18. p.73-82. 34 Lima, J E W., Ferreira, R A., Chnstofidis, D. (2000) O uso da imgação no Brasil In: Freitas, M. V (ed ) O Estado Todos "os métodos possuem algumas condições que das Águas no Brasil - 1999 ANEEL - MMA/SRH - OMM, limitam o seu uso, mas geralmente o método que P 75 usa a água de forma mais eficiente é a irrigação 35 Lima, J E. W., Ferreira, R. A., Chnstofidis, D (2000). O localizada. Apesar de possuir custo inicial superior uso da irrigação no Brasil. In: Freitas, M V (ed.). O Estado dasÁguas no Brasil- 1999. ANEEL-MMA/SRH-OMM, ao dos outros métodos, a irrigação localizada p. 75-76 aumentou a sua participação na área irrigada 36 FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS (2000). Revista de Economia Agrícola da FGV - AGROANALYSIS Vol 18, no 3,1998 apud Lima, J E W, Ferreira, R. A., Christofidis, "7 Lima, J. E. W., Ferreira, R. A., Christofidis, D. (2000). O D. (2000) O uso da imgação no Brasil In: Freitas, M V. uso da imgação no Brasil In- Freitas, M. V (ed ) O Estado (ed.) O Estado das Águas no Brasil - 1999. ANEEL - dasÁguasnoBrasil- 1999". ANEEL-MMA/SRH- OMM, MMA/SRH - OMM, p 80. p. 76 Anexo 1 130 brasileira de 4,4% em 1996 para 6,3% em 1998 setor de abastecimento doméstico)4", cerca de 30 (Tabela 11.17). Hoje, diante dos conflitos entre os vezes menor do que as tarifas médias de água diferentes usuários, da preocupação ambiental e da potável, o montante relativo a esse excedente cobrança pelo uso da água prevista na Lei das Águas alcançaria R$ 203 milhões anuais. (Lei 9.433 de janeiro de 1997), existe a tendência de que este método de irrigação continue ampliando 1.4 - ENCHENTES sua participação no cenáno nacional"38. Não existem dados metodologicamente Dados obtidos pela CEMIG (1993) "demonstram a sistematizados sobre as enchentes urbanas ou rurais ocorrência de um desperdício médio de 20% da água no Brasil. No entanto, alguns estudos de casos desviada de seus cursos normais, e de cerca de 30% específicos podem ser úteis para indicar a dimensão da energia elétrica utilizada para a irrigação. e custos decorrentes dessas enchentes. Tomando como base essas estimativas e considerando as informações para o Brasil em 1998, Um desses estudos foi realizado pelo DAEE/SP, o manejo adequado da irrigação traria um excedente no âmbito do Projeto Tietê42, Região Metropolitana ao país da ordem de 6.755.459.400 m3/ano de água de São Paulo. e cerca de 2.336 GWh/ano de energia elétrica, o que reduziria substancialmente as tensões sobre A metodologia de avaliação do vetor custos de esses dois recursos de fundamental importância para enchentes tem por base o levantamento dos danos o país"39. causados aos bens, propriedades, atrasos nos deslocamentos e demais prejuízos (direcionadores Esse excedente assume maior relevância quando de custo). lembramos que a "irrigação é uma forma de uso consumptivo da água, isto é, parte da água utilizada Os danos da área diretamente afetada foram para este fim não retoma ao seu curso original, estimados a partir de dados históricos levantados havendo redução efetiva da disponibilidade do na área inundada ou através de fórmulas manancial"'40. Além disso, verifica-se que essa empíricas definidas para situações de inundação parcela de água, que retoma ao seu curso, o faz de similares. forma muito lenta. A estimativa dos danos indiretos foi feita com A magnitude desse excedente é tão elevada que a base em uma fração do dano direto, através de qualquer preço assumira um total muito expressivo. percentuais definidos em levantamentos realizados Por exemplo, se esse preço for estimado em R$ em vários estudos de casos de inundações. 0,03/m3 (valor da água bruta cobrado no Ceará do Segundo o DAEE, os danos indiretos podem ser estimados em cerca de 20% do total de danos 38 Lima, J E W, Ferreira, R. A., Christofidis, D (2000) O diretos. uso da imgação no Brasil. In Freitas, M V (ed ). O Estado dasÁguasno Brasil- 1999". ANEEL-MMA/SRH-OMM, O' O preço de R$ 0,03/m3 (R$ 30,00/mil/m3) corresponde, P. 81. também, ao preço médio estimado cobrado pela CODEVASF 39 Lima, J E W, Ferreira, R. A, Christofidis, D (2000). O em seus 22 perímetros irrigados. Essa informação foi colhida uso da irrigação no Brasil. In. Freitas, M. V. (ed.) O Estado diretamente na CODEVASF no dia 01/03/2002 dasÁguasnoQBrasil-1999 ANEEL-MMA/SRH-OMM, 42 DAEE/SP - UGP (2001). Projeto Tietê. um Projeto para p o l Acabar com as Inundações que São Paulo Enfrenta desde o 40 Lima, J. E. W., Ferreira, R. A., Chrístofidis, D (2000) O Século XVII Revista Engenharia, vol. 59, n° 548. Ver uso da irrigação no Brasil. In: Freitas, M V (ed ). O Estado também Plano Diretor de Macrodrenagem da Bacia do Rio dasÁguasnoBrasil-1999".ANEEL-MMA/SRH-OMM, Tietê, disponível no site do DAEE, http:// p. 80 www.sigrh sp gov br/sigrh/baseconlmacrodrenapemi. 131 Anexo 1 Estrartgias de Gerenciamento de Recursos Hidrícos no Brasil Arcas de Cooperação com o Banco Mlundial Com relação à definição dos danos diretos, o estudo Nesta equação, supõe-se que os danos diretos em realizado pelo DAEE utiliza a seguinte equação: edificações nas áreas urbanas, incluindo o conteúdo e áreas adjacentes - jardins, quintais, etc - variem Cd= Kd. M . U. h. A linearmente com a altura da inundação e com o d d * e * coeficiente Kd. Os parâmetros dessa equação foram estimados da seguinte forma: em que: Cd= danos diretos; a área total inundada (A) em São Paulo foi Kd = 0,15im, coeficiente médio, segundo estimada pelo DAEE, considerando o tempo James (1964), apud Campana e Tucci de recorrência da enchente44 e uma área (1994)43; média de 520m2 por unidade, incluindo M e.= valor de mercado das edificações por terreno, construção e rateio de áreas de uso unidade de area; unidade de área; comum, equipamentos urbanos, arruamento, h = altura da inundação; etc. (Tabela 1.6); U = proporção entre a área de ocupação e a área total inundada; A = área inundada. Tabela 1.6 - Área e unidades habitacionais inundadas na Região Metropolitana de São Paulo segundo o tempo de recorrência de enchentes, de acordo com DAEE Tempo de Unidades Habitacionais Área Total Inundada Recorrência da Cheia (anos) e Comerciais Inundadas (metros quadrados) 2 1.247 648.440 10 7.311 3 801.720 30 11.463 5.960.760 Fonte. DAEE/SP. > o valor médio de mercado dos imóveis por consumo duráveis no interior das edificações; unidade de área (Me) corresponde a R$ 300,00/m2, considerando os valores do terreno > o custo indireto foi estimado em 20% do custo e da construção; direto, conforme a experiência brasileira; > o coeficiente médio é o sugerido por James > a taxa média de ocupação adotada (U) foi de (1964), apud Campana e Tucci (1994): Kd = 30%; 0,15/m. Esse valor pode estar subestimado, haja vista que, desde de 1964, o potencial de > a altura média de inundação foi definida em danos diretos em relação a Me,U, h e A deve 0,4 m. ter aumentado na RMSP, em decorrência, p. ex., da maior disponibilidade de bens de 4 Quanto maior o tempo de recorrência, maior a área inundada Pressupõem-se que uma enchente que ocorre uma vez em 30 43 Campana, N. e Tucci, C M. E (1994). Estimativas de área anos é mais desastrosa do que uma que se verifica de 2 em 2 impermeável de Macrobacías Urbanas anos. Anexo 1 132 Tabela 1.7 - Estimativa dos danos diretos de enchentes na Região Metropolitana de São Paulo Recorrência A Custo Direto (R$) Custo Indireto (R$) Custo Total (R$) 2 648.440 3.501.576 700.315 4.201.891 10 3.801.720 20.529.288 4.105.857 24.635 146 30 5.960.760 32.188.104 6 437.620 38.625 725 Fonte DAEEISP Com base nesses parâmetros, o DAEE calcula os > veículos particulares: R$ 6,00/h/passageiro; custos dos danos diretos de enchentes de acordo com a seguinte fórmula (Tabela 1.7): > ônibus e caminhões: R$ 2,00/h/passageiro; Cd = 0,15*300*30%*0,4*A > média de 1,5 passageiro por veículo particular Cd = 5,4*A (segundo o tempo de e 50 passageiros por ônibus; recorrência da enchente) período médio de tempo perdido de 3 horas Além desses custos, o estudo realizado pelo DAEE para Tr (tempo de recorrência) = 2; 5 horas levou também em conta os custos relativos à para Tr = 10; e 12 horas para Tr = 30; interrupção ou atraso no tráfego. Devido à redução o número total de veículos para a área afetada na velocidade média em decorrência das enchentes, fo númado emtal delveículos por hora as aceita-se, em geral, que triplicam-se os custos foi estimado em 64 mil: 30 mil por hora nas normais de operação dos veículos: de R$ 0,26/km marginais; 34 mil por hora nas arteriais que para R$ 0,78/km, no caso de veículos particulares; cruzam o Rio Tietê; e, e de R$ 1,50/km para R$ 4,50/km, no caso de a proporção de veículos, segundo o tipo, veículos comerciais (coletivos e caminhões). tomada como referência foi de 45% de Outro tipo de custo levado em consideração pelo veículos particulares; 35% de veículos DAEE refere-se ao tempo perdido pelos passageiros coletivos; 20% de caminhões. dos veículos e motoristas durante as de tráfego. O DAEE estima esses custos da seguinte forma: Tabela 1.8 - Custo total de horas perdidas com enchentes na RMSP - Tempo de Recorrência de 2 anos Veículos Passageiros Horas Perdidas Custos Por Passageiro Custo Total (R$) (R$Ih) Particulaies 28.800,00 1,5 3 6,00 777.600,00 Ônibus 22.400,00 50 3 2,00 6.720.000,00 Caminhões 12.800,00 1,2 3 2,00 92.160,00 Total 7.589.760,00 Fonte. DAEE/SP 133 Anexo 1 Estratégias de Gerenciamento de Recursos Hiídncos no Brasil Aeas de Cooperação com o Banco Mundial Com base nesses parâmetros, as Tabelas L.8, 1.9 e segundo o tempo de recorrência de enchentes na 1.10 apresentam os custos totais das horas perdidas, Região Metropolitana de São Paulo. Tabela 1.9 - Custo total de horas perdidas com enchentes na RMSP - Tempo de Recorrência de 10 anos Veículos Passageiros Horas Perdidas Custos Por Custo Total (R$) Passageiro (R$Ih) Particulares 28.800,00 1,5 5 6 1.296.000,00 Ônibus 22.400,00 50 5 2 11.200.000,00 Caminhões 12.800,00 1,2 5 2 153.600,00 Total 12.649.600,00 Fonte: DAEE/SP. Tabela 1.10 - Custo total de horas perdidas com enchentes na RMSP - Tempo de Recorrência de 30 anos Veículos Passageiros Horas Perdidas Custossa or Custo Total (R$) Passageiro (R$Ih) CsoTtl($ Particulares 28.800,00 1,5 12 6 3.110.400,00 Ônibus 22.400,00 50 12 2 26.880.000,00 Caminhões 12.800,00 1,2 12 2 368.640,00 Total 30.359.040,00 Fonte: DAEE/SP Considerando todos os tipos de custos (custos na RMSP, estimado pelo DAEE/SP, segundo o diretos, indiretos e de horas perdidas), pode-se tempo de recorrência dessas enchentes. observar na Tabela I.11 o custo total de enchentes Tabela 1.11 - Custo total de enchentes na RMSP segundo o tempo de recorrência Recorrência Custo Total (R$) 2 11.791.651 10 37.284.746 30 68.984.765 Fonte: DAEE/SP. O custo total de enchentes na RMSP varia de cheias, segundo o tempo de sua recorrência. R$ 11,8 a R$ 68,9 milhões para cada episódio de Anexo 1 134 ¢Bs9 1.5 - TRANSPORTE FLUVIAL de 39% a mais na quantidade de carga transportada por hidrovias (navegação A modalidade transporte rodoviário domina a matriz interior e cabotagem nacional) nesse ano de transporte de carga no Brasil. Cerca de 60,0% da quantidade carga transportada em tonelada- > considerando que esse aumento de quilômetro no Brasil é feita através de transporte participação ocorra às custas do transporte rodoviário (Tabela 11.20). rodoviário, o adicional de 5 pontos percentuais na participação do transporte Um dos problemas relativos à gestão de recursos fluvial na matriz do Brasil corresponde a hídricos na sociedade brasileira refere-se à reduzida uma redução de 9,0% na quantidade de participação do transporte fluvial nessa matriz uma redoviária; (13%), pois o custo dessa modalidade é g; expressivamente menor do que o rodoviário e o > tomando como base os custos de transporte ferroviáiro. de US$ 0,012 t.km por hidrovia e de US$ 0,03 t.km a US$ 0,05 t.km por rodovia46, o O Brasil dispõe de um potencial de transporte fluvial trade-off de 40.286 milhões de t.km entre a ainda não explorado e, se caso o fosse, um montante modalidade rodoviária e hidroviária implica expressivo de recursos atualmente gastos com em uma redução desses custos no montante outras modalidades de transporte relativamente mais de US$ 725,1 a 1.520,9 milhões/ano. caras - por exemplo, o rodoviário - poderia ser evitado. 1.6 - SECAS O valor correspondente a esses recursos pode ser estimado da seguinte forma: Historicamente, o principal foco de secas no Brasil se localiza na Região Nordeste. Exceto nessa região, > dadas às semelhanças existentes entre as o esforço de sistematização de informações sobre características territoriais do Brasil e dos os impactos das secas sobre as atividades Estados Unidos, pode-se fazer a suposição econômicas são muito incipientes. Portanto, a análise de que a participação do transporte fluvial a seguir está centrada nos efeitos da seca no na matriz do Brasil poderia ser ampliada de Nordeste do País. forma a se situar no limite da participação dessa modalidade na matriz dos Estados Os principais direcionadores que podem ser Unidos: 19,3%45. Isso implicaria um associados ao vetor de custos das secas são os adicional de 5,4 pontos percentuais na seguintes: impacto das secas sobre o Produto Interno participação do transporte fluvial na matriz Bruto Regional e os gastos do Governo Federal com brasileira; programas compensatórios47. > dada a quantidade da carga transportada em 46 Godoy, P R. C e Vieira, A P (2000) Hidrovias Interiores. 2000, esse adicional corresponde a 40.286 In: Freitas, M V (ed ) O Estado das Águas no Brasil - milhões de toneladas-quilômetros ou cerca 1999. ANEEL - MMA/SRH - OMM, p. 64. 4 Outros custos, mais difíceis de serem estimados, em curto prazo, podem ser associados à seca, como p ex., o tempo improdutivo gasto pelos membros das familias para acessar 45 Esse percentual se refere à média de participação do ou carregar água de fontes distantes de seus locais de moradia; transporte fluvial na matriz de transporte dos Estados a baixa produtividade e retomo econômico associados às Unidos nos anos de 1996, 1997 e 1998. As informações são atividades das frentes de trabalho (vamção ou carpina de as últimas divulgadas pelo Bureau of Transportathon beira de estradas, etc.), e custos decorrentes de impactos Statistics (National Transportations Statistics 2000), sobre a organização da vida urbana (migrações, segurança www.cnt.org.br/links/pesquisas/deptrans eua.htm. pública, demanda de serviços de saúde, etc ) 135 Anexo 1 Estrategias de Gerenciamento de Recursos Hídricos no Brasil Arras de Cooperação com o Banco Mlundial a) Impacto das secas sobre o Produto Interno Bruto a sua safra afetada pela seca de 1998 em proporções do Nordeste superiores a 60% da safra realizada em 1997 (Tabela 1.14). As últimas informações sistematizadas pela SUDENE48 sobre os impactos da seca sobre as Segundo a SUDENE, "a seca de 1998 foi mais branda atividades econômicas do Nordeste do País são do que as de 1983 e 1993 em termos de perdas relativas ao ano de 1998, quando a região enfrentou econômicas e de volume de produção. No ano de um de seus mais intensos períodos de seca. 1983, o setor primário registrou índice de Produto Real de 88,9 e perdas, em relação ao ano de 1982, Nesse ano, o setor agropecuário do Nordeste de R$ 6,2 bilhões (Tabela I.13). Em 1993, o Índice alcançou o terceiro menor nível de PIB desde 1980, de Produto Real foi superior (93,9), mas o prejuízo cerca de R$ 16,5 bilhões, correspondente a uma queda foi maior em relação a 1992 (R$ 6,5 bilhões). Já no de 23,0% em relação ao ano anterior. Isso significa ano de 1998, tanto o Índice de Produto Real (100,0) que, em 1998, ocorreu uma perda de R$ 4,9 bilhões quanto à perda (R$ 4,9 bilhões) foram menores. no PIB Regional (a preços médios do ano de 1998), Concorreu para que o Produto Interno Bruto de 1998 em decorrência fundamentalmente dos impactos da ficasse em patamar acima dos resultados observados seca sobre a produção (Tabela 1.12). nas grandes secas de 1983 e 1993, a significativa mudança que vem ocorrendo, nos últimos anos, na Outras grandes secas afetaram o Nordeste na agricultura nordestina, que passou a incorporar década de 90. Em 1983 e 1993, a seca provocou novas culturas, desenvolver agricultura irrigada na uma redução do PIB do setor agropecuário regional Bacia do rio São Francisco e em alguns perímetros de cerca de R$ 6,2 e R$ 6,5 bilhões, em cada um de irrigação de outras bacias (Parnaíba, Jaguaribe e desses anos, respectivamente (Tabela I.12). Apodi-Mossoró) voltados para a fruticultura e para produtos tradicionalmente de sequeiro. Somente com as duas grandes secas dos anos 90 (1993 e 1998), a Região Nordeste sofreu uma perda Contribuiu também para a melhoria da atividade em seu PIB agropecuário de R$ 11,5 bilhões, agrícola na região, a exploração dos cerrados correspondente a uma média de R$ 1,4 bilhões por nordestinos a oeste da Bahia e a sudoeste do ano. Maranhão e sul do Piauí, onde surgiu, nos anos recentes, uma agricultura de grãos que se encontra Em 1998, em alguns estados, como a Paraíba e o em plena expansão. Por outro lado, na Região Rio Grande do Norte, a redução do PIB do setor Agreste, particularmente em torno das serras úmidas agropecuário estadual chegou a cerca de 50%, em implantou-se emergentes atividades de avicultura e relação aos níveis observados em 1997 (Tabela horticultura modernas, induzidas pelo crescimento 1.13). Produtos importantes da pequena produção do mercado nas áreas urbanas. agrícola nordestina, como o feijão e o milho, tiveram 48 SUDENE. O comportamento da economia do Nordeste em 1998 (atividade agropecuána). In: www.sudene.gov.br. Anexo 1 136 Tabela 1.12 - Região Nordeste do Brasil -índice e Produto Interno Bruto do Setor Agropecuário - 1980-1998 Ano Índice Real 1998=100 PIB a Preços Constantes de 1998 Variação Anual R$ nmilhões 1980 110,4 18.202,9 1981 111,3 18.348,5 0,8 1982 126,4 20.842,3 13,6 1983 88,9 14.653,3 -27,7 1984 136,8 22.553,4 53,9 1985 143,3 23.627,4 4,8 1986 149,4 24.646,7 4,3 1987 124,1 20.460,0 -17,0 1988 149,7 24.683,1 20,6 1989 144,7 23.864,0 -3,3 1990 127,7 21.060,8 -11,7 1991 146,9 24.228,0 15,0 1992 133,6 22.025,5 -9,1 1993 93,9 15.490,7 -29,7 1994 123,3 20.332,6 31,3 1995 124,5 20.532,9 1,0 1996 127,4 21.006,1 2,3 1997 229,8 21.406,6 1,9 1998 100,0 16.491,8 -23,0 Fontes SUDENE/DPO/EPR/Contas Regionais 137 Anexo 1 Estrategias de Gerenciamento de Recursos Hidrcos nio Brasil Arcas de Coopcração com o Banco Mundisi Tabela 1.13 - Região Nordeste e Estados - Perdas e Ganhos de Renda do Setor Agropecuário - 1998/97 PIB 1998 = 100 Perdas e/ou ganhos Variação Estados 1997 1998 1998/97 1998/97 R$ milhões R$ milhões Maranhão 2 246,8 1.698,6 -548,2 -24,4 Piauí 1.039,8 808,1 -231,7 -22,3 Ceará 1.311,8 956,5 -355,3 -27,1 Rio G Norte 870,0 445,3 -424,7 -48,8 Paraíba 1 708,1 857,6 -850,5 -49,8 Pernambuco 2 555,7 1 995,5 -560,2 -21,9 Alagoas 1 332,1 1.385,3 53,2 4,0 Sergipe 547,8 478,3 -69,5 -12,7 Bahia 9.299,1 7.866,6 -1 432,5 -15,4 Nordeste 21 406,0 16.491,8 -4.914,2 -23,0 Fonte SUDENE/DPO/EPR/Contas Regionais Anexo 1 138 Agua Bra Tabela 1.14 - Região Nordeste do Brasil - Produção física e variação % das principais culturas agrícolas - 1997/98 Produção (t) Variação % Culturas 1997 1998 1998/97 Temporárias Abacaxi 450 067 336 324 -25,3 Algodão Herbáceo 140 486 59.021 -58,0 Alho 3 545 2.499 -29,5 Amendoim 7 144 5 845 -18,2 Arroz 1.478 178 729.099 -50,7 Batata-inglesa 27 672 18 858 -36,4 Cana de açúcar 65.157 069 56 887 823 -12,7 Cebola 137 620 117.350 -14,7 Feijão-l0safra 447 609 119 337 -73,3 Feijão-20safra 658.531 295.565 -55,1 Fumo 45 846 47.282 3,1 Malva 16 16 0,0 Mamona 95.113 13.111 -82,2 Mandioca 10 543 985 6 367.328 -39,6 Milho 2 360.734 905.349 61,6 Soja 1 324007 1 529 186 15,5 Sorgo 33.343 5.139 -84,6 Tomate 631 197 506245 -19,8 Permanentes Algodão arbóreo 3.806 1.234 -67,6 Banana (t) 222.945 162.603 -27,1 Cacau 232.068 237.918 2,5 Café 84.240 67.745 -19,6 Castanha-de-caju 113.153 45.478 -59,8 Coco-da-bahia (2) 816.191 785.514 -3,8 Laranja 9 427 101 8.614.310 -8,6 Pimenta-do-reino 2 999 2 543 -15,2 Sisal 146 194 126 508 -13,5 Uva 115.223 122 265 6,1 Fonte IBGE/DEAGRO, SUDENE/DPO/EPR/Contas Regionais (1) Produção em 1 000 Cachos, (2) Produção em 1 000 Frutos 139 Anexo 1 Estrategias de Gerenciamento de Recursos Hidricos no Brasil Areas de Cooperação com o Banco Mundial É importante realçar que, apesar de expressivos, os b) Gastos do Governo Federal com Programas impactos da seca sobre a PIB do setor agropecuário Compensatórios do Nordeste não são os únicos que devem ser considerados. Via o impacto direto sobre esse setor, A região do Semi-Árido Brasileiro é composta por a seca multiplica seus efeitos ao reduzir a produção 1.031 municípios, com uma população de 21,0 dos setores industnais e de serviços (efeito oferta), milhões de pessoas. A quase totalidade dessa região além do emprego e do nível de renda regional (efeito se encontra no Nordeste do Brasil, exceto 40 demanda). Gomes e Virgulino (1995)49 analisaram municípios e 610 mil pessoas (3,16% do total) do a macroeconomia do desenvolvimento do Nordeste estado de Minas Gerais. no período 1970 e 1994 e estimaram os impactos da seca sobre a região. Chegaram à seguinte Segundo o Ministério do Desenvolvimento conclusão: Agrário, os recursos do Governo Federal em 2001 voltados para a realização de Ações e Programas "a despeito do declínio da participação da de Convivência com o Semi-Árido alcançam produção agropecuária no PIB Total da Região R$ 4.052,55 milhões. Nordeste, o impacto das secas sobre a economia regional permanece muito forte. ( ...). Houve Várias são essas ações e programas: Carros Pipa, anos, como o de 1970 e 1983, em que a seca Cesta de Alimentos, Vale Comida, Bolsa Renda, teria reduzido em 9 pontos percentuais o Programa Nacional de Fortalecimento da crescimento do PIB Nordestino (em relação ao Agricultura Familiar - PRONAF (crédito), crescimento esperado). Em outros anos, estes Renegociação das Dívidas do PRONAF, Merenda impactos chegaram a assumir valores entre 4 e Férias, Kit Medicamentos, Bolsa Escola, 6 pontos percentuais. Para se ter uma idéia do Recomeço, Bolsa Alimentação (Ministério da que isso significa, basta lembrar que uma queda Saúde), Programa Saúde na Família, Seguro Renda, de 5 pontos percentuais num PIB de US$ 65 Saneamento Básico, Farmácia Básica, Combate às bilhões [R$ 144.569 milhões a preços de 1999], Carências Nutricionais, Obras Hídricas, Água na que foi o valor do PIB do Nordeste em 1994, Escola, Abastecimento de Água a Comunidades, significa uma perda de 3,2 bilhões de dólares Agente Jovem, Programa de Erradicação do [R$ 7.228,4 milhões a preços de 1999]. Isso é Trabalho Infantil, Pronager, Previdência Rural e mais do que o produto anual de estados como Benefícios de Prestação Continuada5`. Sergipe, Piauí e equivale, aproximadamente, aos PIB's do Rio Grande do Norte, Paraíba ou de Algumas dessas ações e programas são Alagoas`"50 emergenciais (Carros Pipa, Cesta Básica e Bolsa Renda-Alimentação), transitórias (Bolsa Renda, No entanto, com base nos argumentos apresentados Renegociação de Dívidas do PRONAF, Merenda no parágrafo anterior, é possível afirmar que essa Férias e Kit Medicamento) ou permanentes (Seguro relação vem diminuindo desde 1994 em função das Safra, Previdência Rural, etc.). Muitas dessas ações transformações ocorridas no setor agropecuário no e programas não são específicas do Semi-Árido e período 1994-2000. _ _ As informações desses programas utilizadas nesse relatóno 49 Gomes, G M e Virgulino, J R (1995). A macroeconomia foram organizadas com base nos seguintes documentos, do desenvolvimento nordestino IPEA, Brasilia, Texto de disponíveis no site do Ministério do Desenvolvimento Discussão nu 372 Agráno, Balanço Sertão Cidadão, Convívio com o Semi- 50 Gomes, G M. e Virgulino, J R (1995). A macroeconomia Árido e Inclusão Social (s/d) e Reunião da CSSA-Últimas do desenvolvimento nordestino. IPEA, Brasília, Texto de Notícias. www.desenvolvimentoagrario.gov.br/ministerio/ Discussão na 372, p. 87. seca htm. Anexo 1 140 Á gua ¢Bras são também realizadas em municípios de outras de alimentos. Os recursos reservados pelo Governo regiões brasileiras. Federal para atender esse programa, ainda no ano de 2001, alcançaram cerca de R$ 26,4 milhões. Nesse contexto, com o objetivo de avaliar o gasto do Governo Federal com ações e programas de Uma outra modalidade do Programa Bolsa Renda combate à seca, foi feita a opção pela seleção de visa conceder um benefício monetário de R$ 60,00 ações e programas de caráter emergencial (Carros às familias de municípios atingidos pela seca, em Pipa, Cesta de Alimentos e Bolsa Renda- estado de calamidade pública ou em situação de Alimentação), transitórios (Bolsa Renda) ou emergência. Iniciado em agosto de 2001, até o mês permanentes (Seguro-Safra) que são tipicamente de outubro já haviam sido distribuídas 2.643.333 compensatórios. bolsas, equivalentes a R$ 159 milhões. Assim, visando levar água a municípios do Semi- Já o Programa Seguro Safra visa garantir uma renda Árido em estado de calamidade pública, desdejunho mínima para as famílias dos agricultores familiares de 2001, 2.545 carros-pipas vêm atendendo a da Região Nordeste e do Norte do Estado de Minas população rural de 913 municípios (86,6%) dessa Gerais, que registrarem perdas de safra devido ao região. Estima-se que esse fornecimento envolverá fenômeno da estiagem. Esse Programa será custeado recursos no montante de R$ 42 milhões. pelos Estados (10% do benefício), Municípios (até 3%), agricultores (de 1 a 3% do benefício) e União Desde de junho até o início de novembro de 2001, (complementação do benefício). O montante de já havia sido distribuídas 1.841.360 cestas básicas recursos federais previstos para esse programa é de em 724 municípios do Semi-Árido em estado de R$ 400 milhões. No entanto, há indicações de que calamidade pública ou em situação de emergência. esse programa, delineado no final de 2001, começará Estima-se que os recursos gastos com essa ação a operar de fato somente em 2002. situaram-se em tomo de R$ 24,4 milhões. Dessa forma, pode-se estimar que, em 2001, o total Desde de novembro, o Governo Federal resolveu de gastos do Governo Federal em programas substituir esse programa pelo Bolsa Renda- compensatórios relacionados com a seca na Região Modalidade Alimentação (Vale Comida). Esse novo do Semi-Árido do Brasil (Carros Pipas, Cestas programa prevê a distribuição mensal de um Básicas e Bolsa-Renda) alcançou o valor de R$ benefício mensal de R$ 15,00 ao invés de uma cesta 206,8 milhões. 141 Anexo I ANEXO 11 Coleção de Tabelas e Quadros - Base Estatística Tabela 11.1 - População e indicadores por região e por estados do Brasil Regiões Superfiície População PIB per capita IDH-M(<) Estados (km) Total Urbana (%) Rural (%) (R$) (ano 1991) Norte 7.828.407 100,0 3.380 Rondônia 238.512,8 836.023 100,0 - 3.657 0,635 Acre 153.149,9 355.597 100,0 - 2.817 0,584 Amazonas 1.577.820,2 1 952.288 100,0 - 5.577 0,658 Roraima 225 116,1 197.919 100,0 - 2.558 0,728 Pará 1.253.164,5 3.198 177 100,0 - 2.705 0,595 Amapá 143.453,7 398.747 100,0 - 3.392 0,687 Tocantins 278.420,7 1.141.233 64,1 35,9 1.832 0,560 Nordeste 46.400.796 63,6 36,4 2.671 Maranhão 333.365,6 5.432.737 43,6 56,4 1.402 0,456 Piauí 252.378,6 2.738 634 57,5 42,5 1.660 0,468 Ceará 146.348,3 7.128.413 67,0 33,0 2.631 0,517 Rio Grande do Norte 53.306,8 2.661.540 65,5 34,5 2.757 0,539 Para(ba 56.584,6 3.380.752 66,1 33,9 2 296 0,485 Pernambuco 98.937,8 7.594.177 76,3 23,7 3 279 0,572 Alagoas 27.933,1 2.719.073 65,3 34,7 2.275 0,474 Sergipe 22.050,3 1.719.299 70,1 29,9 3.056 0,539 Bahia 567.295,3 13.026.171 61,6 38,4 3.206 0,530 Sudeste 70.067.880 88,7 11,3 7.843 Minas Gerais 588.383,6 17 341.721 77,0 23,0 5.239 0,699 Espírito Santo 46.184,1 2.948.009 75,5 24,5 6.082 0,704 Rio de Janeiro 43.909,7 13.836.818 94,9 5,1 7.946 0,782 São Paulo 248.808,8 35.941.332 93,0 7,0 9.210 0,787 Sul 24.514.219 78,4 21,6 6.878 Paraná 199 709,1 9.402.912 79,7 20,3 6.446 0,760 Santa Catarina 95.442,9 5.114.846 73,3 26,7 6 676 0,785 Rio Grande do Sul 282.062,0 9.996 461 79,6 20,4 7.389 0,786 143 Estrategias de Gerenciamento de Recursos Hidricos no Brasil Arras de Cooperaçào com o Banco Mlundial Tabela 11.1 - População e indicadores por região e por estados do Brasil (continuação) Regiões Superfície População PIB per capita IDH-M(') Estados (km2) Total Urbana (%) Rural (%) (R$) (ano 1991) Centro-Oeste 11.273.592 81,8 18,2 5 421 Mato Grosso do Sul 358.158,7 2.033.859 83,5 16,5 5 255 0,746 Mato Grosso 906.806,9 2.385.812 74,1 25,9 4 695 0,702 Goiás 341.289,5 4.873.181 81,2 18,8 3 603 0,722 Distrito Federal 5.822,1 1.980.740 91,0 9,0 10 935 0,806 Fonte: IBGE, Censo 2000. (1) Fonte: PNUD, 1998. Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. Tabela 11.2 -Evolução da população total e da população urbana: no Brasil (em mil habitantes) Ano 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 Pop. Total 41.236 51.944 70.070 93.139 119.002 146.825 169.591 Pop.Urbana 12.880 18.782 31.303 52.084 80.436 110.990 137.756 % Pop.Urb. 31,2 36,1 44,6 55,9 67,6 76,6 81,2 % a.a. Urb. 3,84 5,24 5,22 4,44 2,97 2,43 Fonte: FIIBGE, Censos Demográficos. Anexo II 144 Água I Braj Tabela 11.3 - População das Regiões Metropolitanas em 2000 (em mil habitantes) Estado População Total Região População Total % RM/Estado Metropolitana Alagoas 2 819 Maceió 988 35 Bahia 13.066 Salvador (*) 3 018 23 Ceará 7 418 Fortaleza (*) 2.978 40 Distrito Federal 2.043 Região Integrada de 2.843 139 (1) Desenvolvimento Espírito Santo 3.094 Vitória 1 425 46 Goiás 4.996 Goiânia 1.636 32 Maranhão 5.642 São Luís 1 068 19 Minas Gerais 17.886 B. Horizonte (*) e 4.811 27 Colar Metropolitano Minas Gerais - RM Vale do Aço e 562 3 Colar Metropolitano Pará 6 189 Belém (*) 1.794 29 Paraná 9 558 Curitiba (*) 2.723 28 Paraná Londrina 647 6 Paraná Maringá 473 5 Pernambuco 7.911 Recife (*) 3.335 42 Rio de Janeiro 14.367 Rio de Janeiro (*) 10.872 75 Rio Gde. do Norte 2.771 Natal 1.040 37 Rio Grande do Sul 10.081 Porto Alegre (*) 3.807 37 Santa Catarina 5.349 RM Florianópolis e 815 15 Área de Expansão Santa Catarina - RM Vale do Itajaí e 10 Área de Expansão Santa Catarina - Norte/Nordeste e 906 17 Área de Expansão São Paulo 36.969 Baixada Santista 1.474 4 São Paulo - Campinas 2.333 6 São Paulo São Paulo (*) 17.834 48 (1) No caso do Distrito Federal, a sua população "metropolitana" abriga contingentes populacionais do Estado vizinho, Goiás, que gravitam em torno de Brasília. (*) Regiões metropolitanas criadas em 1972. Fonte: FIBGE 145 Anexo II Estrategias de Gerenciamento de Recursos Hídricos no Brasil Areas de Cooperação com o Banco Mlundial Tabela 11.4 - Características da disponibilidade hídrica - grandes bacias brasileiras Brea de Precipitação média Vazão média Evapotranspiração Disponibi- Bacia drenagem re al lidade C km' m3ls mm m3ls mm m 3s mm % Amazônia 6.112.000 476.773 2.460 209.030 1.078,5 291.491 1.381,5 71,1 0,44 Tocantins 757.000 39.847 1.660 11.800 491,6 31 087 1.168,4 7,0 0,30 Atl. Norte 242.000 16.338 2.136 6.000 781,9 10.388 1 353,7 3,6 0,37 Atl. Nordeste 787.000 27.981 1.121 3.130 125,4 24.581 995,8 1,9 0,11 S Francisco 634 000 18.415 916 2.850 141,8 16 789 774,2 1,7 0,15 Atl. Leste (1) 242.000 6.868 895 680 88,6 7.114 806,4 0,4 0,10 Atl Leste (2) 303.000 11.808 1.229 3.670 382,0 8.081 847,0 2,2 0,31 Paraná 877.000 38.516 1.385 1.100 395,5 28.735 989,5 6,5 0,29 Paraguai 368.000 15.987 1.370 1.290 110,5 14 986 1.259,5 0,8 0,08 Uruguai 178.000 8.845 567 4 150 735,2 5.549 831,8 2,5 0,47 Atl. Sul 224.000 9.902 1.394 4.300 605,4 5.549 788,6 2,5 0,43 Total 10.724.000 671.270 1.974 257.900 758,4 413.370 1.215,6 - 0,38 Brasil 8.512.000 468.840 1.737 168.870 625,6 299.970 1.111,4 100,0 0,36 Fonte: adaptado de ANEEL, 1997. Tabela 11.5 - Consumo de água em 106 m3 por ano (Cenário Atual) Bacia Humano Dessedentação Irrigação Industrial Total m3/s % Amazonas 279,0 225,8 6.002,4 52,3 6.559,5 208,0 10,3 Tocantins 180,3 211,3 1.602,6 78,0 2.072,2 65,7 3,3 Atlântico N/NE 2.105,8 277,2 4.206,3 1.617,7 8.207,0 260,2 12,9 São Francisco 876,5 220,5 5.085,6 926,5 7.109,1 225,4 11,2 Atlântico Leste 2.705,8 13,3 380,0 2.056,8 5.155,9 163,5 8,1 Atlântico Sul 664,8 204,9 9.796,3 535,5 11.201,4 355,2 17,6 Paraná 3.251,8 1.379,2 7.858,6 3.518,6 16.008,2 507,6 25,2 Paraguai 127,2 325,2 1.287,0 35,0 1.774,4 56,3 2,8 Uruguai 249,5 282,0 4.942,3 12,3 5.486,1 174,0 8,6 Totais 10.440,7 3.139,5 41.161,1 8.832,6 63.573,8 2.015,9 100,0 m3/s 331,1 99,6 1.305,2 280,1 2.015,9 - - % do total 16,4 4,9 64,7 13,9 100,0 Fonte: FGV, 1998. Anexo 11 146 gua Tabela 11.6 - Cenários de demanda em 106 m3 Anos Bacia Atual 2005 2015 Amazonas 6.559,5 - Tocantins 2.072,2 - 8.700,5 Atlântico Sul 11.201,4 14.539,5 19.491,0 Atlântico Leste 5.155,9 11.372,5 15.514,0 Atlântico 8.207,0 9.717,4 11.534,3 Norte/Nordeste Paraná 16.008,2 18.647,0 23.450,3 S. Francisco 7.109,1 9.932,9 15.659,0 Paraguai 1.774,4 2.476,1 3.781,0 Uruguai 5.486,1 - Total 63.573,8 Fonte: FGV, 1998 Tabela 11.7 - Disponibilidade/Demanda atual para as bacias brasileiras Bacia ~Disponibilidade Demanda (D) D % Bacia (D,) (km3) (km3) D / Di (%) Amazonas 4.332,1 6,560 0,15 Tocantins 372,1 2,072 0,56 Atlântico Sul 135,6 11,201 8,26 Atlântico Norte/Nordeste 98,71 5,156 5,22 Atlântico Leste 137,2 4,482 3,27 São Francisco 89,88 16.008 17,81 Paraná 346,9 7,109 2,05 Paraguai 86,131 (40,68) 1,774 2,06 Uruguai 130,87 5,486 4,19 Fonte: FGV, 1998. * valor na foz do rio Paraguai. 147 Anexo 11 Estratégias de Gerenciamento de Recursos Hídricos íno Brasil Areas de Cooperação com o Banco Mundial Tabela 11.8 - Evolução da demanda por água para cenários futuros Disponibilidade 2005 2015 Bacia Demanda D/Di Demanda D/Di Di (km ) (D) (kin () (D) (kim ) (% Amazonas 4 332,1 Tocantins 372,1 8,70 2,47 Atlântico Sul 135,6 14,54 10,7 19,59 14,4 Atlântico Norte/Nordeste 98,71 11,37 11,5 15,51 15,7 Atlântico Leste 137,2 9,72 7,1 11,53 8,4 São Francisco 89,88 18,65 20,7 23,45 26,1 Paraná 346,9 9,93 2,9 15,66 4,5 Paraguai 86,131 (40,68)* 2,48 3,1 3,78 4,4 Uruguai 130,87 - - Fonte. FGV, 1998 * valor na foz do rio Paraguai. Anexo Tl 148 Tabela 11.9 - População com níveis de cobertura adequados em abastecimento de água e esgotamento sanitário, segundo faixas de rendimento médio mensal domiciliar (em salários mínimos) - 1999 Região/Situação do Domicflio e Total Até 1 Mais de Mais de Mais de Mais de Mais de Sem Sem Características 1 a 2 2 a 3 3 a 5 5 a 10 10 a 20 rendimento declaração do Domicílio BRASIL População Total 159.520.661 12.953.412 23.814.072 23.253.462 30.528.896 34 370.746 18 403.088 10 314 107 1.937.449 3.945 429 Urbana 127.025 290 7.182.072 14950983 17.211.774 24.863.557 31.095.255 17.225 957 9.938.284 1.559 177 2.998.231 Rural 32.495 371 5.771 340 8.863.089 6.041.688 5.665.339 3 275 491 1 177.131 375 823 378.272 947.198 Abastecimento de Água Adequado (%) Total 83,9 1,8 64,9 78,9 88,4 96,5 99,3 99,5 75,1 81,4 Urbana 92,7 72,6 80,9 89,1 94,1 97,9 99,6 99,7 85,0 96,3 ,o Rural 49,5 25,9 38,0 49,9 63,0 83,1 94,3 94,0 34,2 34,1 Esgotamento Sanitáno Adequado (%) Total 61,9 25,8 35,3 49,9 61,9 79,0 88,2 93,9 53,1 | 62,4 Urbana 1 73,8 1 42,8 51,3 1 62,4 71,1 83,7 90,9 95,4 63,3 80,8 Rural 1 15,6 1 4,7 8,4 1 14,0 21,6 34,6 47,8 54,8 11,1 4,1 NORTE População Total 7.759.133 487 031 1.220.334 1.303.552 1.675.391 1.702 455 802.018 368.575 137.478 62.299 Abastecimento de Água Adequado (%) Urbana | 60,0 | 47,9 44,3 53,7 59,4 68,6 79,6 75,0 53,3 56,4 Esgotamento Sanitário Adequado (%) Urbana 53,2 28,9 32,7 37,4 49,1 66,5 85,4 93,0 58,9 54,5 Tabela 11.9 - População com níveis de cobertura adequados em abastecimento de água e esgotamento sanitário, segundo faixas de rendimento médio mensal domiciliar (em salários mínimos) - 1999 (continuação) Região/Situação 1 D do Domicílio e T~ t Mais del1a Mais de 2 a Mais de 3 a Mais de 5 a Mais de 10 a Mi e2 Sem Sem O _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 1 _ _T otal A té _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _M ais_ _ _ _ de 20_ _ _ _ _ _ Características 2 3 5 10 20 rendimento declaração do Domicílio 1: NORDESTE ^ População Total 46.139.785 7.640 446 11.354.769 8.222.359 7.942.584 5.336 988 2 444 216 1.385.794 456 218 1.356.411 Urbana 29.268.243 3.602 762 5.973.814 5.112.686 5 647.019 4.488 872 2 187 092 1.266.178 317 770 672.050 Rural 16.871.542 4.037 684 5.380.955 3.109 673 2.295.565 848.116 257 124 119.616 138 448 684.361 Abastecimento de Água Adequado (%) Total 57,0 33,6 43,2 55,4 67,2 85,1 91,6 93,6 52,7 46,6 Urbana 80,7 61,9 70,6 79,4 86,1 93,0 95,3 96,2 68,9 84,1 Rural 15,9 8,3 12,8 16,0 20,8 43,2 60,3 66,1 15,5 9,9 Esgotamento Sanitário Adequado (%) Total 34,8 15,0 20,9 30,0 39,6 62,5 76,1 90,3 24,4 25,7 Urbana 50,6 29,3 35,7 44,3 51,8 69,5 78,3 92,0 1 32,4 49,7 Rural 7,2 2,2 4,5 6,5 9,5 25,7 57,4 72,3 1 5,9 _ 2,2 SUDESTE População Total 69.810.693 2.666.690 6.516.358 8.562.353 13.452 581 18.927.645 10744780 5.986.495 924 745 2.029.046 Urbana 61.909.578 1.783.275 4.795 110 7.085.330 11.814 481 17 679.693 10.216 053 5.888.055 782.226 1.865.355 Rural 7.901.115 883.415 1.721.248 1.477.023 1.638.100 1.247.952 528.727 98.440 142519 163691 Tabela 11.9 - População com níveis de cobertura adequados em abastecimento de água e esgotamento sanitário, segundo faixas de rendimento médio mensal domiciliar (em salários mínimos) - 1999 (continuação) Região/Situação do Domicílioe Total Ate 1 Mais de 1 a Mais de 2 a Mais de 3 a Mais de 5 a Mais de 10 a Mais de 20 Sem Sem Características Ttl Aé12 3 5 10 20 Masd 0rendimento declaração do Donicílio Abastecimento de Água Adequado (%) Total 86,7 61,5 69,0 79,8 86,1 92,0 94,8 97,1 78,0 90,3 Urbana 94,8 84,1 87,6 92,2 94,0 96,3 98,1 98,3 90,0 97,6 Rural 23,0 16,0 17,3 20,3 29,0 30,4 31,8 24,3 12,4 6,9 Esgotamento Sanitário Adequado (%) Total 82,8 53,9 61,5 73,2 80,7 88,8 94,4 97,8 71,5 84,9 Cn Urbana 90,1 74,9 78,0 83,5 87,8 92,6 97,0 98,6 81,9 92,1 Rural 24,9 11,5 15,8 24,1 29,8 35,5 44,2 49,0 14,2 3,5 CENTRO-OESTE População Total 11.194 460 676.488 1.647284 1.777 990 2.268.787 2.407.929 1.242.662 858 132 151.547 1 163 641 Urbana 9.157.507 482 268 1.075.799 1.381.254 1 872.537 2.185.295 1.144.242 784 050 116.652 115.410 Rural 2 036.953 194.220 571.485 396 736 396.250 222.634 98.420 74.082 34.8951 48 231 Abastecimento de Água Adequado (%) Total 88,3 67,6 74,6 84,4 91,7 95,3 98,7 99,1 72,0 81,5 Urbana 92,8 78,2 83,1 87,8 94,3 97,1 99,5 99,4 86,0 96,6 > F I I I I t- I I I ,rR" Rural 67,8 41,4 58,7 72,7 79,3 77,6 89,8 96,8 25,0 45,5 o CZ Tabela 11.9 - População com níveis de cobertura adequados em abastecimento de água e esgotamento rn sanitário, segundo faixas de rendimento médio mensal domiciliar (em salários mínimos) - 1999 (continuação) Região/Situação 1 1 do Donmiclio e Mais del1a Mais de 2a Mais de 3a Mais de 5a Mais de10 a Sem Sem Características Total Até 1 2 3 5 10 20 Mais de 20 rendimento declaração do Domicílio _ 1 Esgotamento Sanitáno Adequado (%) _ __ Total 40,6 26,4 22,2 29,9 33,6 48,8 61,6 75,7 24,3 44,5 Urbana 47,6 35,3 31,0 37,0 39,2 52,5 64,8 78,3 31,2 61,7 Rural 8,9 4,3 5,6 5,4 7,2 13,0 23,6 48,7 1,2 3,4 SUL População Total 24.366.009 1.411.021 2.983.914 3 338.562 5 170 436 5.990 784 3.166 109 1.719 057 249.885 336.241 Urbana 19.086.250 838.671 1.913 778 2 361.027 3 889.854 5.065 126 2.888.208 1.637 814 205.835 285.937 Rural 5.279.759 572.350 1 070.136 977 535 1 280.582 925 658 277.901 81.243 44.050 50.304 Abastecimento de Água Adequado (%) Total 78,5 55,6 62,7 | 72,8 76,9 85,3 90,5 94,5 78,9 81,9 Urbana 94,0 82,8 88,6 1 94,3 94,6 1 95,2 96,1 97,6 91,4 93,2 Rural 22,6 15,7 16,4 1 20,9 23,5 31,1 33,2 31,5 20,4 17,7 Esgotamento Sanitário Adequado (%) Total 67,4 31,9 44,2 55,1 64,2 78,4 87,8 92,7 55,9 83,9 Urbana 77,2 45,0 58,2 66,6 72,9 84,0 90,7 95,2 61,5 93,2 Rural 32,1 12,6 19,1 27,3 38,0 47,4 57,1 43,3 29,9 31,5 Fonte- IBGE, 1999 Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilios. Obs: Abastecimento de Água Adequado: ligação à rede geral com canalização interna, Esgotarnento Sanitáno Adequado: ligação à rede coletora ou fossa séptica. Tabela 11.10 - Internações hospitalares causadas por doenças relacionadas com a falta de saneamento, segundo regiões brasileiras - 1998 a 2000 Internações ~~~~~Valor Lista Morb CID-10 ç Valor 1998 1999 2000 1998 1999 2000 NACIONAL Cólera 3.072 4.142 923 573.561 1.098.876 214.419 Febres tifóide e paratifóide 4.354 3.824 3.424 532.901 586.604 635.131 Shíguelose 162 127 70 36.939 38.744 18.698 Amebíase 1.845 1.101 892 274.313 210.274 171.760 Diarréia e gastrenterite origem infecção presumuda 237.374 240.523 218.411 30.693.482 37.076.378 42.447.968 Outras doenças infecciosas intestinais 314.098 323.971 315.403 41.966.457 50.578.834 60.239.943 Outras febres p/arbovírus e febre hemorr p/vírus 6.438 5.748 10.260 645.870 726.305 1.811.045 Dengue [dengue clássica] 6.354 5.706 10 226 633.410 720.872 1.803.018 Febre hemorrágica devida ao vírus da dengue 84 42 34 12.460 5.433 8.026 Malária 19.263 21.166 21.288 1.850.590 2.623.167 3.627.495 Malária por Plasmodium falciparum 4.884 5.034 5.396 492.391 641.734 919.539 Malária por Plasmodium vivax 4.394 5.026 4.820 411.710 600.364 807.166 Malária por Plasmodium malariae 1.098 499 825 98.688 64.334 143.333 Outras formas malária conf exames parasitológ 270 436 136 30.042 55 029 22.946 Malária não especificada 8.617 10.171 10.111 817.759 1.261.706 1.734.509 Esquistossomose 1.314 1.344 1.322 376.658 428.024 419.866 Total 587.920 601.946 571.993 76.950.770 93.367.208 109.586.325 Tabela 11.10 - Internações hospitalares causadas por doenças relacionadas com a falta de saneamento, segundo regiões brasileiras - 1998 a 2000 (continuação) Internações Valor Lista Morb CID-10 n Valor 1998 1999 2000 1998 1999 2000 NORTE Cólera 90 53 18 10.285 12.886 4.054 Febres tifóide e paratifóide 885 685 703 115.129 110.228 136.183 Shiguelose 6 2 4 1.159 210 687 Amebíase 516 329 293 54.823 51.025 47.598 Diarréia e gastrenterite origem infecc presum 31.853 22.942 25.342 3.960.714 3.443.065 4.810.803 Outras doenças infecciosas intestinais 41.027 47.798 47.485 5.225.460 7.262.511 8.871 093 Outras febre p/arbovírus e febr hemorr p/vírus 872 945 4.103 83.422 126.707 719.855 Dengue [dengue clássica] 867 943 4.092 82.767 126.328 717.820 Febre hemorrágica devida ao vírus da dengue 5 2 11 655 379 2.035 Malária 16.850 18.884 18.037 1.600.431 2.313.979 3.063.904 Malária por Plasmodium falciparum 4.521 4.856 4.756 446.438 616.887 811.600 Malária por Plasmodium vivax 4.139 4.926 4.699 387.902 588.162 787.312 Malára por Plasmodium malariae 1.066 331 661 94.984 38.116 111.648 Outras formas malária conf exames parasitológ 224 400 105 22.163 48.373 17.264 Malária não especificada 6.900 8.371 7.816 648.943 1 022.441 1.336.079 Esquistossomose 23 26 20 3.567 3.055 5.051 Total 92.122 91.664 96.005 11.054.990 13.323.665 17.659.230 Tabela 11.10 - Internações hospitalares causadas por doenças relacionadas com a falta de saneamento, segundo regiões brasileiras - 1998 a 2000 (continuação) Lista Morb CID-10 Internações Valor 1998 1999 2000 1998 1999 2000 NORDESTE Cólera 2.396 3.580 829 404.159 547.701 186.677 Febres tifóide e paratifóide 2.951 2.699 2.365 350.926 397.488 428.466 Shiguelose 43 22 7 11.675 4.929 1.408 Amebíase 163 58 94 32.285 9.085 18.966 Diarréia e gastrenterite origem infecc presum 124.427 131.837 106.610 15.908.520 19.878.104 20.017.800 Outras doenças infecciosas intestinais 157.939 158.367 145.342 20.975.221 24.152.483 27.354.586 Outras febre p/arbovírus e febr hemorr p/vírus 4.747 4.174 5.068 483 460 519.316- 895.054 Dengue [dengue clássica] 4.703 4.157 5.060 478.112 516.776 893.291 Febre hemorrágica devida ao vírus da dengue 44 17 8 5.348 2.540 1.763 Malária 847 1.141 2.154 86.528 148.854 366.858 Malária por Plasmodium falciparum 195 121 593 20.013 14.858 99 817 Malária por Plasmodium vívax 31 14 36 3.971 2.167 5.873 Malária por Plasmodium malariae 9 129 110 869 19.284 19.788 Outras formas malária conf exames parasitológ 4 3 7 391 363 1.300 Malária não especificada 608 874 1.408 61.283 112.182 240.080 Esquistossomose 744 831 790 154.275 214.767 207.281 R Total 294.257 302.709 263.259 38.407.049 45.872.729 49.477.095 > Tabela 11.10 - Internações hospitalares causadas por doenças relacionadas com a falta de saneamento, segundo regiões brasileiras - 1998 a 2000 (continuação) Internações Valor V Lista Morb CID-10 1 1 1998 1999 2000 1998 1999 2000 o SUDESTE Cólera 372 445 39 115.712 526.262 12.536 Febres tifóide e paratifóide 243 169 167 34.510 38.406 34.288 Shiguelose 82 77 41 19.617 27.666 11.149 Amebíase 645 452 333 109.414 79.099 69.318 Diarréia e gastrenterite origem infecc presum 55.685 56.684 57.562 7.395.221 9.129.583 11.082.708 Outras doenças infecciosas intestinais 51.532 46.724 44.768 7.418.025 7.992.680 9.285.454 0f Outras febre p/arbovírus e febr hemorr p/vírus 502 417 453 48.534 51.253 82.983 Dengue [dengue clássica] 471 397 440 42.454 49.033 80.870 Febre hemorrágica devida ao vírus da dengue 31 20 13 6.080 2.220 2.113 Malária 153 112 135 22.770 28.893 25.648 Malária por Plasmodium falciparum 29 16 23 4.610 5.007 3.668 Malária por Plasmodium vivax 23 17 22 2.275 2.233 3.655 Malária por Plasmodium malariae 6 19 30 946 3.771 5.825 Outras formas malária conf exames parasitológ 23 10 9 5.111 2.812 1.702 Malária não especificada 72 50 51 9.828 15.070 10.798 Esquistossomose 503 444 474 205.694 190.625 190.768 Total 109.717 105.524 103.972 15.369.498 18.064.466 20.794.853 Tabela 11.10 - Internações hospitalares causadas por doenças relacionadas com a falta de saneamento, segundo regiões brasileiras - 1998 a 2000 (continuação) Internações ~~~~~Valor Lista Morb CID-10 ç V 1998 1999 2000 1998 1999 2000 SUL Cólera 153 48 26 27.661 9.710 9.019 Febres tifóide e paratifóide 262 258 159 30.235 38.575 28.078 Shiguelose 22 9 12 2.702 1.524 3.468 Amebíase 115 100 25 33.618 44.989 4.426 Diarréia e gastrenterite origem infecc presum 12.756 13.158 12.647 1.654.397 2.047.570 2.390.092 Outras doenças infecciosas intestinais 44.428 47.676 56.615 5.865.517 7.681.899 10.902.218 Outras febre p/arbovírus e febr hemorr p/vírus 20 8 25 1.945 1.057 4.149 Dengue [dengue clássica] 20 8 25 1.945 1.057 4.149 Febre hemorrágica devida ao vírus da dengue Malária 60 59 50 6.662 9.440 10.110 Malária por Plasmodium falciparum 8 5 5 676 628 920 Malária por Plasmodium vivax 6 3 3 512 363 431 Malária por Plasmodiwm malariae 2 7 3 257 1.416 581 Outras formas malária conf exames parasitológ 13 21 12 1.440 3.092 2.182 Malária não especificada 31 23 27 3.776 3.941 5.996 Esquistossomose 9 11 7 1.723 6.941 1.423 SERir Total 57.825 61.327 69.566 7.624.460 9.841.705 13.352.983 Tabela 11.10 - Internações hospitalares causadas por doenças relacionadas com a falta de saneamento, segundo regiões brasileiras - 1998 a 2000 (continuação) Internações Valor Lista Morb CID-10 Internações 1998 1999 2000 1998 1999 2000 .3 CENTRO-OESTE o Cólera 61 16 11 15.744 2.317 2.134 Febres tifóide e paratifóide 13 13 30 2.100 1.908 8.117 o ro Shiguelose 9 17 6 1.786 4.416 1.986 Amebíase 406 162 147 44.173 26.076 31.451 Diarréia e gastrenterite origem infecc presum 12.653 15.902 16.250 1.774.629 2.578.056 4.146 564 Outras doenças infecciosas intestinais 19.172 23.406 21.193 2.482.234 3.489.262 3.826.592 Outras febre p/arbovírus e febr hemorr p/vírus 297 204 611 28.509 27.972 109.003 Dengue [dengue clássica] 293 201 609 28.134 27.677 106.888 Febre hemorrágica devida ao vírus da dengue 4 3 2 376 295 2.115 Malána 1.353 970 912 134 199 122.000 160.975 Malária por Plasmodium falciparum 131 36 19 20.654 4.355 3.535 Malária por Plasmodium vivax 195 66 60 17.049 7.438 9.894 Malária por Plasmodium malariae 15 13 21 1.631 1.747 5.491 Outras formas malária conf exames parasitológ 6 2 3 937 388 498 Malária não especificada 1.006 853 809 93.928 108.072 141.557 Esquistossomose 35 32 31 11.399 12.637 15.342 Total 33.999 40.722 39.191 4.494.773 6.264.643 8.302.163 Fonte: DATASUS. Morbidade Hospitalar do SUS por local de internação. Lista de Morbidade CID 10 Tabela 11.11 - Óbitos associados a doenças relacionadas ao saneamento Faixa etária OMS Doença/Local de Óbito F e OMS <1 Ano |la4 5 a 15 15 a 24 i25 a 34 135 a 44 145a54 |55 a 64 65 a 74 175 ou + Ignorada |Total FEBRE TIFÓIDE Norte o o o o o 2 2 o o o o 4 Nordeste 1 o o o o o o o o o o 1 Sudeste o o o 1 o o o o 1 o o 2 Sul o o o o o o o o o o o o Centro Oeste o o o o o o o o o o o o Ignorada/Exterior o o o o o o o o o o o O Total 1 o o 1 o 2 2 o 1 o o 7 SHIGUELOSE 'O Norte O O O 1 O O O O O O o 1 Nordeste 1 1 o o o o o o o o o 2 Sudeste 1 o o o o o 1 1 o o o 3 Sul o o o o o o o o o o o o Centro Oeste o o o o o o o o o o o o Ignorada/Exterior o o o o o o o o o o o O Total 2 1 o 1 o o 1 1 o o o 6 AMEBÍASE Norte 1 2 o o o o 1 1 1 2 o 8 Nordeste 11 3 o 1 3 o 1 2 2 1 o 24 > Sudeste o o o o o o 2 o 1 o o 3 O Sul 1 o o o o o o o o o O 1 "fri2 > Tabela 11.11 - óbitos associados a doenças relacionadas ao saneamento (continuação) > % Faixa etária OMS Doença/Local de Óbito _ F <1 Ano 1 a 4 5 a 15 15 a 24 25 a 34 35 a 44 45 a 54 55 a 64 65 a 74 75 ou + Ignorada Total Centro Oeste 3 o o o 1 o o o o o o 4 Ignorada/Exterior O O O O O O O O O O O o Total 16 5 0 1 4 o 4 3 4 3 0 40 DIARRÉIAS Norte 452 111 12 5 4 11 15 16 30 60 3 719 Nordeste 2 777 388 47 25 44 85 98 152 235 517 69 4 437 Sudeste 792 143 17 15 48 53 67 91 168 396 7 1 797 O Sul 356 55 10 6 14 19 17 42 59 155 O 733 Centro Oeste 195 59 3 2 9 9 7 23 20 53 O 380 Ignorada/Exterior o o o o o o o o o o o O Total 4 572 756 89 53 119 177 204 324 512 1 181 79 8 066 CÓLERA Norte o o o o o 1 1 1 o o o 3 Nordeste 2 7 o o 2 2 3 7 4 4 o 31 Sudeste o o o o o o o o o o o o Sul o o o o o o o o o o o o Centro Oeste o o o o o o o o o o o o Ignorada/Exterior o o o o o o o o o o o O Total 2 7 o o 2 3 4 8 4 4 o 34 Tabela 11.11 - Óbitos associados a doenças relacionadas ao saneamento Doença/Local de óbito { Faixa etária OMS (continuação) <1 Ano 1a4 1 5a15 155a24 125 a 34 35 a 44 45 a 54 155 a 64 65 a 74 175 ou + Ignorada Total DENGUE Norte o o o o o o o o o o o o Nordeste o o o 2 2 2 2 2 1 1 o 12 Sudeste o o o o o o o 1 o o o 1 Sul o o o o o o o o o o o o Centro Oeste o o o o o 1 o o 1 o o 2 Ignorada/Exterior o o o o o o o o o o o O Total o o o 2 2 3 2 3 2 1 O 15 FEBRE HEMO DENGUE Norte o o o o o o o o o o o o Nordeste o o o o 2 1 2 1 3 2 o 11 Sudeste o o o 1 1 o 3 o 1 1 o 7 Sul o o o o o o o o o o o o Centro Oeste o o o 1 o o o o o o o 1 Ignorada/Exterior o o o o o o o o o o o O Total o o o 2 3 1 5 1 4 3 o 19 MALÁRIA Norte 9 13 18 26 19 11 20 9 3 2 1 131 Nordeste o o 1 2 4 o 2 1 o o o 10 Sudeste o o o o o 4 2 1 o 1 o 8 Sul o o o o 1 o 1 o o o o 2 > Tabela 11.11- óbitos associados a doenças relacionadas ao saneamento o- (continuação) n Faixa etária OMS Doença/Local de Óbito __ <1Ano 1a4 5a15 15a24 25a34 35a44 45a54 55 a 64 65a74 75ou+ Ignorada Total Centro Oeste 3 O 1 1 4 4 4 1 O O 1 19 3 Ignorada/Exterior O O O O O O O O O O O O o Total 12 13 20 29 28 19 29 12 3 3 2 170 g EQUISTOSSOMOSE Norte o 0 0 1 0 1 1 1 0 0 0 4 Nordeste o 0 4 8 13 37 60 71 66 42 2 303 Sudeste o o o 7 18 21 30 34 31 10 o 151 Sul 0 0 0 0 1 3 0 7 o 0 0 11 Centro Oeste 0 0 0 0 0 2 1 5 o 1 0 9 IgnoradafExterior 0 o 0 0 o o 0 0 0 0 0 O Total o o 4 16 32 64 92 118 97 53 2 478 Total óbitos saneamento 4 605 782 113 105 190 269 343 470 627 1.248 83 8 835 % óbitos por diarréia { 99,3 96,7 78,8 50,5 62,6 1 65,8 59,5 68,9 81,7 94,6 95,2 91,3 % óbitos até 4 anos 1 60,97 | Total de óbitos Brasil 71.387 12.677 12.115 44.664 56.492 72.453 93.498 126.025 171.159 260.060 8.493 929.023 % óbitos por doenças de 6,5 6,2 0,9 0,2 0,3 0,4 0,4 0,4 0,4 0,5 1,0 1,0 saneamento no Brasil 1 _ _ _ _ _ l l l l l l Fonte: OMS, 1998. Tabela 11.12 - Distribuição dos prestadores de serviços, segundo características de atendimento. Prestadores de Serviço População Urbana dos Quantidade de Municípios Municípios Atendidos (milhões) Atendidos Abrangência Quant. Água Esgoto Água Esgoto Regional 27 100,6 69,5 3 890 748 Mícrorregional 5 0,8 0,1 14 4 Local 166 18,9 17,4 165 100 Total 198 120,3 87,0 4.069 852 Obs. Este quadro abrange as organizações que prestaram informações para o Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos - 1999, do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (PMSS/IPEA/SEDU) Estas organizações operam os serviços de 73,9% dos municípios brasileiros, que abrangem 92,8% da população urbana total. Estão incluídas 27 companhias estaduais e organizações regionais e locais. Tabela 11.13 - Disponibilidade de potência em dezembro de 2000 T Potência instalada Participação Tipo (MW) (%) Pequenas centrais hidrelétricas 1.485 2,02 Usinas hidrelétricas 59.165 80,55 Usinas térmicas 9.664 13,16 Importações 1.150 1,57 Nucleares 1.966 2,68 Total 73.449 100 Fonte: ANEEL, 2001. 163 Anexo 11 Tabela 11.14 - Evolução das áreas irrigadas no Brasil t Ano 1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1994 1995 1996 1997 1998 . Área irrigada (103 hectares) 64 141 320 545 796 1.100 1 600 2.100 2.700 2.800 2.600 2.656 2.756 2.870 Taxa crescimento (%) 17,11 17,81 11,23 7,87 6,68 7,78 5,59 5,15 0,91 -7,14 2,15 3,77 4,14 Fonte: Lima, J. E. W., Ferreira, R. A., Christofidis, D. (2000). O uso da irrigação no Brasil. In: Freitas, M. V. (ed O Estado das Águas no Brasil - 1999. ANEEL - MMA/SRH - OMM. W~ n -O o Tabela 11.15 - Participação da Irrigação no Setor Agrícola do Brasil (em hectares) 1996 1997 1998 Região Irrigada (1) Plantada(P) I/P Irrigada (1) Plantada(P) _IP Irrigada (I) Plantada(P) I/P Norte 78.360 2.214.440 3,54 81.850 2.254.299 3,63 86.660 2.156.271 4,02 Nordeste 428 460 14.228.910 3,01 455.820 12.362.022 3,69 495.370 8.592.553 5,77 Sudeste 821.520 12.495.700 6,57 863.816 10.920.082 7,91 890.974 10.741.395 8,29 Sul 1.147.800 18.277.200 6,28 1.167.168 16.087.306 7,26 1.195.440 16.232.488 7,36 Centro-Oeste 180.140 7.745.600 2,33 187.290 7.858.909 2,38 201 760 8.623.762 2,34 Total 2.656.280 54.961.850 4,83 2.755.944 49.482.618 5,57 2.870.204 46.346.469 6,19 Fonte: Lima, J. E. W.,Ferreira, R. A., Christofidis, D. (2000). O uso da irrigação no Brasil. In: Freitas, M. V. (ed.). O Estado das Águas no Brasil - 1999. ANEEL - MMA/SRH - OMM. Água dBrai Tabela 11.16 - Demanda anual de água para irrigação no Brasil por Estados e Regiões em 1998 Área Água derivada Água consumida Água derivada Água consumida Eficiência Região/Estado irrigada de mananciais cultivos (mil de mananciais cultivos irrigação (hectares) (mil m3/ano) m3/ano) (m3/ha.ano) (m3/ha.ano) (%) Norte 86.660 836.880 461.320 9.657 5.223 55,1 Rondônia 2.230 20.168 11 536 9.044 5.173 57,2 Acre 660 6.137 3 332 9.298 5.049 54,3 Amazonas 1.710 21.446 12.107 12 553 7.080 56,4 Roraima 5.480 63.966 35 428 11.545 6.465 56,0 Pará 6.850 86.461 46.169 12.622 6.740 53,4 Amapá 1.840 18.799 10.922 10.217 5.936 58,1 Tocantins 67.890 619.903 341.826 9.131 5.035 55,1 Nordeste 495.370 8.114.586 5.340 146 16.380 10.780 65,8 Maranhão 44.200 815.446 499.283 18.449 11.296 61,2 Piauí 24.300 445.929 272.257 18.351 11.204 61,1 Ceará 82.400 1.426.014 922 633 17 306 11.197 64,7 Rio Grande Norte 19.780 310.961 221 556 15 721 11.201 71,2 Paraíba 32.690 471.521 333 798 14.424 10.211 70,8 Pernambuco 89 000 1.619.355 1.046.640 18.195 11.760 64,6 Alagoas 8.950 155.014 102.495 17.320 11.452 66,1 Sergipe 25 840 427.600 293 026 16 548 11.340 68,5 Bahia 168.210 2.442.746 1.648.458 14 522 9.800 67,5 Sudeste 890.974 9.497.223 6.223.402 10 659 6.985 65,5 Minas Gerais 293.400 3.429.553 2.055 560 11.689 7.006 59,9 Espírito Santo 65.774 620.775 411.088 9.438 6.250 66,2 Rio de Janeiro 76.800 1.121.050 639.974 14.597 8.333 57,1 São Paulo 455 000 4 325.845 3.116.780 9 721 7 004 72,1 Sul 1.195.440 13.696.405 8.521.624 11.457 7.128 62,2 Paraná 62.300 615.088 411.180 9.873 6.600 66,9 Santa Catarina 134 340 1.660.039 934.066 12.357 6.953 56,3 Rio Grande Sul 998.800 11.421.278 7.176.378 11.435 7.185 62,8 Centro-Oeste 201.760 1.602.183 492.667 7.941 2.442 30,8 Mato Grosso Sul 61.400 505.322 303.009 8.230 4.935 60,0 Mato Grosso 12.180 89.620 58.647 7.358 4 815 65,4 Goiás 116 500 914.525 62.741 7.850 5.354 68,2 Distrito Federal 11.680 92.716 68.270 7.938 5.845 73,6 Brasil 2.870.204 33.747 277 21.039.159 11.768 7.330 62,3 Fonte: Lima, J. E. W., Ferreira, R. A, Christofidis, D. (2000). O uso da imgação no Brasil. In: Freitas, M. V. (ed.). O Estado das Águas no Brasil - 1999. ANEEL - MMA/SRH - OMM. 165 Anexo 11 Estrategias de Gerenciamento de Recursos Hidricos no Brasil Areas de Cooperação com o Banco Mundial Tabela 11.17 - Evolução Recente das Áreas Irrigadas segundo Métodos de Irrigação (em hectares) Ano Região Superfície Aspersão Pivô Localizada Total Convencional Central Norte 76.510 1.850 5.000 78.360 Nordeste 156.230 144.220 71.760 55.220 428.460 Sudeste 219.760 220.800 336.000 44.960 821.520 1996 Sul 1.075.000 41.600 20.000 11.200 1.147.800 Centro-Oeste 51.460 36.000 91.330 1.350 180.140 Brasil 1.578.960 444.470 519.090 117.730 2.656.280 % 59 17 20 4 100 Norte 79.080 2.320 270 180 81.850 Nordeste 155.925 160.330 79.423 60.142 455.820 Sudeste 227.620 232.755 346.674 56.767 863.816 1997 Sul 1.084.440 42.305 20 240 20.183 1.167.168 Centro-Oeste 53.660 36.910 92.240 4.480 187.290 Brasil 1.600.725 474 620 538.847 141.752 2.755.944 % 58 17 20 5 100 Norte 82.070 3.530 390 670 86.660 Nordeste 164.711 168.146 83.762 78.751 495.370 Sudeste 237.150 239.916 348.854 65.054 890.974 1998 Sul 1.094.720 53.220 20.970 26.530 1.195.440 Centro-Oeste 57.460 39.582 95.310 9.408 201.760 Brasil 1.636.111 504.394 549.286 180.413 2.870.204 % 1 57,0 17,5 19,1 6,3 100,0 Fonte: Lima, J. E. W., Ferreira, R. A., Christofidis, D. (2000). O uso da irrgação no Brasil. In: Freitas, M. V. (ed.). O Estado das Águas no Brasil - 1999. ANEEL - MMA/SRH - OMM. Tabela 11.18 - Eficiência de irrigação e consumo de Energia Métodos de Eficiência de Uso de energia (kWh/3) irrigação irrigação(%) por superfície 40 a 75 0,03 a 0,3 por aspersão 60 a 85 0,2 a 0,6 localizada 80 a 95 0,1 a 0,4 Fonte: Lima, J. E. W., Ferreira, R. A., Christofidis, D. (2000). O uso da irrigação no Brasil. In: Freitas, M. V. (ed.). O Estado das Águas no Brasil - 1999. ANEEL - MMA/SRH - OMM. Anexo 11 166 Tabela 11.19 - Principais hidrovias brasileiras Bacias Rios principais Extensão (km) Amazonas Amazonas, Negro, Madeira, Purus, Jurus, 18.300 Branco e Jurua Tocantins Tocantins, Araguaia 3.000 Atlântico Sul Jacuí, Taquari, Lagoa dos Patos e Mirim 1.300 Atlântico Leste Doce, Paraíba do Sul 1.000 (potencial) Ate/ntico Mearim, Pindaré, Itapecuru e Parnaíba 3.000 Norte/Nordeste, , São Francisco São Francisco e Grande 4.100 Paraná Paraná, Tietê 4.800 Paraguai Paraguai e Cuiabá 2.800 Uruguai Uruguai e Ibicui 1.200 (potencial) Total 38.200 Fonte: Cabral, 1995. Tabela 11.20 - Quantidade de Carga Transportada Por Modalidade de Transporte (em milhões) MODO DE 1996 1997 1998 1999 2000 TRANSPORTE Qde. % Qde. % Qde. % Qde. % Qde. % Aéreo 2.036 0,3 1.709 0,3 2.173 0,3 2.244 0,3 2.432 0,3 Aquaviário (í) 71.310 11,5 77.402 11,5 90 444 11,5 94.770 13,2 103.390 13,9 Dutoviário 23.528 3,8 30.435 3,8 31.609 3,8 33.131 4,6 33.246 4,5 Ferroviário 128.976 20,7 138.724 20,7 142.446 20,7 140.817 19,6 155.590 20,9 Rodoviário ( ) 396.060 63,7 421.131 63,7 445.795 63,7 447.353 62,3 451.370 60,5 TOTAL 621.910 100,0 669.401 100,0 712.467 100,0 718.315 100,0 746.028 100,0 FONTES: Anuário Estatístico de Transporte 2000. GEIPOT. NOTA: Transporte Aéreo:Vôos Nacionais;Transporte Hidroviário Navegação Interior e Cabotagem Nacional. (1) Dados preliminares, estunados pelo GEIPOT. 167 Anexo i1 Estratégias de Gerenciamento de Recursos Hidncos no Brasil Areas de Cooperação com o Banco Mundial Tabela 11.21 - Execução Orçamentária de órgãos Gestores Estaduais (em milhões de reais) Ano Orçamento Total | Categoria (Total-Investimento Total Executado 1 Previsto 1 Executado 1Investimento l 1 Estado SRH (incluindo entidades subordinadas) Ceará 1997 156.6 33.0 24.1 8.9 2898.5 1998 242.5 104.8 89.7 15.1 3419.4 1999 190.9 82.9 71.9 11.0 4822.5 2000 142.3 62.7 53.2 9.5 3846.8 SUDERHSA Paraná 1997 95.2 27.2 16.9 10.3 5637.7 1998 104.7 36 0 8.1 27.9 8346.2 1999 110.4 25.5 19.0 6.5 11218.4 2000 72 O 42.5 36.2 1 6.3 9752.8 IGAM Minas Gerais 1997 9.2 3.8 0. 1 (2) 3.7 - 1998 5.8 3.9 0.1 3.8 24572.9 1999 5.6 3.1 0.2 2.9 14358.9 2000 21.6 5.5 0.2 5.3 15184.3 DAEE São Paulo 1997 3923.5 85.4 19.2 66.2 86726.3") 1998 416.5 202.0 126.1 75.9 38822.0 1999 390.3 211.6 130.3 81.3 35721.9 2000 356.3 190.6 106.1 84.5 37955 6 Fonte: Dados coletados junto aos respectivos órgãos. (1) Orçamento total executado subtraindo a categoria investimento; (2) O IGAM, em geral, não executa obras de Infraestrutura Hidráulica; (3) Valor influenciado pela renegociação da dívida do Estado de São Paulo. Anexo 11 168 gua izBra~ ANEXO III~~~~~0 Aspectos Metodológicos das Avaliações Procedidas A elaboração deste documento esteve 2. Caso concorde com a avaliação segundo a qual apoiada em um amplo processo de tem sido lenta a implementação dos instrumentos consulta por meio de entrevistas e reuniões de outorga e cobrança pelo uso dos recursos com diversos profissionais nos níveis federal e hídricos no Brasil, qual seria o ou os principal(is) estadual. Em uma pnmeira fase, foram realizadas entrave(s) à aplicação/consolidação desses reuniões em formato brainstorrn com técnicos e instrumentos? Quais seriam as ações prioritárias decisores da área de recursos hídricos para a serem encampadas para facilitar a aplicação identificação de problemas e elementos suscetíveis desses instrumentos? de serem considerados na elaboração da estratégia. A introdução de uma cobrança negociada com Nesse sentido, tirando proveito da realização do XIV alguns setores usuários (ex. indústria e Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos e V saneamento, a exemplo do Ceará) seria uma Simpósio de Hidráulica e Recursos Hídricos dos estratégia recomendável para os demais Países de Língua Oficial Portuguesa, no Estado de Estados? Sergipe, entre 25 e 29 de Novembro de 2001, foram realizadas duas reuniões para as quais foram 3. Julga que as organizações de usuários da água e convidados profissionais de destacada atuação na os comitês de bacia têm desempenhado de área de recursos hídricos no Brasil. Participaram maneira efetiva seus papéis nos sistemas de dessas reuniões 25 pessoas, das quais 10 eram gerenciamento de recursos hídricos (identificar técnicos ou dirigentes de órgãos gestores estaduais, os Estados cuja experiência fundamenta seu 11 eram professores universitários e consultores comentário)? com ampla experiência nacional, 1 secretário municipal (São Paulo) e 3 membros de comitês de bacia 4. Concorda com o diagnóstico segundo o qual, hidrográfica. além dos esforços direcionados à melhoria do gerenciamento dos recursos hídricos, há, ainda, A maioria dos participantes recebeu, previamente, uma evidente necessidade de investimentos um conjunto de perguntas que tinham por objetivo importantes em infraestrutura para atender à orientar a discussão a ser realizada. Foram essas demanda existente nos diferentes setores as questões levantadas: usuários? Caso concorde e considerando que obras como grandes barragens e transposições 1. Em sua opinião, quais seriam as principais de água entre bacias, em geral, podem envolver deficiências das entidades gestoras dos recursos elevados riscos, mas também importantes hídricos no Brasil, à luz de suas atribuições, e benefícios, que recomendações faria para quais prioridades destacaria para um eventual facilitar a realização desses investimentos e para trabalho de fortalecimento institucional? um melhor tratamento dos riscos envolvidos? 169 Escraregias de Gerenciamento de Recursos Hidricos no Brasil Áreas de Cooperação com o Banco Mundial 5. Qual seria a melhor abordagem (ou corte) para O questionário utilizado encontra-se apresentado a identificação dos problemas centrais de recursos seguir. hídricos no Brasil - as macrobacias, os setores usuários (saneamento, energia, irrigação, etc.), A - Base Legal ou regiões homogêneas (Amazônia, Pantanal, Semi-Árido, Sul-Sudeste urbano, zona costeira)? > Conceito/avaliação: Consistente 6. Que ações recomendaria para inclusão na pauta Base legal consolidada com principais aspectos prioritária de uma estratégia de apoio do Banco (atores/instrumentos/atribuições) bem definidos, Mundial ao Brasil para a área de recursos adequação da legislação ao enfrentamento dos hídricos? problemas próprios ao estado, sem mera transcrição mecânica da 9.433; ausência de lacunas e Essas questões foram levantadas a título de inconsistências entre diplomas de regulamentação; orientação da discussão e não na forma de uma inexistência de entraves legais que dificultem a entrevista objetiva e direcionada com cada integração do Estado ao Sistema Nacional de participante. Com efeito, mais do que respostas Gerenciamento (Leis 9.433/1997 e 9.984/2000). específicas, foi possível promover uma rica discussão sobre os temas em pauta, gerando importantes > Conceito/avaliação: Em consolidação subsídios para elaboração do documento. Ausência de uma leitura sobre a aplicabilidade da No capítulo 4, a necessidade de delinear o contexto legislação no equacionamento dos problemas legal e institucional atual dos estados brasileiros próprios ao estado, ainda que não existam impôs mais uma questão de natureza metodológica. divergências frontais à Lei 9.433; lacunas e A inexistência de diagnósticos detalhados e inconsistências a preencher na regulamentação abrangentes, condição natural em face ao caráter > Conceito/avaliação: Deficiente incipiente e rapidamente evolutivo dos sistemas estaduais, induziu a adoção da entrevista com o Regulamentos já existem mas são vagos e/ou método de investigação. incompletos dificultando a aplicação da lei. Para tal, foram identificadas três pessoas em cada > Conceito/avaliação: Inconsistente estado', para responderem, segundo suas Leis e/ou regulamentos apresentam inconsistências percepções individuais, questões a cerca da base internas que devem ser sanadas; ou distorções legal, do aparato institucional e da base técnica e de importantes que podem comprometer/dificultar a informações existentes no estado. integração do Estado ao Sistema Nacional. Duas das três pessoas entrevistadas em cada estado B - Aparato Institucional estão diretamente ligadas à instituição responsável pela gestão de recursos hídricos, sendo uma em posição de decisão (secretários, diretores etc.) e outra BI. Visibilidade e importãncia em posição operacional. A terceira entrevista foi institucional direcionada a pessoas não diretamente vinculadas à instituição, como forma de obter uma opinião extema. > Conceito/avaliação: Alta Instituição já plenamente consolidada, com 'Nas unidades da federação que já instituíram formalmente atribuições e responsabilidades reconhecidas pelo seus sistemas de gerenciamento de recursos hídricos- aparelho estatal (executivo, legislativo, judiciário), dezenove Estados e Distrito Federal. pelos municípios e pela sociedade/usuários da água. Anexo 111 170 Água > Conceito/avaliação: Média Segurança e regularidade do aporte de recursos: Instituição bem consolidada, com atribuições e > Alta (fluxo regular garantido) responsabilidades bem definidas, mas reconhecidas apenas em alguns poucos setores. > Média (orçamento pouco sujeito a cortes) > Conceito/avaliação: Baixa > Baixa (orçamento muito sujeito a cortes) Instituição ainda não consolidada, atribuições e responsabilidades pouco reconhecidas. Volume de recursos normalmente à disposição prejudica atividades de: B2. Equipe técnica: Perfil e ( ) Ampliação da oferta com nova infra-estrutura Capacitação ( ) Gerenciamento da oferta (operação de sistemas) > Conceito/avaliação: Adequada ( ) Manutenção dos sistemas Possui corpo técnico permanente, com perfil e capacitação compatíveis com as atribuições da ( ) Monitoramento e fiscalização instituição, com deficiências de menor importância em uma ou outra área. ~( ) Administração das outorgas em uma ou outra área. > Conceito/avaliação: Inadequada ( ) Capacitação das equipes técnicas Equipe bem estruturada, porém, não permanente, C. Base Técnica e de Informações ou equipe permanente, mas com perfil e capacitação inadequados para as atribuições da instituição; C]. Rede de monitoramento da deficiências importantes em áreas essenciais para disponibilidade hídrica - Quantidade o desempenho da instituição (sobretudo outorga). ( ) Suficiente / Bem operada > Conceito/avaliação: Altamente Inadequada ( ) Suficiente/ Mal operada Equipe muito reduzida e insuficiente para desempenhar minimamente as atribuições das ( ) Insuficiente / Bem operada instituições. ( ) Insuficiente / Mal operada B3. Financiamento das atividades da C2. Rede de monitoramento da instituição qualidade da água Fontes regulares de financiamento: ( ) Suficiente / Bem operada > Orçamento estadual: % ( ) Suficiente/ Mal operada > Repasses federais: % ( ) Insuficiente / Bem operada > Cobrança e outras receitas: % ( ) Insuficiente / Mal operada 171 Anexo 111 Estratégias de Gerenciamento de Recursos Hidricos no Brasil Arfas de Cooperação com o Banco Mundial C3. Fiscalização dos usos da água 4 - Dentro de cada grupo específico quais são os setores mais efetivos/ativos ou que possuem ( ) Realizado sistematicamente maior participação nas ações/deliberações do ( ) Realizado eventualmente Comitê? 5 - Quais são os principais conflitos existentes na bacia hidrográfica de ordem quantitativa e qualitativa dos recursos hídricos e os setores C4. Sistematização da informação envolvidos nesses conflitos? ( ) Sistemas de informação existentes e atualizados 6 - Quais são as ações que tem caracterizado a regularmente evidência da atuação do Comitê, especificamente no que se refere à: ( ) Sistema de informação existente mas sem atu- alização regular o Desenvolvimento de projetos ( ) Sistemas inexistentes * Elaboração de diagnósticos A investigação por meio de entrevistas também foi e Proposição de planos de bacias empregada para avaliação qualitativa da experiência associada a quatro importantes comitês de bacia * Implementação de instrumentos hidrográfica no Brasil. Foram entrevistados (outorga, cobrança, enquadramento) secretários executivos e/ou presidentes desses comitês, além de técnicos da Agência Nacional de o Monitoramento Águas responsáveis pelo trabalho de organização de usuários e apoio aos comitês de bacias * Educação ambiental hidrográficas. O seguinte roteiro de entrevista foi utilizado: * Seminários, evento, etc. 1 - Ano de implantação / início de funcionamento 7 - Como tem sido o apoio às ações do Comitê, por do Comitê outras instituições especificamente em termos de: 2 - Como se apresenta a composição do Comitê em * Coordenação política termos de número de vagas para os grupos que o integram (governos, usuários da água e * Coordenação técnica sociedade civil)? * Apoio financeiro aos programas 3 - Como se situa atualmente a representatividade observada para cada grupo em termos de * Apoio em termos logísticos (sede, atuação nas ações/deliberações do Comitê? Os local para deliberações) membros do Comitê comportam-se de forma 8 - Como tem sido a dinâmica de funcionamento individualizada ou como representantes dos seus dos Comitês, em termos de quorum e freqüência respectivos grupos? das reuniões? Anexo 111 172 Água _Bras ANEXO IV Esboço de um Plano Geral de Trabalho para os Convênios de Integração e/ou de Cooperação, Previstos pela ANA A título preliminar e genérico, assim poderia As justificativas para o apoio ao fortalecimento e ser estruturado o esboço de um Plano Geral modernização das estruturas estaduais de gestão, de Trabalho, como anexo aos Convênios particularmente de entidades responsáveis pela de Integração e/ou de Cooperação, mencionados no outorga de direitos de uso de recursos hídricos nos item 6.7. do documento da EGRHB: estados, são as seguintes: IV.1 - APOIO INSTITUCIONAL ÀS a instalação de sistemas estaduais depende, ESTRUTURAS ESTADUAIS DE GESTÃO em grande medida, da atuação continuada do Poder Público, mediante entidade dotada de As premissas básicas para a atuação junto aos autonomia administrativa e financeira, com Governos Estaduais são: encargos e prioridades definidas, na mesma linha de decisões que levaram à instituição > não existem sistemas estaduais e federal de da ANA pelo Governo Federal; gerenciamento de recursos hídricos, mas um único Sistema Nacional; > sem estas entidades, os sistemas estaduais tendem à dispersão e ao voluntarismo de > os Sistemas Estaduais (SEGRH's), portanto, ações isoladas. são partes integrantes e articuladas ao Sistema Nacional; O apoio às estruturas estaduais deve pautar-se por: > os estados e SEGRH's não são adversários > estudos sobre a natureza jurídica e formas de que se deve submeter, mas parceiros com os organização das entidades, eventualmente quais é imperativo trabalhar em conjunto; com revisão de métodos e procedimentos administrativos e técnicos atualmente > os domínios de corpos d'água estão empregados; sobrepostos e interagem sobre a base territorial de bacias hidrográficas, não > mecanismos para dotação de pessoal, devendo constituir-se em impedimentos a uma acompanhada de ações de capacitação e divisão funcional de encargos, negociada entre treinamento, notadamente em razão da revisão a União e os estados, segundo as atribuições de suas atribuições e encargos, decorrentes e capacidades institucionais instaladas em de novas demandas postas pela instalação dos cada bacia hidrográfica. SEGRH's; 173 Esírategias de Gerenciamento de Recursos Hidricos no Brasil Arcas de Cooperação com o Banco Mundial > instrumentação das entidades com sistemas Por tanto, alguns dos principais elementos de uma de informações e ferramentas de apoio à EGRHB, devem ser identificados pela busca de decisão, de modo a elevar sua proficiência facilidades e apoios, sem os quais as ações dos no conhecimento de disponibilidades e SEGRH's estariam dificultadas ou não ocorreriam, demandas por recursos hídricos, prejudicando, porconseqüência, opróprioSINGRH, monitoramento dos corpos d'água, do qual são peças essenciais integrantes. fiscalização de usos e concessão de outorgas. IV.2 - APOIO PARA A INSTALAÇÃO E As linhas mestras de atuação das entidades FUNCIONAMENTO DE COMITÊS E estaduais de recursos hídricos, merecedoras de AGÊNCIAS DE BACIA apoio por parte de uma EGRHB, são: A instalação e o funcionamento de comitês e > implementação das Políticas Estaduais de agências de bacia serão pautados pelas seguintes Recursos Hídricos e suporte institucional e premissas: técnico ao funcionamento dos sistemas estaduais de gerenciamento de recursos > seletividade e concentração de esforços, hídricos (SEGRH's); principiando pelas áreas prioritárias, identificadas segundo o "mapa geográfico de > planejamento da gestão de recursos hídricos, gestão" (conceito formulado no capítulo 7 em especial, elaboração de planos estaduais deste documento), evitando-se pretender a de recursos hídricos; cobertura de todo o território nacional, o que resultaria em dispersão institucional; > manutenção e operacionalização dos instrumentos de gestão de recursos hídricos; > para que os comitês mantenham atuação com os níveis de dinâmica social e consistência > monitoramento quantitativo e qualitativo dos institucional desejados, será imperativa uma recursos hídricos; atuação coordenada entre a União, os estados e demais agentes locais intervenientes; > fiscalização do uso de recursos hídricos, > a mencionada atuação coordenada visará inclusive da execução de obras e serviços tanto a instalação de comitês em rios de com estes relacionados; domínio federal, inclusive na forma de comitês de integração, quanto em rios de domínio > organização e a execução de incumbências estadual, sob o entendimento de que, muitas próprias ao exercício de Secretarias vezes, os segundos serão indispensáveis para Executivas dos Conselhos Estaduais de que se garanta a consistência dos primeiros; Recursos Hídricos, zelando pelas articulações devidas com o Conselho Nacional de > as decisões sobre a sobreposição de comitês Recursos Hídricos; federais e estaduais na mesma bacia hidrográfica, na forma de comitês de > gestão financeira das receitas auferidas pelos integração (vide CEIVAP- Paraíba do Sul), SEGRH's, em conjunto com as agências de observará o "mapa geográfico da gestão" e a bacia e/ou entidades correlatas, divisão funcional de encargos, negociada entre eventualmente mediante a constituição e a União e os estados, segundo as atribuições operação de Fundos Estaduais de Recursos e capacidades institucionais instaladas em Hídricos. cada bacia hidrográfica; Anexo IV 174 Água ~Bra~ > de modo similar aos comitês, não existem processos decisórios para comitês de bacia e óbices à cnação e convivência de agências para a interação entre comitês locais e de locais de sub-bacia ou de bacias estaduais, integração; frente à agência da bacia federal, de maior abrangência, desde que seja igualmente > recursos e material de apoioe divulgaçãopara observada a divisão funcional já referida. eventos e oficinas de trabalho destiadas à implantação dos comitês de bacia As justificativas para esta forma de atuação são as identificados como prioritários; seguintes: > estudos jurídicos e de organização e métodos, na partida da instalação dos SINGRH e para instalação e funcionamento de agências SEGRH's, não parece adequado constranger de bacia, incluindo, dimensionamento de iniciativas de organização local, essenciais quadros de pessoal e estrutura operacional, para que o próprio SINGRH adquira raízes e estimativas de custos e identificação de fontes bases sociais legítimas; de sustentação financeira. > comitês de grande abrangência territorial IV.3 - IMPLANTAÇÃO DE INSTRUMENTOS reclamam suporte em núcleos de organização DE GESTÃO DE RECURSOS HIDRICOS local, para que ganhem consistência e dinâmica institucional, na esteira de estratégia As premissas básicas para a implantação de adotada pelo Rio Grande do Norte, hoje com instrumentos de gestão de recursos hídricos serão: cerca de 115 conselhos locais de usuários, base para futuros comitês de bacia; > clara definição de pauta de prioridades temáticas e geográficas, vinculadas à gestão, > as ações executadas em nível local estão ao planejamento e à própria estratégia de submetidas a maior controle social, maior implementação do SINGRH (e dos nível de detalhe de informações necessárias SEGRH's), informando e articulando as à gestão, maior proficiência em ações instâncias com responsabilidades diretas pertinentes ao controle de poluição e sobre os instrumentos de gestão, para definir conservação de solos, além de, quase sempre, sistemáticas operacionais, procedimentos e apresentarem menores custos de bases técnicas; implementação. divisão de tarefas com os estados, sempre As linhas de atuação no apoio à constituição de que possível, com delegação de encargos de comitês e agências de bacia serão: natureza operacional e, eventualmente, de competências, todavia, com a garantia de > consolidação de estudos e diagnósticos para aferição de desempenho, bem como de suporte à definição do melhor desenho das acesso e atualização constante de dados e unidades de planejamento e gestão de informações, inclusive com o intuito de recursos hídricos, em termos de sub-bacias, preservar prerrogativas de controle por parte bacias estaduais e bacias federais, eventuais da União. superposições entre estas e respectiva divisão As justificativas para as premissas apresentadas de encargos (o mapa da gestão, já referido); são: > desenvolvimento e difusão de propostas de > os instrumentos devem ser implementados em regulamentação,.regimento interno e de consonância com a lógica regente da 175 Anexo IV Estratégias de Gerenciamento de Recursos Hídricos no Brasil Arcas de Cooperação com o Banco Mfundial estratégia institucional adotada, por domínios dos corpos hídricos, podendo ser conseguinte, segundo o " mapa geográfico da delegada aos estados, conforme previsto pela gestão" e a divisão negociada de encargos, já Lei Federal n.° 9.433/97, porém, sempre mencionada; sujeita às responsabilidades remanescentes da ANA e à garantia de pronto acesso desta > clara política de descentralização, somada às às informações, critérios de decisão e a conveniências de delegar encargos de cadastros atualizados; natureza operacional e, bem assim, de obter níveis crescentes de detalhe, em dados e > a cobrança mediante critérios unificados na informações sobre recursos hídricos, bacia hidrográfica e operacionalizada pela possibilitados pelo foco local em sub-bacias entidade (agência de bacia ou poder (variáveis de controle de poluição) e, até outorgante) mais próxima aos usuários mesmo, em micro-bacias (práticas de pagadores,aplicadaemconformidadecomo conservação de solos e água). "mapa geográfico da gestão", em consonância com a divisão de encargos negociada; Quanto à implantação de instrumentos de gestão de recursos hídricos, devem ser observadas, ainda, as > a divisão de encargos entre planos de bacia, diretrizes que seguem: planos estaduais e Plano Nacional de Recursos Hídricos estabelecida em > a instalação de uma rede nacional de dados conformidade com o "mapa geográfico da hidrometeorológicos e de qualidade de água, gestão", destinando encargos de natureza com encargos distribuídos entre estados e executiva precipuamente aos primeiros, de União,cabendoàúltimaidentificarospostos modo a alavancar capacidades locais essenciais sob sua responsabilidade, que lhe endógenas, cabendo aos segundos pautar-se permitam checar a consistência de como peças do planejamento estratégico informações sobre disponibilidades hídncas estadual e instrumentos de facilitação dos e consolidar uma visão de conjunto de todo primeiros (ou seja, ações sem as quais os o território nacional; planos de bacia não ocorreriam ou estariam dificultados), na mesma proporção em que o > os cadastros de usos e usuários consolidados Plano Nacional o será relativamente ao por bacia hidrográfica, com garantia da troca planejamento estratégico da União e à e da atualização sistemática de informações; facilitação dos planos estaduais. > as ações de monitoramento e fiscalização, A linhas de trabalho devem concentrar-se em: sempre que possível, descentralizadas aos estados, incentivando-se a atuação conjunta > diagnósticos e dimensionamento de redes com as entidades de meio ambiente, adequadas de dados hidrometeorológicos e desenvolvimento de práticas de auto- de qualidade de água, incluindo recursos para monitoramento e de formas de controle social, aquisição de equipamentos, diretamente ou pela via dos sistemas institucionais de gestão; mediante equacionamento de linhas de cooperação e/ou crédito, particularmente > a concessão de outorga pautada pela junto ao Ministério de Ciência e Tecnologia consistência de procedimentos (dados de (MCT) e entidades vinculadas; disponibilidades e demandas e ferramentas de apoio à decisão) no âmbito de cada bacia > suporte técnico e financeiro para hidrográfica, independentemente dos cadastramento de usos e usuários, incluindo Anexo IV 176 X Bgua sistemas computacionais e equipamentos > apoio metodológico e, eventualmente, para operar bancos de dados; financeiro, para a elaboração de planos estaduais de recursos hídricos e disposição desenvolvimento e difusão de ferramentas de das diretrizes supervenientes de interesse suporte à decisão, notadamente para apoio à nacional; concessão de outorga (curvas-chave e modelos de simulação), em particular para a > atuação direta na previsão e prevenção de outorga de lançamento de efluentes; eventos críticos relacionados com os recursos hídricos e na identificação de ações para a desenvolvimento e difusão de estudos e mitigação dos impactos sociais e econômicos simulações econômicas como subsídios às decorrentes, incluindo atividades de natureza negociações exigidas para a implantação da institucional, ligadas à defesa civil e à sua cobrança pelo direito de uso de recursos articulação com a gestão de recursos hídricos; hídricos, incluindo o detalhamento de fluxos e procedimentos administrativos e > elaboração, difusão e apoio a programas de financeiros; desenvolvimento tecnológico e de capacitação em recursos hídricos. 177 Anexo IV ISBN 85-88192-03-9 0tELog 1zi FSr 1; s i« t 7 8 8 5 8 8 1 9 2 0 3 4 = or o~~~~~~~~~~~~ -~~~~~~~~~~~ u ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ co~ ~ a c~ S u 8 .4 U L t~~~~~ .-~~~l ^wMm~~~~~~~~~~~~~~~~~~- f