“O Grupo Banco Mundial Além da Criseâ€? Available in: English, 日本語, руÑ?Ñ?кий, Bahasa (Indonesian), Türkçe, ‫العربية‬, Español, 中文, Français, Deutsch Reuniões Anuais Assembleia de Governadores do Grupo Banco Mundial Discurso de Sua Excelência o Senhor Robert B. Zoellick Presidente Grupo Banco Mundial Istambul, Turquia 6 de outubro de 2009 “O Grupo Banco Mundial Além da Criseâ€? Senhor Presidente, Senhores Governadores e distintos convidados: Muito obrigado pela sua presença aqui conosco nestas Reuniões Anuais. Desejo expressar meus agradecimentos especiais ao Senhor Nguyen Van Giau, Presidente da Assembleia de Governadores e ao Senhor Agustín Carstens por sua liderança na Comissão de Desenvolvimento. Agustín e eu vimos trabalhando em estreita colaboração nos últimos dois anos. Tenho em profundo respeito a sua capacidade como Ministro e líder dedicado e beneficiei-me enormemente de sua parceria e amizade. Esta é a última reunião de Agustín como Presidente da Comissão de Desenvolvimento, mas estou certo de que recorreremos à sua orientação e bom senso no futuro. Aguardo a oportunidade de trabalhar com o Ministro Al-Khalifa, de Bahrain, que amavelmente concordou em assumir a Presidência da Comissão. O Ministro Al-Khalifa e eu já trabalhamos juntos em iniciativas anteriores e é para mim uma satisfação saber que estará conosco nesta época crítica. Desejo também agradecer meu colega Dominique Strauss-Kahn. Nossas duas instituições trabalharam em estreita parceria no último ano e tenho em grade apreço a sua perspectiva, praticabilidade e bom humor. Fico também muito grato ao Governo e ao povo da Turquia, anfitriões exemplares das nossas Reuniões Anuais neste ano. Tivemos o prazer de visitar esta cidade fascinante em um país que muito tem realizado. Acima de tudo, agradecemos o maravilhoso povo de Istambul e da Turquia. Quero aproveitar esta oportunidade para lembrar o ex-Presidente do Banco Mundial, Robert McNamara. Ele liderou e moldou o Banco Mundial durante 13 anos incríveis. Trouxe a esta instituição uma energia enorme, juntamente com a firme convicção de que os problemas do mundo em desenvolvimento podem ser resolvidos. Deixou um histórico imponente: o esforço para erradicar e prevenir a oncocercose; o primeiro empréstimo do Banco Mundial para nutrição; enfoque nas pessoas de baixa renda da zona rural; volume crescente de empréstimos à agricultura; a publicação do primeiro “Relatório sobre o Desenvolvimento Mundialâ€?; e a abertura de relações entre o Banco Mundial e a China em uma época crítica para o desenvolvimento desse país – um reflexo tanto da sua visão como da sua liderança. Robert McNamara mudou o enfoque do Grupo Banco Mundial para a meta de superar a pobreza em âmbito mundial. Essa continua a ser hoje a nossa missão principal e assegura que o legado do Sr. McNamara no desenvolvimento internacional – e no Grupo Banco Mundial – permaneça vivo. Ao conversar com o Sr. McNamara em seus últimos anos de vida, ele se lembrou com afeto o tremendo quadro de pessoal do Grupo Banco Mundial, uma verdadeira coleção de talentos de todas as culturas e países. Seus sucessores expressaram o mesmo apreço. Quero unir o meu ao deles. O pessoal do Grupo Banco Mundial fez frente ao desafio da crise no último ano – com energia, criatividade e profundo sentido de propósito para os países e povos clientes a quem temos o privilégio de servir. Expressamos também nosso pesar pelo recente falecimento do Ministro Futa, da República Democrática do Congo. Desejo unir-me ao Presidente nas expressões de condolência à família do Ministro Futa e ao Governo da RDC. Quero também deixar consignadas minhas profundas condolências à família do Sr. Nakagawa, ex-Ministro das Finanças do Japão. ***** ***** ***** Há um ano, nós nos reunimos em uma época de instabilidade. Hoje esta turbulência está longe do fim. Como resultado da crise global, estimamos que mais 90 milhões de pessoas viverão em extrema pobreza até o fim do próximo ano; outros 59 milhões de pessoas perderão o emprego este ano; e 30.000 a 50.000 bebês poderão morrer na Ã?frica Subsaariana. Por detrás dessas cifras há histórias humanas: -- Aoy Puon é operária em uma fábrica de roupas no Camboja. Desde o início da crise o seu salário mensal foi cortado pela metade. Hoje ela não ganha o suficiente para enviar dinheiro para a família que depende da sua renda. No último ano 48 fábricas de roupas tiveram de fechar no Camboja e 62.000 operários perderam o emprego – 90% deles mulheres. Aoy está agora preocupada em perder o seu emprego. -- Zagd é pastor de rebanhos na Mongólia, onde a crise financeira levou os preços dos animais a despencar. Simultaneamente, os preços dos alimentos aumentam diariamente e Zagd não pode mais comprar farinha, arroz ou açúcar. Para pastores como Zagd, não há dinheiro proveniente de pensões ou benefícios sociais – ao contrário, com a diminuição da renda o recurso é reduzir o consumo. Como afirmou um pastor, “eu não compro açúcar porque é caro. Eu não como legumes. Eu não saio e, portanto, não preciso de muitas roupas... No inverno não compramos lenha nem carvão.â€? – Lindiwe tem 28 anos e mora em uma favela na Ã?frica Austral. Ela é HIV positiva e tem tuberculose. A clínica ONG que trata dessas doenças não pôde aceitá-la, porque o financiamento do doador acabou em consequência da crise financeira e terminaram os medicamentos da ONG. As perspectivas de fundação adicional não são encorajadoras: uma pesquisa recente do Banco Mundial e da UNAIDS concluiu que um em cada cinco países em desenvolvimento tiveram de reduzir programas de tratamento antirretroviral e 33 países preveem que o impacto piore no próximo ano. Para Lindiwe, o tempo se está esgotando: “Estou com medo de morrer e deixar minha filhinha sozinhaâ€?, disse ela. Empregos perdidos e vidas destruídas. Meninas obrigadas a abandonar a escola. Famílias que precisam decidir que refeição cortar por dia. Crianças desnutridas. Progresso humano revertido, frequentemente de forma irreversível. Enquanto falamos de recuperação, a dor pessoal da pobreza nos cerca por todos os lados. Em cidades, aldeias, vales e planícies; nas ruas principais e comunidades sem ruas ouvimos o refrão comum : “Não deixem isso acontecer novamente.â€? É triste não podermos fazer essa promessa. Não podemos tornar nosso mundo à prova de crises. De fato, se houver algo certo sobre o futuro, certamente será uma outra insurreição. Porém, com liderança e cooperação podemos aprender das lições das crises passadas e olhar para frente. Precisamos olhar mais além da resposta de emergência em busca de ações para “construir novamente melhorâ€? – ações que perdurem. Esse trabalho cabe a nós aqui presentes neste recinto. Cooperação em época de crise é a parte mais fácil. Cooperação quando não estivermos mais olhando para o abismo é o desafio. Sementes da crise Antes de olharmos para o futuro, precisamos compreender o passado. A insurreição de hoje não surgiu do nada. As sementes foram plantadas antes. Nos últimos 20 anos temos presenciado uma mudança econômica enorme. A separação das economias planejadas na União Soviética e na Europa Central e Oriental, as reformas econômicas na China e na Ã?ndia e as estratégias direcionadas à exportação do Leste Asiático contribuíram para uma economia mundial de mercado que saltou de cerca de um bilhão para quatro ou cinco bilhões de pessoas. Essa mudança oferece oportunidades enormes. Mas também abalou um sistema econômico internacional formado em meados do século XX com mudanças remendadas nas décadas subsequentes. Algumas sementes dos problemas de hoje foram lançadas pelas respostas – ou ausência das mesmas – às crises financeiras do final da década de 90. Após a crise financeira asiática, os países em desenvolvimento determinaram que nunca mais se iriam expor às tempestades da globalização. Muitos “seguraram -seâ€? por meio de gestão das taxas de câmbio e enormes acúmulos de reservas monetárias. Algumas dessas mudanças contribuíram para desequilíbrios e tensões na economia global, porém durante anos os governos conseguiram escapar graças a um crescimento geralmente bom. Os bancos centrais não enfrentaram os riscos inerentes à nova economia. Aparentemente dominaram a inflação de preços de produtos na década de 80, mas a maioria decidiu que era difícil identificar as bolhas de preços de ativos e restringir a política monetária. Argumentaram que o prejuízo à “economia realâ€? de empregos, produção, poupanças e consumo poderia ser refreado uma vez furadas as bolhas por meio do afrouxamento agressivo das taxas de juros. Estavam enganados. Os reguladores e supervisores das instituições financeiras já não tinham mais os pés na realidade. A inovação financeira e a concorrência ampliaram vastamente os serviços – incluindo empresas e famílias frequentemente postas de lado no passado – mas o atraente desenho simples da “teoria de mercados racionaisâ€? levou os reguladores a se afastarem das realidades da psicologia, comportamento organizacional, riscos sistêmicos e complexidades dos mercados e seres humanos. Mesmo ao aprendermos essas lições duras, precisamos prever e construir. Em 1944 os delegados em Bretton Woods aproveitaram o momento para moldar um novo acordo global. Passaram três semanas em New Hampshire desenvolvendo um sistema de normas, instituições e procedimentos para as relações financeiras e comerciais na economia mundial. Esse mundo mudou enormemente nos últimos 65 anos. A insurreição atual está mudando novamente o panorama. Já podemos observar mudanças potenciais no poder e nas instituições, bem como na cooperação internacional. Em parte, as mudanças dependerão de como os atores se adaptam às novas circunstâncias; em parte, da rapidez da recuperação; em parte, das mudanças naqueles países que detêm o capital, a tecnologia e os recursos humanos mundiais e o que fazem com eles; em parte ainda, de como ocorre ou não a cooperação entre os países. O contexto em evolução Apenas há 10 anos, durante a crise financeira asiática, a preocupação principal do mundo era se a China manteria a sua vinculação à moeda para ajudar a estabilizar a queda dos dominós da economia. Hoje a China está entre as principais economias do mundo e atua como força estabilizadora na economia global. Em conjunto, a China e a Ã?ndia respondem por 8,5% da produção mundial. Essas duas nações e outros países em desenvolvimento estão crescendo consideravelmente mais rápido do que os países desenvolvidos. Os Estados Unidos foram atingidos fortemente pela crise. Mas são um país resiliente. O seu futuro dependerá se o país tratará os grandes déficits e de que modo, como se recuperará sem inflação que poderia prejudicar o seu crédito e a sua moeda e como reformulará o seu sistema financeiro para preservar a inovação, aumentando ao mesmo tempo a segurança e a solidez. Os Estados Unidos precisam também ajudar as pessoas a se adaptarem à mudança para que o país possa manter seu maior trunfo: abertura para o comércio, investimentos, pessoas e ideias. O Japão é a primeira grande potência industrial a experimentar uma insurreição política após a crise. A eleição do Partido Democrático do Japão pode criar pela primeira vez na história do país uma democracia sustentável com dois partidos. Não está claro se o antigo modelo de exportação do crescimento atenderá às necessidades do Japão ou conseguirá sustentar-se em uma economia global mais “equilibradaâ€? que não dependa ta nto do consumidor dos Estados Unidos. Um Japão em fase de envelhecimento terá novas necessidades de consumo. Uma economia global com mais polos de crescimento pode oferecer novos mercados para o Japão, especialmente por sua impressionante capacidade de usar a energia com eficiência. As economias da Europa Central e Oriental sofreram golpes duros. E seus problemas estão longe de serem solucionados. A boa notícia do ponto de vista estratégico é que os países da Europa, apesar de todos os seus debates internos e negociações, reconheceram sua interdependência. Sob tensão, desta vez, a Europa não se despedaçou. O Sudeste Asiático pode também ser fortalecido pela crise – dependendo de como as oportunidades são aproveitadas. A região fica em um cruzamento geográfico entre a Ã?ndia e a China, duas potências ascendentes. A ASEAN parece ter reconhecido o momento e tomou providências para aprofundar a sua integração, mesmo enquanto procurava atrair outros países. Diante do considerável peso da Indonésia e da crescente influência do Vietnã, o seu desempenho sólido em meio ao turbilhão econômico permaneceu em profundo contraste com o da década passada. Para outros, o impacto de longo prazo da crise pode depender de produtos básicos, especialmente dos preços do petróleo que nos últimos anos proporcionaram rendimentos elevados. Quando o preço do barril de petróleo atinge US$ 100, esses países estão fortes. Quando está em US$ 30, a maioria passa a ter sérias dificuldades. Essa dependência do petróleo e de produtos básicos é uma base precária sobre a qual construir uma economia em um mundo que está empenhado em reduzir sua dependência de combustíveis fósseis e no qual os preços dos produtos básicos giram à medida que os investidores entram e saem de uma “classe de ativosâ€?. Os p aíses usarão esses rendimentos com sabedoria – para diversificar e construir um desenvolvimento econômico com uma base mais ampla? Essas são perguntas para a Rússia, países do Golfo e alguns países da América Latina e da Ã?frica. Antes da crise, as taxas de crescimento de diversos países africanos estavam alcançando consistentemente níveis impressionantes. Como resultado da crise, podem surgir novas oportunidades. Algumas fábricas chinesas estão pensando em mudar a sua produção básica para a Ã?frica. As perspectivas da China na Ã?frica – que incluem desenvolvimento de recursos e infraestrutura – provavelmente serão complementadas por outras. O Brasil está interessado em compartilhar a sua experiência em desenvolvimento agrícola. A Ã?ndia está construindo ferrovias. Esses são os primeiros dias de uma tendência que crescerá. Compreender as mudanças nas relações de poder é fundamental para moldar o futuro – como avaliaram os delegados de Bretton Woods. A base política desse sistema foi formulada por meio de uma experiência comum em falta de responsabilidade após a Primeira Guerra Mundial e uma clara determinação de poder após a Segunda Guerra Mundial. Basta mudar as relações de poder – e a natureza dos mercados que as unem – e o sistema parece estar fora da realidade. Passo seguinte: globalização responsável? A ordem antiga desapareceu. Não devemos perder nosso tempo e lágrimas lamentando-a. Hoje precisamos construir algo novo. Hoje podemos lançar os fundamentos de um “Novo Normalâ€? de crescimento e globalização responsável. A globalização ajudou a sustentar um alto crescimento econômico em muitos países e tirou milhões da pobreza. No entanto, os vínculos crescentes entre as economias também tiveram um papel central em transformar uma crise financeira no mundo desenvolvido em uma crise global que está levando milhões de volta à pobreza. O ritmo da mudança climática se está acelerando e os países mais pobres são os mais fortemente atingidos. Doenças como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) em 2004 ou neste ano o vírus H1N1 começaram como surtos localizados, mas rapidamente se tornaram ameaças globais. Sua virulência apenas se intensificou com o maior número de viagens e fronteiras abertas. Não podemos e não devemos atrasar o relógio da globalização. Nem o público exige que o façamos. Mas podemos e devemos reformá-la para suster o prejuízo que pode causar à medida que expande os enormes benefícios que uma globalização responsável pode proporcionar a milhões de pessoas. O que será preciso para construir uma globalização responsável? Primeiro e acima de tudo, devemos reconhecer que os países em desenvolvimento são a chave para a solução hoje, progresso amanhã e prosperidade nos anos vindouros. Há duas semanas, em Pittsburgh, os líderes mundiais adotaram o G-20 como o principal foro para a cooperação econômica internacional entre os países industrializados desenvolvidos e as potências em ascensão. É um bom começo. Mas o G-20 não pode ser uma comissão independente. Nem pode ignorar as vozes de mais de 160 países que ficaram de fora. O G-20 deve operar como um “Grupo de Coordenaçãoâ€? em uma rede de países e instituições internacionais com uma afiliação mais ampla. Precisa reconhecer as interconexões entre as questões e promover pontos de interesse mútuo sem ser nem hierárquico nem burocrático. Deve estar vinculado ao nosso G-186 aqui nesta sala. Segundo as previsões, o crescimento será medíocre e o desemprego continuará alto por vários anos. O consumidor dos Estados Unidos não poderá mais ser o principal motor da demanda econômica. A Europa e o Japão parecem limitados; a China pode ajudar, mas o aumento do seu crédito poderá representar problemas no próximo ano. Com o acesso ao financiamento, outras economias em desenvolvimento podem ajudar a impulsionar uma recuperação global. Muitas têm espaço fiscal para tomar empréstimos, mas não podem obter os volumes de que necessitam a preços razoáveis sem deixar de fora os seus setores privados. O Grupo Banco Mundial e os bancos regionais de desenvolvimento podem ajudar. Ajudarão também uma regulamentação e supervisão financeiras mais aprimoradas que levem os incentivos de capitalismo de cassino de curto prazo a um investimento produtivo de longo prazo. Segundo, os líderes devem enfatizar que uma economia global equilibrada e inclusiva precisa de múltiplos polos de crescimento – e não apenas acrescentar a China e a Ã?ndia. Os países da América Latina, Sudeste Asiático e um Oriente Médio mais amplo podem ajudar no futuro se investirem hoje. Com o tempo, os investimentos na Ã?frica, um mercado de quase um bilhão de pessoas, pode integrar seus mercados e tornar-se uma outra fonte de crescimento. Para construir múltiplos polos de crescimento, precisamos remover pontos de obstrução e impulsionar a produtividade por meio de investimentos na infraestrutura e energia, expansão do setor privado e integração regional ligada a mercados abertos. Novos polos de crescimento podem ser clientes de bens de capital, serviços e tecnologia dos países desenvolvidos. Terceiro, os líderes precisam comprometer-se a tornar sustentável o crescimento. Conforme assinala o recém- publicado “Relatório sobre o Desenvolvimento Mundialâ€?, do Banco Mundial, sobre desenvolvimento e mudança climática, os países em desenvolvimento não somente enfrentam 75%-80% de prejuízo potencial proveniente da mudança climática, porém mais de 1,6 bilhão de pessoas ainda carecem do acesso à eletricidade. Os países em desenvolvimento – e seus interesses – devem estar à mesa. Precisam de incentivos e financiamento para promover o crescimento de baixo carbono mediante a adoção de tecnologias, implementação de eficiências energéticas e investimento no reflorestamento. Quarto, devemos implementar mecanismos para proteger os mais vulneráveis. Há duas semanas, na Cúpula de Pittsburgh, os líderes do G-20 reiteraram seu apoio a uma nova iniciativa de segurança alimentar de US$ 20 bilhões, lançada na Reunião do G-8 realizada na Itália. Propõem que o Grupo Banco Mundial trabalhe com doadores e organizações no desenvolvimento de um fundo fiduciário multilateral para ampliar a assistência à agricultura para os países de baixa renda. Com demasiada frequência, a ajuda bilateral concentra recursos em setores e países específicos. Mas com esse enfoque multilateral mais abrangente podemos unir recursos e melhor apoiar esforços inovadores para enfrentar a segurança alimentar em toda a cadeia de alimentos e fortalecer sistemas agrícolas sustentáveis. No entanto, promessas no papel não colocarão sementes no solo nem comida em bocas famintas. A fome e a penúria – como demonstra a atual seca no Leste da Ã?frica – são uma ameaça perene. Portanto, devemos agir rapidamente para transformar essa iniciativa em realidade. Alimentos, combustível e agora a crise financeira descarrilharam o progresso no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, revertendo anos de ganhos. Precisamos cobrir o hiato na arquitetura financeira global oferecendo segurança aos países mais pobres de que não ficarão indefesos face aos choques avassaladores. O Grupo Banco Mundial trabalhará para promover a proposta de criação de um Mecanismo de Resposta à Crise, endossada pelo G-20 e pela Comissão de Desenvolvimento, o qual estará pronto, de forma contínua, para oferecer assistência rápida e eficaz aos países mais vulneráveis e mais frágeis, muitos dos quais estão apenas saindo de um conflito. Desde redes de segurança direcionadas a pequenas e médias empresas e microfinanciamento, podemos proteger aqueles que dispõem de menos defesa contra as maiores insurreições. Precisamos também trabalhar no sentido de conseguir um estímulo sem interferência governamental para as demandas do setor privado, investimento e comércio, oferecendo um contrapeso ao protecionismo financeiro e comercial. A IFC acaba de lançar uma nova Corporação de Gestão de Ativos que administra fundos a serem investidos em bancos, capital acionário, infraestrutura e restruturação da dívida. Podemos também ajudar a criar mercados financeiros nos países em desenvolvimento, ao mesmo tempo canalizando o capital de pensões soberanas e outros fundos de gestão de ativos para setores privados produtivos dos países em desenvolvimento. O papel do Grupo Banco Mundial No ano passado, o Grupo Banco Mundial aumentou os seus esforços para enfrentar a crise e concedeu um montante recorde de US$ 59 bilhões em assistência financeira. Os compromissos do BIRD quase triplicaram, atingindo US$ 33 bilhões. A AID também atingiu um recorde de US$ 14 bilhões; mais de 50% dos novos projetos da IFC foram realizados em países da AID. O apoio à infraestrutura – elemento crítico para a recuperação e emprego – atingiu US$ 21 bilhões; ampliamos a assistência em US$ 4,5 bilhões para redes de segurança e outros programas de proteção social para os mais vulneráveis. A IFC combina forte inovação com mobilização de recursos; lançamos iniciativas de capitalização de bancos, financiamento do comércio, infraestrutura e microfinanciamento. Prevê-se um novo recorde do BIRD de US$ 40 bilhões ou mais neste exercício financeiro. A demanda de empréstimos do BIRD está agora ultrapassando claramente a marca de US$ 100 bilhões, proposta pela Comissão de Desenvolvimento em seu Comunicado emitido no ano passado. Os países da AID estão também enfrentando hiatos de financiamento significativos. Segundo estimamos, o déficit de financiamento para custear a despesa essencial em risco nos campos da saúde, educação, redes de segurança e infraestrutura eleva-se a cerca de US$ 11,6 bilhões no caso dos países mais pobres. Estou ciente de que os orçamentos dos países em desenvolvimento são limitados. Mas uma globalização responsável requer interessados responsáveis. Podemos e devemos fazer mais. Qual é o papel do Grupo Banco Mundial no novo mundo pós-crise? Um Grupo Banco Mundial bem capitalizado estaria posicionado para desempenhar um papel de liderança na resposta global aos desafios da globalização, desenvolvimento e crise financeira. Temos uma presença global, local e intersetorial com aptidões para trabalhar com os setores público e privado, bem como com os países de média e baixa renda. Temos um repositório de melhores práticas globais em matéria de desenvolvimento que atualizamos continuamente; gestão de risco e competências bancárias de categoria mundial; e capacidade para alavancar nosso balancete. Temos um papel de liderança na crescente agenda global de bens públicos e um poder catalítico e de reunião de âmbito mundial. Todos estes fatores conferem ao Grupo Banco Mundial uma posição única entre os bancos multilaterais de desenvolvimento. Quatro impulsores-chave provavelmente constituirão o papel pós-crise do Grupo Banco Mundial: O primeiro impulsor será o financiamento para o desenvolvimento tradicional e inovador. Há uma forte demanda por parte dos clientes do Grupo Banco Mundial no sentido de que a instituição saia da crise bem capitalizada e capaz de sustentar a concessão de uma massa crítica de financiamento para apoiar o crescimento econômico global e superar a pobreza. O Grupo Banco Mundial pode desempenhar este papel de várias formas. Podemos contribuir para o estímulo fiscal e proteger a despesa essencial nos países que não estão em condições de implementar políticas anticíclicas; podemos ajudar a impulsionar a demanda global, a fim de apoiar a recuperação global; podemos financiar e apoiar o comércio; podemos prestar assistência ao setor privado ao assumir a transferência crítica, vinda do governo, das ações de resposta à crise; e, por meio do investimento, podemos ajudar a criar múltiplos polos de crescimento com um setor público receptivo e responsável e um setor privado dinâmico. O segundo impulsor será a entrega de produtos do conhecimento. O Grupo Banco Mundial é repositório das melhores práticas globais em desenvolvimento, combinando experiência em implementação, pesquisa e aprendizado, baseando-se nos setores tanto público como privado. Como tais, os clientes olham para nós para vincular e personalizar múltiplas fontes de conhecimento profissional e inovação. O terceiro impulsor é a agenda global de bens públicos – desafios globais prementes, tais como mudança climática e doenças transmissíveis que requerem resposta institucional de caráter multissetorial, combinando assessoramento em política e investimentos com um alcance global baseado em programas nacionais. O Grupo Banco Mundial já está mobilizando um financiamento significativo por meio dos Fundos de Investimento Climático. Podemos desempenhar um papel-chave na transferência de tecnologia, trabalhando com clientes em estratégias de crescimento de baixo carbono e no fortalecimento de sistemas de saúde aos quais estamos agora ampliando nosso trabalho. O Grupo Banco Mundial pode também apoiar os bens públicos de sistemas comerciais financeiros resilientes e dinâmicos, baseados em normas multilaterais. O quarto impulsor são as crises futuras – aquelas que não podemos prever hoje, mas sabemos que ocorrerão: podem ser uma pandemia, um desastre natural ou antrópico ou uma crise econômica ou social. Em resposta, o Banco Mundial pode mobilizar sua série completa de aptidões e instrumentos em prol de seus acionistas, como fez recentemente nas crises alimentares, ou em resposta ao tsunami no Oceano Ã?ndico ou nas crises financeiras do México e do Leste Asiático. O Banco Mundial está aplicando diversas medidas financeiras para aproveitar ao máximo o nosso capital, incluindo aumento do preço dos empréstimos; colaboração com os países para usarmos as ações por ele adquiridas em moeda nacional; aumento de capital seletivo vinculado a mudanças no direito de usar da palavra; disciplina orçamentária rígida; e um possível aumento do preço de empréstimos com vencimento mais longo. Essas medidas ressaltam as responsabilidades e contribuições mútuas de todos os nossos membros. Mas talvez não sejam suficientes. Se o BIRD continuar a conceder empréstimos ao ritmo atual, na metade de 2010 o seu capital será limitado. O da IFC já está limitado. Naturalmente o futuro é incerto. Se falhar a recuperação ou simplesmente mover-se com um grande esforço, deveremos arriscar um Grupo Banco Mundial já levado ao limite e incapaz de liderar? Face à próxima crise – outra emergência alimentar, a próxima epidemia – podemos dar-nos ao luxo de ter um Grupo Banco Mundial que precise moderar-se? Agradeço a Comissão de Desenvolvimento por comprometer-se ontem a assegurar que o Grupo Banco Mundial disponha de recursos suficientes para enfrentar os desafios adicionais do desenvolvimento e a chegar a uma decisão sobre esta questão na primavera setentrional de 2010. É um passo importante à frente no Primeiro Aumento Geral de Capital do Banco Mundial em 20 anos. A reforma da agenda Para servir à economia global em evolução, o mundo precisa de instituições ágeis, ligeiras, competentes e responsáveis. O Grupo Banco Mundial melhorará a sua legitimidade, eficiência, eficácia e responsabilização e ampliará ainda mais a sua cooperação com a ONU, FMI e outros bancos multilaterais de desenvolvimento, doadores, fundações e sociedade civil que se tornaram atores cada vez mais importante no desenvolvimento. Estamos bem conscientes da importância de avançar múltiplas reformas para focar pedidos dos acionistas, melhorar o desempenho e conseguir apoio dos nossos legisladores. Outras iniciativas incluem: • Melhorar a eficácia do desenvolvimento com enfoque na agenda de resultados, descentralização, gênero, reforma de empréstimos para investimentos e recursos humanos. • Promover a responsabilidade e a boa governança, inclusive os nossos esforços globais de combate à corrupção; uma maior transparência e melhor política de divulgação; e as recomendações da Comissão Zedillo, a serem em breve divulgadas; e • Continuar a aumentar a eficiência de custos. Porém, precisamos ir mais além. O sistema de Bretton Woods foi criado por 44 países em uma época em que o poder estava concentrado em um pequeno número de Estados. As grandes ondas de descolonização estavam apenas se movimentando; os poucos países em desenvolvimento eram vistos como objetos e não sujeitos da história. Aquele mundo já ficou para trás há muito tempo. As novas realidades da economia política exigem um sistema diferente. Se os países em desenvolvimento fazem parte da solução, precisam também fazer parte da conversação. O sistema internacional precisa de um Grupo Banco Mundial que represente as realidades econômicas internacionais do século XXI, reconheça o papel e a responsabilidade de um maior número de acionistas e dê mais expressão à Ã?frica. A primeira fase das reformas para atribuir maior expressão e representação aos países em desenvolvimento e em transição no Grupo Banco Mundial foi concluída há um ano com a entrada da Ã?frica Subsaariana como membro adicional no Conselho de Administração, o que elevou o número total de votos dos países em desenvolvimento no BIRD a 44%. É para mim uma satisfação saber que ontem a Comissão de Desenvolvimento ressaltou a importância de assegurar um aumento adicional do número de votos para os países em desenvolvimento de pelo menos 3%, elevando assim o número de votos desses países a 47%. A decisão final a este respeito será tomada nas Reuniões da Primavera Setentrional no próximo ano. Devemos continuar a ser ambiciosos. Com o tempo precisamos tentar aumentar a parcela dos países em desenvolvimento a 50%, mesmo à medida que as economias emergentes compartilham as responsabilidades de ajudar os países mais pobres em seu desenvolvimento. O Grupo Banco Mundial deve refletir mais exatamente o mundo ao nosso redor. Conclusão Senhor Presidente: a antiga ordem econômica internacional estava lutando para acompanhar a mudança antes da crise. A insurreição atual revelou os imensos hiatos e as necessidades prementes. Já é hora de recuperarmos o terreno perdido e irmos adiante. Precisamos de um sistema de economia política internacional que reflita uma nova multipolaridade do crescimento. Esse sistema precisa integrar as crescentes potências econômicas como “partes interessadas responsáveisâ€? e, ao mesmo tempo, reconhecer que esses países ainda abrigam centenas de milhões de pessoas de baixa renda e enfrentam espantosos desafios ao desenvolvimento. Precisa integrar as energias e o apoio dos países desenvolvidos, cujas populações sentem o pesado ônus da dívida e ansiedades da concorrência e consideram que as novas potências devem compartilhar as responsabilidades. Precisa oferecer ajuda aos países mais pobres e mais fracos – os 900 bilhões de pessoas que ainda vivem sem energia elétrica e o “bilhão de baixoâ€? aprisionado na pobreza em consequência de conflitos e governança destruída. Contudo, ele não acontecerá por si só. A questão é se os líderes podem cooperar com a condução das mudanças. Eles serão atraídos para os interesses das populações que representam, como deve ser. Ainda assim, enfrentarão também o desafio de reconhecer e construir interesses comuns, não apenas caso por caso, mas mediante instituições que reflitam uma “Globalização Responsávelâ€?. Bretton Woods está sendo reformulado diante de nossos olhos. Desta vez, levará mais tempo do que três semanas em New Hampshire. Terá mais participantes. Mas é igualmente necessário. Qualquer que seja a próxima insurreição, ela está tomando forma agora. Devemos moldá-la ou seremos por ela moldados.